Plinio Corrêa de Oliveira

 

Luís XIV recusou-se a consagrar a França ao Sagrado Coração de Jesus

Suas consequências

A perspectiva histórica da não correspondência a graças insignes

 

 

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 15 de agosto de 1969

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

Os senhores talvez se lembrem que, a propósito da Festa da Assunção e da novena do Imaculado Coração, nós analisamos o significado histórico e as simetrias e as assimetrias, as harmonias e as cacofonias históricas que havia no fato de se ter celebrado na França o culto blasfemamente chamado ao “sagrado coração” de Marat [1743-1793]. E mostrei aos senhores, com base numa ficha tirada do [famoso historiador João Batista] Weiss, até que extremos chegou esse verdadeiro culto praticado na França - num país que era tido como filho primogênito da Igreja - ao coração de Marat, quer dizer, ao coração de um bandido e de um demônio.

Mas há outra consideração que não cheguei a fazer e que tem sua importância. De maneira que eu me permito acrescentá-la hoje à noite.

Os senhores sabem que Luís XIV recebeu o recado - é um fato várias vezes comentado entre nós - recebeu uma comunicação, através de uma dama da corte que tinha relações com Santa Margarida Maria Alacoque, de que Nosso Senhor Jesus Cristo mandava dizer a ele para colocar o Sagrado Coração de Jesus na bandeira francesa e para fazer uma consagração da França ao Sagrado Coração de Jesus, prometendo grandes bênçãos e grandes manifestações de generosidade divina para com ela, caso esse ato fosse praticado.

Os senhores veem aí os mistérios do trato de Deus com as almas: nessa comunicação de Nosso Senhor Jesus Cristo a Santa Margarida Maria, Ele trata Luís XIV de “amigo”: diga ao meu amigo o rei da França, Rei Cristianíssimo, que faça tal coisa etc. etc. Vejam, portanto, com que carinho isso era pedido. Porque maior honra do que ser chamado “amigo” de Nosso Senhor é impossível. Talvez não fosse amigo enquanto homem, mas é que o Rei Cristianíssimo - era esse o título dos reis da França - por ofício, por definição era o amigo de Nosso Senhor. Talvez fosse por isso. Mas, de qualquer maneira, era um modo sumamente carinhoso de se dirigir ao rei.

Mas o rei recusou, como os senhores sabem disso, e o resultado foi que na família real francesa permaneceu essa tradição de tal recusa. Até é verdade que um dos descendentes de Luís XIV, antes da Revolução Francesa, mandou colocar por detrás do altar de Versalhes um nicho, portanto escondido, onde estava o Sagrado Coração de Jesus. Mas era de um culto quase clandestino. Não era uma afirmação oficial de adesão a esse convite de Nosso Senhor.

Mas essa tradição permaneceu de tal maneira, que Luís XVI, encarcerado no Templo, fez uma consagração da França ao Sagrado Coração de Jesus, de acordo com o pedido que Santa Margarida Maria tinha feito a Luís XIV, que era já antepassado remoto dele. Luís XIV era, se eu estou calculando bem aqui no momento, o quinto avô de Luís XVI. Era, portanto, antepassado bem remoto de Luís XVI. E ele prometia ratificar essa consagração caso fosse libertado, a vida dele fosse salva e pudesse voltar ao trono da França. Entretanto a consagração chegou tarde e houve o dilúvio da Revolução Francesa que os senhores sabem.

Os senhores estão vendo que não podemos terminar essa história nesse ponto, mas que essa recusa tem um prolongamento muito maior e seus efeitos descem muito mais baixo.

Se Luís XIV tivesse feito a consagração ao Sagrado Coração de Jesus, a França não teria rolado tanto, ao ponto que nela se tivesse adorado o que blasfemamente chamavam o “sagrado coração” de Marat. Quer dizer, essa infâmia ainda é uma sequência daquela recusa de Luís XIV.

Os senhores podem observar assim, a que baixezas a gente pode rolar quando se rejeita uma graça insigne, e que tremendas consequências são acarretadas pela recusa de uma graça. No caso francês, é esse: uma nação convidada a ser a primeira a se consagrar ao Coração de Jesus, à qual era prometido uma série de bênçãos enormes caso assim fizesse, essa nação primogênita da Igreja, por ter havido essa recusa, foi rolando. E foi tão baixo que chegou a adorar, praticamente, o demônio, porque quem adora o pseudo-sagrado coração de Marat, adora o demônio. Os senhores veem aí a linha histórica dessa recusa até onde chega.

Não podemos considerar, portanto, como ponto terminal dessa sequência de fatos, aquilo que dão certos autores direitistas, a saber o caráter frustro da consagração feita por Luís XVI. Temos que ir mais adiante. Pouco depois de Luís XVI morrer, a França adorava o pseudo-sagrado coração de Marat. Essa é a perspectiva histórica completa como os fatos têm que ser analisados.


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