Plinio Corrêa de Oliveira

 

São Roberto Bellarmino:

arauto da ortodoxia e

increpador do erro, ourives de almas,

guia de São Luis Gonzaga

 

Santo do Dia, 12 de maio de 1966

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

 

São Roberto Bellarmino (1542-1621), bispo, confessor e Doutor da Igreja. Há dados sobre ele extraídos da “Vida dos Santos” de Rohrbacher e de “L’Année Liturgique” de Dom Guéranger:

“Desde as origens da Igreja até nossos dias, jamais a Divina Providência deixou de suscitar homens ilustríssimos pela ciência e santidade, pelos quais foram conservadas e interpretadas as verdades da fé católica e refutados os ataques com os quais os heréticos refutavam essas mesmas verdades. Entre tais homens brilha São Roberto Bellarmino, tão célebre pelo seu ensino e suas obras polêmicas, como pelo seu zelo pela reforma da Igreja e por suas virtudes”.

“De fato, parece que o santo cardeal recebera de Deus a tríplice vocação de ensinar os fiéis, de orientar a piedade das almas fervorosas e de confundir os heréticos protestantes de sua época, que era o século XVI.”

O século de plena efervescência do protestantismo.

“Foi grande como pregador, professor e polemista, tendo recebido de Bento XV o título de ‘Martelo da Heresia. Escreveu muito e sobre o valor de seus livros nada é mais necessário do que transcrever o que deles dizia São Francisco de Sales, seu contemporâneo e amigo: ‘Preguei em Chablais durante cinco anos sem outros livros que a Bíblia e as obras do grande Bellarmino’.

“Sua obra mais famosa são as Controvérsias, compilação de obras suas dadas no Colégio Romano. Nelas, recolhendo o testemunho dos Padres, dos Concílios e do Direito da Igreja, defende vitoriosamente os dogmas atacados pelos luteranos. Clara, equilibrada, enérgica, esta obra é tão magistral que muitos consideram nunca ter sido superada nos séculos posteriores. Ao tempo de sua publicação, provocou tanta satisfação no campo católico, quanto cólera no campo adversário, onde o protestante Téodore de Baise (1519-1605) dizia, referindo-se a ela: “Eis o livro que nos perdeu”. Sua leitura foi proibida na Inglaterra pela Rainha Isabel I (1533-1603), a quem não fosse doutor em teologia, sob pena de morte, tal o número das conversões que operava”.

Sim, senhores...!

“Não se satisfazendo de convencer os hereges de seu erro, queria também prevenir os simples fiéis contra sua propaganda (propaganda dos hereges) e, para este fim, compôs seu notável Pequeno Catecismo, que fazia questão de ensinar, ele mesmo, às crianças e às pessoas simples, por mais importantes que pudessem ser suas ocupações. Além de outras famosas publicações e de uma numerosíssima correspondência, escreveu, no fim de sua vida, notas espirituais, frutos de suas meditações e de seus retiros, que formam cinco pequenos tratados ascéticos, reveladores da beleza da alma do autor. Sua última produção foi, simbolicamente, “A arte de bem morrer”.

É preciso acrescentar mais um dado e que é empolgante em sua vida: ele foi o diretor espiritual de São Luís de Gonzaga! Isso só bastaria para encher a vida de um homem...

Que comentário fazer da vida desse santo? Os senhores estão vendo que ele era uma pessoa chamada elogiosamente pelo Papa Bento XV - porque houve tempo em que isso foi elogio - “o martelo dos hereges”. Tal alcunha a Igreja tem conferido a alguns grandes santos que têm produzido, contra a heresia, danos muito particulares.

Como “martelo dos hereges”, escreveu uma porção de livros demonstrando a verdade e invectivando energicamente os hereges. Esses duros ataques converteram muitos hereges. E o testemunho primeiro disso é o de Téodore de Baise, que era o protestante máximo que sucedeu a Calvino (1509-1564) – o famoso protestante com quem São Francisco de Sales teve a sua célebre discussão – e depois o pânico de Isabel I da Inglaterra diante de suas obras, a tal ponto que quem não fosse doutor em teologia era morto se lesse os livros dele, tal o número de conversões que operava.

São Roberto Bellarmino se dava conta de que não se pode destruir a heresia simplesmente ensinando a verdade, mas que é preciso – além disso – atacar o erro. Ele entendia que por essa forma se operavam conversões e, portanto, se trabalhava pela união da Igreja. E foi canonizado, ou seja, ele procedeu de acordo com as quatro virtudes cardeais: a justiça, a prudência, a temperança e a fortaleza.

Ora, se seu método fosse errado, ele não teria sido justo, porque teria feito imprecações inúteis; não teria sido prudente, porque teria adotado uma tática que chegava ao resultado oposto à que devia seguir; não teria sido forte, porque não teria sabido dominar o seu desejo de increpar os adversários; e não teria sido temperante pela mesma razão.

Os senhores estão vendo, portanto, que sua vida é uma prova viva do princípio de que se deve atacar o mal e o erro, e de que não basta ensinar o bem e a verdade.

Quem quiser a união das igrejas, trabalhará de modo sumamente eficaz se fizer a mesma coisa. Se houvesse em nossa época cem Robertos Bellarminos fazendo obras tão eficazes quanto as dele, possivelmente converteria a maior parte dos hereges.

Isso serve para se defender do erro tão freqüentemente espalhado – que não é ensinado pelo Concílio Vaticano II, mas que dá um certo aroma da aplicação do Concílio – de que toda polêmica e toda réplica ao adversário é prejudicial à união das igrejas. E que toda obra de apostolado só consistiria em elogiar e em aplaudir, nunca em impugnar o mal porque seria inútil e até contraproducente, porque afastaria as pessoas. Mas, pelo contrário, aqui está um santo cuja vida não foi outra coisa senão ininterruptamente isso.

 

 

Urna com os restos mortais de São Roberto Bellarmino (igreja de Santo Inácio, Roma)

 

Os senhores considerem a beleza dos contrastes harmônicos dentro da Santa Igreja Católica: um tal campeão contra a heresia, um tal campeão da ortodoxia, ao mesmo tempo que grande lutador, como era um burilador de almas exímio! A alma tão varonil, mas tão delicada de São Luís Gonzaga, como ele soube burilar! Como fez dessa alma – difícil de compreender – uma verdadeira obra prima de santidade! Por que difícil compreender? Porque tal era a virtude de São Luís Gonzaga que, naqueles tempos áureos da Companhia de Jesus, biógrafos contam que alguns achavam que a pureza dele era de um "détraqué" (desequilibrado mental), quando na realidade se tratava de um verdadeiro santo.

Foi São Roberto Bellarmino que soube discernir até o fim o valor daquela alma. Dirigiu-a de acordo com a via própria, levou-a, portanto, até a honra dos altares. De suas mãos saiu aquele que mais tarde seria nomeado Patrono da juventude.

O General Weigand escreveu um artigo sobre o Marechal Foch que merece ser comentado, e que é oportuno recordá-lo aqui. Com efeito, a vida de São Roberto Bellarmino é uma obra prima de serenidade abacial dentro do auge da luta. Cardeal ocupadíssimo, entretanto, sabia de tal maneira temperar o uso do dia, dispondo bem suas atividades que de sorte a agir com calma, encontrando tempo para pensar e escrever obras tão profundas, que ele chegou a ser Doutor da Igreja.

Os senhores estão vendo aí horas e horas de serenidade, de meditação e de estudo, enquanto rugia a batalha contra o protestantismo. Que linda ilustração ao livro de Dom Chautard “A alma de todo o apostolado”, e que linda e sobrenatural ilustração dos princípios que o general Weigand, no referido artigo, expôs num campo apenas natural.

Essas são as considerações de hoje.