Plinio Corrêa de Oliveira
Santo Eloi Ourives, conselheiro real, hábil diplomata e modelo de Bispo
Santo do Dia, 1° de dezembro de 1965 |
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A D V E R T Ê N C I
A O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de
conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da
TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre
nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial
disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da
Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como
homenagem a tão belo e constante estado de
espírito: “Católico
apostólico romano, o autor deste texto
se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja.
Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja
conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui
empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em
seu livro "Revolução
e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº
100 de
"Catolicismo", em abril de 1959. |
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Santo Eloi, vitral na igreja Santa Madalena em Troyes, França “Santo Eloi viveu de 588 a 659. Era dotado de invulgar personalidade. Natural de Limoges, revelou desde criança grande aptidão para os trabalhos manuais. Encaminhado para a profissão de ourives, foi um dos mais hábeis artistas de seu tempo. Tornou-se famoso o caso da confecção do trono do rei Clotário II, que o queria ímpar e incrustado de pedrarias. Com o ouro recebido para tal fim, Eloi fez, não um, mas dois tronos igualmente preciosos.” Essa idéia de um santo confeccionando um trono para o rei e contribuindo para a pompa real com sua arte, e fazendo uma coisa aparentemente inútil – como são dois tronos em lugar de um só –, tudo isto é o contrário da democracia cristã “de matéria plástica” de nossos dias... “O rei nomeou-o então seu ourives e – os cargos eram anexos – diretor da moeda”. Como toda moeda era de ouro, quem era ourives do rei, tomava também conta da moeda. A vida era dura... “Sucedendo a Clotário seu filho Dagoberto I, Santo Eloi tornou-se grande amigo do soberano, revelando-se então grande conselheiro, hábil político e diplomata. Afirma-se que os enviados de príncipes estrangeiros avistavam-se primeiro com ele antes de dirigirem-se ao monarca. Sua influência junto a Dagoberto era suficientemente grande para que o santo pudesse repreendê-lo contra sua moral, bastante relapsa, e também quanto ao seu modo desmazelado no trajar”. Os senhores vêem que “le bon roi Dagobert” [referindo-se a uma canção popular francesa, n.d.c.] não era tão bom assim... Mas tinha uma qualidade: podiam passar-lhe pitos, que ficava contente. Ele era amigo de um santo, simpatizava com o santo, apreciava o santo e quando o santo lhe chamava a atenção ele ficava contente. É diferente dos homens ruins de hoje que, segundo o testemunho insuspeito da democracia cristã e de um certo ecumenismo, não ouvem nada. Observem também este outro fato interessante: Santo Eloi corrigia o desmazelo no trajar do rei. A democracia cristã é fundamentalmente contrária ao luxo, à pompa, ao vestir-se bem etc. Os senhores vêem um santo que censura o rei por trajar-se mal. É o contrário da “heresia branca” [atitude sentimental que se manifesta sobretudo em certo tipo de piedade adocicada e uma posição doutrinal relativista que procura justificar-se sob o pretexto de uma pretensa "caridade" para com o próximo, cfr. "O Cruzado do século XX - Plinio Corrêa de Oliveira", Roberto de Mattei, Editora Civilização, Portugal, 1998]. Segundo essa mentalidade, haveria um rei de andrajos... “O tempo que sobrava ao santo de seu trabalho na corte, de suas orações e obras de caridade, empregava-o em honrar com sua arte as relíquias dos santos.” Hoje os milionários tem hobbies. Esse santo homem, que manuseava o dinheiro, tinha como passatempo fazer relicários... Imaginem a beleza de uma sala românica, que já faz pensar no gótico, e à tardinha, uma janela entreaberta, uma porta que dá para um pátio e Santo Eloi neste ambiente fazendo um bonito relicário para o santo tal, que é de sua devoção, e trabalha com toda a alma, com toda devoção. E ele era o “Ministro da Fazenda” daquele rei... Assim os Srs. podem ter uma idéia de como os tempos mudaram. “Atribui-se a Santo Eloi os relicários feitos para São Germano de Paris, São Pias, São Severino, São Martinho, Santa Comba e Santa Genoveva. Além desses trabalhos, Santo Eloi fundou numerosos mosteiros”. Vejam quanta coisa ele fazia: política, relicários, mosteiros... É um homem do qual mil obras emanam cada uma mais cheia de santidade e pensamento.
Sagração episcopal de Santo Eloi (representação séc. XV) “Tendo sido ordenado sacerdote, foi sagrado bispo e ocupou a sé episcopal de Noyon. Como muitos outros prelados da época merovíngea, foi um grande organizador, um apóstolo cheio de zelo, sabedoria e bondade”. Vejam o que eu falei há dias atrás sobre esses santos das épocas de estruturação, e de organização: fazem mil coisas, empreendem mil coisas etc. “Sua atividade irradiou-se para Flandres, Holanda e, segundo afirmam, Suécia e Dinamarca”. Quer dizer, era alta missão naquele tempo. “Era grande sua fama, a tal ponto que, estando agonizante, a rainha Santa Batilde [626-680] fez grande viagem para vê-lo antes de morrer, mas chegou a Noyon no dia seguinte ao de sua morte”.
Estátua da rainha dos francos Santa Batilde, nos jardins de Luxembourg (Paris) A vida magnífica desse santo termina com essa cena: a rainha dos francos, Santa Batilde, ouve falar que ele está para morrer; vai com um grande cortejo pelas estradas, correndo riscos, com soldados, lanceiros etc., aflita, rezando, para encontrá-lo com vida, naturalmente para receber algum conselho de Santo Eloi. Mas chega pouco depois. Podemos imaginar a chegada de Santa Batilde à cidade, as autoridades que vão recebê-la, o cortejo que se forma, a notícia de que Santo Eloi morreu. Então a rainha vai diretamente ao esquife do santo para venerá-lo e é a primeira a rezar por ele. É a cena de uma santa rezando junto ao cadáver de outro santo. Se vierem me dizer que o século vinte é tão bom quanto qualquer outro, eu formalmente não sei o que aconselhar...
Assinatura de Santo Eloi (Eligius), proveniente do documento de fundação da abadia de Solignac (França) |