Plinio Corrêa de Oliveira
São Valeriano, oficial do imperador, guerreiro e mártir
Santo do Dia, 9 de julho de 1971 |
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A D V E R T Ê N C I
A O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de
conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da
TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre
nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial
disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da
Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como
homenagem a tão belo e constante estado de
espírito: “Católico
apostólico romano, o autor deste texto
se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja.
Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja
conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui
empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em
seu livro "Revolução
e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº
100 de
"Catolicismo", em abril de 1959. |
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São Valeriano a cavalo e outros protetores de Forlì (Itália), representados no portal da Catedral daquela cidade. Atualmente, entrada principal da igreja do Carmo (foto Forlipedia, 2019) Como ficha para o “Santo do Dia”, temos uma sobre São Valeriano, oficial do exército de Leão I. São dados biográficos transcritos da Vida dos Santos Militares, do Abbé Profilet.
“Adriana, filha de Leão I, Imperador do Oriente, desposou Zenão, o Isauro, do qual teve um filho. O nascimento desse filho foi muito agradável ao Imperador, que não tendo filho homem, considerou-o herdeiro de seu trono. Entretanto o principezinho, com o passar dos anos, foi atacado por um mal estranho que apresentava todos os aspectos de uma possessão diabólica. Todos os remédios foram empregados para livrar a criança, mas inutilmente. “Nesse tempo vivia na Armênia um jovem de nome Valeriano. Sua reputação de santidade era grande e de fato por suas orações Deus lhe concedia grandes milagres. Leão I, ouvindo falar dele, enviou-lhe um mensageiro para que viesse a Constantinopla. Valeriano atendeu o pedido do Imperador. Visitando a criança, fez sobre ela o sinal da cruz e a doença desapareceu completamente. Em reconhecimento por esse benefício insigne, Leão I quis tratar de modo verdadeiramente imperial o servidor de Deus. E como este era inteligente e sábio, ofereceu-lhe um cargo entre os primeiros oficiais em seu palácio. “Esta elevação súbita não mudou os hábitos de virtude de Valeriano que, em meio a uma corte mundana, dava os melhores exemplos. Seu exterior agradável contribuía para que o estimassem e o imperador tinha nele uma tal confiança que nada empreendia de mais sério sem antes consultá-lo. Valeriano aproveitava-se de sua disposição para defender a Igreja, os pobres e sua pátria. Pessoas como ele eram importantes na época, quando o Império Romano do Ocidente descambava e a própria Itália era o palco de luta contra os bárbaros, acrescentando-se a isso os desastres provocados pelos arianos. Assim, Valeriano foi enviado à Itália para pacificar certa região do país. “Ele nada negligenciou para o bom êxito de sua missão. Oitenta dos melhores homens do exército foram escolhidos para sua escolta particular. Durante os combates deu os melhores exemplos e seus subordinados sentiam-se animados de zelo ardente para combater os inimigos da religião. Foi assim que Valeriano conduziu suas tropas para Forlì e sitiou a cidade governada despoticamente pelo ariano Leobardo. “Os sitiantes estavam vencendo, quando um acontecimento inesperado interrompeu seu trabalho. Todas as noites, desde que lá chegaram, Valeriano retirava-se sozinho à alguma distância no campo, entregando-se num profundo silêncio à meditação das coisas divinas. Leobardo soube disso e através de espiões, aproveitando-se das trevas noturnas, surpreenderam Valeriano e o mataram. “Mas Leobardo cometera um grave erro, matar o chefe, crendo com isso acovardar os seus subordinados. O resultado foi exatamente o contrário. Animados de novo ardor combativo e desejosos de vingar Valeriano, os soldados dominaram rapidamente a cidade, puniram os culpados e restabeleceram os católicos em seus direitos. Uma igreja foi levantada em louvor do santo mártir, no lugar mesmo onde foram encontrados seus restos. Os habitantes de Forlì o escolheram para seu padroeiro e quiseram mesmo que sua imagem fosse gravada nos selos da cidade. Ele é apresentado aí a cavalo com a legenda: São Valeriano mártir, protetor da cidade de Forlì.” * * * Esta é uma lindíssima ficha, mas que não pode ser facilmente compreendida sem uma rápida evocação das circunstâncias históricas, dentro das quais esses acontecimentos se produziram. A parte mais civilizada do mundo nessa época, nos primeiros séculos do cristianismo, era a bacia do Mediterrâneo. E lá havia dois impérios de importância capital: o Império Romano do Oriente e o do Ocidente. Todo o mar Mediterrâneo era romano. O Império Romano do Oriente abrangia a Ásia Menor e uma parte do território africano. Uma outra parte do território africano ora pertencia ao Império Romano do Oriente, ora ao Império Romano do Ocidente. De tal maneira que os romanos, orgulhosamente, chamavam o Mediterrâneo de Mare Nostrum, “o nosso mar”, porque ficava todo encravado em terras do Império Romano. Mas o destino dessas duas facções do Império Romano era bem diversa. O Império Romano do Ocidente compreendia a península itálica e, a grosso modo, todos os territórios europeus que ficavam aquém do Reno e chegava até a Inglaterra e a Escócia. Tinha uma extensão territorial imensa, mas sofrera as invasões dos bárbaros. E pior do que estas últimas, as invasões dos arianos, porque os bárbaros tinham sido pervertidos para o arianismo por um bispo ariano, Ulfilas, de maneira que eles invadiram o Império Romano do Ocidente com um verdadeiro ódio contra a Igreja Católica. Os arianos - para simplificar as noções - eram naquele tempo mais ou menos o que são os protestantes hoje. Mas tinham uma pujança, uma capacidade de expressão, uma força de proselitismo que de há muito os protestantes perderam. Devem imaginar uma heresia poderosa, uma heresia empreendedora, no apogeu de suas forças no ocidente, que investe na garupa dos povos bárbaros contra o Império Romano do Ocidente. Por outro lado, o Império Romano do Ocidente, que era católico, estava numa decadência tremenda. Santo Agostinho aponta como uma das causas determinantes de sua decadência a tibieza dos católicos desse império. E mostra que com tal tibieza não havia resistência nenhuma possível contra os adversários poderosos e eficazes. E com isso as hordas bárbaro-arianas foram se despejando por toda a Itália, quebrando igrejas, matando bispos, matando padres, profanando sacramentos e destruindo também as obras primas da civilização romana. Foi essa espécie de terremoto geral que liquidava com toda estrutura outrora enorme, imponente, do Império Romano do Ocidente. Para compreender bem o alcance dessas invasões, deve-se tomar em consideração que esses bárbaros não iam lá para invadir e voltar, iam para invadir e ficar. E como eram de uma quantidade imensa, lotaram com populações completamente ignorantes e heréticas, cidades outrora habitadas exclusivamente por católicos. Podem imaginar o que isso representava... Em contraposição, o Império Romano do Oriente florescia com todos os encantos do oriente: a capital era Constantinopla, cidade tida como a mais bonita de ambos os impérios, famosa por suas igrejas, por seus palácios, por suas instituições, por seu estádio, por seu fórum, colocada num panorama marítimo dos mais bonitos, que é visitado ainda em nossos dias por todos os turistas sedentos de grandes panoramas marítimos. O imperador romano do oriente, que tinha o nome de Basileu - era um título dele - vivia numa corte faustosa, prodigiosa. E floresciam nesse tempo muitos santos no Império Romano do Oriente. Era ao mesmo tempo um império trabalhado por heresias, a dos arianos em certo momento e que foram condenados, depois pela heresia dos iconoclastas e muitos outros. Mas florescia a religião católica, sobretudo com os santos que se retiravam para desertos para levar uma vida completamente solitária. Mas que tinham uma profunda ação sobre as cidades, porque nelas tinha-se conhecimento de sua existência. Eles eram admirados e eram numerosas as pessoas que se embrenhavam pelos desertos adentro, a pedir conselhos para situações de apuro em que estavam, a pedir milagres, a admirá-los para se edificarem, de maneira que esses santos não iam atrás dos pecadores, porque naquele tempo os pecadores corriam atrás dos santos... Havia até santos que se lamentavam pelo fato de não terem sossego, tanto eles eram procurados pelos pecadores das cidades que queriam se penitenciar. Vivia nesse império esse jovem Valeriano que era armênio, uma das nações dominadas pelo Império Romano do Oriente. E o imperador, um personagem que tinha nesse tempo um prestígio que é muito maior do que de uma rainha Elizabeth da Inglaterra, de um Nixon [dos Estados Unidos]. Muito maior do que o prestígio de qualquer destes, sem nenhuma comparação possível, pelo título imperial, pelo poder absoluto do imperador, pelo esplendor da corte, pelo espírito de reverência e obediência que naquele tempo se tinha ao poder imperial, reconhecido como oriundo do próprio Deus. O imperador tinha um filho único, que desejava constituir como herdeiro do trono. Porém o filho adoeceu de modo perigoso e o imperador mandou pedir a Valeriano, de quem tinha ouvido falar como sendo um jovem excepcionalmente virtuoso, que fosse a Constantinopla curar o filho. Valeriano foi. Chegando, faz um sinal da cruz sobre o principezinho e este imediatamente sarou. O imperador ficou impressionado com a virtude desse homem e teve o critério de lhe pedir que ficasse junto a si, quis que o ajudasse no governo do império. E São Valeriano ficou como uma espécie de eminência parda do imperador, um imperador autêntico por detrás do imperador de púrpura e figurava nas cerimônias imperiais. A situação evoluiu de maneira que o governo do império em grande parte ficou posto nas mãos deste santo. E podemos imaginar a linda cena que se desenrolaria às margens do Bósforo naquele tempo: um salão magnífico de um palácio imperial de Constantinopla, com uma vista lindíssima sobre o Bósforo. No fundo, nas fímbrias, vendo-se um pouquinho do território asiático. Salão de mármore, de púrpura, tapetes magníficos, grandes janelas abertas para a temperatura tépida daquela zona. Junto a uma mesa o imperador, adornado com os ornatos imperiais, despacha conversando com o santo. O imperador um homem maduro, o santo ainda jovem; o imperador pedindo conselhos e o santo iluminado de fé, cheio de zelo pela causa católica, cheio de inteligência dos verdadeiros interesses da civilização cristã naquele tempo, indicando os rumos ao imperador. Depois o imperador tocando a sineta, chama um escravo, e manda que venham dois ou três ministros, que se aproximam com profunda reverência, enquanto Valeriano, o armênio, está discretamente com os braços cruzados. Ele entra e diz: “Armênio meu servidor foi quem me deu um bom conselho, ide e fazei tal coisa...” Profundas reverências, Armênio sai. Isto que daria para tanta gente ficar mega [orgulhoso, vaidoso, cheio de si mesmo, n.d.c.], que terrível tentação... isto não dava a Valeriano nenhuma megalice. Pelo contrário, saindo do palácio imperial discretamente, mas não à maneira “heresia branca” [ou seja, com uma falsa humildade, n.d.c.], como um bobo qualquer que vai raspando pelas paredes com medo de ficar vaidoso, e que vai se encurralar em qualquer desvão do palácio para se esconder. Mas ele sai com normalidade, com dignidade, sem pretensão; vai a uma igreja rezar e pedir luzes a Nossa Senhora para resolver um problema posto pelo imperador, para atinar com mais uma questão, até que o imperador o chame de novo... Ou seja, uma vida dividida entre a oração e o trabalho.
São Valeriano prega aos seus soldados romanos (catedral de Forlì, Itália. Foto Wikipedia) Em determinado momento, foi preciso mandar Valeriano - um homem valente - para lutar contra os arianos que estavam oprimindo os católicos na Itália. Antes de imaginarmos Valeriano, que sai com uma esquadra naquele tempo, com os navios que vão se movendo através do Bósforo, com as velas bonitas, arautos na proa tocando uns clarins para se despedir de Constantinopla, algum repique de sino, o imperador da janela olhando e acenando para Valeriano que se aparta... Antes de pensarmos nestas coisas, devemos considerar a beleza deste fato: o maior império da terra, o maior potentado do mundo, governado por um santo e temos que constatar como a índole dos tempos mudou e como isto seria completamente impossível em nossos dias. Não haveria nenhuma possibilidade de um santo ser imaginado governando, dando conselhos a Nixon, na Casa Branca... O desentendimento seria tão completo, a respeito de todas as metas, a respeito de todos os métodos e de todos os estilos, que uma conversa de 5 minutos seria totalmente impossível, mas totalmente. Esta é a tristeza dos tempos em que estamos e esta tristeza tem que ser vista bem de frente para compreendermos até que ponto o mundo de hoje é infenso a Deus e a tudo quanto é de Deus. Valeriano segue para a Itália e começa a lutar valentemente. O imperador era tão cioso da vida de Valeriano, que ao mesmo tempo em que o expôs ao risco, manda 80 soldados dos mais valentes fizessem parte da guarda pessoal dele. Valeriano começa a lutar, está quase dominando a cidade de Forlì, mas o demônio tentava aniquilar sua obra por meio de um empreendimento que tivera em vista. Esse empreendimento foi o seguinte: Valeriano costumava à noite, quando já não havia combate, costumava retirar-se para um lugar ermo para pensar nas coisas de Deus. E assim os srs. imaginem a beleza desta outra cena: um legionário romano que de dia usa sua couraça, seu elmo, seu escudo, sua espada, que luta valentemente. À noite, descansa na tenda do general que ficava colocada bem no centro do acampamento dos soldados romanos. Mas sai às escondidas e vai para dentro do mato, ali onde ninguém o vê, ele começa a rezar e a meditar sobre as coisas de Deus, sobre a Igreja, sobre a causa de Deus na terra, sobre a glória de Deus no Céu, sobre Nossa Senhora, os Anjos, os santos, a doutrina católica, mil outras coisas enfim. Uma noite escura, ou uma noite linda de luar, Valeriano ali sozinho pensando, meditando, podem imaginar a beleza... Valeriano sentado sobre uma pedra enquanto as horas escoam, os Anjos esvoaçando em volta e Nossa Senhora vendo que a alma dele, pela luta e pela meditação, estava amadurecendo para o Céu. Os bárbaros, os arianos que ele estava cercando na cidade de Forlì, da Itália, tomam conhecimento disto, verificam que ele se aparta à noite e numa bela noite o cercam e o matam. Estava derrotado Valeriano, liquidado o chefe, estava tudo estraçalhado. Diz a Escritura: “tu feriste o pastor e dispersaste o rebanho”. Quem fere o pastor dispersa o rebanho. Morto o general, está liquidado o exército, sobretudo se tratando de um homem que se vê, por essa ficha, que tinha a extraordinária irradiação pessoal desse santo armênio. Valeriano luta valorosamente, é morto, morto mártir da fé. Acontece com certos santos o que aconteceu com Santa Teresinha do Menino Jesus, feita para atuar na terra mais depois de morta que quando viveu. A alma dele subia ao Céu, mas em lugar de seus soldados desanimarem e dispersarem, é o contrário que se dá. Todos reacenderam seu zelo, tomam a cidade de Forlì e expulsam os arianos, de tal maneira que onde os arianos esperavam uma vitória, tiveram uma rotunda derrota. Mais ainda, Nossa Senhora fincou o seu estandarte na cidade de Forlì. Seus habitantes, que eram católicos, reconheceram Valeriano como mártir e foram procurar o lugar onde ele estaria enterrado. Encontraram e ali construíram uma esplêndida igreja dedicada exatamente a este santo. E São Valeriano passou a ser ao longo dos séculos o patrono da cidade de Forlì, a tal ponto que o brasão de armas de Forlì é São Valeriano a cavalo e em torno disto um dístico: São Valeriano, rogai por nós. É o patrono que protege a cidade. As circunstâncias mudaram, os tempos mudaram, os adversários mudaram, tudo mudou, mas São Valeriano nunca mais deixou a cidade que não queriam entregar para ele. Ele se tornou o patrono e senhor da cidade até nossos dias e ainda hoje ali está São Valeriano travando uma luta espiritual para preservar a cidade de Forlì. De onde queriam expulsá-lo, ali ele fixou seu estandarte para todo o sempre. E com certeza até o fim do mundo, Valeriano será general romano; muito mais do que isto, foi o general de Nosso Senhor Jesus Cristo, do general de Nossa Senhora, que obteve a grande vitória! Devemos ver como é curiosa a obra da graça ao longo dos tempos. E como se chega e perceber os desígnios da Providência, quando se procura analisar, estudar seriamente a história da Igreja. São Valeriano poderia ter querido ser eremita, poderia ter querido fugir do mundo, poderia ter querido ficar sacerdote, mas suas vias eram diferentes. Nossa Senhora queria que ele ficasse o primeiro-ministro de um grande império. E que desse altíssimo cargo governasse todo o império, então católico, do oriente. Nossa Senhora quis que ele fosse guerreiro. Vejam o perfil deste homem: grande ministro inteligente, grande guerreiro combativo e batalhador. Tipo do homem que tem a varonilidade na sua plenitude, santo extraordinário como acabam de ver. Comparem a trajetória deste santo com a dos santos do século XIX e do século XX. O modo da Providência guiar as coisas se modificou. Não houve no século passado (XIX) um santo ministro, ou um santo chefe de Estado, não houve um santo que fosse um grande da terra. Alguns grandes da terra foram católicos. Um grande da terra católico perfeito foi Louis Veuillot - um grande literato numa época em que a literatura tinha uma importância maior do que em nossos dias. Joseph de Maistre foi um grande pensador, mas em vida dele não foi um grande da terra, foi desconhecido até certo ponto pelo seu tempo e só bem depois de morto que alcançou toda a sua nomeada. Só houve um país que teve um chefe de Estado presumivelmente santo. Mas Nossa Senhora, em vez de fazê-lo nascer em degraus de um trono, de fazê-lo nascer num dos países chave do mundo naquele tempo, fê-lo nascer na América do Sul que, naquele tempo, era toda um “là-bas”, um continente onde se vegetava, onde a civilização estava apenas dando seus primeiros vagidos. Ele nasceu no Equador e foi o grande e imortal Garcia Moreno. Fora disso, não teve absolutamente ninguém. Como se explica essa diferença na conduta dos santos? São os desígnios da Providência. Em outras épocas em que a Providência está contente com os homens, Ela dá santos para todas as coisas. Quando os homens se retraem da Providência, Ela castiga retraindo-se e os santos vão como que se fechando dentro da Igreja. A Igreja vai se fechando ao mundo. E se o castigo dos homens persevera, os santos vão rareando na própria Igreja. E há determinado momento em que na Igreja, mesmo nos lugares culminantes, se tornam raros os santos... Nós tivemos ainda nesse século um Papa santo canonizado pela Igreja: o grande São Pio X. Compreendem aí a santidade que se vai baixando como o sol, deitando raios cada vez menos generalizados, cada vez menos espancam as trevas, até um determinado momento em que fica assim na fímbria do horizonte um resto de sol, porque a santidade da Igreja nunca morre. Assim são as coisas. Quando o sol se põe, as estrelas brilham com mais fulgor. Quando a Igreja militante decai, brilha com maior fulgor, dentro das trevas e das saudades em que estamos, as estrelas dos santos canonizados. E podemos olhar para o céu onde por toda a eternidade brilham os santos. Na noite deste século XX, deste ano de 1971, deste dia 9 de julho de 1971, podemos olhar para o céu e considerar esta estrela de primeira grandeza que adorna a corte de Nosso Senhor e de Nossa Senhora. Este santo, ministro sábio, guerreiro exímio, homem de pensamento, profundo batalhador, vencedor e mártir, São Valeriano, a cuja intercessão devemos nos recomendar. E fica assim uma noção geral de sua vida. |