Plinio Corrêa de Oliveira

 

Novena de Cristo Rei e a "Bagarre"

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 24 de outubro de 1964

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

 Vitral na igreja de São Miguel, Cumnor, Inglaterra

Amanhã é a festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei. Devemos fazer uma ideia das realidades celestes através das terrestres, uma vez que precisamente as realidades terrestres nos foram dadas para considerarmos as celestes. E, para melhor conhecermos as celestes, devemos imaginar o que é, na Terra, o Reinado de Cristo e depois então considerarmos melhor o que será o reinado glorioso e eterno de Nosso Senhor Jesus Cristo no Céu.

Por outro lado, como as coisas erradas foram permitidas por Deus para conhecermos as certas, podemos então antes ver bem o que é o contrário do Reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo, para depois termos ideia do que é o verdadeiro reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo na Terra. Assim teremos ideia do que seja o glorioso reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo no Céu.

Continuamente, como somos filhos da Contra-Revolução, estamos roçando em toda a espécie de desordens, de inversão de valores, de ignomínias e de imoralidades que constituem este mundo já quase completamente dominado pela Revolução que é o mundo ocidental de nossos dias.

Mas não temos ainda - sequer de longe - a noção do que é o contrário do Reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou seja, o mundo comunista. Qual é a tristeza, qual é a opressão, qual é o materialismo, qual é a imoralidade, qual é o terra-terra, qual é a trivialidade do mundo comunista...

Um pequeno fato de que me lembro aqui no momento indica bem isto. Um padre jesuíta armênio, Alagiagian, que esteve durante muito tempo preso nas cadeias comunistas, conta este episódio: afinal, depois de dez anos de prisão, resolveram libertá-lo. Então, ele e mais uns tantos prisioneiros foram sob escolta, de trem de Moscou a Viena, passando por Budapest. E que, em todo o trajeto do trem, viajavam com as cortinas abaixadas, o que já de si, indica algo do soturno domínio comunista. Após certo tempo de viagem, estavam em Budapeste; desceram, comeram alguma coisa, voltaram para o trem e continuaram. Naturalmente ele começou a se perguntar qual era o momento em que passaria a fronteira. Mesmo porque isso correspondia a uma sua grande expectativa, porque aí acabava o perigo, pois surge então a possibilidade de entrar em terra livre e de escapar das garras comunistas.

Ele disse que, com as cortinas baixas, entretanto, sentiram - com toda segurança - quando tinham atravessado a fronteira. Com efeito, em dado momento, o trem parou numa estaçãozinha e começaram a ouvir risos. A partir dos risos que ouviram, souberam que tinham entrado no mundo ocidental. Porque, em todo o resto do trajeto, nenhuma manifestação de alegria, de satisfação, de contentamento, nem nada! Era aquela severidade, aquela coisa soturna, carrancuda, mal intencionada, uma atmosfera de tormento de campo de concentração, de tirania. E tudo isto feito a favor da inversão de valores, que caracteriza diretamente o império do comunismo.

Uma pessoa que viajou para a Rússia também – uma paulista – contou que quando ela tomou, em Munique, um avião tchecoslovaco a fim de viajar para o mundo comunista, logo ao entrar no avião, percebeu que já estava no mundo comunista: o forro do avião era ordinário, o estofo também, o serviço era péssimo, todo mundo carrancudo, aborrecido. Ela se sentia arrancada e posta viva dentro de um campo de concentração!

Este é o mundo para o qual estamos caminhando. Estes são os horrores nos quais estamos entrando...

Se quisermos fazer ideia do que é o extremo oposto do reino de Nosso Senhor Jesus Cristo, podemos imaginar uma cidade completamente futurista, com “arte” moderna, com tudo organizado segundo os métodos mais tirânicos da técnica moderna: sem alegria, materialismo completo, imoralidade e amor livre completo, nenhuma esperança do Céu, nenhum apreço pelos valores do espírito, nenhuma compostura nem dignidade nas próprias autoridades.

E, então, teremos ideia do mundo para o qual caminhamos e teremos uma consciência mais clara de que estamos numa situação intermediária, em que os últimos restos do reinado de Cristo Rei estão desaparecendo e as afirmações claras e escancarados do reinado do demônio também já estão aparecendo. Enquanto uma desaparece, uma outra coisa aparece...

 Compreendemos igualmente qual é o prazer oposto. Porque se o reino do demônio é assim horrível - e já o vemos em torno de nós – compreendemos também qual poderá ser a alegria que se terá no momento bendito em que a “Bagarre” (as punições previstas por Nossa Senhora em Fátima, caso a humanidade não se emendasse e fizesse penitência de seus pecados, n.d.c.) terminar. E que o Reino de Nossa Senhora começou e que tudo mudou completamente de aspecto. A virtude será glorificada, a ortodoxia será respeitada por todo o mundo; todas as leis, todas as instituições, todos os costumes refletirão o espírito da Igreja Católica; todo o modo de refletir será de acordo com a doutrina e o espírito da Igreja Católica. Tudo o que se admirar será o bem e a verdade; tudo o que se execrar será o erro e o mal. Ver-se-ão todos os homens, todos os valores, todas as coisas postas na sua devida ordem, e dando, por esta forma, glória a Deus, que é o Autor verdadeiro desta mesma ordem!

Quando chegarmos ao fim de nossos dias, teremos a alegria de havermos nascidos no reino do demônio, mas de termos trabalhando pelo advento do Reino de Cristo, considerando aquela ordem restaurada e podendo dizer que foi uma obra de Deus feita com a colaboração de nossas mãos. Quando cerrarmos nossos olhos, poderemos ter uma ideia exata do Reino de Cristo no Céu.

A primeira aurora será quando terminar este período com a “Bagarre” e se entrar no Reino de Cristo, “ad Jesum per Maria”. A segunda aurora será quando fecharmos os olhos e para nossa alma se abrir o reinado de Cristo através de Nossa Senhora, no Céu. Então, tudo quanto eram símbolos, aparências, terá passado. Ver-se-á Deus face a face, veremos Nossa Senhora face a face. A realidade das almas veremos face a face, também.

E se compreenderá também - de um modo indireto e superlativo - toda aquela ordem do Céu, que é o modelo do que foi a ordem que amamos na Terra. Nesta segunda afirmação do Reinado de Cristo, os contra-revolucionários teremos o prêmio por haver tanto lutado pelo Reinado de Cristo na Terra.

Vamos pedir a Nossa Senhora que nos conceda essas convicções com energias cada vez maiores. Porque - já disse outro dia - dias maus e péssimos virão e cada vez mais será esta esperança que dará alento aos contra-revolucionários. Cada vez mais devemos viver de esperanças e nossa grande esperança é a instauração do Reino de Cristo pelo Reino de Maria aqui na Terra e, por esta forma, atingirmos o Reino de Cristo reinando por Maria Santíssima, no Céu. É, portanto, esta a consideração que fica feita para a festa de Cristo Rei.


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