Plinio Corrêa de Oliveira

 

Santo Irineu de Lyon, São Leão II e

a virtude da intransigência contra o mal

 

 

 

 

"Santo do Dia", 3 de julho de 1965

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

Sto Irineu

Hoje se comemoram dois santos: São Leão II, Papa e Confessor, que aprovou as atas do 6º Concílio Ecumênico, que condenaram a falta daqueles que, no dizer do Santo, em vez de purificar esta Igreja Apostólica, permitiam que a Imaculada fosse maculada por uma traição profana. Século VII (atualmente, celebra-se a 3 de julho).

É festa também de Santo Irineu, Bispo e Confessor de Lyon, a quem, segundo a oração da liturgia, Deus deu a graça de destruir as heresias, para [a] verdade da doutrina e lutou contra os gnósticos no século II ( “Irenoeo Martyri tuo atque Pontifici tribuisti, ut et veritate doctrinae expugnaret haereses, et pacem Ecclesiae feliciter confirmaret”.

Os senhores estão vendo que são dois santos,  um foi Papa e outro Bispo, que viveram a uma grande distância, no tempo, um do outro, uma vez que um viveu no século II - Santo Irineu - e outro no século VII, São Leão II. Uma grande distância porque quando ouvimos falar em século II e século VII, temos a impressão, nós que estamos no século XX, que o século II e o século VII foram muito próximos um do outro e que, ao nosso olhar no recuo do tempo, [parecem] dar numa coisa só. Mas na realidade, entre o século II e o século VII podemos calcular o que representa [esta diferença] imaginando o que são quinhentos anos de agora.

Quer dizer, a distância cronológica que havia entre esses dois séculos é mais ou menos a que há entre o Brasil no seu descobrimento e o Brasil de hoje. Compreende-se então como esses santos viveram distantes um do outro.

Ora, esses dois santos, apesar de tal distância de lugar, tal distância de tempo, época e, sobretudo, tal distância de nós, a Liturgia faz com que suas figuras se levantem e se juntem, hoje, para veneração dos fiéis; as duas figuras se levantam juntas, tendo um traço comum, que está aqui consignado: eles combateram a heresia, eles expulsaram os hereges de dentro da Igreja.

Segundo diz a Liturgia, eles, com isto, vingaram a honra da Igreja, porque a heresia presente dentro da Igreja maculava sua honra, que é imaculada. E por causa disso a honra da Igreja exigia a expulsão dos hereges, exigia que a heresia fosse posta fora, porque não pode haver coexistência pacífica, coabitação normal entre o Bem e o Mal, a Verdade e o Erro, não pode haver em nenhum lugar, mas, sobretudo, não pode haver dentro da Igreja Católica que é, por excelência, a montanha sagrada da Verdade e do Bem e que repele de si, horrorizada, aquele que, dentro dela, toma defesa do Erro e do Mal.

Os senhores me dirão: mas, afinal de contas, qual é então o papel da misericórdia diante disso? A Igreja tem muita misericórdia e Ela não expulsa de si aquele que reconhece que anda mal, aquele que bate no peito e pede perdão por andar mal, mas aquele que, dentro da Igreja, afirma que o Bem é o Mal ou o Mal é o Bem, aquele que, dentro da Igreja, luta para disseminar o Mal. A este a Igreja expulsa horrorizada por duas razões: primeira, porque ele perde as almas dos que estão dentro da Igreja e, em segundo lugar, por uma razão mais alta, que é uma razão de heterogeneidade fundamental. Ela é heterogênea com quem faz isso e Ela não pode suportar ao seu lado quem faz isso.

Isto porque, em última análise, está na natureza do princípio da contradição. Tudo aquilo que é vivo, pelo próprio fato de ser vivo, tem horror àquilo que lhe é contrário e repele aquilo que é contraditório com toda a força de sua vivacidade.

E a Igreja, cuja vida é eterna, é perene, é sobrenatural, tem um horror contínuo daquilo que lhe é contrário e por isso está na índole dela ejetar para fora de si hereges, ejetar para fora de si o próprio do mau espírito.

Se Ela se manifestar indolente, preguiçosa, pouco apressada na repreensão ao mal, significa que aqueles de seus filhos, ou aqueles de seus representantes que estão [nessa situação], têm dentro de si a Fé em estado de declínio, a Fé em estado de ocaso. Quando a Fé está em estado de aurora, quando a fé está no seu meio-dia ela não transige. Quando a Fé declina, começa a envelhecer, começa a murchar, começa então com estancados, com [composições] e não sente aquela fundamental incompatibilidade com aquilo que lhe é oposto.

Então nós compreendemos porque que a Igreja insiste na liturgia - o que eu estou dizendo aos senhores são trechos da liturgia - quando, numa festa do Santo, ela canta a glória do Santo, é o antístite como título de glória do Santo que ejetou para fora da Igreja o mal.

Aqui diz: ele teve a graça de expurgar da Igreja um homem que maculava a Igreja imaculada. Agora, qual é a razão disto? A razão evidente é a seguinte: a Igreja quer mostrar na plenitude que a virtude e a vivacidade da Fé são opostas a essa composição, a esse transigir que hoje tão freqüentemente se vê.

Essas circunstâncias se prendem à vida de São Leão II. Está aqui na ficha que ele aprovou as atas do 6º Concílio Ecumênico, que condenara a falta daquele que, no dizer do Papa São Leão II, em vez de purificar esta Igreja Apostólica, permitiu que a Imaculada fosse maculada por uma traição profana. O nome daquele não está dito aqui, entretanto, quem era aquele? Era o Papa Honório. O Papa São Leão II disse isto do seu antecessor Honório.

Ele teve esta dificuldade tremenda de ter vivido no tempo de uma Papa em relação ao qual o Concílio que se realizou depois dele tomou uma atitude de condenação. Os senhores compreendem que dias difíceis viveu este Santo.   


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