Plinio Corrêa de Oliveira
São
Cipriano tipos de pecadores
Santo do Dia, 9 de julho de 1968 |
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A D V E R T Ê N C I
A O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de
conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da
TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre
nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial
disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério
tradicional da
Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como
homenagem a tão belo e constante estado de
espírito: “Católico
apostólico romano, o autor deste texto
se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja.
Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja
conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui
empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em
seu livro "Revolução
e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº
100 de
"Catolicismo", em abril de 1959. |
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No Tratado “De Lapsis”, de São Cipriano (210-258), há a seguinte frase: “É condenável perdoar facilmente aqueles que apostataram por covardia”. Os lapsis eram os católicos que chegavam na hora do martírio não tinham coragem, então sacrificavam aos ídolos; lapsus, donde vem a palavra relapso em português e lapsi no plural. Então, São Cipriano dizia que é mal feito perdoar com facilidade esses lapsis, pois o que eles faziam muitas vezes era o seguinte: jogavam um punhado de incenso na pira, aonde ardiam brasas em honra aos deuses, e eram soltos. Liberto, o sujeito voltava para casa e começava o remorso. Então, ia para as catacumbas pedir perdão. Mas acontece que a presença deles, fujões, medrosos, nas catacumbas aonde havia exatamente os futuros mártires, era uma baixa de nível muito grande, e alguns faziam esse raciocínio: “Eu queimo incenso, depois me faço perdoar; acabo salvando minha alma do mesmo jeito”. De maneira que era, no fundo - se eles fossem recebidos com facilidade - uma coisa em extremo convidativa para uma série de gente. Então para a Igreja, era um problema saber como fazer: não podia lhes negar perdão, porque a Igreja perdoa a todo mundo que se apresenta arrependido e com firme propósito de não pecar; mas também dar o perdão com muita facilidade, era relaxar toda contextura da Igreja. Então o problema muito delicado: “Como fazer em face deles”? E esta questão então foi abundantemente tratada pelos Doutores daquele tempo. Porém esse problema não tem interesse só para aquele tempo; mas um interesse perpétuo, porque a Igreja vive cheia de lapsis, de gente que mais ou menos peca, relaxa etc., etc. Como fazer com eles? Aqui é um ponto muito interessante. Mas como fazer? Por exemplo: houve um tempo, na Idade Média, que se davam penitências públicas. O sujeito pecou, está bem: “Você vai a pé, por exemplo, a Santiago de Compostela”. Seria como ir, por exemplo, daqui à Aparecida. O sujeito declarava, porque devia declarar, sendo visto a pé indo à Aparecida: “O quê que está fazendo? - Cumprindo uma penitência que o padre me deu”. Naturalmente vinha a pergunta: “Uhm…. Uhm.... Você está cumprindo uma penitência? Alguma razão terá!...” Vem a pergunta: se o regime das penitências, usado na Idade Média, era bom e aplicável em nossos dias, sim ou não? Perdoar, sempre; penitência, qual? Esse é o problema. Então aqui São Cipriano diz o seguinte: “Pode-se compreender e perdoar aquele que cedeu em meio a torturas e que se arrepende de sua traição; mas agora que feridas podem mostrar os vencidos, que chagas, que torturas de seus membros, se sua fé não caiu na luta, mas sim a perfídia é que antecedeu o combate? Nem justifica o derrotado, a necessidade de seu crime, quando o crime é da vontade”. Ele dizia o seguinte: era um dado fácil, quando o sujeito se apresentava com sinais de ter sido torturado, então se podia com mais facilidade perdoar. Mas quando o sujeito não era torturado, como fazer? Como é que ele se apresentava para pedir perdão? Aqui, numa linguagem um pouco empolada, mas que os antigos faziam suas delícias; eram as delícias da ordem inversa, em que gerações fáceis de prestar atenção acompanhavam a acrobacia da frase para ver se caía certo e se encantavam... Não se pode dizer que essa seja a nossa preferência hoje em dia... Então, a frase trazia esse pensamento inicial. É uma coisa muito compreensível, sensata, como tudo quanto é da Igreja. “Não pretendo, falando assim, aumentar a culpa dos irmãos, mas quero incentivá-los a pedir perdão”. Aqui está muito bem posta a frase. Quer dizer, caçoando daqueles que pecaram, sem ser torturados, por um puro pânico. Então, em outros termos, afirma São Cirilo:“eu não quero absolutamente que se negue perdão a eles, mas quero ajudá-los a caírem mais em si, a respeito da profundidade de sua culpa. “Pois como está escrito, aquele que vos chama felizes, conduz-vos ao erro e turva o caminho de vossos pés e o que passa brandamente a mão sobre o pecador, com afagos de adulação, não faz senão fomentar o pecado e não reprime os delitos, mas ao contrário alimenta-os”. Os Srs. não poderão dizer que é esta a atitude da maior parte do clero contemporâneo... Eu não sei se a frase está clara, ou se gostariam que eu explicasse a frase. São Cipriano hoje em dia teria dificuldade para falar!... Ele diz o seguinte: aquele que chega ao pecador e para adular o pecador, afaga, não é amigo dele. Aquele que passa pelo pecador muito brandamente, com a vontade de fazer para si popularidade, com intuitos humanos e não diz ao pecador a verdade, não é amigo do pecador. Daqui a pouco eu vou explicar o espírito de tudo isso e é extremamente interessante. Mas aquele que com sérios conselhos repreende e ao mesmo tempo instrui seu irmão, coloca-o no caminho da salvação. “Aos que amo, diz o Senhor, repreendo e castigo”. Está no Apocalipse 3-19. “Deste modo, convém também que o sacerdote do Senhor não engane com ilusórias gentilezas, mas que use de remédios salutares. É médico imperito, o que com mãos indulgentes roça as tumefações das feridas, enquanto conserva o veneno encerrado e o vai amontoando cada vez mais”. Quer dizer, uma ferida a gente tem que espremer para sair a matéria deteriorada. Se um médico, ao invés de espremer a ferida, passa a mão afavelmente por cima, ele não é amigo do doente. “Espremer dói. É preciso abrir a ferida e cortá-la; e uma vez eliminada toda podridão, aplicar-lhe enérgico remédio. Que grite o enfermo que não resistirá a tal dor: ao curar-se vai nos agradecer”. “É que surgiu, irmãos amadíssimos, um novo gênero de estrago. E como se houvesse sido pouco a fúria da tormenta da perseguição, juntou-se-lhe para cúmulo da desdita, sob a capa da misericórdia, um mal duvidoso e uma brandura perniciosa. Contra o vigor do Evangelho, contra a Lei do Senhor e Deus, por temeridade de alguns, facilita-se em favor de incautos a disciplina da comunhão”. Quer dizer, dá-se a comunhão a gente que não deveria receber. “E se concede uma paz inválida e falsa, perigosa para os que dão e sem proveito algum para os que recebem. Não querem a verdadeira medicina, a penitência está excluída de seus corações, escondem feridas mortais com dor simulada e apenas recém-chegados dos altares do demônio, aproximam do sacramento do Senhor”. Quer dizer, os tais lapsis, que apenas tinham sacrificado aos ídolos, iam comungar. “Têm por paz essa que alguns vão vendendo com palavras falsas. Não é a paz, mas a guerra, e não se une à Igreja o que se separa do Evangelho. Essa facilidade não concede a paz, mas tira. Esta é outra perseguição e outra prova. Cobrem os que caíram, para que cessem a lamentação, cala-se a dor, desvanece-se o pecado da memória, que se comprima o gemido no peito, que se reprima o pranto nos olhos, e não se aplaque com grande penitência ao Senhor, gravemente ofendido como está escrito. Lembra-te onde caíste e faz penitência”. Creio que se poderia com mais proveito, do que estar interpretando a cada passo a ficha de um estilo realmente pouco habitual, seria dar a doutrina da posição da Igreja perante o pecador. Há três espécies de pecadores que devemos distinguir, e a atitude de Nosso Senhor no Evangelho e depois a atitude da Igreja ao longo dos vinte séculos de Sua vida em face desses pecadores, condiciona-se ao estado da alma deles. Há pecadores que pecam, mas que censuram o pecado que cometeram. Eles sabem que foi mal feito e lamentam que o tenham praticado, e admiram os que andam bem; pesa-lhes terem andado mal e admiram os que andam bem. E quando podem dar um conselho, aconselham que não façam o que eles praticaram, mas que andem bem. Para esses pecadores a Igreja tem todas as formas de paciência, todas as formas de perdão, todas as formas de condescendência, porque são pessoas, em que se vê manifestamente que pecaram por fraqueza, fraqueza culposa, mas na qual não entra o mais abominável do pecado, que é a simpatia pelo mal, uma espécie de aprovação ao mal, que é um pecado do espírito e não apenas um pecado, que é grave, mas é um pecado da carne. Para esses, o principal receio que a Igreja tem, como possuem o senso da gravidade do pecado, é que desanimem. Então a Igreja trata de os animar, os estimular, trata de os afagar, porque para uma alma dessas, que está vergada ao peso do mal que praticou, não é necessário estar sobrecarregando dizendo: “Você andou mal!” etc., etc. A pessoa pode até desanimar. Então com essas pessoas assim - até, em geral, são levadas pelo desânimo - como proceder? Deve-se procurar animar, a rezar e compreender que à força de rezarem, podem obter graças ainda maiores e afinal uma graça fulminante que os ajude e que os faça emendar do pecado em que estão. Graça suficiente todo mundo tem, mas uma graça fulminante é uma coisa muito preciosa, mas deve-se pedir. Eu acredito que um pecador que insistentemente peça para emendar-se de seu pecado, embora tenha culpa, porque senão não seria pecador, tem muitas possibilidades de obter de Nossa Senhora uma graça extraordinária e de se emendar. O que o pecador nessas condições tem de melhor para fazer, é exatamente tomar uma posição humilde. É ele procurar dizer aos outros - se o seu pecado não é conhecido, esconda-o para não escandalizar a ninguém - se é conhecido, ele dizer aos outros: “Eu andei mal, eu não presto, eu não andei bem. Tal ação minha é uma ação mal feita, me perdoem a desedificação e tenham pena de mim, rezem por mim”. Isso eu digo quer se trate de um pecado grave, quer se trate de um pecado leve. Uma pessoa, por exemplo, que minta. Mentir de si não é um pecado grave, mas uma pessoa que tenha o hábito de mentir, e que diga por exemplo o seguinte: “Ah! mentira não tem nada, é pecado venial!” Essa anda mal. Se uma pessoa que tem o hábito de mentir é pega em mentira por alguém e a pessoa diz: “Você veja que tristeza, é uma pena mentir. É verdade e você talvez - para tristeza minha - me tenha pego mais uma vez mentindo. Mas me perdoe a desedificação que eu dou, guarde você a verdade, é uma grande infelicidade eu estar mentindo, reze por mim, você que não mente, peça a Nossa Senhora que me obtenha a graça de não mentir. A mim me dói de mentir”. Este é como o publicano do Evangelho, que fica no fundo da Igreja batendo no peito. Este acaba recebendo sua emenda. Quer dizer, para com este tipo de pecador, deve-se ter muita paciência, muita misericórdia, deve favorecer de todos os modos, evitar sobretudo que ele caia, que desanime, porque, o grande perigo deste tipo de pecador é o desânimo. Há um outro tipo de pecador que está no meio, que sabe que anda mal, mas é indiferente ao pecado que comete, e acha que também os outros que cometem o mesmo pecado, não andam mal. Quer dizer, “é proibido pela Igreja cometer tal coisa, mas não me dói infringir uma violação da Igreja, um mandamento da Igreja. Afinal de contas, eu no fim ainda tenho alguma possibilidade de confessar, tiro uma lasca e vou para o Céu”... É duvidoso, hein?! neste estado de espírito é duvidoso, é possível que mude de estado de espírito, mas neste estado de espírito não vai para o Céu. E também tem simpatia por quem comete os mesmos pecados, não tem admiração por quem pratica a virtude, esse é o tipo tíbio. A esse tipo de pecador tíbio, é preciso esclarecer. Ele está no ponto oposto do pecador que se arrepende de seu pecado. Ao menos de um meio arrependimento. Ele é um pecador que precisa ser sacudido, porque é como um homem que dorme, é um insensível, que não tem mais o sentido do bem e do mal. Então é preciso trovejar, esbravejar, falar de tal modo para quebrar aquela crosta. O perigo nele não é o desânimo, é a indiferença, a insensibilidade. Então para com ele é preciso ser severo. Há o terceiro tipo de pecador, que está no pecado, que se alegra do pecado que cometeu e até se orgulha dele, tem simpatia e afeto pelos pecadores, e tem ódio militante contra os que vivem na virtude e procura seduzir para o pecado os que vivem na virtude. Este tipo de pecador precisa ser combatido como um inimigo militante. É preciso enfrentá-lo, deve-se discutir com ele em público, deve portar-se como inimigo dele, não só para o bem de sua alma, porque a alma dele só respeitará a virtude na medida em que compreender a força da virtude, mas é por causa dos outros a quem ele está fazendo mal. Quando vejo um pecador induzir a outrem no mal, a minha maior pena não vai para o pecador, vai para aquele que ele está levando para o mal. E o meu modo de proteger aquele que ele está levando para o mal, é combatendo o pecador que está fazendo esse mal. De maneira que, então, contra este preciso ser militante. Essas são as gamas de atitudes que se deve ter para com os pecadores. Agora, é explicável que a Igreja, para um pecador do primeiro tipo, Ela abra como uma torrente as graças de seus sacramentos. Sempre que eles se encontrem em estado de recebe-lo, devem pedir esse sacramento, e devem recebê-lo com paz de alma. Para o pecador do segundo tipo, a gente já compreende que a Igreja seja mais reservada; compreende-se que a Igreja seja militante contra o terceiro tipo. Essas são as diversas variedades de pecado, às quais correspondem posições diferentes da Igreja. Eu não sei se isto está bem claro, ou se alguém queria me fazer uma pergunta. (Pergunta: Essas gamas, são quando as pessoas cometem pecados mortais?) É. (Pergunta: E não poderia acontecer essas gamas quando as pessoas cometem infidelidades ou pecados veniais?) Também, muito frequentemente, sendo que o número de pessoas que estão no pecado venial, na segunda gama, é colossal. Gente que acha que pecado venial não priva da graça de Deus e que, portanto, pode fazer à vontade. É um pouco como uma pessoa que morasse conosco e que dissesse o seguinte: “Eu me sinto no direito de fazer para ele toda espécie de pequenas impertinências, porque afinal de contas não é um insulto grave”. Nós não gostaríamos desse convívio, não é? Mas achamos que podemos impor a Deus um convívio assim com nossas almas...! Há disso. Não sei se eu me exprimi bem? Mais alguma pergunta, meus caros? Bem, então vamos encerrar. |