Plinio Corrêa de Oliveira

 

Santo Isidoro,

lavrador e teólogo

 

 

 

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 14 de maio de 1966

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

 

Santo Isidoro (* 1070/1080 + 1130, canonizado a 12 de março de 1622 pelo Papa Gregório XV), muito venerado como patrono dos camponeses e dos operários. As cidades de Madri, Leon, Saragoça e Sevilha também o homenageiam como seu patrono. Acima, estátua na Capela de Mollerussa - Espanha (Wikipédia)

Nós temos para amanhã a festa de Santo Isidoro, confessor. Rohrbacher, na “Vida dos Santos”, contém as seguintes referências a ele:

Isidoro nasceu de pais pobres, mas católicos e piedosos. Educado no temor de Deus desde a infância, praticou as virtudes com gravidade”.

Notem bem, hein? Há tanta imagem de santo na infância, representando-o como bobinho... uma carinha... O próprio do santo é a precocidade e a precocidade inclusive na varonilidade. Ele, desde criança, praticou a virtude, mas a virtude varonil. Não uma virtude qualquer.

“Chegado à idade de escolher uma profissão, resolveu dedicar-se à agricultura, por lhe parecer a mais humilde, trabalhosa e segura.”

São Vicente de Paulo, de família camponesa, mas teve esplêndidas relações sociais, fazia parte de uma espécie de comissão que, sob a presidência da Rainha Ana d´Áustria da França, escolhia os candidatos ao episcopado, às abadias, etc., recebeu de seus parentes o pedido que lhes obtivesse lugares na cidade. Mas as condições da vida de campo são de tal maneira propícias à salvação eterna que mandou dizer que recusava atender esse pedido porque precisamente a vida de campo é mais propícia à salvação eterna.

Os senhores notem a monstruosidade de certa técnica moderna, que visa eliminar o camponês. Assim, a tendência é para fazer os camponeses morarem em cidadezinhas e serem levados de caminhão para o trabalho, acabando por terem todos os vícios da cidade. Quer dizer, é a desruralização da vida, ou a abolição da condição de vida mais propícia à salvação eterna.

Então, aqui, Santo Isidoro quis ser agricultor, porque favorecia a salvação dele.

Colocou-se ao serviço de um gentil-homem de Madri, Juan de Veras, para trabalhar em suas terras e administrar uma de suas fazendas. Nunca mudou de emprego, servindo seu patrão com a maior fidelidade. Trabalhava de tal forma, que nunca, nem em um só dia de sua vida, suprimiu algo de seus exercícios de devoção. Jamais entregava-se aos afazeres, sem antes ter visitado a igreja, ouvido a Missa e orado a Deus e à Santíssima Virgem com todo fervor”.

Uma vez acusaram-no ao patrão que se atrasava no trabalho e que sua produção não rendia como a dos outros. Juan dirigiu-se à fazenda para repreender Isidoro, mas ao chegar, em lugar de uma só charrua, viu três, das quais Isidoro conduzia a do meio e dois anjos as duas outras. Compreendeu, então, o que muitas vezes o santo lhe havia dito, isto é, que o tempo dado a Deus para a devoção nunca era perdido”.

O resumo não esteja, talvez, tão claro. A ideia é essa: ele foi acusado de gastar demais tempo com a devoção, e não empregar suficiente tempo com o trabalho. Então, estaria prejudicando o patrão. Este, que bem poderia ser atualmente como certos filiados de alguma “Federação Agropecuária” qualquer e teria  essa mentalidade, naturalmente ficou indignado. “O que é isso? Uma baixa de produção?! Vamos ver o que é”. A resposta veio magnífica... Quer dizer, Santo Isidoro rezava muito, por isso produzia mais. Os Anjos trabalhavam por ele. Os senhores podem imaginar a cara desse patrão.

Mas esses Anjos não aparecem para um patrão de hoje... Naquele tempo em que os homens ruins eram muito menos ruins do que a maior parte dos homens hoje tidos como bons, ainda os Anjos apareciam. Que quadro para um pintor retratar!  Num campo de Espanha, com aquelas montanhas que podem parecer extravagantes, perfilando-se no fundo, três carros andando na paz do campo, Santo Isidoro conduzindo um dos arados, os dois Anjos... e ele ainda mais luminoso do que os Anjos. Que pintura! Como é pena a gente não saber pintar... 

Compreendeu ele isso. Ao escolher uma esposa, Isidoro decidiu-se por Maria Toribia, jovem de grandes qualidades morais. Após o nascimento de um filho que morreu criança, o casal decidiu guardar a continência. Maria foi até o fim da vida fiel imitadora das virtudes do marido.

O Espírito Santo concedeu ao ignorante lavrador um profundo conhecimento das verdades da fé, de maneira que as conversas do santo maravilhavam seus ouvintes”.

Os senhores veem que coisa maravilhosa: um camponês teólogo! Pouco lido, não fez nenhum “curso de alfabetização”... que faz dos alfabetizados, analfabetos letrados. E não sabia, com certeza, ler e escrever, mas era um homem meditativo, que pensava, que tinha o dom da oração, e por isso, quando chegava a hora de conversar, os outros iam procura-lo por causa do que dizia...

Imaginem à tarde, o trabalho terminado, Santo Isidoro encostado num portal da casa dele, a Maria Toribia preparando um jantar, e as pessoas chegando perto dele, que afirmava isso e aquilo, e os outros comentando: “que coisa sábia!” E com certeza falava como Nosso Senhor, ou seja, não dava pura doutrina, mas contava parábolas: “Aconteceu hoje no campo tal fato, tal outro...” E daí lá vinha um casinho, uma consideração piedosa, na singeleza da vida do campo.

Quem é que hoje conhece coisas dessas? Quem é capaz de admirar coisas dessas? Do alto de que púlpito os senhores ouvem contar coisas dessas? Elogiar coisas dessas? Isso é um paraíso que é vedado aos homens de hoje... 

 “Foi-lhe dado também o dom dos milagres”.

Não faltava nada, não é?...

Isidoro empregou-o para socorrer os mais pobres do que ele e os próprios animais”.

A respeito de animais, se poderia fazer um quadro errado: é o de certo gênero de membro da “Sociedade Protetora de Animais”... A filantropia é a macaca da caridade cristã. Realmente, há um modo de fazer bem aos animais, que é dito entre aspas “humanitário”, idiota, fica-se com pena de matar o bicho, de comer o bicho etc. Quer dizer, isso é uma deturpação do verdadeiro espírito com que os santos agiam.

Vou imaginar como é que um santo faria isso e os senhores compreenderão a perspectiva que entra. Considerem, por exemplo, um leão majestoso vem rugindo... é uma imagem magnífica da cólera de Deus. Está bem. A gente vê o leão que se enrosca em alguma coisa qualquer e que o impede de ir para a frente.  A gente cuidadosamente faz que com que o leão se livre daquilo só para vê-lo pular e rugir, porque é uma expressão da cólera de Deus... Então não se trata de amar o bichinho como tal, mas amá-lo como um reflexo de um atributo de Deus. Aí sim está bem.

Olhar a pomba e amá-la não como se nela residisse uma virtude, mas porque é um reflexo de uma virtude. Ver a serpente, aquele jeito de olhar, de andar habilmente também, porque é uma imagem da sagacidade. Nosso Senhor não disse: “Sede astutos como a pomba”, mas “sede simples como a pomba e astutos como a serpente”...

Sua vida é entremeada de fatos maravilhosos a esse respeito. Caindo doente, Isidoro predisse sua morte e preparou-se para aquela com redobrado fervor. Faleceu a 15 de maio de 1170, com a idade de sessenta anos. É padroeiro de Madri”.

 

Azulejos de Santo Isidoro em Braga, Portugal

Os senhores veem o que é a vida dos santos. A gente ouve uma vida de santo dessas e se fica tomado de uma tal admiração que podemos dizer: “Qual! Santo como esse não houve!” Lemos a vida de qualquer outro santo e no fim o comentário é o mesmo: “Santo como esse não houve!” E o comentário é verdadeiro cada vez, porque como esse não houve nenhum outro: é uma maravilha que Deus fez e que Ele não repete, em que Se mostra de tal maneira, que aquele reflexo embevece a gente e compreendemos que daquele modo não pode haver igual.

Mas depois há outros e há outros e há outros... E ainda mais: apesar das diferenças, numa hierarquia que constitui a maior beleza da santidade. Quando estivermos no Céu, por misericórdia de Nossa Senhora, junto a Ela, e pudermos contemplar Santo Isidoro, São Tomás de Aquino, Santo Inácio de Loyola, esses e aqueles, vamos compreender a hierarquia de virtudes que Deus estabeleceu no Céu para gáudio da corte celeste. E então compreenderemos muitíssimo mais o fato quando Deus criou o cosmos e viu que cada coisa era boa, mas o conjunto era melhor ainda do que a soma das coisas boas. Assim, quando nós vermos cada santo, pois cada um, de si, é uma maravilha.

 

Fachada da catedral de Orvieto (Itália)

Mas quando pudermos contemplar o conjunto dos santos, perceberemos que é uma maravilha maior. Uma maravilha tão grande, que sustenta uma comparação com Nossa Senhora: a comparação de um grãozinho de poeira com o maior astro que se possa imaginar... Aí se compreende o que é Nossa Senhora.


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