Plinio Corrêa de Oliveira

 

São Cirilo e São Metódio,

Padroeiros da Europa

O extraordinário trabalho dos santos fundadores de povos

 

 

 

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 7 de julho de 1965

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

Hoje é festa de São Cirilo (815-869) e São Metódio (826-885), a respeito dos quais eu tenho, tirada do Ano Litúrgico de Dom Guéranger, a seguinte nota:

“Cirilo e Metódio eram filhos de um alto funcionário de Tessalônica. Metódio obteve o governo de uma colônia eslava, na Macedônia. Cirilo, depois de ter estudado e ensinado, recebeu as ordens e se fez monge de Bitinia. Ele foi encarregado, depois, da missão junto aos Cásares, que eram os bárbaros da Rússia meridional. Ele devia exercer lá, com seu irmão, uma missão política e religiosa em 862. O Príncipe da Morávia pedindo a Bizâncio missionários. Falando a língua do país, Fóscio lhes enviou em 863, os irmãos.

“Eles ensinaram escritura aos morávios [ou seja, os morávios aprenderam a escrever naquele tempo], sendo composto para eles um alfabeto novo, chamado cirílico, que ainda se usa entre os russos. Depois, eles traduziram a Bíblia e a Liturgia em eslavônico, que era a forma de língua eslava que falavam esses povos e organizaram numerosas cristandades na Boêmia e na Hungria. Tendo chegado em Roma em 868, Adriano II os tratou com honra e lhes permitiu de celebrar a missa em eslavônico e os fez Bispos. Mas Cirilo morreu em 869, com idade de 42 anos.

“Metódio voltou só. Nomeado Arcebispo de Cirinium, na Sérvia, ele encontrou uma situação muito perturbada, uma situação que se tinha mudado contra ele, seus inimigos mandaram encarcerá-lo; o Papa interveio várias vezes em seu favor e ele triunfou finalmente sobre seus adversários. Ele morreu em 877, com pesar de todos. Seus magníficos funerais foram celebrados em grego, latim e eslavônico. Pio IX autorizou, em 1863, o culto dos Santos Cirilo e Metódio”.

Os senhores estão vendo nesta síntese biográfica que há várias notas muito curiosas: em primeiro lugar, São Cirilo e São Metódio eram irmãos e eles fizeram, como irmãos, uma obra comum, de muita importância. Às vezes, vemos o representar desse papel dos laços de sangue nas obras da Providência, para glorificar a instituição da família. A Providência, que habitualmente não toma isto em consideração, de repente escolhe dois irmãos ou toda uma família para fazer uma determinada atividade. Então aquela obra pia fica sobretudo a obra de uma família.

Aqui estão estes dois que são mandados para uma obra extraordinária que é a conversão de todos aqueles povos de língua eslava, dos Bálcãs, que haveriam de irradiar depois para a Rússia, preparando posteriormente de futuro a conversão daquela nação.

 Por isso escolheu dois irmãos de uma certa categoria, um deles os senhores viram que até foi governador de província. E o outro, que foi monge, colheu as reminiscências dos tempos antigos, foi monge no Monte chamado Olimpo. Quer dizer, um Monte que foi outrora consagrado aos deuses e que ali se estabeleceu suavemente, forte, de um modo totalmente dominador, um mosteiro católico.

Outra nota curiosa é: quem mandou estes dois monges fazerem esta evangelização tão extraordinária? Foi Fóscio, precisamente um dos responsáveis pelo cisma do Oriente mas, antes de cair no cisma ainda deu este impulso. Quer dizer, haveria de ser o ponto de partida de verdadeiros baluartes católicos nos Bálcãs. Pois bem, se até hoje há católicos nos Bálcãs, isso se deve exatamente a este erro estratégico de Fóscio.   Esse erro estratégico nos interessa, como Fóscio ainda designou dois santos para uma obra que como hoje em dia não há possibilidade de serem designados dois santos para coisa alguma.

A peneira se tornou muitíssimo mais fina, os hereges de hoje estão muitíssimo mais espertos, mais rigorosos e mais astutos do que eram os hereges antigamente.

A carga do espírito de Revolução se tornou enormemente maior, e as coisas não se passam mais como outrora. Aqui os senhores têm um “flash” de qual é a diferença do herege antigo e do herege de hoje.

 É interessante os senhores acompanharem qual é propriamente o papel desses santos fundadores de povos: é tão extraordinário, as festividades que Deus lhes dá como homens da destra dEle, de fazerem obras que constituem um povo, isto que tomam algo que não é senão uma nebulosa, alguma coisa completamente anorgânica, sem vida própria e transformam isto num povo com todos os seus elementos.

Os senhores vão ver as várias coisas que eles fizeram e como fazem aí nascer o povo.

Volto então à enumeração. O que eles fizeram: primeiro ensinaram aos morávios a escrever, compondo para eles um alfabeto novo chamado cirílico que ainda se usa na Rússia. Quer dizer, o povo era tão analfabeto que nem tinha forma de caracteres próprios para exprimir a língua.

 Eles inventaram os caracteres adequados para aquela língua. E aquilo se radicou de tal maneira que até hoje, até o tempo de Dom Guéranger – os comunistas devem ter tentado acabar com isto – ainda se usava na Rússia. Quer dizer, até portanto de 800 a 1800 anos e, portanto, durante 1000 anos ou ainda mais ou, pelo menos, até a queda de Stalin, o evangelho deles esteve em vigor, a escrita deles esteve em vigor e fundadores de um povo que dão a expressão escrita do pensamento desse mesmo povo.

Eles traduziram a Bíblia e a Liturgia em eslavônico, é a difusão da palavra de Deus, é a constituição da língua. É a primeira obra certamente traduzida, escrita, o primeiro texto de um grande pensamento expresso nos termos daquela língua. E isso de tal maneira que faz com que aquela língua de um povo bárbaro, passou a se tornar uma língua com toda a dignidade de um idioma. Eles então forjaram um idioma.

Vai mais adiante: eles organizaram numerosas cristandades na Boêmia e na Hungria. Numerosos núcleos de povos vivendo como cristãos e que, depois, haveriam de se irradiar e cristianizar aquilo tudo.

Ora, quando se trata de povos semibárbaros, cristianizar equivale a civilizar. Eles estavam dando os fundamentos de uma Civilização Cristã, a povos que já não ficavam mais nos Balcãs apenas, mas entravam pela Europa Central, era a Hungria... Estão vendo, portanto, a graça triunfante da Fé.

Depois eles foram a Roma para apresentar a sua submissão inteira a Adriano II. O que, naquele tempo de luta entre o Oriente e o Ocidente, era muito significativo. E foram os fundadores da Liturgia eslava, porque os senhores estão vendo que eles obtiveram do Papa a licença de fundar, de rezar a missa na língua do eslavônico.

São Cirilo morreu em 842. São Metódio voltou, foi nomeado Arcebispo e a hierarquia que começa a nascer dali. Mas ele ali foi objeto de uma oposição violenta.

Os senhores encontram isto em quase todos os fundadores: fundam a obra e, de repente, estala uma tremenda revolta contra eles. A obra muitas vezes cai, outras vezes não cai, e com São Metódio não caiu. Ele venceu e morreu cercado de honra.

Pergunto aos senhores o seguinte: por que razão esses santos fundadores não existiram mais depois? Por que razão houve santos para tudo, mas não houve santos que fundassem povos?

A gente vê que depois que a Revolução começou a triunfar, houve uma retração das bênçãos de Deus, O qual, querendo mostrar a glória de Sua Igreja, continuou a suscitar santos para muitas outras coisas, porém não houve mais Civilização Católica que nascesse em algum lugar, ou já nascida que prosperasse em algum lugar. Toda a ordem temporal ficou afetada por uma espécie de raquitismo religioso, isto é evidente.

Um castigo decorrente da Revolução, até que essa tenha produzido os seus últimos e amargos frutos. E a Providência, então, tenha feito a humanidade comer as bolotas dos porcos, a restaure e resolva lhe dar de novo o benefício de uma Civilização Católica.

 Nesta ocasião, então, aparecerão os santos fundadores e vão fundar o Reino de Maria. E, na aurora deste, convém se lembrar de São Cirilo e São Metódio. Pois fundadores varões da destra de Deus, estes fazem tudo.

São Cirilo e São Metódio não eram sociólogos, não eram economistas, não eram psicólogos, nem nada disto. Mas eram incomparavelmente mais do que isto: eram santos da destra de Deus. Eles apareceram e tudo nasceu.

Aí, então, a gente se lembra daquela oração feita ao Divino Espírito Santo: “Emitte spiritum tuum et creabuntur, et renovabis faciem terrae - Enviai o Vosso Espírito e todas as coisas serão novamente criadas e Vós renovareis a face da terra”. Poder-se-ia dizer: enviai o Vosso Espírito presente nos homens de Vossa destra e todas as coisas serão novamente criadas e se renovará a face da terra. Isto é o que devemos pedir.


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