Plinio Corrêa de Oliveira
São Pacômio, o monge das duas esteiras e a pretensão
Saber discernir, em pequenos fatos, indícios de importantes movimentos da Revolução e da Contra-Revolução
Santo do Dia, 17 de março de 1969 |
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A D V E R T Ê N C I
A O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de
conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da
TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre
nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial
disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério
tradicional da
Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como
homenagem a tão belo e constante estado de
espírito: “Católico
apostólico romano, o autor deste texto
se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja.
Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja
conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui
empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em
seu livro "Revolução
e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº
100 de
"Catolicismo", em abril de 1959. |
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Deram-me para comentar um trecho dos “Exercícios de Perfeição e Virtudes Cristãs” do Padre Afonso Rodrigues, da Companhia de Jesus:
Sabia fazer as coisas São Pacômio, hein?...
Representação de São Pacômio (à direita), geralmente reconhecido como o fundador do monasticismo cenobita. Nem os monges de São Pacômio nem ele próprio se tornaram sacerdotes, preferindo viver sua vida como ascetas. Santo Atanásio tentou ordená-lo em 333 mas Pacômio fugiu dele Acho que a principal consideração para nosso interesse não é propriamente essa, mas é como São Pacômio mostra que, às vezes, pequenos fatos [de si] inocentes são indícios de estados espirituais muito ruins e que, portanto, é preciso observá-los como também para interpretar situações espirituais importantes. Alguém de espírito liberal poderia dizer: “Ora, este bom São Pacômio! Que homem exagerado! Que importância tem fazer duas esteiras em vez de uma? Isso não é nada, isso não significa coisa nenhuma. Coitado do monge! Ele trabalhou um pouco mais; vamos dizer que tenha tido um pouco de vaidade. Não é uma vaidade ilegítima. Ele não trabalhou mais? Não é justo que o homem tenha, em meio das desolações do claustro, a pequena alegria de mostrar que sabe fazer um pouco melhor as esteiras, um pouco mais depressa do que os seus irmãos de hábito? Então isto é uma tal catástrofe que vale a pena encher esse pobre coitado de vergonha e de penitência por uma coisa tão pequena?”... Nós responderíamos o seguinte: não é o fazer a esteira em si que constituiria algo grave, mas é que isso indica a presença e a vivacidade de um defeito, que é a pretensão. Então, a vaidade dele de mostrar que sabia fazer duas esteiras, o jeitinho ardiloso de pôr na frente da cela de São Pacômio para ver se este o louvava... Portanto, uma vaidade que se transforma em senso de propaganda e com arzinho humilde: “ele que deixou suas esteirinhas na entrada da cela... não é que tenha querido mostrar, porque ele é muito humilde...”. Quer dizer, ele mostra que, além de saber bem fazer esteiras, é humilde também. Precisamente o que ele não é. Esta arte da propaganda em benefício de si mesmo é o que denuncia o amor próprio, denuncia uma coisa que de si mesma é muito viva, porque não há amor próprio que não seja vivaz. Falar em amor próprio vivaz, acho que é um dos mais cruéis pleonasmos que há, porque o amor próprio de si é vivaz. Em todo homem ele reage com um impulso extraordinário, e se se condescende um pouquinho com ele, está uma fera solta dentro da pessoa! É um pouco como se, de repente, um de nós daqui ouvisse, em meio aos ruídos mil que há durante o dia na Rua Pará (onde estava se dando esta reunião, n.d.c.) e em todo o bairro de Higienópolis, um dos ruídos fosse um rugido de leão... Um leão! Outro poderia dizer: “Ora, tenha paciência! No meio de rugidos de caminhão, de carroça de lixo, de tanta coisa, você dá importância a um rugidinho de leão?” Espere um pouco: se fosse só rugir não era nada, mas onde está o leão? Se o leão está solto, esse rugido me incomoda muito mais do que de dez mil máquinas! Essa esteira era um rugido de um leão, esse leão é o amor próprio de cada um. São Pacômio domou o leão. Aqui está a filosofia do caso. Nós devemos - através dos pequenos indícios - interpretar o que nos vai de mal na alma ou o que nos vai de bom, com mais atenção no que vai de mal porque o que vai de bom nós percebemos. Devemos, além disso, saber interpretar o que vai de bom e de mal nos outros e no ambiente que nos rodeia, no curso dos fatos, na marcha da civilização, na decadência dos costumes. Os pequenos indícios nos fazem ver – viva - a Revolução e a Contra-Revolução. Aqui está a grande lição de São Pacômio. |