Plinio Corrêa de Oliveira

 

Culto às relíquias dos Santos:

sua razão de ser

 

 

 

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 5 de novembro de 1965

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

Agora vamos então fazer a leitura do que escreve Dom Guéranger a respeito das relíquias:

No século XVI a heresia, profanando os túmulos dos santos, pretendeu abolir o culto das relíquias. Mas em sentido contrário a esses péssimos reformadores, o Concílio de Trento não fazia senão exprimir o testemunho unânime da Tradição, a definição seguinte, onde se encontram resumidas as razões teológicas do culto prestado pela Igreja às relíquias dos santos”.

O texto que os senhores vão ler, portanto, é um trecho de Concílio de Trento em que dá um resumo das razões do culto das relíquias. O resumo das razões pelas quais essa caixa aqui contém exatamente relíquias de numerosos santos, todas elas com as respetivas autênticas, e que nos foram dadas por amigos nossos em Roma e em outros países da Europa, e que está exposta aqui, portanto à veneração dos senhores.

Então, as razões do Concílio de Trento são essas:

“Os fiéis devem venerar os corpos dos mártires e dos outros santos que vivem com Jesus Cristo, quer dizer, os mártires e os outros santos que estão no Céu já vivendo com Jesus Cristo. Não estão com o seu corpo; ele ainda está na terra, mas a sua alma já está no Céu, eles já vivem com Cristo no Céu. Eles foram, com efeito, os membros vivos e os templos do Espírito Santo. Eles devem ressuscitar para a vida eterna e para a glória. Deus, por meio desses corpos, concede aos homens muitos benefícios.

Aqueles, portanto, que dizem que as relíquias dos santos não merecem ser veneradas e que é inutilmente que elas são honradas pelos fiéis, que é em vão que se visita as memórias e os monumentos dos santos para obter o seu auxílio, esses são inteiramente condenáveis, e do mesmo modo pelo qual eles já foram condenados outrora (Concilio de Niceia II, c. VII), a Igreja hoje renova essa condenação (Concilio de Trento, Sess. XXV).”

 

Relíquias do Presépio. Basílica de Santa Maria Maior (Roma)

Os senhores estão vendo, portanto, as razões: 1) eles vivem com Jesus Cristo; 2) o corpo deles foi um templo do Espírito Santo; 3) eles devem ressuscitar, mas não ressuscitar como qualquer um, mas é certíssimo que ressuscitarão para a vida eterna e para a glória.

O que vale cada uma dessas três razões? Podemos nos dar bem conta se considerarmos o Corpo Sacrossanto de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nosso Senhor Jesus Cristo, revestido de um verdadeiro corpo, de verdadeiro homem, Nosso Senhor Jesus Cristo era de tal maneira sacrossanto e por tudo que tocava o Seu corpo - Ele simplesmente com a saliva operou uma cura maravilhosa, simplesmente com um toque de suas mãos Ele curava todo mundo, simplesmente com o fixar os seus olhos sobre alguém, o seu olhar, por exemplo, operou a conversão maravilhosa de São Pedro.

O seu Sangue precioso, caindo sobre o centurião que O perfurou com uma lança, curou-o da cegueira e, mais ainda, tirou a sua alma do estado de empedernimento em que estava. Isto mostra que o Corpo santíssimo de Nosso Senhor tinha uma tal ligação com Sua Alma e Sua divindade, que realmente Nosso Senhor Jesus Cristo passava algo de divino para todo o Seu Corpo e que não se pode dizer que o Corpo dEle não era divino, e que a divindade estava só na divindade, porque é o todo. Nosso Senhor Jesus Cristo e o Seu corpo, sangue, alma e divindade, constituem um todo que não se pode separar.

 

Relíquia da Santa Cruz. Basílica da Santa Cruz em Jerusalém (Santo Croce in Gerusaleme), Roma

Por aí podemos compreender bem qual a relação do corpo para a alma e podemos compreender até que ponto qualquer porção de nosso corpo não é apenas um pedaço de carne extrínseco a nós, no qual estamos colocados acidentalmente de passagem, mas que o nosso corpo é uma parcela de nosso ser. E, por causa disto, uma vez que a alma ainda está no corpo, ela conserva alguma relação; ela não vivifica, não anima, não está presente nas relíquias, mas ela conserva uma certa relação com as relíquias.

Estas relíquias que estão aqui, com pedaços de ossos, com cinzas de carne de Santos canonizados pela Igreja, estas relíquias vão ser incorporadas ao corpo desses santos quando eles ressuscitarem.

De maneira que temos uma certeza plena que essas relíquias sacrossantas aqui, que foram templo do Espírito Santo, porque pertenceram a um corpo que estava numa alma que era um templo do Espírito Santo; essas relíquias que tiveram durante algum tempo alguma ligação com a vida sobrenatural da graça, receberam os Sacramentos da Igreja; essas relíquias que tiveram carne e ossos que serviram para os santos amarem a Deus imensamente, praticarem atos de piedade, atos de energia, de heroísmo, de combatividade e dedicação; estas relíquias vão ser incorporadas aos santos quando acabar a história do mundo, quando os Anjos tocarem as suas trombetas e quando todos se revestirem se sua carne mortal. Então, a respeito dessas relíquias podemos ter certeza que um dia virá em que elas vão estar no paraíso junto de Deus. E que elas dormem aqui nesta caixa de cristal, mas que um dia virá em que elas vão estar na glória do paraíso.

Os senhores compreendem que é natural que essas relíquias, portanto, sejam o canal das graças de Deus. Que ao tocá-las, que ao rezar perto delas, obtêm-se graças especiais dos santos aos quais elas pertencem e que elas, de algum modo, são a presença dos santos entre nós.

São, portanto, canais de graças verdadeiramente estupendos que recebemos e que devemos ter o maior respeito, a maior veneração a essas relíquias e devemos também ter muita confiança na intercessão dos santos a que essas relíquias pertenceram. Porque essas relíquias, por disposição da Providência, estão aqui entre nós e isto significa que a Providência deseja que rezemos para esses santos, a fim de que eles, por meio de Nosso Senhor que é o canal de todas as graças, nos obtenham os favores de que precisamos.

Isso é também um incentivo para os senhores frequentarem nossa Capela e praticarem o culto das relíquias. E, sobretudo, nos seus momentos de dificuldades, de aflição, rezem para as relíquias que aqui estão.

Nós pretendemos – logo que a organização da Sede esteja terminada – estabelecer e ter na Capela, a lista de todos os santos cujas relíquias temos aqui e dar uma rápida biografia de cada um deles. De maneira que se possa estabelecer uma relação mais viva entre os que frequentam a Capela e o culto das relíquias que aqui se encontrarão.

Há duas espécies de relíquias: as diretas e as indiretas. As relíquias diretas a Igreja chama as que são uma porção da carne, dos ossos ou das cinzas de um mártir, de um santo. Essas relíquias estão colocadas nessas pequenas caixas chamadas tecas. Todas elas – eu insisto na afirmação – são de uma autenticidade absolutamente controlada. Nós temos os documentos da Igreja autenticando essas relíquias. Quase todas procedem, aliás, do Vaticano, que nós obtivemos ao longo de nossas viagens. As outras que não procedem do Vaticano são absolutamente seguras e comprovadas. Os senhores têm ao mesmo tempo uma relíquia indireta, duas relíquias indiretas aqui.

O que é relíquia indireta? A relíquia direta é um pedaço do santo vamos dizer; a relíquia indireta é algo que o santo tocou e que recebe consigo uma espécie de bênção que por sua vez se transmite àqueles a quem toca. 

Vê-se, ao fundo, a Capa do grande Cardeal Merry del Val, Secretário de Estado de São Pio X

Os senhores têm aqui esta seda vermelha que é a Capa usada pelo grande Cardeal Merry del Val, cujo processo de canonização já está instituído, e que foi Secretário de Estado de São Pio X.

Esta capa foi diretamente obtida da Comissão de Canonização do procurador da causa da canonização, aliás em minha presença - eu estava no momento da entrega - e ele autenticou na própria Capa, ele escreveu na parte de baixo da própria capa, qual era sua origem. De maneira que está inteiramente demonstrado. Então, quem quiser pedir ao Cardeal Merry del Val que para a sua canonização ele nos conceda alguma graça, pode pedir-nos inclusive autorização para tocar na capa.

Temos aqui um outro objeto também muito precioso que é um pedaço do caixão funerário do [hoje bem-aventurado] Papa Pio IX. Os senhores sabem que o Papa Pio IX foi um dos Papas mais acentuadamente contra-revolucionários da História. O seu processo de canonização também foi introduzido, e o promotor do processo que formou excelentes relações com o Professor Fernando Furquim de Almeida, na Europa, o promotor do processo deu-lhe um pedaço deste caixão que também está inteiramente autenticado.

Nós temos aqui uma terceira categoria de relíquias e através dessas os senhores veem como a Igreja tem cuidado com as relíquias. Nós compramos um relicário antigo, de maneira que vai ser usado na Sede quando a reforma da Sede nos permitir de dar vida à capela - eu vou usar uma expressão moderna, horrenda, - a “dinamização” necessária.

Os senhores dirão: que relação especial existe entre essas relíquias e o espírito de combatividade que a Sociedade Tradição, Família e Propriedade tanto inculca? A minha resposta é a seguinte: os guerreiros medievais gostavam de ter relíquias consigo na guerra e as colocavam na copa da espada de maneira que eles, com a própria espada com que combatiam, empunhavam relíquias para se defender na hora do combate. Os senhores estão vendo aí como a relíquia é um elemento ligado ao espírito da Igreja Católica. Os senhores veem, portanto, como o espírito de combatividade é afim com o culto das relíquias. Devemos pedir aos santos a graça e a força de combater devidamente.

Aí está, portanto, um conjunto de noções que convém guardar. Para a noite de hoje o que vamos pedir aos santos? O que cada um quiser, mas especialmente que nos deem a compreensão e o fervor para com as relíquias que estão aqui na sede e que a presença delas aqui seja um título efetivo para elas serem muito honradas e para nos favorecerem.

Relicário na então sede do Conselho Nacional da TFP, à Rua Maranhão 341, que era assiduamente frequentada pelo Prof. Plinio


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