Plinio Corrêa de Oliveira
São Toríbio de Mongrovejo, inquisidor e bispo de Lima
"Santo do Dia" – 22 de março 1966 |
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A D V E R T Ê N C I A O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
Amanhã é festa de São Toríbio de Mongrovejo.
Sua diocese era imensa e os costumes dos espanhóis e outros conquistadores, ao lado do clero, deixavam muito a desejar. "Ao lado do clero", os senhores entendem o que quer dizer, não é? É juntamente com o clero.
Linda a expressão, não?
É uma tão bonita biografia que quase não dá vontade de fazer comentários. Em todo caso, vamos tomar alguns aspectos desse assunto e considerá-los. Primeiro deles, naturalmente, é a excepcional devoção desse santo a Nossa Senhora. Todos nós sabemos bem que sem devoção a Nossa Senhora não há santidade e que a santidade está de algum modo na medida da devoção a Nossa Senhora. Mas, depois, passamos um pouco para a consideração de coisas do tempo. Este homem tão piedoso é notado pelo rei Felipe II, e logo que o nota, ele o chama para o poder judiciário. Os senhores imaginem alguém contar alguma coisa assim: O Presidente X, de tal país, esteve em tal lugar Y e ouviu falar de um homem muito religioso, que jejuava, que todos os sábados fazia penitência e rezava o Ofício Parvo. Quando o Presidente ouviu falar disso [exclamou]: “Oh! Aqui está o magistrado!” Os senhores acreditam?...
Se isso fosse publicado, ninguém acreditaria, porque todo o mundo sabe que nenhum chefe de Estado contemporâneo seleciona os homens verdadeiramente piedosos, verdadeiramente religiosos. Agora, maravilha das maravilhas! Ele encontrou um homem piedoso, mas que não o era de uma piedade sentimental. O rei Felipe II, que era bem o contrário do homem de piedade sentimental - qualidade que não lhe pode ser negada em nenhum caso - vendo esse homem tão bom, chamou-o para a Inquisição. E eis então o nosso homem transformado em inquisidor. E este homem sai das sombras do santuário, das doçuras da sua piedade, para ser inquisidor e exerce tão bem o seu cargo que é depois nomeado bispo do Peru. Os senhores estão vendo como isso significa, afinal de contas, toda uma atmosfera, toda uma época em que a virtude era procurada, era galardoada, era considerada como um instrumento para o bom andamento do governo de um reino. E os senhores vêem o pensamento de Felipe II mandando para o Peru um homem destes. Quer dizer, compreendendo muito bem toda a corrupção a que uma nação colonial estava sujeita, com a presença da elite na Espanha ou em Portugal, e a vinda do restante das respectivas sociedades para a América do Sul. Então a preocupação dele de tomar um homem eminente desses para implantar o reino de Cristo no Peru, para consolidar os fundamentos do reino de Cristo no Peru. Os senhores, então, podem perceber melhor como havia verdadeiro zelo da parte de Felipe II na propagação da fé. Há uns patoteiros aí que dizem que a Espanha e Portugal, quando fizeram o descobrimento, só se interessavam por dinheiro. O que lucrava monetariamente Felipe II em implantar, em mandar um homem desse valor para o Peru, para fazer reformas de caráter espiritual? Nada!
Esse homem começa a agir, esse homem se transforma ali no açoite, porque ele é um santo autêntico, que sabe açoitar. Ele se transforma no açoite dos maus padres, reforma o clero, etc., mas sua ação é prestigiada por um outro homem de altas virtudes, que Felipe II manda para o cargo de Vice-Rei do Peru e que é Dom Francisco de Toledo. Os senhores estão vendo um rei que Santa Teresa chamava de "nosso grande rei", "nosso santo rei Felipe". Os senhores estão vendo um santo Bispo Inquisidor, um santo Vice-Rei. Quem ouve falar nessas coisas nos dias de hoje? Como nós baixamos! Como nós caímos! Como nós estamos em uma ordem de coisas tão tremenda que nossa tentação é até de achá-la natural! Às vezes se fala de certos caiçaras que moram no litoral, que são tão decadentes que até acham natural a vida que levam. Nós espiritualmente somos caiçaras, os homens do século XX. Estamos numa tal decadência que achamos natural haver certas “figuras” por aí, governando, mandando, falando, dirigindo, etc. Nós não compreendemos o fundo do abismo em que estamos, visto que o normal é isso: que um bispo seja como São Toríbio de Mongrovejo. Isso é o normal! Normal é que o poder político esteja entregue a um rei ou a um vice-rei virtuoso; não a certos homens que vemos por aí. Até já perdemos a noção disso, os padrões disso se arruinaram. Então, o que é que devemos pedir amanhã a São Toríbio de Mongrovejo? Nós devemos pedir a ele que nos obtenha a graça de lutar pela cessação deste estado de impiedade em que a normalidade parece um conto de fadas, um conto de carochinha, e é este horror por aí que parece normalidade. E devemos pedir a esse Santo inquisidor a derrota do estado de coisas revolucionário e o triunfo da Contra-Revolução, a ele que tanto lutou como inquisidor pela Contra-Revolução. Do alto dos Céus, certamente, ele ouvirá com benignidade e com alegria a nossa prece. A título de ilustração das dificuldades pelas quais passavam então os missionários de Cristo, transcrevemos uma Carta de Santo Toribio de Mogrovejo, Arzobispo de Lima (1579-1606), dirigida a S.M. Felipe III, Rey de España y de las Indias, referida a la Visita que hizo el Santo a Yauyos, fechada el 18 de abril de 1603: “Aviendo pasado algún tiempo en la ciudad de los Reyes y celebrado synodo diocesano y acudido (…) en prosecución de la Visita de la Prov. de los Yauyos (…) catorce años que no havia ydo a confirmar a aquella gente en razón de tener otras partes remotas a que acudir (…) donde ningún prelado ni visitador ni corregidor jamás avía entrado, por los asperos caminos y ríos que hay y aviendome determinado de entrar (…) en grandes peligros y trabajos y en ocasión que pensé se me quebraba una pierna de una cayda sino fuera Dios servido de que yendose a despeñar una mula en una questa a donde estava un río se atravesara la mula en un palo de una bara de medir de largo (…) de una silla donde me cogió la pierna entre ella y el palo aviendo jaladome la mula asia abajo y socorriéndome mis criados (…) la fuerza para sacar la pierna apartando la mula del palo fue rodando por la questa abajo asia el río y si aquel palo no estuviera allí entiendo se hiciera veynte pedazos la mula y anduve aquella jornada mucho tiempo a pie con la familia y lo di todo por bien empleado por haver llegado aquella tierra y consolado a los indios y confirmándolos y el sacerdote que iba conmigo casándolos y baptizadolos que son cinco o seis pueblos dellos tiene los a su cargo un sacerdote que por tener otra doctrina no puede acudir allí sino es muy de tarde en tarde y a pie por caminos que parece subir a las nubes y bajar al profundo (…)
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