Plinio Corrêa de Oliveira
Castelo da Garça Branca: delicado, nobre, uma obra de sonhos
Catolicismo, N° 677, Maio de 2007 (*) |
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A fortaleza feudal de Himeji — na cidade que leva esse nome na província de Hyogo (Japão) —, também conhecida como Hakuro-jo ou Shirasagi-jo (Castelo da Garça Branca), começou a ser construído em 1333, tendo sido inteiramente concluído somente 230 anos depois.
Estamos diante de uma fortaleza feudal do Japão — o Castelo da Garça. As muralhas, até certo ponto, se parecem com nossos muros coloniais, com seus grandes beirais. São sólidas e sem nenhum ornato. Têm a poesia da obra que desafiou os séculos. No fundo projeta-se, muito mais alta do que muralhas, a fortaleza feudal japonesa. Uma construção tão alva e delicada, que mais parece obra de sonhos. Este castelo lembra, em algo, o castelo europeu medieval? Sim. Embora na arquitetura ele seja profundamente diferente do castelo medieval da Europa, lembra-o quanto ao seguinte aspecto: no élancé do edifício. O castelo europeu tem como característica principal as torres. Aqui não há propriamente torres. Entretanto, o papel que fazem os corpos de edifícios cada vez menores é, no fundo, o de uma torre. A silhueta evoca um pouco a ideia de uma torre, ou seja, de um corpo de edifícios que procura galgar os céus, que se perde no alto, indicando elevação de espírito e grandeza de alma muito acentuadas. Porém, em que sentido o Castelo da Garça é diferente do castelo medieval? Este não tem, a não ser raras vezes, esta graça. O castelo europeu, tem-se a impressão de que deita as garras no rochedo. É constituído de torres fortes, prontas para desafiar o vento e o clima hostil. No castelo medieval, os muros são guarnecidos de ameias e barbacãs para os guardas circularem, a fim de proteger a muralha contra o adversário. Em volta das torres há o fosso com água e a ponte levadiça. Não se nota propriamente isso no castelo japonês. O corpo inteiro do edifício parece dissociado da luta. Não se tem noção, à primeira vista, de que haja um vigia espreitando dia e noite. O castelo japonês é um edifício delicado, nobre, próprio a um povo voltado para o sonho. E que garante a sua incolumidade contra o adversário através da grossa muralha em volta dele. A vida do senhor feudal japonês parece um tanto alheia à luta e à defesa. Ele é um contemplativo, vive em suas delícias, suas contemplações, sentado no chão, diante de uma mesinha, vestido com tecidos preciosos, bebendo chá, numa xícara de porcelana muito bonita, e pensando, pensando...
(*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio em 22 de junho de 1970. Sem revisão do autor. |