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Plinio Corrêa de Oliveira Santo André Apóstolo e sua última prece: a beleza do holocausto por puro amor de Deus
Santo do Dia, 30 de novembro de 1964 |
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A D V E R T Ê N C I A O presente texto é adaptação de transcrição de exposição verbal do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, e não passou por revisão do autor. Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
Hoje é festa de Santo André, Apóstolo: irmão de São Pedro, preso pelo pró-Cônsul Egéias, foi açoitado e depois suspenso numa cruz, na qual sobreviveu, três dias, a instruir o povo. Sobre Santo André, há as seguintes notas biográficas extraídas da “Vida dos Santos” de Rohrbacher: “Santo André - primeiro Apóstolo a reconhecer Cristo, ao qual levou seu irmão Pedro, futuro primeiro Chefe da Igreja - teve sempre um grande amor à Cruz; na hora de sua morte, ao ver o madeiro no qual iriam pregá-lo, saudou-o com alegria.” Os senhores não devem considerar essa saudação como pura literatura, porque cada palavra tem um peso. Está o mártir, depois de açoitado, todo ensangüentado, diante da sua cruz que - como os senhores sabem - era em forma de X, e por isto é chamada a Cruz de Santo André. Ele, diante de sua cruz, exclama: “Ó Cruz belíssima, que foste glorificada pelo contato que tiveste com o Corpo de Cristo! Grande cruz, docemente desejada, ardentemente amada, sempre procurada, e, afinal, preparada para meu coração apressado, desejoso de ti”. É a beleza da exclamação de um homem, na hora de sofrimento que Deus marcou para ele, para a aceitação daquele cálice que deve beber para ter a sua glória no Céu. Daquele cálice, sem cujo beber não se alcança nada no Céu. É aquele que, afinal de contas, sabe que chegou a hora de seu máximo sofrimento, de seu martírio; sabe o que vai sofrer porque meditou incontáveis vezes a respeito da Paixão de Nosso Senhor, e que exala sua alma nestas circunstâncias. Ele chama a cruz, que era uma coisa desprezada e um instrumento para prender criminosos: “Cruz belíssima”! Depois explica porque é belíssima: ela foi glorificada pelo contacto que teve com o Corpo de Cristo. Acrescenta ele que a desejara com doçura. Podemos imaginá-lo considerando-a durante anos, e anos, e anos, amando o martírio que lhe tinha sido profetizado, aguardando a hora em que faria, por Deus, este ato de holocausto desinteressado: deixar-se matar por Nosso Senhor para, por esta forma, ser quebrado como o vaso que Santa Madalena quebrou com o ungüento junto aos pés do Divino Salvador, sem nenhuma utilidade prática, num ato de amor desinteressado, num holocausto que não tinha outra razão de ser a não ser o seu próprio sacrifício. E isto de tal maneira que, ainda que não fosse bom para as almas, ainda que não fosse edificante para muitos, ainda que não fosse uma humilhação para os adversários da Igreja, só para provar a Deus que levava seu amor até aquele ponto, ele desejava a cruz como algo doce. Os senhores vejam o que é a alma de um mártir, os esplendores que há na alma de um mártir. Ele continua: “docemente desejada, ardentemente amada”. Os homens, hoje, fogem do sofrimento de todos os modos, é exatamente o que eles não querem; nenhuma forma de sofrimento, nenhuma forma de luta contra as suas paixões, nenhuma forma de renúncia. Eles têm a idéia de que a vida foi dada para ser regalada e que é preciso gozá-la e o que não for gozar a vida, é morrer. Este, pelo contrário, ardentemente amava a sua cruz, compreendendo que o que dá sentido à vida não é o gozo nem o prazer que possa ter, mas é o sacrifício que se faz. Isto é o que dá prazer e sentido à vida. E que, portanto, todo homem verdadeiramente sobrenatural e verdadeiramente homem deseja o encontro com sua grande cruz, com seu grande martírio. Este é o filho da Cruz, é o Amigo da Cruz, do qual trata São Luís Grignion de Montfort em seu livro “Carta aos Amigos da Cruz”. Continua: “sempre procurada”. Qual é o homem que, no momento de prestar contas a Deus, pode dizer que sempre procurou a cruz? que em todas as coisas procurou o sacrifício?... Pelo contrário! Os homens vivem fugindo da cruz, o que não querem é o sacrifício. Mas Santo André pôde dar de si este testamento: sempre tinha procurado as cruzes. E por isso, no momento de se aproximar dele a cruz, estava disposto ao sacrifício. Continua: “e, afinal, preparada para o meu coração apressado”. Ou seja, Deus, afinal deu a Cruz para meu coração que tinha pressa da crucifixão. Ah! Se nós pudéssemos dizer... se eu pudesse dizer que minha alma tem pressa da crucifixão, que ela deseja, que ela voa para essa crucifixão, o que ela quer é absolutamente entregar-se a Deus sem reserva, e ter esta forma de entrega que é exatamente o martírio! Na paz de alma, certamente, mas o martírio. Ou seja, o último holocausto. Nosso Senhor disse: Nenhum homem pode ser mais amigo de outro homem do que oferecendo a sua vida por esse homem. Ninguém pode dar maior prova de amor de Deus do que desejar, por esta forma, a cruz. E ele continua: “Cruz preparada para o meu coração, desejoso de ti; recolhe-me, ó cruz”. Realmente isto é de uma beleza...!! E prossegue: “abraça-me, retira-me dos homens, leva-me depressa, diligentemente, ao Mestre; por ti, Ele me receberá; Ele que, por ti, a mim me resgatou”. Pode haver uma oração mais bonita do que esta? Pode haver uma alma mais pronta para a visão beatífica do que uma alma que, no momento da morte, diz uma coisa desta? E os senhores vejam o desfecho: três dias pregando na cruz, três dias do alto da cruz ensinando aos homens. Os senhores podem imaginar o que foram estas palavras, estes ensinamentos, estas graças, este martírio de Santo André... Que cátedra! Quem é que na vida teve uma cátedra igual a uma cruz para, durante três dias, ensinar aos homens? Dois dias teve em agonia, mas seu último suspiro ainda foi voltado para a cruz: “Senhor, Rei Eterno da Glória, recebei-me assim pendido, como estou, ao madeiro, à cruz tão doce. Vós sois meu Deus. Vós a quem vi, não permitais me desliguem na cruz; fazei isto por mim, Senhor, que conheci a virtude da vossa Santa Cruz”. E expirou com estas palavras. Pode-se dizer que esta é uma morte tão bonita, que só a morte de Nosso Senhor pode ser mais bonita do que esta. Quer dizer, a última palavra em matéria da bonita morte! |