Plinio Corrêa de Oliveira
Santa Teresinha queria ser ao mesmo tempo carmelita, mártir, apóstolo, cruzado, missionário... Sofreu e morreu por isso
"Santo do Dia", 3 de outubro de 1967 |
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A D V E R T Ê N C I A O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
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Hoje é festa litúrgica de Santa Teresinha do Menino Jesus.
A respeito de Santa Teresinha, me foram preparadas duas fichas. Em primeiro lugar, há uma carta dela ao Abbé Maurice Bellière, que é uma muito bonita carta no que diz respeito à calma com que ela enfrentou a morte. Nós vemos, aí, a graça proteger a alma dela contra os terrores da morte. Nós vemos aí como uma alma que tem uma determinada vocação tem uma força especial para o cumprimento da vocação que tem. Nós diríamos que Santa Teresinha falava da morte como quem falasse de uma viagem magnífica, maravilhosa. E, de fato, era. Porque, afinal de contas, ela ia para o Céu. Nós vemos também - no trecho que vou ler - a magnífica certeza que ela tem do Céu. Depois há uma referência à misericórdia dos bem-aventurados no Céu, que não pode deixar de ser notada por nós. Então diz ela, na carta ao padre Bellière:
O pai dela tinha falecido. E ela tinha pedido a ele ou, ao menos, tinha razões para achar que ele tinha pedido isso para ela.
“Eu tive, portanto, essa felicidade no dia trinta, e também a de ver deixar, por mim, o Tabernáculo, Jesus Hóstia, que eu recebi como viático de minha longa viagem”. Os senhores vêem, portanto, com que alegria ela fala da morte. Os senhores vêem: é “um passaporte”, é uma promessa do pai, é Jesus Hóstia que vem para ajudá-la. Ela recebe tudo isso como quem recebe uma grande alegria.
Ela estava num estado de completa e santa indiferença. O que Deus quisesse dela estaria disposta a sofrer. Se fosse para morrer logo, estava bem. Se fosse para morrer depois, e sofrer ainda mais, estava bem também. Ele nem desejava, nem temia nada. Ela estava completamente abandonada à vontade de Deus. Os senhores estão vendo, é a posição perfeita de uma santa diante da morte. Mas isto, que é uma atitude heróica e que uma alma tomaria fazendo força, em Santa Teresinha, por via do enlevo, é uma atitude tão natural, tão suave, tão simples, que a gente diria que, para ela, não custou nada se colocar com essa naturalidade perante a morte. Ela acrescenta depois:
O padre, naturalmente, dizia que, quando ela estivesse no Céu, não teria a mesma indulgência que tinha para com as faltas dele, na Terra.
Quer dizer, quando uma alma vai para o Céu, torna-se ainda mais compassiva e mais misericordiosa do que era na Terra. Agora, nós temos aqui um longo trecho de Santa Teresinha a respeito do martírio de desejo. Para que este trecho seja compreensível, é preciso que eu diga uma palavra a respeito propriamente do que ser trata. Trata-se do seguinte: Há muitas almas piedosas que gostariam de fazer pela Igreja muito mais do que elas fazem. Há muitas pessoas, por exemplo, que estão retidas num hospital e que não podem fazer apostolado. Há muitas outras pessoas que fazem apostolado e lamentam não poder sofrer pela Igreja num hospital. E daí por diante. Então, para essas almas que quereriam fazer tudo pela Igreja, é um verdadeiro martírio não poder fazer tudo. Há um desejo, mas esse desejo pode se tornar ardente e abrasador como a sede em Nosso Senhor no alto da Cruz. Há um desejo de fazer tudo; há um desejo de estar por toda parte, de dizer tudo, de mexer com todo mundo, de realizar todas as obras possíveis e imagináveis, de zelo, em todos os tempos e em todos os lugares até o fim do mundo. E a insatisfação desse desejo pode ser, para certo tipo de alma, um verdadeiro martírio. Santa Teresinha do Menino Jesus sofreu esse martírio. E ela resolveu, em lindos termos, o problema que esse martírio lhe punha. Aqui os senhores verão os desejos da alma dela como eram. Ela disse:
É interessante a posição; realmente, quem sofre pelas almas, basta. Mas a questão é que ela não queria. Ela queria ainda mais.
Eram os soldados que tinham lutado contra as tropas garibaldinas para manter a soberania dos estados papais.
Os senhores vêm aqui a beleza da idéia dela: como uma cruzada, uma verdadeira Joana d´Arc, lutando pelos Estados Pontifícios como Joana d´Arc lutou pela França; e morrendo no campo de batalha pela defesa da Igreja.
Vejam que magnífico isso. Eu quisera percorrer a Terra, pregar Teu nome e plantar, no solo infiel, tua cruz gloriosa”.
Ela queria ser missionária.
É impossível mais bonito.
Quer dizer, ela entendeu que trabalhando, ela existindo, ela rezando, ela agindo para que se aumentasse o amor entre todos, para que o grau de caridade na Igreja Católica aumentasse, seria como que uma prodigiosa nascente de vida dentro da Igreja: Os profetas seriam fiéis, os doutores seriam lúcidos, os apóstolos seriam infatigáveis, os guerreiros seriam indomáveis e, na Igreja, tudo começaria a se mover com renovada intensidade. E então, ela entendeu que ela deveria morrer vítima de amor. Vítima pelo amor misericordioso, para que os outros também amassem, de maneira tal que, por essa retonificação do amor dentro da Igreja, todas as vocações se realizassem. Se ela tivesse conhecido a vocação daqueles que foram chamados para amar a Igreja Católica e para representar a fidelidade durante o período da pior infidelidade e, portanto, para fazer, de algum modo, todos os apostolados em todos os tempos e em todos os lugares - se ela tivesse conhecido essa vocação - como ela se teria alegrado, e com quanto desejo teria querido ter essa vocação. Os senhores compreendem bem, através do que estou dizendo, quanto os méritos dela foram úteis. Quanto, do alto do Céu, ela reza por nós também. Podemos pedir-lhe igualmente que faça para conosco o que ela disse àquele padre: ela, no Céu, é ainda mais compassiva, é mais misericordiosa. Que ela tenha pena de nossas faltas e nos prepare para a grande consagração do dia 13 de Outubro, para pertencermos inteiramente a Nossa Senhora. A ideia de qual seja nossa vocação, e de que ela, por essa forma, rezaria por nós, esta ideia é confirmada por todos mil favores que nos tem concedido. E é essa a razão pela qual se celebra, de um modo tão particular, hoje à noite, esta festa dela. Vamos, então, pedir a Santa Teresinha que, no fundo de nossa alma, aumente o amor. Aumente o amor, aumentando o enlevo, a veneração e a ternura. Aumente o amor, aumentando nosso amor pela Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. É o que devemos pedir a ela na noite de hoje.
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