Plinio Corrêa de Oliveira

 

O Sacral na vida civil:

 as Pontes de

Rialto (Veneza), Alexandre III (Paris)

e cena do Ancien Régime

 

"Santo do Dia", 22 de fevereiro de 1971

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

(Aparte: Estivemos vendo e analisando slides da Ponte Rialto, de Veneza, acompanhados de música, e logo depois tivemos meia hora para dizer o que ela tinha de sacral e de não sacral. Esses slides vão ser projetados agora e pedimos ao senhor o favor de comentar)

A Ponte Rialto é naturalmente, a extrema delicadeza da estrutura... do arco. Os senhores devem ter notado que houve a idéia de fazer a ponte coberta de maneira a garantir os transeuntes contra a chuva. Mas essa idéia funcional foi superada de tal maneira, que a gente nem é levado a pensar nela diante da delicadeza das arcadas sucessivas e do movimento de ascensão de uma parte e de outra, terminando num elemento monárquico e central que dá vagamente a idéia de um nicho de imagem num arco de triunfo. De tal maneira a parte funcional foi englobada pela parte arquitetônica, pela parte artística, que uma pessoa que olhasse para a Ponte do Rialto não pensaria em água, nem em galeria, nem em nada disso: teria a impressão de que isso foi colocado aqui em cima de mero enfeite.

Esse enfeite se destaca, como eu já tive ocasião de dizer, por um misto de delicadeza, mas também de seriedade. Há seriedade aí porque há pensamento em tudo, há proporção em tudo, há um desejo verdadeiro de fazer a coisa muito bem feita com uma grande aplicação de espírito. Isso não foi concebido sem uma grande aplicação de espírito. Essa aplicação de espírito, por outro lado, se disfarça a si própria de maneira que a gente tem a impressão de que o artista que concebeu isso o desenhou em poucos minutos e mandou colocar aí em cima essa estrutura que os senhores vêem.

Eu chamo a atenção dos senhores para os menores acabamentos. Os senhores notem a balaustrada como é bonita. Os senhores notem, depois, o próprio arco da ponte como é de um movimento delicado. Passando por debaixo disso, as águas prestigiosíssimas de Veneza, que parecem carrear consigo a beleza de todos os palácios por onde elas se movimentaram.

Os senhores notem aqui a proa de uma gôndola - os senhores notem outras embarcações festivas - os senhores notem aqui uma gôndola por inteiro, dessas gôndolas comerciais, mas muito bonitas e pretas, que se alugam em Veneza. Os senhores têm algo de muito delicado e que afirma vigorosamente a superioridade do espírito sobre a matéria, da arte sobre o funcional, do nobre sobre aquilo que é vulgar. Os senhores não encontram aqui nada de vulgar.

O gondoleiro é um homem do povo: os senhores notem a elegância do movimento dele, da posição dele. Ele está de camiseta, quer dizer, ele andando pela rua teria caracterização de um revolucionário qualquer. Mas olhem a beleza do movimento dele, a nobreza, a elegância com que ele desloca esse imenso remo. Ele está fazendo força, mas não nos dá idéia nem um pouco de uma força vulgar. Dir-se-ia quase que ele está executando uma figura especialmente para ficar elegante nessa fotografia. Isso é sacral [1].

Em que sentido isso é sacral? No sentido de que tem uma hierarquia de valores, apresenta uma hierarquia de valores que conduz para o sacral, que prepara para o sacral, sem que se possa afirmar diretamente que tenha uma nota intensamente sacral. A seriedade conduz ao sacral, o aristocrático de si tem uma parcela de sacral. Essa ponte, evidentemente, é aristocrática. O predomínio do estético sobre o útil tem qualquer coisa de sacral, também porque é uma forma de predomínio do espírito sobre a matéria. Há qualquer coisa de sacral nesse elemento monárquico central da ponte. Poder-se-ia imaginar aqui uma imagem colocada em cada um desses arcos e a imagem ficaria bem alojada aí dentro, de tal maneira não se poderia dizer que o sacral não se sentiria isolado, não se sentiria expulso, não se sentiria maltratado dentro desse ambiente.

Eu deixo de me referir a esse pano aqui [no topo do arco da ponte], que alias não é feio, porque é uma propaganda comercial e lamenta-se de qualquer maneira que uma propaganda comercial aí esteja. Mas se os senhores comparam isso com os anúncios das avenidas de uma grande cidade de hoje, ainda se poderia, na comparação, falar de sacralidade nesse anúncio de uma exposição.

Bem, agora, o que há aqui de não sacral? Os senhores vêem que não há nenhum emblema religioso, não há nenhum sinal religioso, a influência da Renascença quase não deixou reminiscência nenhuma da Idade Média dentro daquilo, dentro disso. Há apenas uma vaga reminiscência do gótico no que há de ligeiramente não arco na linha geral da ponte. O resto todo é influência da Renascença. E se é verdade que aqui caberiam bustos de imagens, caberiam igualmente bustos de grandes homens de Florença, ou caberiam bustos de homens da antigüidade.

E aqui nesse arco, por exemplo, ou nesse, tanto se poderia pôr São João Evangelista, São João Batista, como se poderia pôr Pitágoras. E também Pitágoras ou deuses profanos não ficariam mal dentro disso. Quer dizer, a atmosfera da Renascença já entrou nisso. Entrou no que? Tudo isso é muito bonito, muito nobre, mas tem qualquer coisa de fruitivo, que já não foi feito para a contemplação, mas para o gozo da vida, para o prazer. E com isso vão se abrindo as portas para coisas piores. Esse seria o comentário que me caberia fazer sobre o Rialto.

A ponte Alexandre III, em Paris

Faz parte da doçura do gênio francês afirmar-se nas circunstâncias mais inesperadas. Eu já estive nessa ponte e nunca consegui dar bem a idéia da impressão que me davam esses candelabros. Hoje, diante desse slide, é que consegui fazer, explicitar a idéia que estava no meu espírito. Mas esses bonitos candelabros são feitos de tal maneira que ao menos a mim - a impressão pode ser muito subjetiva - me causam a impressão de que são vidros de perfume. A forma, o colorido é tal, que se a gente soubesse que se guarda perfume aqui dentro, a gente acharia natural.

Quer dizer, há qualquer coisa de objeto de mesa de toilette nesses candelabros. Eles são tão bem trabalhados, são tão doces, são tão delicados que não parecem ter sido feitos para ser expostos a essa intempérie. Os senhores notem aqui, isso me parece, evidentemente, neve acumulada, todos os ventos soprando. Os senhores notem que é inverno, os senhores notem essa árvore completamente desfolhada, essa vegetação desfolhada, entretanto, no meio de tudo isso a nota francesa põe essa doçura, essa suavidade que é própria do espírito francês.

Essa doçura entretanto se afirma também em uma coisa que Deus pôs na França - não foram os franceses que fizeram - os franceses se inspiraram na natureza, na doçura da natureza deles. Eu não sei se os senhores vêem essa árvore reduzida apenas a esquema, porque toda vegetação desapareceu. Ficou só a galharia e um esquema. Eu não sei se os senhores vêem a beleza da cor. Ela é de um marrom lindo. Eu não sei se os senhores percebem a delicadeza com que essa árvore deixa transparecer uma impressão de tristeza. A árvore é incapaz de tristeza, mas dir-se-ia que ela está triste. Ela está toda desolada. Olhem como esse penacho cai do lado de cá. E nem é um penacho: é galharia. Mas dá a impressão de um penacho caindo do lado de cá, e que são penachos isolados que se estendem pelo céu levando o vento. Mas tudo tão esguio! Cada um desses galhozinhos se entronca no outro com tanta elegância e cai de um modo tão langoroso, que se diria que essa árvore é quase romântica. Não é romântica porque ela é feita pela natureza, não foi modelada por nenhum escultor.

Aqui os senhores têm a entrada da ponte, monumental, é uma coluna, mas no alto da coluna, figuras finas, que se terminam em espadas, em braços, em gestos elegantes, delicados, tudo isso dá impressão de algo de etéreo, de algo, portanto, também de muito nobre. A nota aristocrática está visivelmente presente na construção dessa ponte. A nota espiritual, nesse sentido de predomínio da matéria sobre o espírito, porque o espírito impregna a matéria e a modela, de maneira a gente pensar numa porção de coisas espirituais, estados de espírito do homem quando olha para isso, também está presente.

Os senhores notarão que essas são afirmações de sacralidade e que delas também se pode dizer algo nessa ponte a respeito do predomínio do artístico sobre o funcional. Quando a gente vê essas lâmpadas, a gente as acha tão bonitas, que tem a impressão de que elas não foram feitas para a utilidade delas; a gente pensa, à primeira vista, que são enfeites colocados para adornar esse lugar, de tal maneira isso é bonito. Entretanto, nós podemos dizer que a nota fruitiva ainda está mais presente do que na ponte do Rialto. É obra da belle époque, é obra de uma época histórica, que se desenvolvia na França sob o regime republicano, mas dentro do quadro de uma Europa inteiramente monárquica e no quadro de uma sociedade francesa ainda profundamente aristocrática.

Há eflúvios de Ancien Régime que estão presentes nisso, mas a sensação de gozo da vida é intensa aqui. A idéia da capital de todos os prazeres do mundo, uma ponte construída para causar sensações agradáveis aos olhos, para divertir o homem, para dar-lhe a vontade de viver e de viver nessa terra, também me parece muito presente aqui. De maneira que esse seria o lado, a meu ver, dessacralizante da ponte. Quanto à Idade Média, nem se pode falar. Se o Rialto conserva uma vaga impressão de Idade Média, aqui já está tão longe que nem se põe sequer uma consideração a respeito disso. Se o Rialto tem um perfume de Idade Média, aqui tem um perfume de Ancien Régime. Como os senhores sabem, entretanto, um perfume muito menos denso de contra-revolução do que o da Idade Média.

Visão de conjunto do magnífico desfile com que a TFP inaugurou sua campanha pelo Natal dos pobres em dezembro de 1970, no Viaduto do Chá em São Paulo.

Mas para os senhores terem uma idéia, uma comparação, os senhores comparem isso com o Viaduto do Chá [ viaduto no centro de São Paulo ]. O que é o Viaduto do Chá? É um tabuleiro, chato, raso, que tem de um lado e do outro não uma balaustrada bonita como essa, mas umas grades que parecem feitas para evitar que qualquer louco se jogue lá de cima, que lembram sua finalidade funcional de um modo evidente e depois, de quando em quando, umas pilastras as mais pesadas possíveis, cuja única vantagem é de servirem de solo para arautos da TFP.

"...umas pilastras as mais pesadas possíveis, cuja única vantagem é de servirem de solo para arautos da TFP"

Os senhores vêem que nem é possível uma comparação. A gente diria uma realização feita por bárbaros, em comparação com essa coisa aqui. Comparem isso com o Rialto. É mais rico do que o Rialto, uma ponte muito mais cara do que o Rialto. Mas a arte e a graça do Rialto são muito superiores a isso. Não há nenhum artista que ouse dizer que o Rialto tem menos valor ou tanto valor artístico quanto essa ponte. Pelo contrário, o Rialto tem muito mais valor artístico do que essa ponte. Haveria, parece, um terceiro slide a passar, ou não?

 

 

 

Uma cena do Ancien Régime

(Infelizmente não foi possível identificar esta imagem; escolheu-se uma por aproximação, n.d.c.)

Esta cena (ver abaixo), creio eu que para a geração novíssima deve dar uma impressão muito rara. Eu não sei se os senhores notam a extrema solenidade dos personagens. A cartola, como obriga o homem a tomar uma atitude circunspecta. Esses dois transeuntes que são, evidentemente, senhores de uma certa distinção, de uma certa posição social, esses dois transeuntes os senhores notam que confabulam como se fossem ministros de Estado. Talvez eles estejam perguntando um para o outro onde é o próximo ponto de taxi. Mas a confabulação se faz com a gravidade, a seriedade de quem está decidindo o futuro da Europa.

Paris au Belle Epoque - Porte St. Denis

 Le Boulevard St. Denis a Paris - Jean Beraud

Notem o passo distinto desse aqui, com as mãos e os pés, como ele procura pisar leve. Notem a gravidade dessas duas senhoras: isso sim é maxi-saia, ou é uma saia total. Os senhores vêem que apenas a ponta dos pé aparece e como elas tem um porte ereto, como elas caminham sérias. Dir-se-ia que da parte de todos há uma gravidade que vai de acordo com o caráter festivo e, ao mesmo tempo, solene dos edifícios que vêem de um lado para outro e também dos lampadários. Isso é uma fotografia certamente de antes da 1ª Guerra Mundial. E os senhores podem notar nela a atmosfera grave e festiva, a atmosfera de corte em que se desenrolava a vida, mesmo a vida de rua, nos bairros importantes da grandes cidades.

É interessante os senhores notarem esta figura aqui que, se minha vista não me trai, não usa cartola como esse, mas chapéu coco como esse. Mas eu não estou muito bem colocado na perspectiva para medir. Como? E os senhores notam aqui um cordão, não notam? Ah, é bengala. Aliás, um dos modos distintos de andar era não se apoiar na bengala, mas usar a bengala assim e alguns elegantes apoiavam o castão da bengala aqui, com cuidado de evitar que a bengala machucasse o cravo que vinha à lapela. Porque esses senhores todos usavam seus cravos, suas flores etc., sem falar de abotoaduras preciosas, anéis, alfinetes de gravata, etc. etc.

Que comparação fazer? Essa rua... Se os senhores forem comparar esses transeuntes com um fidalgo de Versailles, eles parecem agentes funerários. Ao pé da letra. Se os senhores os compararem com a gente que atravessa hoje o Viaduto do Chá, parecem príncipes. Então, os senhores compreendem bem como nós caímos - quase poderíamos falar em três revoluções - como nós caímos daquele tempo para cá. O que acharia um desses homens se ele tivesse que andar de camiseta? O que pensaria um desses de camiseta se o obrigássemos a se vestir como um desses homens?

Era possível pôr essa gente vestida assim andando num viaduto moderno de uma grande cidade atual? Eu tenho impressão que as pilastras tremeriam e o Viaduto indignado ejetaria essa gente para fora. Acho também que eles se recusariam a passar e prefeririam não ir ao centro velho da cidade....

Agora, o lado mole, fofo e fraco de tudo isso. Poucos anos depois arrebentava a guerra, com a guerra veio uma mudança de hábitos. Esses mesmos homens já quase não usavam essas sobrecasacas compridas, usavam o paletó chamado saco, - muito merecidamente, porque era um saco em comparação com esses trajes - usavam chapéu de feltro, não usavam mais camisa de peito duro, usavam sapatões - aqui é sapato pontudo - sapato chanca: os netos já são os de camiseta. Eles presenciaram tudo isso sem surpresa, sem estranheza. Aqui parecem prodigiosamente apegados a tudo isso. Um piparote jogou fora as cartolas, liquidou com tudo. Eles continuaram a viver satisfeitos. Homens sem princípios: com pose, mas vazios.

Então, a gente poderia dizer o seguinte: vale a pena ter pose, quando se é vazio? A resposta é: sobretudo vale a pena não ser vazio, mas mais vale a pena ser vazio com pose do que vazio sem pose. Porque mais vale a pena uma fruta ser podre com casca bonita, do que podre com casca feia. O mistério é fácil de deslindar. É o que eu teria a dizer a respeito disso. Não sei se algum dos senhores querem me perguntar alguma coisa.

(Pergunta: Quando o senhor comentou a primeira ponte, falou que não havia espírito católico e que isso era próprio da Renascença…)

A pergunta é bem feita. A questão é a seguinte: uma ponte ou um monumento qualquer com maior solenidade, a Idade Média nunca deixava de pôr ali uma nota religiosa qualquer. Essa não é uma ponte qualquer, mas é uma ponte com uma solenidade um pouco maior. A quebra da tradição de pôr algo de religioso em algo de mais solene, por via de subtração, significa, evidentemente, uma mudança de espírito. Um comentário sobre a sacralidade não poderia deixar de conter isso, esse comentário.

Bom, eu falei mais adiante de imagens também, não para mostrar que a ponte ficaria mais sacral se tivesse ali imagens, mas para mostrar que o sacral não estaria exilado lá dentro. Quer dizer, isso se exige de uma coisa para ser tida como sacral pelas suas formas. É que algo de sacral ali dentro não faria [...inaudível], não é verdade? Então, o comentário que eu fiz tem sua distinção em relação à afirmação que eu fiz anteriormente. Está claro? Algum outro dos senhores quer perguntar alguma coisa?

(Pergunta: Dr. Plínio, fizemos uma análise comentando aquelas coisas não sacrais. E o senhor comentou as coisas sacrais. Qual é o critério que se deve adotar: começar pelo lado Revolução ou pelo lado contra-revolução na análise disso?)

Eu tenho impressão que isso depende muito do feitio de espírito de cada um, do ângulo de observação, é dessas coisas em que não há um critério absoluto. Não tem dúvida nenhuma que, em princípio, é melhor a gente notar o lado revolucionário, para depois notar o lado contra-revolucionário. Mas essa regra, se não é ela mesma uma regra absoluta - é uma regra de preferência - ela tem ela mesma suas exceções, quando se trata de monumentos que logo impressionam a nossa sensibilidade moderna pelo que têm de sacral. Porque é de acordo com a marcha do pensamento começar por analisar aquilo que impressiona mais. De maneira que se admite isso também. Está claro? Há mais alguma pergunta?

(Pergunta: Dr. Plínio, essa ponte francesa, tirando a balaustrada... já não tem uma nota, qualquer coisa predominantemente igualitária como o Viaduto moderno? [inaudível] já não prenuncia o Viaduto moderno?)

Em que sentido o senhor acha a nota igualitária?

(Ela é muito larga e o chão muito igual. Ela não tem… ela já me dá uma idéia de ponte feita para massa, sem nenhum enfeite além daquele da balaustrada.)

Sim, não tem dúvida. A questão agora é a seguinte: o princípio é verdadeiro de que uma ponte muito larga de si já perde alguma coisa de sacral. É verdade também que uma ponte muito horizontal perde alguma coisa de sua nobreza enquanto horizontal. Mas não se pode dizer que a intenção tenha sido ali de fazer uma coisa revolucionária. É mais uma consonância com o sistema de urbanismo francês e de ajardinamento francês, propício às perspectivas muito largas, que eles procuram compensar no que tem de igualitário exatamente com molduras muito bonitas. De maneira que o senhor tem razão quanto ao princípio geral que invoca, mas menos quanto à aplicação concreta.

Bom, com isso eu creio que podemos então encerrar.


[1] Sobre o conceito de "sacral", "sociedade sacral" sugerimos a nossos visitantes a obra: "A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo no pensamento de PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA", onde na Parte II, cap. 1, item 7, o assunto é tratado em detalhes.