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Plinio Corrêa de Oliveira
Santa Hildegarda: profetisa dos primórdios da Revolução
"Santo do Dia", 20 de setembro de 1966 |
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A D V E R T Ê N C I
A O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de
conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da
TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre
nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial
disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da
Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como
homenagem a tão belo e constante estado de
espírito: “Católico
apostólico romano, o autor deste texto
se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja.
Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja
conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui
empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em
seu livro "Revolução
e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº
100 de
"Catolicismo", em abril de 1959. |
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Quando eu estive em Minas Gerais, deram-me para comentar uns dados biográficos de Santa Hildegarda, que são muito bonitos. Eu leio esses dados e vou fazer apenas um comentário rápido a respeito da parte doutrinária dessa vida. Nós veremos pelos dados biográficos que Santa Hildegarda, que viveu no século XII, foi uma espécie de milagre contínuo, permanente, palpável. Tudo nela é miraculoso e admirável. Ela foi incumbida de uma profecia sobre uma revelação de uma manifestação da Revolução (*) que começava. E depois também incumbida de uma profecia a respeito de todos [aspectos] da Revolução, até o fim dos séculos. Nós veremos que essa santa, que está bem relacionada com a RCR (**), produziu de fato profecias [relacionadas com a temática da] RCR. E nesse sentido constitui uma altíssima e preciosíssima confirmação das teses expostas naquele livro. A narração da vida dela é a seguinte, tirada do Pe. Rohrbacher, “Vida dos Santos”: “Santa Hildegarda nasceu no condado de Spanheim, diocese de Mayence, no ano de 1098, de pais nobres e virtuosos”. A antiga hagiografia nunca deixava de mencionar que o santo nascia de pais ilustres e virtuosos.
“Com a idade de 8 anos ela foi levada ao Mosteiro de Disibodenberg ou do monte São Disibode e colocada sob a direção da bem-aventurada Judite, irmã do conde de Spanheim”. Ela teve, portanto, uma bem-aventurada para formá-la, desde os 8 anos de idade. Hoje se é contra o seminário de menores e contra, portanto, também o fato de se introduzir crianças em idade tão tenra, embora sem votos, nas ordens religiosas. Mas ela, pelo contrário, floresceu maravilhosamente nessa ordem religiosa, que era das beneditinas. “Dos 8 aos 15 anos Hildegarda viveu sobrenaturalmente muitas coisas, das quais falava com simplicidade às companheiras, que ficavam maravilhadas, assim como todos que disso tinham conhecimento”. É que ela não percebia. Ela pensava que todo mundo via as mesmas coisas. Então as visões que ela tinha comentava com toda naturalidade, com toda simplicidade. E essa simplicidade e naturalidade já é uma prova da autenticidade dessas visões. “Indagavam qual poderia ser a origem das visões. A própria Hildegarda observou, surpresa, que enquanto via interiormente na sua alma, ao mesmo tempo enxergava as coisas exteriores com os olhos do corpo, como de costume, o que jamais ouvira dizer houvesse acontecido a qualquer pessoa”. Quer dizer, ela estava conversando, ela estava, por exemplo, dentro da sala vendo as pessoas tratando das coisas e, ao mesmo tempo, tendo visões extraordinárias. Era, portanto, uma grandíssima mística. "Desde então, presa de temor, não ousou mais entreter-se com pessoa alguma sobre sua luz interior. Contudo, acontecia-lhe, nas suas conversas, referir-se muitas vezes a coisas ainda por acontecer e que pareciam estranhas [aos] ouvidos ... Este estado de intuição sobrenatural perdurou durante toda a sua vida” A vida inteira foi assim. E ela, portanto, previa o futuro. Ela dizia coisas que iam suceder e que depois se confirmavam.
“Tinha quarenta anos quando ouviu uma voz do céu ordenar-lhe que escrevesse tudo quanto visse. Resistiu durante muito tempo, não por obstinação, mas por humildade e desconfiança. Aos 42 anos e 7 meses viu o céu abrir-se e uma chama muito luminosa penetrou-lhe na cabeça, no coração e em todo o seu peito, sem queimá-la, mas aquecendo-a suavemente”. É, evidentemente, uma manifestação do Divino Espírito Santo. “No mesmo momento ela recebeu a compreensão dos Salmos, dos Evangelhos e dos outros livros do Antigo e do Novo Testamento, de maneira a poder explicar-lhes o sentido, embora não conseguisse explicar gramaticalmente as palavras, pois não conhecia o latim nem gramática”. Ora, nós sabemos que a Bíblia, naquele tempo, era sempre escrita em latim. Ela não entendia, portanto, o sentido das palavras e dava a explicação do que liam para ela, ou do que ela lia. Isso é um milagre dos mais assinalados, e contínuo. E esse é um milagre palpável. É um fato externo que qualquer um poderia conferir. É a mesma coisa que, por exemplo, algo escrito, não sei, em aramaico diante de nós, e a gente começa a ler as palavras aramaicas e depois, sem entender as palavras, diz: Esta passagem se interpreta dessa maneira, assim, assim, assado. Se isso não é milagre, eu já não sei o que é o milagre. ”Como perseverasse em recusar-se a escrever, mais por temor do que por desobediência, caiu doente. Enfim, confiou sua preocupação a uma religiosa, sua diretora e, por intermédio dela, ao prior da congregação. Depois de aconselhar-se com os membros mais sábios da comunidade e de interrogar Hildegarda, o prior ordenou-lhe que escrevesse, o que ela fez pela primeira vez. Imediatamente se viu curada e levantou-se da cama”. "Essa cura pareceu tão milagrosa ao prior ... " É, portanto, outro fato extraordinário. Então, agora, nós passamos da história dela para a história das revelações que ela escreveu. As revelações eram garantidas por esses milagres, dos quais o mais recente era a própria cura dela, e então as revelações vão ter uma vida própria, que é diferente da vida dela. E essa história é, realmente, admirável. “O superior foi a Mayence relatar o que sabia ao arcebispo e às mais altas figuras do clero e mostrou-lhes os escritos de Hildegarda”. Vejam a prudência desses homens e como aquela época era diferente da de hoje. “Isso deu motivo a que o arcebispo consultasse o próprio papa”. Agora, então, chega a consulta ao papa. “Desejando Eugênio III ficar ao par daquele prodígio, enviou ao mosteiro de Hildegarda, Alberon, bispo de Verdun. Hildegarda respondeu com muita singeleza as perguntas que lhe foram feitas. Tendo o bispo apresentado seu relatório, o papa mandou que lhe trouxessem os escritos de Hildegarda e, tomando-os nas mãos, leu-os em voz alta”. Quer dizer, o relatório, com certeza, foi favorável e por isso o papa achou que valeria a pena ele tomar conhecimento direto do relatório.
“Leu-os em voz alta” – e vem agora uma cena que merecia ser representada numa iluminura, ou pintada sobre esmalte. Porque: “Leu-os em voz alta na presença do arcebispo de Mayence, dos cardeais e de todo o clero”. Vocês podem imaginar uma sala da Idade Média, um daqueles tronos feitos de alvenaria e ligados à própria parede; depois, os cardeais todos em volta - as salas daquele tempo, mesmo salas de conversa, tinham uma ordenação meio parecida com a Sala do Reino de Maria. Era um trono e várias cadeiras de um lado e do outro; assim se conversava, e reto, sem estar relaxando o corpo, nem de um lado para outro, nem nada. Então, o papa começa a ler nessa assembléia, - todo o clero de Roma, o arcebispo de Mayence com os cardeais [acompanhando] -, em voz alta, as revelações de santa Hildegarda. É uma cena de um colorido e de um pitoresco extraordinário. Diz: "Leu-os em voz alta. Também contou tudo [que] lhe fora relatado pelos emissários por ele enviados e todos os assistentes renderam graças a Deus”. Imaginem que beleza de cena: Oh, graças a Deus! Bem haja nosso Redentor! Louvada seja Maria Santíssima! De fato, magnífico etc. Um coro de louvores. Os senhores vão ver aparecer melhor: São Bernardo estava presente. O que dizer mais? O autor da Salve Rainha, do Lembrai-vos, o pregador das cruzadas, o santo que deu a regra aos Templários. Vê-se de repente, nessa assembléia, se erguer a grande voz, possante, sagrada e melíflua de São Bernardo: é uma coisa que dá um arrepio à gente. Com São Bernardo presente tudo se ilumina e se transfigura. E também deu testemunho do que sabia sobre a santa mulher, pois a visitara quando estivera em Frankfurt. Quer dizer, portanto, [que] ele tinha dela uma muito boa impressão. E escrevera-lhe. Ele conta que escrevera para ela uma carta depois de ter estado com ela em Frankfurt. O que continha a carta? Normalmente nós deveríamos dizer, louvores. Não é mesmo? Escrevera-lhe para felicitá-la pela graça recebida, exortando-a a permanecer fiel à mesma. Aqui está São Bernardo inteiro. Diante de uma grande santa, vem primeiro o movimento de admiração. Mas vem depois aquele movimento de temor, a consideração de que essa terra é um vale de lágrimas, a consideração de que a miséria humana não abandona nenhum homem, exceto se ele é confirmado em graça, a consideração dessas circunstâncias então leva a um gesto de temor. Será que isso dura? Será que isso fica? Será que não pode cair uma maravilha dessas? Então o grande lutador, conhecendo a miséria humana, vigilante como era – sendo ele um modelo da virtude da vigilância -, escreve a essa santa para exortá-la à perseverança. Quem está de pé, dizia São Paulo, tome cuidado de não cair. Este era um verdadeiro santo e um grande santo... compreender os abismos que há potencialmente - não de um modo consentido – na alma até de um santo e de um grande santo. Cuidado, portanto. Vigiar e orar para não cair em tentação. Isso é que é direito. Isso é que é humildade bem compreendida. “Pediu pois, ao papa, São Bernardo que foi secundado por todos os presentes que divulgasse tão grande graça concedida por Deus à Igreja no seu pontificado e a confirmasse com sua autoridade”. O papa seguiu o conselho e escreveu a Hildegarda recomendando-lhe que conservasse, por humildade, a graça por ela recebida. Primeiro ponto: Você está indo muito bem; não derrape. Depois vamos tratar de outras questões. Isso é que é sério, isso é que é objetivo, isso é que é direito, isso é que corresponde à ordem real das coisas nesse vale lágrimas. "... E relatasse com prudência tudo quanto lhe fosse revelado por intermédio do Espírito". Do Santo Espírito, do Espírito Santo. Em outros termos: conte o que recebeu, mas tenha medo de tanta grandeza, porque essa grandeza pode precipitá-la no inferno. "... A santa relatou ao papa Eugênio, em carta bastante longa, tudo quanto ouvira da voz celeste, relativamente ao pontífice. Anunciava uma época difícil, cujos primeiros sinais já se manifestavam.” Ela previa uma época difícil, cujos primeiros sinais já começavam. Como os senhores vão ver é a Revolução (*) que estava [dando seus primeiros sinais]. “Os vales queixam-se das montanhas, as montanhas tombam sobre os vales, porque os súditos – o vale, a parte da humildade, é a parte inferior – não mais sentem temor de Deus. Estão como que impacientes por subir como que ao cume das montanhas - subir de categoria - para acusar os prelados, em vez de acusar os próprios pecados.” É preciso notar o seguinte: "prelado", na linguagem medieval, não é apenas o eclesiástico, mas são os primeiros quer na ordem eclesiástica, quer na ordem temporal. São Tomás mais de uma vez fala de prelados espirituais e temporais, que são os principais da Igreja e os principais do Estado. Esta gente tinha inveja dos principais da Igreja e os principais do Estado e acusava os pecados desses que estavam em cima, sem se corrigirem dos seus próprios pecados. É muito fácil acusar os outros quando a gente não se corrige. “Os vales dizem: mais adequados do que eles para superior. Denigrem tudo quanto os superiores fazem por inveja” Lembremos bem do papel disso na RCR: é por ódio à superioridade. Já não por ódio ao superior enquanto superior, mas é o ódio à superioridade enquanto superioridade. Não deve haver superioridade. O bem é a igualdade enquanto igualdade. Ou isso é bem a RCR, ou a RCR não existe. É evidente, é propriamente isso. “Assemelham-se os vales a um insensato que em vez de limpar suas roupas sujas nada mais faria a não ser observar a cor, de que cor é a roupa do próximo” Quer dizer, o conde não presta, o cônego não presta, mas ele está com a alma em estado de pecado mortal. De que adianta isso? “As próprias montanhas” - isto é, os prelados, os nobres e os clérigos e, em rigor se quiserem, também a alta burguesia - “as próprias montanhas em lugar de se elevarem continuamente às comunicações íntimas com Deus, a fim de cada vez mais se transformarem na luz do mundo, descuidam-se e obscurecem-se”. Vejam que linda noção do papel da nobreza e do clero. É ter comunicações contínuas com Deus para se iluminar cada vez mais da luz de Deus, quer para efeito espiritual, quer para efeito temporal; e assim serem como a luz que está no alto da montanha e ilumina o mundo inteiro. Como eles não seguem isso, como eles relaxaram as comunicações com Deus, eles vão se obscurecendo, eles não deitam mais a luz que deveriam deitar. E porque eles não deitam mais a luz que deveriam deitar, então, a sombra e a perturbação que reina nas ordens inferiores vem daí. Aqui está, então, a plebe não prestaria, mas o ponto de partida foi uma posição da nobreza e do clero pela qual se entibiaram e as trevas encheram as partes inferiores da sociedade. E num justo e majestoso castigo, essas partes inferiores da sociedade tomadas então de inveja, derrubam aquela superioridade. Como isto é lógico! Como isto mostra toda a economia da Providência através da criação. Que grandeza uma coisa dessas tem! Os senhores estão vendo o que era santa Hildegarda. “E porque vós, grande Pastor e Vigário de Cristo, deveis buscar a luz para as montanhas e conter os vales” Olha a tarefa curiosa do papa! Em relação às montanhas, buscar a luz; e em relação aos vales, conter. Dizer aos que estão revoltados que devem obedecer. Mas dizer às autoridades que devem voltar-se para a luz. Como isso é diferente da tática "progressista" não é? Exatamente o contrário! Não enche de luz, enche de trevas as montanhas e depois incita os vales à revolta. Precisamente o contrário. É impressionante como é o contrário. Continua: “Dai preceitos aos senhores e disciplina aos súditos." Quer dizer, para os senhores, preceitos para seguirem; aos súditos, disciplina. Mantenham-se firmes. “O soberano juiz recomenda-vos que condeneis e repilais de junto de vós os tiramos importunos e ímpios, no temor de que, para vossa grande confusão, eles se imiscuam na vossa sociedade”. Isso é algo da vida dele. Ele estaria se misturando com tiranos, pessoas que ele favorecia ou qualquer coisa, que tiranizavam o povo. Só conhecendo a história da época é que se pode saber bem o que era. (Aparte inaudível) "Mas sede compassivo com as desgraças públicas e particulares, pois Deus não desdenha as chagas e as dores daqueles que o temem. A santa abadessa fazia predições e dava conselhos semelhantes aos bispos e aos barões, que de toda parte lhe escreviam e a consultavam. Ela foi entre as mulheres o mesmo que são Bernardo fora entre os homens. Teve inúmeras revelações sobre as obras de Deus desde a criação do mundo até a derrota do Anticristo”. Portanto, toda a Bagarre (***) deve estar na obra dessa profetisa da Revolução. “Morreu no dia 17 de setembro de 1179, na noite de Domingo para Segunda-feira, com a idade de 80 anos. A Igreja festeja a santa no dia de sua morte.” Os senhores estão vendo aqui uma figura nimbada de toda espécie de milagres, por contínuos e indiscutíveis milagres; é, de outro lado, uma figura profética; essa figura profética [vislumbrou] o começo e o âmago da Revolução, e deve ter profetizado todo o curso da Revolução. NOTAS (*) Revolução: o termo aqui é usado no sentido que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira lhe dá em seu ensaio Revolução e Contra-Revolução, ou seja, o processo quatro vezes secular que vem devastando a Civilização Cristã. (**) RCR: Revolução e Contra-Revolução (***) Bagarre: Um grande triunfo da Igreja e da Civilização Cristã, depois de uma crise, metaforicamente definida na linguagem quotidiana da TFP com esta palavra francesa - cfr. "O Cruzado do século XX - Plinio Corrêa de Oliveira", Roberto de Mattei, Civilização Editora, Porto, 1996, Cap. VII, n. 10). |