Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Semelhanças entre o regime feudal japonês e o ocidental

 

 

 

 

 

 

Catolicismo, Nº 628 - Abril de 2003 (*)

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No Japão floresceu um regime feudal bastante desenvolvido. É mesmo uma das glórias dessa nação ter intuído os princípios de sabedoria que presidiram os fundamentos do feudalismo medieval. De ter intuído isto de tal maneira que, fazendo-se o cotejo entre o regime medieval japonês e o regime medieval no Ocidente, constatam-se traços de semelhança.

Uma das características inerentes ao regime feudal é um certo senso patriarcal da grandeza do senhor feudal, como pai e como protetor daqueles que são seus vassalos. Na concepção feudal — isto deve ser horripilante para os ouvidos dos progressistas católicos — os termos pai e senhor se assemelham. O pai é senhor de seus filhos. O senhor é pai dos seus vassalos. O senhor assume a plena proteção de seus vassalos e os defende contra os inimigos externos. Tal defesa dos vassalos incumbe mais ao senhor do que ao rei.

De onde decorre que algumas notas presentes nas construções feudais da Idade Média são fatores de segurança, de solidez e de estabilidade. Mas, simultaneamente, tais notas refletem certa altaneria, certo desafio, certo arrojo próprios de um poder que está continuamente em guerra. Guerra levada, não raras vezes, ao exagero, inclusive contra o poder real. Este chegou a ser enormemente debilitado no Japão, em parte por causa do feudalismo, exatamente como o foi, a certa altura da Idade Média, na França. 

 

Embora os daimyos, que eram os grandes senhores feudais japoneses, tenham sido homens muito guerreiros — as pinturas e as porcelanas japonesas os representam como homens terríveis no combate —, foi sobretudo a nobreza inferior dos samurais que se tornou legendária por uma coragem extraordinária. Quem fala em samurai, reporta-se naturalmente ao guerreiro.

Há, entretanto, uma nota distintiva do samurai em relação ao guerreiro europeu medieval. Este último continuava a ser guerreiro até a raiz dos cabelos, mesmo quando descansava. O japonês, evidentemente, combatia na guerra como um leão; mas na hora do descanso a pugna era posta de lado e a mente dele tomava outro rumo. 

Outro aspecto que torna difícil, para nós ocidentais, compreender a mentalidade dos daimyos: eles tornaram-se, em boa parte, no Japão de hoje, diretores de empresas.

Um conhecido meu que esteve nesse país, tendo entrado num escritório para cuidar de negócios, ficou espantado ao ver como o diretor da empresa era considerado. Quando os secretários ou outros empregados da empresa entravam na sala, faziam grandes reverências. Ele estranhou e perguntou o porquê disto.

Disseram-lhe que, em geral, os diretores de empresa do Japão pertencem à alta nobreza, e são tratados, ainda hoje [1970], com toda deferência com que o plebeu se relacionava com a nobreza na época do feudalismo.

De maneira que, com honrosas exceções, a alta nobreza ocidental perdeu seu status na sociedade atual. No Japão, contudo, a nobreza não perdeu seu status e continua a dirigir o mundo empresarial. É ela que, estando no comando das empresas, é fator importante da propulsão econômica do país. 

(*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio para sócios e cooperadores da TFP em 22 de junho de 1970. Sem revisão do autor.


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