Plinio Corrêa de Oliveira

 

São Venceslau,

duque, militar e mártir

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 27 de setembro de 1966

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

Estátua de São Venceslau, em Praga (Checoslováquia – Wikipedia)

Amanhã nós temos a festa de São Venceslau que foi duque. E a respeito dele diz aqui uma ficha o seguinte:

Soberano da Boêmia, é seu padroeiro. Século X. Praticou no trono as mais belas virtudes. Conservou durante toda a vida, intacto, o tesouro da virgindade. Assassinado por seu próprio irmão Boleslau, por instigação de sua mãe, enquanto orava na igreja. A Hungria, a Polônia e a Boêmia escolheram-no patrono.

Continua a novena de Nossa Senhora Medianeira de todas as Graças e começa a novena de Nossa Senhora do Rosário.

Os dados biográficos de São Venceslau, copiados de Dom Guéranger, “L´Année Liturgique”, são os seguintes:

 “São Venceslau é uma das mais radiosas figuras desse décimo século, que foi chamado o século de ferro. Neto de uma santa e filho de uma mãe pagã fanática, ele foi uma expressão muito pura dessa realeza cristã, que devia ter em São Luís, três séculos mais tarde, seu tipo mais perfeito; regime onde a natureza paterna da autoridade lhes assegurava todos os devotamentos e temperava todos os excessos; regime que fazendo do príncipe o tenente de Deus e de Cristo e seu representante autêntico, o revestia de um caráter sobrenatural e sagrado.

“Chefe da grande família nacional, o rei era o pai de seu povo e, do maior ao menor, todos tinham o direito de serem seus filhos e de apelar para sua justiça. Mestre inconteste, mas cujo poder era temperado naturalmente pela identidade dos interesses da Coroa e do povo, ele era o árbitro cujas decisões são as mais sábias, porque nenhuma ambição pessoal, como nenhum interesse de partido não podia influenciar um homem que, recebendo tudo de Deus, não tinha contas a dar senão ao próprio Deus.

“Pelo fato de que ele era o juiz supremo, o rei era, então, o pacificador, o “l’apaiseur”, dizia São Luís, sempre o apaziguador, portanto; sempre preocupado em resolver as disputas entre seus filhos para os unir em vista do bem comum, a tranqüilidade do reino, prelúdio da paz de Deus. No programa do príncipe cristão que Venceslau realizou durante os curtos anos de seu reino, Deus apôs a esse programa o selo do martírio, dando assim à sua obra completa um valor de eternidade.”

Na vida de São Venceslau, mártir, do General Raul Silveira de Mello (1882-1984), encontramos esses dados:

“A fama das virtudes de Wenceslau correu mundo. Era admirado e querido pela Cristandade; amigo de seu povo, dedicado ao serviço da nação, austero e generoso, protetor da pobreza, propugnador da fé e súdito fiel da Igreja e também soldado destemeroso e leal.

“Oto I, Imperador da Alemanha, chamou Wenceslau à Dieta de Worms e cumulou-o de atenções. Certo dia demorou-se inadvertidamente na igreja. Quando chegou à assembleia, o imperador e os outros príncipes, ressentidos com o atraso do duque, tinham resolvido não se levantar, como era do estilo, à entrada do dignatário retardado. Mas assim que o duque penetrou na sala, viram os nobres que dois Anjos o acompanhavam. Tomados de admiração e respeito...”

Não precisa dizer mais nada! Está dada a vida do santo... Minha tentação seria parar aqui e dizer “Boa noite!” e está acabado.

“...o imperador levantou-se para recebê-lo e lhe deu o lugar à sua direita. Como lhe poderiam negar honras, se os próprios Anjos lhas tributavam? O imperador, em sinal de apreço, obsequiou-o com duas preciosas relíquias: um braço de São Vito e os ossos de São Sigismundo, rei da Borgonha e também grande soldado.”

 

São Venceslau ladeado por dois Anjos, Basílica dedicada a este Santo, Stará Boleslav (Checoslováquia). Pintura de Karel Skréta

Tenho impressão de que esse dado biográfico de tal maneira abafa o resto, que impede qualquer outro comentário. Vamos, portanto, nos cingir a isso.

Os senhores veem a linda cena. Ele era rei da Boêmia mas, com certeza, seu reinado invadia também uma parte da Polônia, porque essa nação também o admitiu como seu padroeiro; ele era rei, portanto, de uma grande zona de território e se realizava uma Dieta, ou seja, uma reunião dos principais dentre os príncipes e senhores feudais do Sacro Império Romano Alemão. E ele foi convocado para essa Dieta, com certeza porque essas nações, naquele tempo, estavam sujeitas, de algum modo à suserania do Sacro Império.

Então, era uma reunião muito bonita, porque não era uma reunião do rei com seus súditos, mas era uma reunião de um senhor que chefiava e liderava outros senhores também soberanos. De maneira que era uma espécie de assembleia de soberanos, cheia de cavalheirismo e cheia de força. E os senhores veem aqui o bonito exemplo.

Quando entrava um senhor na sala - mesmo de categoria que não fosse a do imperador do Sacro Império -, todos se levantavam, inclusive o imperador. Os senhores considerem o respeito à soberania: cada um era como que um soberano e, portanto, quando entrava, todos se levantavam.

Então, quando ele entrou, resolveram não se levantar, porque tinha demorado demais na oração, donde a raiva daquela gente. Inclusive podia, mesmo em plena Idade Média, entrar um pouco daquela antipatia enigmática, que todo mundo que reza pouco tem para com todo mundo que reza muito. Infelizmente o contrário não é verdade: os que rezam muito são propensos a uma atitude mole para com os que rezam pouco... Mas os que rezam pouco são inflexíveis para com os que rezam muito. Então veio a vingança: “Vamos todos ficar quietos quando ele entrar; vamos lhe fazer uma desfeita. Por quê? Porque ele chegou atrasado.”

Resposta da Providência: ele entra e a sala inteira vê dois Anjos que entram, cada um a seu lado. Acabou! Não tem mais nada para dizer... A virtude sai coberta de honra, de glória e o imperador lhe dá dois presentes. Quando eu li “dois presentes”, pensei com meus botões que seriam em joias e em ametistas, ou alguma taça recamada com brilhantes. Não, aquelas pessoas tinham o senso muito mais elevado: deram duas relíquias em vez de dar coisas que valiam dinheiro. Porque naquele tempo se dava muito maior valor à relíquia do que ao ouro. Então, duas relíquias, uma das quais de um soldado também, para este grande soldado que era São Venceslau. Quanta coisa bonita dentro disso!

Falta apenas fazer uma pergunta e é a seguinte: por quê hoje quando uma pessoa que reza, chega atrasada e resolvem lhe fazer uma desfeita, não aparecem dois Anjos com essa pessoa? Por que coisas assim não se dão hoje?

Os senhores imaginem de repente haver uma reunião de - não sei, vamos dizer - direita-esquerda católica para confabular qualquer coisa e chega atrasado, de repente, um católico autêntico, contra-revolucionário inteiramente. E a “esquerda católica” começa a sussurrar, a “direita” começa a se tomar de respeito humano e outros fenômenos anexos... E dois Arcanjos esplêndidos, majestosíssimos acompanham o recém-chegado... Quem é da JOC [Juventude Operaria Católica, esquerdista, n.d.c.] sai correndo pela porta... Quem é da JEC [Juventude Estudantil Católica, idem] sai pela janela... Quem é da JUC [Juventude Universitária Católica, ibidem] se desfaz no chão... A pessoa se senta comodamente e pergunta “Do que se falava?” Ninguém responde nada... Por que hoje em dia não acontece algo como esse lido há pouco? Por que não se dão as manifestações de sobrenatural que cobrem de glória o bem e esmagam o mal?

É evidentemente porque os pecados do mundo chegaram a tal cúmulo que os homens não merecem mais isso. Porque esses Anjos que estavam de um lado e de outro do São Venceslau, não devemos imaginar que estivessem lá sobretudo para a glória dele. Estavam, sobretudo, para o bem do público que ali via aquele milagre. Era especialmente para esses que era um bem. Mas hoje não se merece mais. E podemos nos perguntar o que aconteceria se aparecessem os Anjos. Seria um ódio sem nome e provavelmente não mudariam de posição...!

É esse estado de espírito córneo, hirto, rijo para com tudo quanto existe de santo que atrai precisamente as punições que Nossa Senhora profetizou em Fátima. Porque quando episódios como esse não comovem mais e nem mais existem, nem mais se passam, é o sinal de que a Providência abandonou uma determinada coletividade humana, um ciclo específico de cultura ou a humanidade em determinada época da história, e que ela está marcada para toda espécie de castigo.

Aqui fica, portanto, o nosso comentário para o dia de hoje.


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