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Plinio Corrêa de Oliveira
Qual o significado da consagração a Nossa Senhora em nossos dias?
Santo do Dia, 31 de maio de 1965 |
A D V E R T Ê N C I
A O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de
conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da
TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre
nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial
disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da
Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como
homenagem a tão belo e constante estado de
espírito: “Católico
apostólico romano, o autor deste texto
se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja.
Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja
conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui
empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em
seu livro "Revolução
e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº
100 de
"Catolicismo", em abril de 1959. |
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Em última análise, há uma estrita relação entre as considerações todas de São Luís Grignion de Montfort e a ideia da realeza de Nossa Senhora. Vejamos o que a ideia da realeza de Nossa Senhora significa e depois relacionar com Grignion de Montfort. Há uma primeira realeza de Nossa Senhora, que é no Céu: consiste em que Ela foi exaltada para estar acima de todos os Santos e Anjos, e que exerce sobre todos eles um verdadeiro império. Não devemos entender isso de maneira que Nossa Senhora é no Céu mais ou menos como uma dessas rainhas na terra, que seria como a Rainha Mãe: não manda, não tem nenhuma autoridade, mas, como mãe do Rei, goza de uma situação eminente na corte e é objeto de atenções gerais. A realeza de Nossa Senhora é diferente: Ela foi instituída Rainha de toda a criação e Deus Lhe concedeu, de fato, o governo do universo. Este último inclui também o governo até dos espíritos celestes que por natureza são superiores. Alguém poderia dizer: “mas que diferença há entre Deus governar e Nossa Senhora governar, uma vez que Ela faz toda a vontade de Deus?” Há uma pequena diferença. Imaginem um Diretor de colégio que briga com os alunos. Os alunos são indisciplinados, ele os vence, mas depois, para amainar um pouco as coisas, ele se retira durante algum tempo e deixa sua mãe dirigindo o colégio, pois a mãe, com a suavidade feminina vai ajeitar a situação, consertar, cicatrizar muitas feridas etc. A mãe faz no governo aquilo que ele não faria, tanto é que a colocou e não ficou ele mesmo, embora ela fazendo o que ele não faria, ela faça o que ele está querendo dela. Assim Nossa Senhora com os homens. O gênero humano foi dado a Nossa Senhora para governar, para que Ela possa pôr nisso uma suavidade que Deus, como Juiz, acabaria não podendo pôr tão inteira. Então, para levar Sua suavidade ao último ponto, entregou o reinado do gênero humano a Nossa Senhora. Mas como esse gênero humano está integrado em todo o universo, Ele entregou-lhe todo o universo e até o universo dos Anjos. E Nossa Senhora é, verdadeiramente, a Rainha dos Anjos e Santos. Também é a Rainha da Igreja Católica. É a Rainha de todo o gênero humano, por uma série conexa de coisas. E é a Rainha de todas as criaturas colocadas abaixo de todo o gênero humano. De maneira que não há na criação absolutamente nada que não esteja colocado debaixo do cetro de Nossa Senhora, como verdadeira Rainha que é. Nessa condição de Rainha, uma vez que é Mãe de Jesus Cristo, é medianeira de todas as graças. Todos os pedidos que vão a Deus vão por meio dEla, todas as graças que vêm de Deus, vêm por meio dEla. Ela é uma medianeira onipotente, de maneira que é chamada “onipotência suplicante”. Pelas Suas súplicas, consegue absolutamente tudo quanto quer e nunca se ouviu dizer que um pedido dEla não fosse inteiramente atendido, embora tenha pedido, às vezes, os maiores milagres, como nas Bodas de Cana. Tudo isto faz de Maria Santíssima a verdadeira Rainha. E o título pelo qual nós nos consagramos a Ela como escravos é um conjunto de títulos pelos quais Ela é, de fato, uma Rainha à qual devemos todos obedecer. Se isso é verdade, a restauração da realeza de Cristo no mundo, é a restauração do Reinado de Maria. Mas, como em todas as épocas da Igreja, há umas tantas verdades que brilham mais do que outras, essa realeza de Nossa Senhora que sempre foi uma verdade certa, tem se explicitado muito mais a partir de São Luís de Montfort, e cada vez mais até Fátima, onde então veio o anúncio feito por Nossa Senhora: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”. É uma vitória que Ela ganha, Ela triunfa e, evidentemente, como triunfadora, Ela reinará. Há um dos títulos pelo qual a realeza vem legitimamente a uma pessoa: é a conquista em guerra legítima. Quando um país vence outro em guerra legítima adquire o direito de mandar no outro. E quando um general, em guerra legítima, domina um país, é natural que o Rei vencedor diga ao general: “aqui está seu reino e você vai ser o rei daquele país”. Nossa Senhora anuncia um título novo para Seu Reino: Ela vencerá; é o calcanhar dEla que, mais uma vez, esmagará a cabeça da serpente. Ela terá, portanto, uma conquista nova: quebrará o domínio do demônio e implantará Seu reino. Temos aqui a série de perspectivas dentro das quais a verdade da realeza de Maria se encontra. Qual o título pelo qual nós nos consagramos a Ela? Nós nos consagramos a Ela como Rainha, como Rainha que é nossa Mãe, Rainha de Misericórdia, mas uma Rainha também cheia de poder. E o sentido de nossa vida nessa consagração é: não fazemos um só ato, uma só coisa que não vise restabelecer o Reinado de Nossa Senhora, que não vise esmagar as forças da Revolução e não vise fazer triunfar Nossa Senhora. A pessoa verdadeiramente consagrada a Nossa Senhora respira isso. Entra numa sala de aula para dar aula, e se pergunta como Nossa Senhora está servida lá, o que pode fazer para fazer vencer Nossa Senhora. Entra num escritório, entra numa fazenda, seja onde for, o problema é: como fazer, aqui, progredir a virtude, recuar o vício, anunciar a doutrina católica, intimidar o erro, envergonhá-lo, para aqui dentro fazer nascer uma parte do Reino de Maria. A nossa posição é de escravos, mas de escravos militantes, de escravos de uma Rainha que está em guerra e que, portanto, devemos defender contra seus adversários. Já tive ocasião de dizer aqui: Nossa Senhora está como uma Rainha que teve seu trono reconhecido em sua plenitude na Idade Média. Mas aos poucos a Revolução foi privando Nossa Senhora de seus adornos, vieram bandidos que foram lhe negando todas as prerrogativas e hoje restam apenas os últimos fundamentos, as últimas infraestruturas do Reinado de Maria. Nossa Senhora está como uma Rainha sentada no trono, privada da coroa, privada das joias, do cetro, do globo de majestade, privada do manto real, já está com as cordas passadas em torno dEla para fazerem a última coisa, que é arrancá-La e acabar com o resto de Sua realeza: acabar com a propriedade, a família, a tradição, que são os últimos vagos restos da Civilização Cristã. Nesta hora histórica, o mundo inteiro está trabalhando contra Ela. Há apenas um punhadinho de escravos que gemem, que se afligem, e porque gemem sinceramente e se afligem sinceramente, indignam-se o mais que poderiam indignar-se, porque as coisas estão passando assim. E está disposto a lançar mão de todos os meios lícitos segundo a lei de Deus e dos homens para evitar que esse último crime seja perpetrado e que a Rainha seja arrancada do trono e jogada no chão. Nessa situação, o que significa a consagração? Imaginem uma Rainha que está nessa aflição, e vem um filho, ajoelha-se diante dela, um “heresia branca” (*): recita toda a fórmula da consagração, faz-lhe uma pequena vênia e sai abanando as mãos... “Mas como?! dirá a rainha. Eu estou sendo atacada, você vem aqui, faz um ato de amor e vai embora? E a luta? E o protesto, a indignação? O que você está fazendo aí? Você é um biltre. Faz uma consagração, que é nula, que é uma brincadeira. Nessa hora, quem se consagra a Mim, luta por Mim e quem não luta por Mim faz uma consagração falsa”. De maneira que o sentido dessa consagração, é um sentido de luta. Consagrar-se aqui é fazer o mesmo que um soldado que vai para a guerra. Ele está disposto a dar sua vida, no campo de batalha ou no campo de paz, lutando contínua e incessantemente até que venha o Reino de Maria. Aqui está, nessa era histórica, a autenticidade dessa consagração: lutar por Nossa Senhora. Rezar para Nossa Senhora nos dar as forças necessárias para conduzir essa luta até o fim. Essas seriam as palavras que a proximidade da festa de Nossa Senhora Rainha sugere. (*) “Heresia branca”: expressão utilizada pelo Prof. Plinio no sentido de “atitude sentimental que se manifesta sobretudo em certo tipo de piedade adocicada e uma posição doutrinal relativista que procura justificar-se sob o pretexto de uma pretensa ‘caridade’ para com o próximo” – cfr. “O Cruzado do século XX – Plinio Corrêa de Oliveira”, Roberto de Mattei, Editora Civilização, Porto, 1998, tópico 7). |