Plinio Corrêa de Oliveira

 

Jacinta e Francisco de Fátima:

 

sem o sofrimento nada de grande se faz

 

 

 

 

Santo do Dia, 19 de fevereiro de 1965

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

Jacinta de Jesus Marto (Fátima, Ourém, 11 de Março de 1910 — Lisboa, 20 de Fevereiro de 1920) foi beatificada, juntamente com o seu irmão Francisco, pelo Papa João Paulo II a 13 de Maio de 2000. Até o momento é a mais nova não-mártir a ser beatificada. O seu dia festivo é 20 de Fevereiro. 

Amanhã temos o aniversário da morte de Jacinta Marto, a quem Nossa Senhora apareceu.

Como sabemos, dos três videntes de Fátima dois morreram, por desígnio e previsão de Nossa Senhora, e ficou Lúcia, a qual recebeu novas revelações.

Quanto à razão pela qual Nossa Senhora quis que Jacinta e Francisco morressem, é bem evidente e eles também a declararam: eram necessárias pessoas que sofressem. Ou seja, vítimas que associassem, a todo o mistério de Fátima e a toda a fecundidade que Nossa Senhora desejava na ordem sobrenatural para os fatos de Fátima, a sua dor, o sacrifício muito penoso de suas vidas (ambos morreram em circunstâncias extraordinariamente difíceis e sofrendo muito).

Isso porque todas as grandes obras de Deus se fazem com a participação dos homens quando se trata da salvação de outros homens. E, em geral, com almas que lutaram, que sofreram e que rezaram para que de fato aquela obra fosse levada a cabo. Quer dizer, é sempre preciso a participação do sofrimento humano. E sem o sofrimento humano, nada de grande se faz.

Isso é especialmente frisante no que diz respeito a Fátima. É uma intervenção direta de Nossa Senhora. Essa aparição se faz atestada por milagres estupendos como por exemplo a rotação do sol, tantas vezes e em distâncias tão grandes etc. É uma mensagem das mais importantes – ou talvez a mais importante – que Nossa Senhora tenha dado ao longo de toda a História.

Nesta ocasião e nestas circunstâncias a Mãe de Deus quis o sacrifício de duas almas que se imolassem e oferecessem suas vidas para que todo aquele plano da Providência tivesse a fecundidade necessária. Nós podemos compreender bem por aí como esse apostolado de sofrimento é verdadeiramente insubstituível. E como é ele que verdadeiramente abre os caminhos para a Igreja

 

Os três pequenos videntes de Fátima: (da esq.) Lúcia, Francisco e Jacinta 

Houve um pintor alemão que uma ocasião pintou Nosso Senhor como Bom Pastor, batendo à porta de uma casa, de uma choupana. E alguém lhe comentou: "O sr. fez um erro na confecção desse seu quadro, porque essa porta não tem fechadura". Ele disse: "É verdade. Mas isso não é um erro. Esta porta simboliza a porta do coração humano. Nosso Senhor bate ali, mas não há fechadura do lado de fora, mas apenas do lado de dentro. Porque um certo tipo de abertura de alma é da alma para consigo mesma só. E aqui ninguém consegue intervir. É uma coisa fechada mesmo".

Com efeito, o jeito que há para conseguir que as almas se abram é precisamente por meio da oração e dos sacrifícios. É por meio da dor que  encontramos a vida, carregando amorosamente a Cruz de Nosso Senhor, compreendendo que é normal que se sofra. E que a pessoa só é grande na medida em que se sofre, e quem carrega os grandes sofrimentos por amor de Deus são os únicos grandes homens da História. É nessa medida que se é verdadeiramente fiel a Nosso Senhor e se acaba sendo um grande homem. As pessoas decisivas na História são as que souberam sofrer tudo.

É claro que esse sofrer não é apenas passivo, deixar cair as pancadas em cima da cabeça, mas é um sofrer ativo. Quer dizer, é muitas vezes tomar a iniciativa da luta – sempre segundo a Lei de Deus e dos homens –, é combater, é romper com aqueles a quem a gente estima, é arrostar a opinião dos outros, é aceitar de ficar posto em situações difíceis, contrafeitas, contraditórias, enfim todo o sofrimento da batalha mais intrépida, mais ousada e mais cheia de iniciativa. Tudo isso é sofrer e até sofrer por excelência. Mas é preciso saber sofrer

A aceitação do sacrifício é necessária para se combater o mito holywoodiano do "happy end" 

Precisamente isto nos é dito muito pelo sacrifício de Jacinta como pelo sacrifício de Francisco. Devemos, na noite de amanhã, nos lembrar disso e pedir a Jacinta que interceda a Nossa Senhora de Fátima para obter esse senso de sofrimento, indispensável para que qualquer católico seja verdadeiramente um católico generoso e dedicado.

Essa aceitação da cruz é contrária ao mito do homem de hoje, ao mito holywoodiano do happy end, de que a vida normal é aquela que termina bem, e que tudo é alegria, tudo é luz, e que o sofrimento é uma espécie de bicho de sete cabeças que malucamente invade a vida das pessoas. É o contrário! A vida que não tem cruzes é uma vida que não vale nada. São Luiz Maria Grignion de Montfort chega até a dizer que quando uma pessoa não sofre – naturalmente com autorização do diretor espiritual – deve pedir cruzes, fazer peregrinações e orações intensíssimas. Porque a pessoa que não tem sofrimentos, a quem Deus não enviou sofrimentos deve desconfiar de sua salvação eterna.

Devemos pedir a Jacinta a graça de Deus para que grave esta grande verdade profundamente em nossas almas, por meio das preces de Nossa Senhora.


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