Plinio Corrêa de Oliveira

 

Santa Catarina Labouré:

a reta feminilidade

a serviço da Santa Igreja

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 30 de dezembro de 1964

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

Santa Catarina Labouré, virgem; recebeu da Imaculada Mãe de Deus, a revelação da Medalha Milagrosa; religiosa vicentina. Sua relíquia se venera em nossa capela. Século XIX.

Sobre a Medalha Milagrosa, como há uma festa especial sobre ela, nada haveria a dizer hoje, pois o assunto já foi tratado no dia próprio. Haveria algo a tratar a respeito de Santa Catarina Labouré.

O que se poderia dizer, parece-me, consistiria num confronto entre a vida de Santa Catarina Labouré, que foi - com o devido respeito - em relação a Nossa Senhora, a figura feminina que teve talvez o maior papel na História. E, dos santos, aquele que teve maior papel na história da devoção a Nossa Senhora foi São Luís Maria Grignion de Montfort.

A profunda diferença de vida e de missão de cada um, a serviço da mesma causa, que é a difusão da devoção a Nossa Senhora.

 São Luís Maria, missionário, peregrinando de um lado para o outro, lutando, falando, sendo combatido, combatendo também, escrevendo livros e, portanto, aparecendo continuamente em público; continuamente nos templos de uma cena provinciana pequena, que foi o cantinho do universo onde lhe permitiram que ficasse para pregar a sua missão. Mas ali, dando um tal exemplo e fazendo uma tal pregação que sua vida se irradiou para toda a História. De maneira que, continuamente, está presente em tudo quanto se fala a respeito de Nossa Senhora.

Santa Catarina Labouré foi o contrário: era tão desconhecida, tão apagada, tão inútil, que as próprias irmãs de hábito dela não souberam, durante muito tempo, que era ela que tinha recebido aquela devoção da Medalha Milagrosa. A superiora disse que uma irmã havia sido favorecida com tal favor, isso, aquilo etc., etc.; mas elas não sabiam qual das irmãs do convento estava empenhada nisso. Só o confessor o sabia; nem a superiora.

Ela também conseguiu uma difusão enorme da devoção a Nossa Senhora. Maria Santíssima quis que, por seu intermédio, tal fosse feito. Mas dispôs dos meios adequados para que, de fato, Santa Catarina fosse um instrumento humano de tal obra. Porém, ao contrário de São Luís de Montfort, ela ficasse completamente desconhecida.

É curioso, neste ponto, notar que, entretanto, ela teve um papel missionário, que é diferente, por exemplo, do papel de Santa Bernadette Soubirous. Esta última recebeu aquelas revelações de Nossa Senhora de Lourdes, todo mundo soube quem foi favorecida com tais aparições, mas ela não fez outra coisa senão receber aquelas informações e transmitir; os milagres fizeram todo o resto. Santa Catarina de Labouré, não: teve que insistir, houve todo um trabalho que precisou realizar para isso andar, e foi muito mais ignorada que Santa Bernadette. Ficou, verdadeiramente, jogada de lado.

Naturalmente, o comentário que acabaria aí, é: como as vias de Deus são diferentes, como Deus pode dispor de tal maneira as coisas que, conforme esta ou aquela alma, Ele faz com que os fatos aconteçam, de um modo ou de outro modo. Este é um comentário muito legítimo, muito verdadeiro e, também, muito conhecido.

Gostaria aqui de acentuar um aspeto do problema, que convém para nós, um ensinamento mais próximo: de que maneira é próprio à mulher ficar na penumbra? Quando ela vive no século, ficar no ambiente de família; e, quando vive no convento, ficar aí sem aparecer e sem desenvolver grande missão pública.

É a título de exceção que as mulheres são conhecidas na história da Igreja, exercendo missões públicas. Quando a Providência quer se utilizar delas para algo de grande envergadura, ficam, entretanto, postas de lado e vivendo no recato, fora dos olhos do público; ao contrário do homem, que é chamado exatamente para aparecer, e para desenvolver uma ação pública.

Isto nos faz saber que, mesmo dentro dos planos da graça, um é o modo pelo qual deve atuar a mulher, porque condiz com sua natureza, com seu feitio moral, com seu papel dentro do plano geral da Criação. E, outro, é o modo de atuar do homem. Assim, até nesse campo sublimíssimo, de tal maneira embebido de sobrenatural, onde facilmente as coisas poderiam se passar de outra maneira, a Providência é fiel à ordem que Ela mesma estabeleceu, e que Ela mesma poderia superar por alguma decisão ou por alguma determinação.

Isto nos faz ver bem, quão errada está a civilização moderna, lançando as mulheres para a vida pública, associando à vida cívica, mandando-a tomar atitudes muito salientes inclusive em matéria de apostolado; confiando-lhe funções que normalmente seriam próprias aos homens. O que passa como “emancipação da mulher”, mas é, de fato, escravização da mulher a uma porção de tarefas que não são de acordo com sua natureza.

Assim, a figura da Santa Catarina Labouré emerge para nós com luz ainda mais nítida. Ela foi chamada a dar esse exemplo de feminilidade sadia, vista com tal respeito que foi de uma mulher como ela, que a Providência quis servir-se como instrumento para realizar uma obra incomparavelmente superior à que realiza tanta líder da Ação Católica... Exatamente nesta linha, a Providência quis que Santa Catarina Labouré continuasse bem feminina, porque o que a Providência quer é que cada sexo tenha uma tarefa específica e diferente da outra, ajustada à diferença de natureza, à diferença de papeis providenciais que existem para um e para outro.

Conjunto escultural que se encontra na Rue du Bac (em Paris, onde se deram essas memoráveis aparições marianas) representando Santa Catarina conversando com Nossa Senhora

Esta consideração nos faz ver também de que maneira uma análise que procure ser atenta da vida dos santos e da doutrina católica serve para combater as posições tomadas pela Revolução - no caso, o feminismo. Mas, de outro lado, quão longe se está de um aproveitamento desses exemplos para fazer essas considerações...

Se eu fizesse aqui um comentário que abstraísse desse aspecto da vida de Santa Catarina, e ficasse nos respeitáveis e veneráveis santos lugares comuns, a respeito dos insondáveis desígnios de Deus etc. etc., dir-se-ia coisa boa, mas não se impediria de continuar a fazer toda a espécie de mal. É preciso, portanto, dizer uma coisa e outra. E saber ver tudo em função da Revolução, para se fazer uma obra contra-revolucionária.

Aqui está um comentário de um dos traços da biografia de São Catarina Labouré.

Nota: Quem desejar aprofundar o assunto, poderá ler os comentários que o Prof. Plinio fez a respeito de outras biografias de Santas, bem como ouvir (ou ler) a conferência para o setor feminino dos Correspondentes Esclarecedores da TFP brasileira (de 1o. de maio de 1989).


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