Plinio Corrêa de Oliveira

 

Santo Anselmo: um dos campeões

que sustentou a Idade Média

 

 

 

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 20 de abril de 1966

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

Amanhã, dia 21 de Abril, será festa de Santo Anselmo, Bispo e Doutor, cuja biografia, segundo Dom Guéranger, apresenta os seguintes traços:

“Anselmo nasceu em torno a 1033, em Aosta, no Piemonte, de família nobre. Como o pai o afastasse da vida religiosa, entregou-se aos prazeres durante alguma anos. Mas aos 26 anos entrou na abadia de Bec, em Avranches (Normandia), onde se entregou à prática das virtudes religiosas e ao estudo das Escrituras. Aos 30 anos tornou-se prior e, em seguida, abade. Governou sua abadia com uma bondade incansável que lhe permitiu triunfar de todas as dificuldades.

“Os papas Gregório VII e Urbano II manifestaram-lhe grande estima. “O bom odor de vossas virtudes chegou até nós”, escrevia-lhe Gregório; e Urbano II diz “Vinde cá o mais depressa possível a fim de podermos gozar juntos da afeição que nos une”.

“Chamado à Inglaterra em 1092, não pode voltar à França, pois foi nomeado arcebispo de Canterbury. Nesse cargo muito sofreu do rei Guilherme, o Ruivo, pela defesa dos direitos e liberdade da Igreja.

“Exilado, foi a Roma, onde o Papa o cumulou de honras e lhe deu ocasião, no concílio de Bari, de convencer do seu erro os gregos que negavam que o Espírito Santo procedesse do Filho como do Pai.

“Voltando à Inglaterra após a morte de Guilherme, Santo Anselmo morreu a 21 de Abril de 1102. Clemente XI, em 1720, o declarou Doutor da Igreja.

“Monge, Bispo, Doutor, Anselmo reuniu em sua pessoa os grandes apanágios do cristão privilegiado. E se a auréola do martírio não veio completar tanta glória, pode-se dizer que a palma faltou a Anselmo, mas que ele não faltou à sua palma. Sua vida toda foi entregue às lutas pela liberdade da Igreja. Nele o cordeiro revestiu-se do vigor do leão. Cristo, dizia, não quer uma escrava para esposa. Nada ele ama tanto no mundo quanto a liberdade de Sua Igreja.

“O nome de Anselmo lembra a mansidão do homem do claustro unida à firmeza episcopal, a ciência junto com a piedade. Nenhuma memória foi mais suave e, ao mesmo tempo, mas brilhante do que a sua”.

Os senhores estão vendo nesses traços da vida de Santo Anselmo uma confirmação do que eu falava ontem e antes de ontem a respeito das condições de existência da Igreja na Idade Média. Os senhores estão vendo as lutas que esse santo teve que enfrentar em plena Idade Média. Ele parece não ter travado – ao menos segundo esses traços biográficos – especiais lutas em seu convento. Mas teve dois grandes inimigos a vencer: 1) um rei prepotente que queria sujeitar a Igreja à sua autoridade; 2) outro eram os cismáticos gregos que reunidos no concílio de Bari, ele conseguiu persuadir que a doutrina católica era verdadeira.

Ao mesmo tempo, foi um homem que viajou muito. Os senhores viram que era italiano, depois foi para Normandia, a seguir para a Inglaterra, para Bari, esteve em Roma... Quer dizer, foi uma pessoa que se deslocou muito numa época em que essas viagens representavam enormidades. Eram feitas em estradas péssimas, com riscos de toda ordem, com muita dificuldade, com muita lentidão etc. Os senhores veem, nesse conjunto, as condições de sua vida.

Quer dizer, era um homem favorecido por Nosso Senhor por especiais graças e que levou a bom termo tudo quanto foi incumbido: abade, foi um abade muitíssimo estimado; arcebispo de Canterbury, levou uma luta rigorosa contra o rei e acabou sendo reintegrado na sua Sede episcopal; lutando contra os cismáticos, persuadiu de seus erros. Depois, extinguiu-se na alegria de todos e no amor de todos pela vida que levara, porque a morte dos santos é muito mais uma alegria do que uma fonte de tristeza.

Aí os senhores têm oportunidade de observar qual é a natureza da verdadeira grandeza da Idade Média: esse homem passa pela história do século XI, marca-o por sua ciência, por sua piedade, por suas lutas e leva a causa católica à vitória. Então, considerando sua vida, tem-se a impressão de uma fortaleza formidável, de um varão que encheu o seu tempo, que venceu, cuja glória perdura por todos os séculos por causa das vitórias que obteve em favor da fé. E igualmente fica-se com a impressão de solidez, de força, de grandeza de toda a Idade Média, que contrasta com a pequenez, o efêmero, a índole de matéria plástica de todas as coisas de nossos dias. E tal ideia não é falsa. É verdadeira porque nos mostra a solidez da estatura dos grandes homens que marcaram a Idade Média. Mas, de fato, se não tivesse havido campeões como Santo Anselmo, a Igreja teria afundado.

Naquela época, havia uma luta contínua e a solidez não consistia em não haver embates, mas sim em que a boa reação vencia sempre e era, portanto, nesse sentido, sólida. E um pouco que os homens fraquejassem, a situação poderia degringolar.

Os senhores então considerem desde agora qual será a solidez e a precariedade do Reino de MariaA solidez será enorme... enquanto houver homens de uma grande solidez, dispostos a lutar em todos os sentidos, segundo a Lei de Deus e dos homens.

Então, nesse sentido, o Reino de Maria poderá levar séculos e séculos... Se encontrar homens fracos, soçobrará imediatamente, porque: o reino do demônio é forte; estamos numa humanidade marcada pelo pecado original e num mundo imerso na presença dos tais demônios dos ares de que fala São Paulo. E, portanto, é preciso estar lutando sempre, com uma energia inquebrantável, com uma atividade contínua, com um desprendimento de si inteiro, com os olhos postos completamente em Nossa Senhora, para que a luta seja levada a bom termo.

Assim, encontrando verdadeiros lutadores, realmente dependentes de Maria Santíssima, a causa é solidíssima, e vence mesmo! A questão é de haver quem lute por ela. Aqui está a questão.

Isso dito não nos resta senão pedir a Nossa Senhora que nos dê forças e nos compenetre da verdade para compreendermos bem o seguinte: agora, como durante o Reino de Maria, a nossa vida de luta deve ser constante e no dia em que não tivermos lutado, temos que nos compenetrar de que não carregamos a cruz de Cristo, foi um dia frustrado em nossa vida.

Não lutar é não sofrer. Não sofrer é não carregar a cruz de Cristo. Um dia passado, por um católico, longe da cruz de Cristo, longe de Nossa Senhora, é um dia cancelado, é um dia em branco.

Vamos pedir a Nossa Senhora que nunca nos dê um dia desses em nossa vida.


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