Plinio Corrêa de Oliveira
São Tomás de Aquino entrega sua alma a Deus com um ato de fidelidade e submissão à Santa Igreja
Santo do Dia, 6 de julho de 1966, quarta-feira |
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A D V E R T Ê N C I
A O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de
conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da
TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre
nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial
disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério
tradicional da
Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como
homenagem a tão belo e constante estado de
espírito: “Católico
apostólico romano, o autor deste texto
se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja.
Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja
conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui
empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em
seu livro "Revolução
e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº
100 de
"Catolicismo", em abril de 1959. |
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Hoje é festa de São Tomás de Aquino [atualmente é comemorada a 28 de janeiro, n.d.c.]. Do livro intitulado “S. Tommaso d’Aquino”, de autoria do padre [.....] O.P., vêm os seguintes dados relativos aos seus últimos momentos: “Devido à fraqueza que o dominava, não podia mais acompanhar a comunidade nos ofícios religiosos na capela. Pediu ardentemente para receber o Viático e a comunhão”. Ele se achava num convento de cistercienses (em Fossanova, Itália), para se recuperar de um acidente durante uma viagem. Adoeceu e ali morreu.
Abadia de Fossanova (Itália), onde São Tomás passou seus últimos dias “O Santo Viático foi-lhe ministrado solenemente a 4 ou 5 de março. O próprio abade levou a comunhão ao quarto do enfermo. Ao redor, estavam, de joelhos, os religiosos do mosteiro e um bom número de frades menores (franciscanos), os quais, na maioria, pertenciam ao séqüito do bispo Francisco de Terrafina, também presente nessa circunstância. E, finalmente, muitos frades pregadores (dominicanos), que, à notícia da doença do mestre Tomás, acorreram dos conventos vizinhos de Agnani e Gaeta. “Reunindo todas as forças, Frei Tomás, levantou-se do leito e, prostrado por terra, ficou longo tempo na adoração de Nosso Senhor. Derramando muitas lágrimas, pronunciou belas palavras, entre as quais a sua profissão de fé, aquelas célebres expressões atestadas por Bartolomeu de Capua, pelos monges de Fossanova, registradas na Bula de Canonização: ‘Recebo a Vós, preço da redenção de minha alma, por cujo amor vigiei, estudei e trabalhei. Desse Santíssimo Corpo de Jesus Cristo e dos outros sacramentos muito ensinei e escrevi, na fé em Jesus Cristo e na Santa Igreja Romana, a cujo juízo tudo ofereço e submeto’”. Os senhores estão vendo que é um quadro belíssimo! Primeiro, porque é a agonia de São Tomás de Aquino. A agonia de um homem é, talvez, a parte mais bela de sua vida. E quando o homem tem uma vida bela, a agonia é uma espécie de depuração. Todas as escórias, todas as coisas erradas, todas as coisas secundárias, ficam para trás. E é apenas a linha geral, o que há de belo, de nobre que aflora. Na agonia, tem-se a impressão que a pessoa está nos falando de além dos espaços da morte e que tudo quanto foi transitório, efêmero, vulgar, começa a ser visto como escrito no Livro da Vida. E então se começa a compreender qual é o valor que acaba tendo – para a eternidade – tudo quanto aquela alma produziu de direito e de bom. Eu não assisti, até hoje, muitas agonias. Porém a mais bonita que presenciei foi a do meu caro Ablas (Prof. Antonio Ablas Filho – vide o artigo “Um grande exemplo de abnegação e combatividade”, de autoria de Dr. Plinio, em “Catolicismo”, Nº 116 - Agosto de 1960, n.d.c.). Foi bem assim. Ele já estava mais para lá do que para cá, num estado de alma em que mais se via que caminhava para a eternidade do que restava para a terra. Como ele estava com a consciência muito tranquila, não havia nenhuma preocupação das coisas terrenas. Caminhava para a morte com uma serenidade extraordinária. E o que havia de angélico, de reto, de ilibado, de constante, sem mancha nem ruga em sua vida, aquilo começava a aparecer como um valor que se destacava dos acontecimentos e passava para entrar para a História e para o Livro da Vida. E assim também pode-se imaginar – mas então com que superabundância desconcertante de méritos! – a vida de São Tomás de Aquino... Em outros termos, ele morre num convento de contemplativos puros, de cistercienses; morre cercado por uma coroa de frades de várias ordens religiosas: cistercienses; naturalmente os dominicanos, seus irmãos de hábito; franciscanos em quantidade, que estavam ali constituindo o séqüito de um bispo franciscano também hospedado no convento e que foram assistir o sacramento concedido a São Tomás de Aquino. Este, ao receber a Comunhão de joelhos, com uma unção extraordinária, dá de si mesmo esse testemunho maravilhoso. Ao morrer, elogia sua própria obra, como que tomando uma despedida de Nosso Senhor na terra, com a esperança e a certeza de O ver no Céu. Então se pôs de joelhos e disse essas palavras: “Recebo-Vos, ó preço da redenção de minha alma...” Nosso Senhor Jesus Cristo é o preço da redenção da alma dele. Ele ia receber a Sagrada Eucaristia que é Nosso Senhor Jesus Cristo. E agora vem o elogio que ele faz aos seus estudos: “...para o qual eu estudei, vigiei e trabalhei.” A vida dele não foi senão estudo, vigília e trabalho. E tudo foi em louvor de Nosso Senhor. “Desse Santíssimo Corpo de Jesus Cristo e dos outros sacramentos, muito ensinei e escrevi, na fé de Jesus Cristo e da Santa Igreja Católica...” É uma beleza como, depois de falar de Nosso Senhor Jesus Cristo, ele fala na Igreja Católica, compreendendo bem a união mística de Nosso Senhor Jesus Cristo com a Igreja, que é uma união indissolúvel. O “Doutor Comum”, que foi o maior dos Doutores de todos os tempos, igual ao qual provavelmente não haverá outro até o fim do mundo, ele termina com um ato de fé e de humildade. Diz: “...a Santa Igreja Católica, à qual tudo ofereço e a cujo juízo tudo submeto.” Feito esse ato de humildade à Santa Igreja, a vida de São Tomás de Aquino estava encerrada. É uma verdadeira maravilha! O Martirológio afirma dele que foi ilustríssimo pela nobreza da família, santidade de vida e ciência teológica. Por seu gênio e por sua pureza é chamado o “Doutor Angélico”. É também Patrono das escolas católicas.
Quarto onde faleceu São Tomás, posteriormente transformado em capela, na mesma abadia de Fossanova
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