Plinio Corrêa de Oliveira

 

Festa da Purificação de Nossa Senhora:

O simbolismo das vestes do Menino Jesus e de Nossa Senhora e a virtude da pureza

"Santo do Dia", 1 de fevereiro de 1966

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

O elemento para o comentário da festa nos é fornecido pela revelação de uma das maiores místicas da Idade Média - e, aliás, uma das maiores místicas de todos os tempos da Igreja Católica - que é Santa Gertrudes, que teve revelações assinaladíssimas a respeito do Sagrado Coração de Jesus. A certa altura, numa de suas revelações ela viu Nossa Senhora vestir o Menino Jesus. E então diz:

 

"Dou-vos graças, ó Criador dos astros, que destes luz e esplendor às luminárias dos céus e cores variadas às flores na primavera. Vós não precisais de nenhum de nossos bens e, entretanto, para nos instruirdes, mandastes, no santo dias da Purificação, que vos vestisse como uma criança, antes que entrásseis no Templo.”

“Descobrindo-me o tesouro oculto de vossas divinas inspirações, ensinastes-me como vestir-vos: Eu deveria, com todo o cuidado possível, exaltar a inocência imaculada de vossa humanidade sem mancha, tendo por ela uma devoção tão fiel e desinteressada que se pudesse ter em minha própria pessoa toda a glória de vossa pureza divina; a ela deveria renunciar de bom grado, a fim de que vossa inocência fosse mais louvada. Pareceu-me que, por isso, aparecestes revestido de um traje branco como de um recém-nascido.”

“E em seguida considerei, com a mesma devoção, o abismo de vossa humildade. E então vos vi revestido de uma túnica verde para significar que, no vale da humildade, a graça floresce e prospera sem jamais fenecer.”

“Como admirasse a ardente caridade que vos levou a criar todas as coisas, eu vos vi ainda revestido de um manto de púrpura, a fim de compreender que a caridade é verdadeiramente este manto real sem o qual ninguém pode entrar no Reino dos Céus.”

“Depois celebrei essas mesmas virtudes com vossa gloriosa Mãe, e ela apareceu revestida de trajes semelhantes aos vossos. Então, se essa Virgem bendita, verdadeira rosas sem espinhos, lírio branco e imaculado, é adornada de todas as virtudes, pedimos que, sem cessar, Ela interceda por nós e venha em socorro de nossa indigência.”

 

A visão tem caráter altamente simbólico. Ela viu Nossa Senhora que estava vestindo o Menino Jesus, e o Menino Jesus então se apresentou, a ela, revestido de túnicas diversas, das quais cada uma tinha um simbolismo indicando uma perfeição da insondável e infinita santidade do Menino Jesus. Depois, a mesma visão se repete no que diz respeito a Nossa Senhora, que aparece também revestida de várias túnicas, de sucessivas túnicas.

E há, na visão, uma ligação entre os dois pensamentos. Em primeiro lugar, Deus, enquanto Criador de toda a natureza, comunicando às estrelas, e também às flores, uma variedade muito grande de aspectos e cores, que são simbólicas das perfeições de Deus.

Então, essa idéia de símbolos da perfeição de Deus, que se exprimem em estrelas, flores e outros seres materiais, esta idéia é condensada no pensamento de que Deus se exprime simbolicamente.

Esta idéia da expressão simbólica de Deus é um princípio de simbolismo, que se exprime também nas túnicas sucessivas do Menino Jesus e de Nossa Senhora. A idéia que está no fundo é que Deus nos fala por símbolos.

E é por causa disso que o pensamento não aparece logo muito claro, e se tem a sensação de balançar de uma coisa para outra na leitura da ficha. Mas, de fato, o pensamento é muito claro: Deus nos fala por símbolos; a natureza é disso uma prova.

Na revelação, eu tive também símbolos que me deram a ver algo a respeito do Menino Jesus e de Nossa Senhora.

O que ela viu a respeito das túnicas que Nossa Senhora punha no Menino Jesus?

Em primeiro lugar uma túnica branca, que era para exaltar a inocência imaculada da humanidade sem mancha de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Então ela dizia que estava disposta a todos os sacrifícios, inclusive não ter a glória, - se pudesse ter a glória da pureza do Menino Jesus, não a pureza de si mesma, mas a glória do Menino Jesus - que, neste caso ainda, ela não queria, para que a pureza do Menino Jesus fosse mais exaltada.

Depois falou da humildade, que era representada por uma túnica verde, porque os vales são verdes e os vales exprimem a humildade. A humildade, representada por uma túnica verde, mostrava a humildade do Menino Jesus, porque a graça floresce na humildade, como as flores também desabrocham nos vales.

Depois viu o Menino Jesus com uma túnica vermelha. E o vermelho é o amor de Deus, que é indispensável para entrar no Céu. Depois viu Nossa Senhora com túnicas semelhantes às do Menino Jesus, para exprimir que todas as virtudes do Menino Jesus se comunicam a Nossa Senhora de um modo régio e incomparável; e que, por esta forma então, Nossa Senhora participa da santidade do Menino Jesus.

E ela termina com palavras de acendrado amor a Nossa Senhora: “Virgem Bendita, verdadeira rosa sem espinhos” - porque em Nossa Senhora não há espinhos, há apenas a beleza das pétalas e o perfume. Depois, é um “lírio branco e imaculado” porque é a Virgem das virgens, e ela é adornada de todas as virtudes. E termina pedindo a intercessão de Nossa Senhora.

Façamos nós, amanhã, a mesma coisa. Sendo amanhã a festa da Purificação de Nossa Senhora, é uma festa que comunica graças especiais, porque todas as festas do calendário católico comunicam aos fiéis, que as tomam em consideração, graças especiais. As graças especiais da Purificação são exatamente a fé e a pureza.

A fé e a humildade em fazer-se purificar. Ela, que era virgem e não precisava disto, Ela que era a Virgem das virgens, concebida sem o pecado original, aceitar a purificação por humildade, para com devoção à Sinagoga, que ainda não tinha rompido com Nosso Senhor. De outro lado, a pureza, ela mesma, que a purificação significa.

Devemos nos lembrar bem de um ponto: a graça da pureza, mais claramente ainda que outras graças, é uma graça que desce do céu e que o homem, sem um auxílio singular de Deus, obtido pela intercessão de Nossa Senhora, não alcança. Quem pretende conquistar, reconquistar ou conservar a pureza meramente por métodos psicológicos, erra redondamente. Esses métodos são bons, são necessários, eles se reduzem ao que a Igreja chama de mortificação dos sentidos. Mas a pureza não pode ser conquistada só por isso. Ela é uma graça que baixa do céu, e é um dom sobrenatural que tem que ser pedido humildemente. E é assim que ele é obtido. Mas devemos nos lembrar que Nosso Senhor disse no Evangelho que para quem bate se abrirá. Portanto, pedindo esta graça tão preciosa na festa de Nossa Senhora, certamente obteremos.

Os senhores dirão: mas neste cenáculo, ainda se fala em manter a pureza?

A pureza tem que ser pedida a todo o momento; é uma virtude celeste, mas é uma virtude frágil. E a todo o momento se deve pedir a perseverança na pureza, porque não há homem que possa confiar em suas próprias forças. A força do homem, nesta matéria, mas do que em outra, consiste em conhecer a sua própria fraqueza. Cônscios dessa fraqueza recomendemo-nos especialmente a Nossa Senhora, para nos dar essa virtude baixada do céu e que nos torna tão parecidos com Ela.


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