A fachada do Escorial [**]
apresenta alguma semelhança com a fachada de Versailles:
longa, enorme, com motivos que se repetem. Mas na
fachada do Escorial há uma nota de simplicidade, de
sobriedade e de serenidade que Versailles não tem.
Versailles é um edifício festivo; o Escorial é um
edifício pensativo. Versailles convida à exibição das
grandezas do mundo; o Escorial convida à concentração e
a pensamentos das grandezas do Céu.
Nos pavilhões do Escorial há uns
tetos esguios que apontam para o céu, com umas esferas
em cima que dão a impressão de que algo pegou a terra,
meteu um garfo e a levantou para o céu. A terra é
espetada e conquistada em ordem ao céu.
É o que não se vê em Versailles,
onde tudo é horizontal, nada aponta para o céu, os
troféus indicam a glória terrena dos Bourbon e de Luís
XIV.
Há qualquer coisa de um pouco
monótono nas fachadas do Escorial. Numa delas só há
janelas que se repetem; não há um portal ornamental, não
há uma consolação para a alma dentro da monotonia
invariável das janelas. Mas quando se sabe analisar,
nota-se algo da grandeza espanhola.
É certa forma de austeridade, de
segurança de si, sem enfeite. Há certa pertinácia na
monotonia, como quem diz: “Sou eu. Sou assim e assim
está bem. Eu desafio!”. E há qualquer forma da grandeza
de gentil-homem combatente, que é preciso saber
interpretar para se entender o sabor desse palácio
espanhol.
NOTAS
[*] Excertos da
conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de
Oliveira em 21 de fevereiro de 1970. Sem revisão do
autor.
[**] Palácio de San Lorenzo de El Escorial, da época
de Felipe II, foi construído entre 1563 e 1584. É
considerado um dos principais monumentos do Renascimento
espanhol.
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