Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Santa Catarina de Bolonha:

sorriso de desdém

para as coisas desta vida

 

 

 

Catolicismo, N° 692 - Agosto de 2008 (*)

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Tive a oportunidade de ver algo singular e raro: uma santa canonizada em carne e osso. E isso, sem que houvesse qualquer aparição ou fenômeno místico. Ela estava sentada num troneto sobre um altar. Era Santa Catarina de Bolonha.

Ela morreu há mais de 5 séculos, entretanto seu cadáver conserva-se absolutamente intacto até hoje numa igreja em Bolonha, na Itália.

Durante a II Guerra Mundial, por causa do perigo de bombardeios, o corpo da santa foi transportado para um porão da igreja; e ali, devido à umidade, a cor dele mudou, adquiriu tonalidade verde-azeitona. Entretanto, a carnatura está perfeita.

 

 

A fisionomia da santa é distendida. Apesar de estar com olhos fechados, a fisionomia tem muita expressão. O mais expressivo manifesta-se nos lábios: longos, finos e cerrados, externando um meio sorriso que é, ao mesmo tempo, de afabilidade e acolhida. Um sorriso de quem, com muita suavidade, mas muito de cima e com enorme transcendência, sorri com desdém para as coisas desta vida. Como quem diz: Olhe, tudo isso não é nada, tudo passa, não tem importância. As coisas terrenas passam, só a eternidade fica. Eu passei por tudo, sofri todas as dores, tive todas as provações. Agora sorrio para tudo isso. Porque aquilo que foram mares encapelados, precipícios temíveis, montanhas inescaláveis, tudo isso ficou para trás. Percebo hoje que tudo que passou foi nada. A vida não é nada, só a eternidade é séria.

Nela se vê ao mesmo tempo a bondade, mas também lucidez, ordem, estabilidade e decisão extraordinária. Eis a santa que vi em carne e osso!

Hoje se fala tanto de experiência, e esta foi para mim uma experiência raríssima. Só não compreendo por que tantas pessoas não se dispõem a ver esta santa em Bolonha. 

Hagiografia

Santa Catarina de Bolonha (1413 – 1463), filha de um diplomata a serviço do Marquês de Ferrara, recebeu aprimorada educação. Franciscana terciária aos 14 anos. Estabeleceu um convento de Clarissas em 1456, e lá serviu como abadessa. Mística, operou grandes milagres e profetizava. Era também pintora — um de seus quadros encontra-se no Museu do Vaticano. Autora do Tratado em armas espirituais e Revelações. Escrevia correntemente o latim com admirável elegância até para os humanistas. Dezoito dias após seu falecimento, foi exumada — devido a milagres que ocorriam junto à sua sepultura — e seu cadáver estava incorrupto. Assim, seu corpo foi colocado sentado em um troneto, mantendo-se incorrupto até hoje, portanto, há 545 anos! Foi canonizada pelo Papa Clemente XI, em 22 de maio de 1712. É padroeira da Academia de Arte de Bolonha, dos pintores e das artes liberais.

(*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio em 19 de maio de 1971. Sem revisão do autor.


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