A aparição de Nossa Senhora de la Salette num sábado das
Têmporas a 19 de setembro de 1846, véspera da festa de
Nossa Senhora das Dores, a dois pastores, Maximiano
Giraud e Melanie Calvat. “A bela Senhora”, como a
chamavam os videntes, apareceu em atitude de profunda
tristeza, pedindo oração e penitência, e anunciando que
não poderia sustentar o braço de seu Filho, prestes a
castigar a humanidade por causa de seus pecados e
confiando-lhes um segredo. Por ter a aparição se
verificado numa montanha de Salette, diocese de Grenoble
na França, uma nova invocação da Santíssima Virgem logo
se difundiu, Nossa Senhora da Salette.
1846, nós estamos em 1965. Os senhores estão vendo que
há muito mais de 100 anos [150 hoje em dia] que ocorreu este fato. São
três aparições de Nossa Senhora que se deve mencionar,
que fazem parte, vamos dizer que são os três pontos
salientes, três montanhas altas de uma cordilheira de
aparições de Nossa Senhora, que começaram mais ou menos
com Salette e terminaram com Fátima, que é a mais
recente delas, ou se os senhores quiserem com Nossa
Senhora de Siracusa.
Essas aparições -- Siracusa não foi propriamente uma
aparição, mas foi uma manifestação de Nossa Senhora --
todas as três reconhecidas pela Igreja. A primeira é
Salette, a segunda é Lourdes, a terceira é Fátima e, se
quiserem, a quarta é Siracusa.
Quer dizer, em todas essas a Igreja aceitou a ortodoxia
das aparições e as admitiu até como festas dEla. Bem,
em Siracusa que é a mais recente, o episcopado da província
eclesiástica, a que a diocese de Siracusa pertence,
depois de ter mandado fazer um exame das lágrimas que
eram vertidas por uma imagem de Nossa Senhora, que se
encontrava em casa de camponês e o exame tendo
verificado que eram um líquido de lágrimas humanas,
decretou o prodígio, reconheceu o milagre, mandou
construir uma igreja e estabeleceu uma festa local, mas
é a hierarquia local que admitiu este fato.
Bem, então os senhores tem quatro aparições. Nestas
quatro grandes aparições, três tem segredos. Nossa
Senhora confiou um segredo a Maximiano e Melanie. Nossa
Senhora em Lourdes confiou um segredo a santa Bernadete
e Santa Bernadete só revelou ao Papa Pio IX. Nossa
Senhora confiou um segredo aos videntes de Fátima e de
que a irmã Lúcia é guardiã. Nessas três aparições Nossa
Senhora se manifestou profundamente entristecida com o
estado da humanidade e preconizou um castigo tremendo
que deveria vir em um determinado momento.
Portanto, nessas três aparições reconhecidas pela
Igreja, Nossa Senhora adota uma posição em face dos dias
de hoje, mas em face não só de hoje, mas [d]o transcurso
das coisas nos últimos 100 anos que é uma posição
semelhante, para não dizer que é exatamente a mesma,
daquela que nós adotamos ao considerarmos a época de
hoje. Os senhores estão continuamente em contato com
padres, freiras, para não dizer com pessoas de categoria
mais alta, com líderes católicos, quer dos elementos
masculinos quer do feminino, que estão muito alegres,
julgando que a nossa época é muito boa, que todas as
coisas estão correndo muito bem.
E se se falasse a essas pessoas [sobre a ameaça de
castigo contida nas profecias dessas aparições] , elas diriam que a Bagarre
(*) é
uma coisa absurda, que pelo contrário a religião está
num progresso estupendo, etc., etc. Nós em face dessas
pessoas fazemos o papel do indivíduo
triste, preocupado, sombrio. Nós fazemos o papel do
pessimista hipocondríaco, em face do indivíduo alegre,
de nervos bem construídos, satisfeito, que tem uma
opinião bonita a respeito das coisas. O nosso papel é um
papel duro, porque é sempre duro prever, para uma
humanidade gozadora, o castigo que ela está em vias de
receber. E não espanta que ninguém ou muito pouca gente
esteja disposta a acreditar na visão política que nós
temos das coisas, que prenuncia o castigo, uma vez que
Nossa Senhora, Ela mesma, em três mensagens que mandou, também não foi recebida.
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Noé construindo a Arca - Jan Sadeler |
Faz parte de todas as épocas que
vão muito mal, que quando se lhes avisa que vão mal elas
não dão ouvidos, e é isso exatamente o porquê das
grandes catástrofes da História. Porque se elas dessem
atenção, se nessas épocas os homens dessem ouvidos
[aos avisos], se emendariam e a catástrofe não viria.
[N.R.: O exemplo mais característico foi o
dilúvio universal, quando todo mundo ria de Noé porque
construía a arca esperando um grande castigo.]
É precisamente porque elas não se emendam
que sai a catástrofe. E o não darem crédito a essas
mensagens é uma prova a mais de que essas mensagens de
fato não foram cumpridas. Quer dizer que os castigos
nelas previstos, para o caso da humanidade prevaricar,
vão de fato ser realizados.
A única dessas quatro grandes manifestações de Nossa
Senhora que não falou foi de Siracusa.
Mas Siracusa não foi uma visão, Siracusa foi um
prodígio. Eu já disse há pouco, era uma casa de uma
pessoa em que havia uma imagem de Nossa Senhora, dessas
imagens comuns feitas de gesso, colada sobre um pedaço
de madeira junto à parede. E essa imagem começou a
verter lágrimas em determinado momento; foram feitos
exames etc., e deu no que eu disse aos senhores. É claro
que a figurazinha de gesso que representava ali Nossa
Senhora, não haveria de falar. Mas é como quem já nem
fala mais, limita-se a chorar. O silêncio aí diz mais do
que quaisquer lágrimas. Os senhores diriam: "mas, Dr. Plinio, o senhor acaba de dizer que o milagre de Salette
foi mais de cem anos atrás. Onde estão os castigos que
Nossa Senhora prenunciou? Isso leva cem anos?"
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Guerra
Franco-prussiana
Carga de
cavalaria na Batalha de Rezonville |
Os castigos começaram a vir. O mundo começou
a se enchafurdar [cada vez] mais nas revoluções e pouco
depois começava o ciclo das grandes guerras mundiais. A
guerra franco-prussiana de 1870 foi o prenúncio da
grande guerra de 1914, porque era exatamente a
rivalidade franco-alemã que ia tomar o seu apogeu,
depois essa rivalidade que em 1914 arrebentou como os
senhores viram e na segunda guerra mundial teve a
plenitude que os senhores viram. Essas três guerras
foram, sobretudo e no começo, guerras da França com a
Alemanha, com pretexto da Áustria, de Sudetos, de uma
coisa e de outra, fundamentalmente guerras da Alemanha
com a França e que foram num crescendo até chegar às
guerras que afinal de contas prenunciavam a próxima
guerra que pode evidentemente [ser] a guerra da Bagarre
[e da catástrofe].
Assim nós devemos nos voltar para Nossa Senhora de La
Salette, nesta data e fazer a Ela alguns pedidos. O
primeiro pedido é que Ela mantenha bem firme em nossa
alma esta convicção de quanto está má a época atual,
para pôr em nosso espírito um repúdio completo dos males
desta época. Não permitir que sejamos pessoas heresia
branca
(**),
ou que sejamos pessoas otimistas, ou bobas ou de
terceira posição.
Em segundo lugar, que Ela nos dê uma fé viva na
realidade destes castigos em que a humanidade está
merecendo cada vez mais incorrer. E em terceiro lugar,
que Ela nos prepare para, chegando a ocasião destes
castigos, nós sermos dos que não sejam castigados, mas
sermos daqueles que lutem para a vitória e glória dEla.
Vendo Nossa Senhora chorar em La Salette, Nossa Senhora
das Dores, mas em que Ela não chora mais a crucifixão de
Seu Filho, mas chora a crucifixão da Igreja Católica,
pensando em tanta coisa que está se realizando no
Concílio e por outros lugares, e que representam esta
crucifixão, nós devemos ter uma palavra a Nossa Senhora
de piedade, de respeito e de reparação.
Ao menos sermos
as almas fiéis que não dobram os
joelhos diante da impiedade triunfante,
e que dizem e
continuam dizendo que o mal é mal e que o bem é bem. E
que não pactuam com esta confusão monstruosa que está
querendo se impor como elemento dominador de todo o
universo. É o que nós devemos, no dia de amanhã, pedir a
Nossa Senhora de La Salette.
NOTAS
(*) Bagarre: Um
grande triunfo da Igreja e da Civilização Cristã, depois
de uma crise, metaforicamente definida na linguagem
quotidiana da TFP com esta palavra francesa - cfr. "O
Cruzado do século XX - Plinio Corrêa de Oliveira",
Roberto de Mattei, Civilização Editora, Porto, 1996,
Cap. VII, n. 10).
(**)
Heresia Branca: Com a expressão "heresia branca",
o Prof. Plinio designa uma atitude sentimental que se
manifesta sobretudo em certo tipo de piedade adocicada e
em uma posição doutrinal relativista que procura
justificar-se sob o pretexto de uma pretensa "caridade"
para com o próximo.
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