Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

As glórias incomensuráveis de São José,
inclusive das recusas e perseguições por amor à justiça

 

Santo do Dia, 18 de março de 1967

 

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

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Neste ano foi antecipada, pela Santa Igreja, a festa de São José, esposo de Nossa Senhora, Confessor e Patrono da Santa Igreja Católica. Protetor também da Ordem do Carmo, à qual nós pertencemos. É também festa de São Cirilo de Jerusalém, bispo, Confessor e Doutor da Igreja que lutou contra os arianos no século IV. O nosso comentário, naturalmente, vai versar sobre São José.

No livro “Physionomies de Saints” de Ernest Hello, nós encontramos as seguintes notas sobre aquela frase do Evangelho: “Não havia lugar para eles nas hospedagens”:

[Abaixo, uma tradução praticamente toda ela automática. A seguir reproduzimos a versão original em francês]

São José, que tem tanto a dizer, não fala. Ele mantém dentro de si a grandeza que contempla: e as montanhas se elevam dentro dele sobre as montanhas, e as montanhas são silenciosas. Os homens são levados pelo enfeitiçamento das bagatelas. Mas São José permanece em paz, senhor de sua alma e em posse de seu silêncio, em meio à agitação da viagem ao Egito, neste voo de Jesus Cristo já perseguido. Em meio aos pensamentos, sentimentos, incidentes e dificuldades desta viagem, foge aquele que representou Deus Pai, como se fosse fraco e culpado; foge para o Egito, para a terra da angústia; volta para aquele lugar terrível, de onde saíram seus antepassados, sob a proteção do Senhor. Ele vai do jeito que Moisés foi, e ele vai do outro lado. E enquanto ele vai para o Egito, e enquanto está no Egito, ele se lembra de procurar um lugar para pousada e não o encontra.

Nenhum lugar na pousada!

A história do mundo está nestas três palavras; e esta história, tão abreviada, tão substancial, esta história não é lida; pois ler é compreender. E a eternidade não será muito longa para tomar e dar a medida do que está escrito nestas palavras: Não há lugar na pousada. Havia espaço para outros viajantes. Não havia nenhum para estes. A coisa que é dada a todos foi negada a Maria e José; e em poucos minutos Jesus Cristo nasceria!  O Esperado das nações está batendo à porta do mundo, e não havia lugar para Ele na pousada!

O Panteão romano, aquela hospedaria de ídolos, deu lugar a trinta mil demônios, levando nomes que se acreditava serem divinos. Mas Roma não deu lugar a Jesus Cristo em seu Panteão. Era como se ela adivinhasse que Jesus Cristo não queria este lugar e esta partilha. Quanto mais insignificante for, mais fácil será a adaptação. Aquele que tem um valor humano encontra mais dificuldade para se colocar. Aquele que carrega algo surpreendente e próximo a Deus, tem ainda mais problemas. Aquele que leva Deus não encontra um lugar. Parece que se adivinha que ele precisaria de um lugar grande demais, e por menor que ele seja, ele não desarma o instinto daqueles que O rejeitam. Ele não consegue persuadi-los de que é como os outros homens. Não importa quão bem ele esconda sua grandeza, ela irrompe apesar de si mesmo, e as portas se fecham instintivamente em sua aproximação.

Esta pequena palavra: porque não havia espaço para eles na pousada, é ainda mais terrível porque é mais simples. Não é o acento de queixa, de reprovação, de recriminação: é o tom da história. As reflexões são reprimidas. O Evangelho as deixa para nós. Quia non erat eis locus in diversorio. E esta palavra "diversorio": esta palavra que indica multiplicidade... Os viajantes comuns, os homens que são numerosos, tinham encontrado um lugar na pousada. Mas Quem Maria carregava deveria nascer em um estábulo, pois era Ele quem deveria dizer um dia: "Uma coisa é necessária, Unum est necessarium".

O diversorium havia sido fechado para Ele.

Seria preciso um relâmpago para dividir nossa noite e mostrar todos os séculos ao mesmo tempo em um ponto e em um instante para que esta palavra, tão pequena, tão curta, tão simples, aparecesse como está, para que esta hospedaria, na qual Maria e José não têm onde ficar, aparecesse como está. Seria preciso um relâmpago para mostrar um abismo. O que aconteceria se nossos olhos estivessem abertos?

O Padre Faber se pergunta o que pensaram as mães dos inocentes, cujas gargantas foram cortadas pouco depois.

Ele se pergunta se eles não refletiram sobre o homem e a mulher que não tinham encontrado um lugar e sobre a Criança que só tinha uma manjedoura para nascer.

A terra também não Lhe deveria dar um lugar para nela para morrer: depois de alguns anos teve que lançá-lo em uma cruz.

O planeta foi como um albergue: inóspito.

*  *  *

Saint Joseph, qui a tant à dire, saint Joseph ne parle pas. Il garde au fond de lui les grandeurs qu’il contemple : et les montagnes s´élèvent au fond de lui sur les montagnes, et les montagnes fon silence. Les hommes sont entraînés par l´ensorcellement de la bagatelle. Mais saint Joseph reste en paix, maître de son âme et en possession de son silence, parmi les ébranlements du voyage en Égypte, dans cette fuite de Jésus-Christ déjà persécuté. Parmi les pensées, les sentiments, les étrangetés, les incidents, les difficultés de ce voyage, celui qui représentait Dieu le Père prend la fuite, comme s´il était à la fois faible et coupable ; il fuit en Egypte, au pays de l´angoisse ; il revient dans ce lieu terrible, d´où ses ancêtres sont sortis, sous la protection de l´Éternel. Il fait la route qu´a faite Moise, et il la fait en sens inverse. Et, pendant qu´il va en Égypte, et qu´il est en Egypte, il se souvient d´avoir cherché une place à l´hôtellerie et de ne pas l´avoir trouvée.

Pas de place à l´hôtellerie !

L´histoire du monde est dans ce trois mots ; et cette histoire si abrégée, si substantielle, cette histoire on ne la lit pas ; car lire c´est comprendre. Et l´éternité ne sera pas trop longue pour prendre et donner la mesure de ce qui est écrit dans ces mots : Pas de place à l´hôtellerie. Il y en avait pour les autres voyageurs. Il n´y en avait pas pour ceux-ci. La chose qui se donne à tous se refusait à Marie et à Joseph ; et dans quelques minutes Jésus-Christ allait naître !  L´Attendu des nations frappe à la porte du monde, et il n´y avait pas de place pour lui dans l´hôtellerie !

Le Panthéon romain, cette hôtellerie des idoles, donnait place à trente mille démons, prenant des noms qu´on croyait divins. Mais Rome ne donna pas place à Jésus-Christ dans son Panthéon. On eût dit qu´elle devinait que Jésus-Christ ne voulait pas de cette place et de ce partage. Plus on est insignifiant, plus on se case facilement. Celui que porte une valeur humaine a plus de peine à se placer. Celui qui porte une chose étonnante et voisine de Dieu, plus de peine encore. Celui qui porte Dieu ne trouve pas de place. Il semble qu´on devine qu´il en faudrait une trop grande, et si petit qu´il se fasse, il ne désarme pas l´instinct de ceux qui le repoussent. Il ne réussit pas à leur persuader qu´il ressemble aux autres hommes. Il a beau cacher sa grandeur, elle éclate malgré lui, et les portes se ferment, à son approche, instinctivement.

Ce petit mot tout court : parce qu´il n´y avait pas de place pour eux dans l´hôtellerie, est d´autant plus terrible qu´il est plus simple. Ce n´est pas l´accent de la plainte, du reproche, de la récrimination : c´est le ton du récit. Les réflexions sont supprimées. L´Evangile nous les laisse à faire. Quia non erat eis locus in diversorio. Et ce mot « diversorio »: ce mot qui indique la multiplicité? Les voyageurs ordinaires, les hommes qui font nombre, avait trouvé place dans l´hôtellerie. Mais Celui que portait Marie allait naître dans une étable, car c´était lui qui devait dire un jour : “Une seule chose est nécessaire, Unum est necessarium”.

Le diversorium lui avait été fermé.

Il faudrait qu´un éclair fendît notre nuit et montrât tous les siècles à la fois sur un point et en un instant pour que ce mot si petit, si court, si simple, apparût comme il est, pour que cette hôtellerie dans laquelle Marie et Joseph ne trouvent pas de place apparût comme elle et. Il faudrait un éclair montrant un abîme. Qu´arriverait-il, si nos yeux s´ouvraient ?

Le Père Faber se demande ce qu´ont pensé les mères des innocents, qu´on égorgea peu de temps après.

Il se demande si elles n´ont pas fait quelques réflexions sur l´homme et la femme, qui n´avaient pas trouvé place et sur l´Enfant qui n´avait eu qu´une crèche pour naître.

La terre ne devait pas non plus lui donner une place sur elle pour mourir : elle devait au but de quelques années le rejeter sur une croix.

La planète fut comme l´hôtellerie : elle fut inhospitalière.

* Os homens têm uma imensa facilidade em aceitar o que é medíocre, mas rejeitam o que é sublime

Os comentários de Hello são múltiplos e muito bonitos. Dele nós destacamos uma coisa que é, a meu ver, a mais característica e que é exatamente o pensamento que escreveu sobre a dificuldade de encontrar lugar para aquilo que é grande. E o pensamento dele - muito verdadeiro - de que o que é medíocre em qualquer lugar se coloca, mas que os homens têm uma particular dificuldade em receber aquilo que é grande, e têm uma dificuldade que toca às raias da impossibilidade por causa de sua mesquinharia e por culpa deles, de receber o que é imenso, e a fortiori, aquilo que é divino.

A gente pensa que o gosto dos homens é tratar com o que é importante, alto, com o que é sublime. É um gosto que os homens têm, mas é superficial e apenas por interesse. Na medida em que eles podem conseguir alguma vantagem, eles gostam de tratar com os grandes. E assim mesmo, não é a maior parte dos homens que são assim, mas alguns. O grande apego dos homens não é a grandeza ── vou dizer mais ── nem sequer é a grande riqueza. A maior parte dos homens têm apego à mediocridade, querem continuar no que são, e não saírem daquilo. E gostarem de sua mediocridade, desde que ela seja um misto heterogêneo de bem e de mal, e ter mais o gosto pelo mal do que pelo bem, pelo pequeno do que pelo grande.

Os senhores imaginem uma cidadezinha qualquer no interior do Brasil ou da Argentina ou da Espanha. Num domingo, estão todos ali reunidos, é dia de alegria popular, de diversões etc., etc. Os senhores imaginem que de repente chega no meio dessa diversão popular um personagem muito elevado, com expressão de fisionomia muito nobre, que em torno de si infunde respeito e até veneração. Imaginem que esse homem passa pela cidade. A reação não seria de simpatia, mas de antipatia. Ele está perturbando a brincadeira, estragando a alegria de todos. Ninguém tem vontade de se dirigir a ele, de conversar com ele, porque vai quebrar a mediocridade daquele lugar; vai quebrar a insignificância que todos adoram, vai exigir de todo mundo uma atitude de respeito, de esforço, de concentração, de recolhimento sobre si mesmo. E o homem detesta isso. O homem gosta, sobretudo, de estar esmolambado, à vontade e não se preocupando com nada. Essa é a posição do homem.

* A altíssima virtude, a distinção e a pobreza da Sagrada Família fizeram com que lhe fosse recusada hospedagem

Então compreende-se melhor por que não havia vontade de dar lugar a Nossa Senhora e a Nosso Senhor.

Não havia lugar porque Nossa Senhora conservava, ao lado de um aspecto de bondade excelsa, um ar de grande majestade. E se bem que as imagens comuns não narrem isso, naturalmente também Nossa Senhora e São José, que era o esposo de Nossa Senhora, deveria conservar um ar do mesmo gênero. De maneira tal que Eles deviam ser um casal sumamente distinto, mas pobre. E aqui é o auge da recusa. Porque aceitar a distinção com riqueza, ainda vai, porque a riqueza faz perdoar a distinção. E o interesse de conseguir dinheiro incute uma vontade de bajular que faz às vezes de respeito. Mas quando é uma grande distinção, uma virtude saliente que deixa todas as outras virtudes longe, num recolhimento preponderante; uma atitude muito elevada e alguém que bate à porta: "Há lugar para nós aqui?" Quem atende olha e diz: "Esse aqui vai tirar completamente nossa...  nós não vamos ficar à vontade com esses pobres. Depois, eles são pobres... Não, não há lugar."

Daí a cinco minutos há lugar para um primo baixa-de-nível, para um amigo ultra baixa-de-nível, há lugar para um ricaço vulgar que não tem senão dinheiro e que pede para entrar e entra porque paga. Mas para uma coisa não há lugar dentro desse mundo medíocre, dessa atmosfera de nível baixo, é para a aliança desses elementos a um ponto quintessenciado: virtude altíssima, sapiencial, grande... e a distinção enorme e a pobreza. Essas grandes coisas unidas tornam recusável o casal. E então batem de porta em porta e não havia lugar para eles...

“Não havia lugar”... mas se soubessem que Nossa Senhora estava para receber o Menino Jesus, então certamente haveria lugar para eles? E a resposta é: também não é verdade.

Porque o Menino Jesus era parecido com Nossa Senhora. Ela era a prefigura dEle. São José, parente dEle, deveria ter alguma semelhança. Eles não queriam Nossa Senhora, nem São José, nem o Menino, não queriam aquele gênero de pessoas. Mas queriam o baixo, o apalhaçado, o tolo.

* Na negação de pousada à Sagrada Família estava a primeira recusa ao Salvador

Resultado: isso é a primeira recusa, o primeiro momento em que Nosso Senhor já está na terra e que pela voz de São José bate às portas e é recusado. São José, príncipe da casa de David ── príncipe da família real deposta, decadente, mas que estava no seu apogeu porque dela estava nascendo o Esperado das nações ── São José bate à porta e é recusado. E recusado por causa daquilo que era. Ele é recusado ── e esta é também sua primeira glória ── porque representava algo que a vulgaridade detestava. E foi o primeiro ponto do martírio...

Depois, conduzir Nossa Senhora à gruta própria dos animais... Não existe pior lugar do que esse. E foi numa gruta que o Menino Jesus nasceu. Nesse sentido, essa renúncia foi um prenúncio da recusa de Nosso Senhor. E desde o começo teve essa bem-aventurança especial de ser recusado por amor à justiça, de ser perseguido por amor à justiça. Ele é quem batia às portas e recebia a recusa. E assim teve a primeira glória...

Teve a glória de se refugiar num lugar ermo, onde, por amor à virtude, estava sozinho e abandonado de todos. E aí teve a glória de estar quando nasceu o Menino Jesus.

As glórias continuaram... Teve a glória de ver que não havia na terra de Israel lugar para ele.

E daí por diante as glórias se acumulam sobre São José, mas quase todas elas são negativas: glória de ser homem apagado, do qual não se fala. Quanta reverência pública se deveria a ele se confessasse que Nosso Senhor Jesus Cristo era Deus?

"Esse aqui?! Esse aqui não é filho daquele carpinteiro? É um filho de um mero carpinteiro e não pode ser Deus..." Quer dizer, ele quase que perdia o labéu para Nosso Senhor.

Os Evangelistas não falam sobre São José; dele muito pouco se sabe. É exatamente a glória daquele que tomou as humilhações, a ignomínia, tomou todo o peso do opróbrio que devia cair sobre Nosso Senhor. Ele recebeu sobre si a bem-aventurança: "Bem-aventurados aqueles que sofrem por amor à justiça."

São José é o Bem-Aventurado por excelência, está em todas as bem-aventuranças.

"Bem-aventurados os que são limpos de coração, porque eles verão a Deus." Quem foi mais limpo de coração do que o esposo virginal da Virgem Maria? E assim por diante...

* São José foi o único homem criado que tinha proporção com Nossa Senhora e seu Divino Filho

Resultado é que a Igreja ── do pouquíssimo que se sabe de São José ── cronologicamente falando, criou toda uma espécie de construção baseada nos poucos dados biográficos, mas nessa imensidade de fatos: ele foi o pai adotivo do Menino Jesus e o esposo de Nossa Senhora. E daí se formou uma imagem moral de São José. Basta considerar que o esposo deve ser proporcionada à esposa, e ele o foi maximamente!

Nossa Senhora é a criatura de longe a mais perfeita de todas as outras. Se tomarmos tudo o que existe: os Anjos, os Santos, os homens de todos os cantos da terra até o fim do mundo, isso não dá nem sequer uma idéia pálida do que é Nossa Senhora! Pois bem, um homem tinha que ser considerado proporcionado a essa Esposa, pelo seu amor de Deus, por sua justiça, por sua pureza, por sua sabedoria, por todas as qualidades...!

Esse homem, escolhido entre todos por estar proporcionado com Nossa Senhora, foi São José!

O pai deve ser proporcionado ao filho. Um homem era preciso que carregasse com toda dignidade a honra de ser pai adotivo de Deus. E o pai adotivo tem que ter a posição do pai verdadeiro...

E houve só um criado para isso, com a alma adornada para tal, e todo preparado para isso e que esteve inteiramente à altura: esse homem foi São José! Estava na proporção de Jesus Cristo, estava na proporção de Nossa Senhora...! É uma tal desproporção com todo o resto dos homens, é de tal maneira penetrar na alma santíssima de Nossa Senhora, de tal maneira ter intimidade com Nosso Senhor, que não podemos fazer idéia.

Costuma-se representar, por exemplo, Santo Antônio de Pádua com um livro e o Menino Jesus sentado sobre o livro. E Santo Antônio embevecido porque o Menino Jesus esteve um instante nos braços dele. E nós olhando embevecidos para Santo Antônio: "Feliz Santo Antônio que teve essa honra sem nome"...

Quantas vezes São José teve nos braços o Menino Jesus? O dia inteiro com o Menino Jesus entre os braços. O Menino rezar, o Menino fazer todos os atos de sua vida comum, o Menino falar... e ele ter os lábios suficientemente puros e a humildade suficientemente grande para fazer essa coisa formidável: responder a Deus. Ou então o Menino Jesus parar diante dele e dizer: "Eu lhe peço um conselho: como é que devo fazer tal coisa?" Ele pensar que Aquele é Deus que está pedindo conselho... E ele então dá o conselho. A criatura formada, plasmada pelas mãos do Criador, dá a Deus um conselho...!

Ou então, como se narra que freqüentemente acontecia, Nossa Senhora se ajoelhar diante dele para o servir, porque era o senhor e o esposo dEla. Ele ver Aquela criatura, que é o Céu dos Céus, ajoelhada diante de si e ele aceitar que Ela o servisse. E Ela lhe pedir conselhos, lhe pedir ordens. E ele governando Nossa Senhora...! Ele foi reputado à altura desse cargo. Teve um homem que esteve à altura disso e esse foi São José!

* Algumas imagens que representam a São José são uma espécie de "calúnia iconográfica"

Digo aos senhores como que um conselho: depois de ouvirem isso, façam uma “despoluição mental”. Não admitam, como perfil moral de São José, suas imagens comuns e que não exprimem isso, que não dão para se considerar esses aspectos. Procurem em Fra Angélico, por exemplo, uma representação de São José e aí os senhores verão alguma coisa.

Porque seria preciso saber deduzir da Divina Face do Santo Sudário de Turim, à maneira de suposição, algo que seria a fisionomia moral daquele que foi o pai daquele rosto que está no Santo Sudário. E que foi o educador daquele rosto, que foi o parente, que foi o esposo da Mãe dEle. Porque o que não for isso, não é ter uma idéia de São José...!

Há uma espécie de calúnias iconográficas comuns contra São José: primeiro, o cabelo... não se sabe por que calvo em toda cabeça, mas com um chumaço aqui na frente. Depois, ar de bobo, assim “enternecido”, com um sentimento um pouco idiota, como quem não está percebendo o que está se passando. Ele era casado com Aquela que era a Sede da Sabedoria, o Espelho da Sabedoria, o Espelho da Justiça... Ele deveria ser um modelo de fisionomia sapiencial, modelo de castidade, modelo de força; ele era o pai do Leão de Judá, que foi Nosso Senhor Jesus Cristo.

Pormenor da cabeça de São José - Apresentação de Jesus no Templo (Beato Angelico, Florença, Convento de São Marcos)

Então, haveria todo um São José a reconstituir. E volto a dizer: imaginem o homem que teve bastante sabedoria e bastante pureza para governar a Deus e a Virgem Maria, e então os senhores compreendem que é inimaginável. São José não se pode imaginar. E aí está o verdadeiro São José, ao qual  devemos rezar de modo especial.


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