Plinio Corrêa de Oliveira

 

São Silvério, Papa,

perseguido e morto por hereges

que o caluniaram e traíram

 

 

 

Santo do Dia, 19 de junho de 1967

 

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

Amanhã, dia 20 de junho, é festa de São Silvério, Papa e mártir [segundo o calendário atualmente em vigor, sua festa é no dia 2 de dezembro, n.d.c.]. O Abbé E. Daras, em sua obra “Vie des Saints”, escreve dele o seguinte:

“Teodora, mulher de Justiniano nomeara para a Sé de Constantinopla, em 535, um bispo, Antimo, partidário de Eutiques, e inimigo do Concílio de Calcedônia. Embora a imperatriz tudo fizesse para que Roma aprovasse sua escolha, o papa Agapito depôs o bispo e condenou seus adeptos.

“Santo Agapito foi sucedido por São Silvério, em 536. Novamente Teodora tentou conquistar o novo pontífice para seus planos. O resultado foi negativo. Ordenou então a Belisário, seu general, que recorresse à força para obter o que ela desejava. Belisário dirigiu-se a Roma, e como a cidade estivesse sitiada pelos godos, acusou o Papa de entender-se com esses contra Constantinopla. A acusação surtiu efeito entre a população e cartas falsas a confirmaram.

“Baseando-se nisso o general procurou fazer com que São Silvério cedesse às suas exigências. O Papa recusou, e retirou-se para a igreja de Santa Sabina. Aí, dias depois, foi procurado por emissários para que voltasse ao seu palácio, pois nada sofreria. Os conselheiros do Pontífice avisaram-no que não confiasse nos gregos. O Papa pôs-se de joelhos, recomendou a Deus a Santa Igreja e deixou Santa Sabina, para não mais ser visto.

“Exilado para a ilha de Ponza, de lá escreveu ao bispo Amator: “Eu me alimento do pão da tribulação e da água da angústia, mas não me considero deposto e não me demito do soberano pontificado”. Com efeito, reuniu ainda um Concílio nessa ilha e decretou o que seria necessário para a defesa da fé e o restabelecimento da disciplina. Duramente tratado, morreu a 20 de Junho de 539.”

*     *     *

Os senhores estão vendo aqui um dos mil episódios da luta dos pontífices contra as heresias. E também um dos mil episódios da crueldade, da falsidade, da intransigência dos hereges em relação ao pontificado romano. Contra São Silvério os hereges, baseados em Constantinopla, empreenderam tudo, fizeram tudo, não pouparam nada. Entretanto, eles nada conseguiram porque São Silvério se manteve firme, fiel.

 Vê-se, da parte desses hereges, uma grande má fé: sabiam que não podiam levar a violência além de um certo ponto porque revoltavam contra si toda a população. Então, foram até onde podiam, mas sua vontade era exterminar o Papa logo que pudessem. Eles alegam conivência entre o Papa e os godos, que uma acusação simplesmente absurda, e que, entretanto, o faziam para difamar o Papa, e, assim, procurar levantar a opinião pública contra São Silvério. E uma mulher péssima, como Teodora, constantemente intervindo para impor arcebispos hereges a Constantinopla, para arrastar esta importante cidade para a heresia e servir-se da força brutal para conseguir seus intentos.

Há aqui um aspecto que se deve considerar muito: o pecado de heresia é um pecado que tem uma malícia própria, e até uma malícia suprema, porque o pecado contra a fé é o pior dos pecados. Todo homem que tem contato com a Igreja Católica recebe graça suficiente para saber que aquela é a verdadeira Igreja de Deus. Se ele se recusa a vê-La como verdadeira tal, é porque se nega a ver a verdade conhecida como tal. E, pois, nega a mais importante das verdades conhecidas como tais, que é exatamente que a Santa Igreja Católica é a única Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Assim, portanto, os hereges que têm oportunidade de conhecer a Igreja e de se elucidar, como eram aqueles bizantinos – e como em geral são os hereges – estavam em má fé, o que equivale a uma suprema maldade, perto da qual a crueldade deles, a falsidade etc., não é senão corolário. Quer dizer, está no espírito da heresia, está em sua índole ser brutal, ser falsa, visar o extermínio.

E é assim que se devem considerar os hereges contemporâneos, desde que se tenha razoável certeza de que tiveram os suficientes elementos para conhecer a Santa Igreja Católica. Para tal, basta ter estado em algumas igrejas, ter ouvido cerimônias religiosas, conversado com algumas pessoas piedosas, ouvido o canto da Igreja, o órgão, a liturgia da Igreja; isso já deve determinar na pessoa um princípio de fé, pelo menos deve levá-la avidamente a instruir-se.

Há uma recusa na fé quando um ateu ou herege, tendo oportunidade dessas frequentações e desse contato que mencionei, acaba não se instruindo e não se tornando católico.

Então se compreende como é tolo pretender que gente dessa, cheia de insídias, seja possível convertê-las por meio de ditos ecumênicos, querer imaginar que gente tão péssima, simplesmente por sorrisinhos e pequenas amabilidades, possa ser trazida à fé católica. Pois não é verdade. Eles têm o sorriso permanente da Igreja, o espetáculo do amor contínuo da Igreja para com todos os homens; daquela bondade da Igreja Católica, ao mesmo tempo tão elevada, tão séria, tão aprazível e tão materna...

Basta uma pessoa entrar na Igreja Católica para ter uma sensação da bondade, da seriedade, da maternalidade da Igreja que faz dEla uma Mãe verdadeiramente cheia de ternura e uma Mestra cheia de sabedoria. Se recusam isso, estão de má fé, a qual não pode ser vencida simplesmente com uma meia dúzia de piruetas. A má fé precisa ser vencida por meio de objurgatórias, por meio de atitudes que desmoralizem o homem de má fé aos olhos de terceiros, para que não possa ser nocivo aos outros. Numa palavra, a Igreja é militante e a má fé tem que ser vencida na polêmica. E é com tal estado de espírito que se deve combater as heresias, defendendo assim a Santa Igreja.

Compreende-se, pois, quanto há de tolo no ecumenismo levado pelo desejo de aplicar métodos de uma doçura estúpida, de uma bondade besta, traiçoeira, facinorosa, contra os que estão empreendendo a demolição da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana.

Contra esses é preciso ter as palavras de fogo de Nosso Senhor contra os fariseus hipócritas; é preciso a espada de fogo de São Miguel Arcanjo, intransigência. Os contra-revolucionários estamos numa guerra entre os filhos da serpente e os filhos de Nossa Senhora.

E São Luís Grignion de Montfort disse muito bem: essa recíproca inimizade, nunca ninguém destruirá. Porque, diz ele, tudo o que Deus faz é perfeito. E a única inimizade que consta que Deus tenha feito é entre os filhos do demônio e os filhos de Nossa Senhora. Mas como Deus faz tudo bem feito, essa inimizade é uma inimizade perfeita.

Quer dizer, a inimizade que os filhos das trevas têm vai até o extremo do ódio. E é desse ódio sacral, descrito por São Luís Maria Grignion de Montfort, que as almas dos contra-revolucionários devem estar cheias. E que deve moldar os Apóstolos dos Últimos Tempos: combativos, zelosos, intransigentes e nunca “apóstolos” abobados e traidores da causa que deveriam defender. É essa a grande lição que se desprende da grande vida de São Silvério.


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