Plinio Corrêa de Oliveira

 

Santo Antônio Maria Claret:

a títulos diversos, patrono dos

contra-revolucionários

 

 

 

 

Santo do Dia, 23 de outubro de 1964

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

 

 Santo Antonio Maria Claret (* 23-12-1807 + 24-10-1870)  

Aconselho a todos que aqui se encontram que procurem ver na biblioteca a biografia de Santo Antônio Maria Claret, em espanhol, editada pelos padres claretianos. Ela é de certo tamanho, não é dessas pequenininhas. Eu a li quando tive que fazer uma conferência a seu respeito em Rio Claro (Estado de São Paulo), há muitos anos. Fui lendo durante a viagem para lá e me maravilhei simplesmente com sua vida!

São tantas coisas extraordinárias que se poderiam narrar de Santo Antônio Claret – como, aliás de todo o Santo cuja biografia é bem feita... e que se leia – que isto convidaria muito mais a uma conferência do que propriamente a dar umas notas resumidas.

A Santa Igreja desaconselha que se faça comparações entre santo e santo. Eu não vou dizer, portanto, que Santo Antônio Claret foi o maior santo de sua época. Mas  diria que, se é verdade que em cada período histórico existem alguns grandes santos que transcendem a todos os outros em importância segundo os planos da Providência, um desses foi certamente Santo Antônio Claret.

Foi muito mais do que fundador de uma congregação religiosa, mas um desses personagens que, ainda que não tenham tido uma ação muito profunda sobre sua época, pelo simples fato de existir, a domina completamente.

Os senhores considerem o seguinte: um homem de baixa estatura, espanholzinho, vivo, catalão apimentado, que faz, sucessivamente, as coisas seguintes: vai estudar em Barcelona, mete-se com questões de tecelagem. Por causa de seu temperamento extremamente vivo e embombante, deixa o interesse por sua vocação sacerdotal e passa um certo período envolto em questões de máquinas, teares e coisas destas, completamente absorto nisso. Praticava ainda a religião mas, verdadeiramente, estava “sabugo” (expressão utilizada nas fileiras da família de almas da TFP para se referir a quem se encontre desprovido de zelo pela glória de Deus, em um estado de tibieza portanto, por analogia à espiga de milho sem grãos, n.d.c.).

E o exemplo do “sabugo” é Santo Antônio Maria Claret nesse período de sua vida, conforme ele mesmo narra em sua autobiografia. Ele conta que ia à Missa, comungava, mas que exceto o cumprimento estrito dessas obrigações, tinha mais máquinas na “cabeça do que santos no altar”, e não pensava em mais nada. Isto é um “sabugo” e “sabugo” sinarquisado, “sabugo” com veneno.

Até que um certo dia, recebe uma graça especial e tem uma espécie de conversão que nele se opera. Neste sentido, é o padroeiro dos “sabugos”. Ele se converteu porque tinha uma grande devoção a Nossa Senhora, que o chamava para coisas muito grandes, que fez com que se reerguesse, se reafervorasse.  A partir daí, enceta a marcha ininterrupta rumo aos píncaros da santidade, que veremos mais adiante alcançar.

É ordenado sacerdote e se torna missionário. E se revela o tipo do missionário popular, com algumas características verdadeiramente eminentes. Era uma pessoa de voz possante. Se estivesse nas igrejas de hoje, não precisaria de autofalante para se fazer ouvir. E não só pregava dentro das igrejas, que eram pequenas para acolher as multidões populares que atraía – e quero acentuar a palavra populares –, sendo preciso reuni-las em praça pública, onde sua voz portava longe. E eram tantas as multidões que o ouviam que, às vezes, as praças públicas não eram suficientes.

Nas Canárias, as multidões cercam Santo Antonio Maria Claret, sendo necessário conduzi-lo dentro de um quadrado de madeira 

Quando se deslocava de uma cidade para outra, sua fama de orador sacro era tal que grande parte da população da cidade onde estivera o acompanhava até meio caminho. Aí então vinha processionalmente para recebê-lo a população da cidade onde ia pregar. No encontro, sermão de despedida para uns, sermão de saudação aos outros, grandes prantos, porque ele sabia despertar o dom das lágrimas em alto grau nos seus ouvintes.

Depois ia falar como orador popular muito vivo, muito interessante, muito ardente, muito profundo, muito sólido, muito substancioso, mas tomado por carismas extraordinários, e que davam origem a fatos durante as suas pregações espetaculares.

Por exemplo, ele passava e dizia: “A senhora - e apontava para uma mulher que estava em meio ao público -, a senhora pensa que não vai morrer, que vai viver não sei quantos anos, mas sua morte não vai passar de... – suspense – seis meses!” Desmaio da grande interessada, naturalmente, pranto. E, muitas vezes, se cumpria.

Em outras ocasiões dizia: “Eu vou expulsar o demônio que está pairando sobre este auditório”. Pronunciava a fórmula do exorcismo e se ouvia um estrépito: raio em céu sereno, caem os sinos do campanário! E a população fica toda assim... Naturalmente, conversões em massa. Porque podemos bem imaginar o efeito de pregações dessa natureza...

Suas grandes qualidades de orador sacro, de missionário, se completavam com uma coisa curiosa: ele sabia bem que sua missão consistia em ser missionário; nunca quis se dar a teólogo profundo, ser orador de alto vôo, ser algum padre Antônio Viera, algum Bossuet, Bourdaloue... Mas compreendeu que era nascido para falar para o povo, e assim fazia. Dava um exemplo edificante em relação, por exemplo, a certas ordens religiosas que são feitas para converter e formar gente do povo através de uma oratória popular esplêndida, e está acabado.

Muito interessante, por outro lado, é o seguinte: os “democratas cristãos” daqueles tempos diziam que era impossível conduzir o povo para posições contra-revolucionárias, e que era preciso inventar métodos de apostolado completamente novos porque os antigos não davam resultado. Sem embargo, ele alcançou um resultado fabuloso manejando destramente o método antigo.

Assim, ele dava a resposta a essa gente: “Vocês não têm resultado nos métodos de apostolado antigo que pregam. Yo lo creo! Com os novos também não terão, mas é porque vocês não prestam”... É, mais ou menos, como alguém que está cantando no rádio e que diz: “Eu não canto bem por causa do alto-falante”... Não é! Você é desafinado. Pondo o alto-falante, de qualquer jeito sai uma bobagem.

Santo Antônio Claret compreendeu muito bem uma outra coisa: que ele era  homem feito para suscitar zelo, mais do que para coordenar o zelo que tinha suscitado. E, por isso, passava pelas províncias despertando, por toda parte, o amor de Deus, deixando que outros pegassem aquela semente, pegassem aquele fogo e o aproveitassem para outra finalidade. Quer dizer, modelo de desprendimento, sem  preocupação de colher para si, mas plantando para que outros colhessem.

Ao mesmo tempo que continuava a desempenhar uma missão muito grande como missionário em toda a Espanha, foi durante esse período que teria fundado a Congregação dos Filhos do Imaculado Coração de Maria. A designação da congregação está toda relacionada com a devoção ao Imaculado Coração de Maria, da qual tenho tratado aqui em outras oportunidades e que não preciso me estender a respeito desta matéria. 

 

             É nomeado Arcebispo de Cuba, onde começa uma verdadeira conversão da ilha que era nascente. Os inimigos da Igreja Católica começaram a lhe desencadear uma intensa ação contrária, pois provocava a emenda dos costumes e conversões. Sofre uma série de atentados e oposições tão fortes que a rainha da Espanha teve que afastá-lo da ilha por causa exatamente disso.

Estando ainda em Cuba, profetizou o terremoto e a peste que lá aconteceriam, como de fato sucedeu.

Foi transferido, pelo Papa, de Arcebispo de Santiago de Cuba, para Patriarca da Índia e Capelão da Corte Real de Madri, mas cujo título não tinha qualquer relação com as Índias, tratando-se de algo meramente convencional.

           

            Acaba sendo o confessor da rainha Isabel II, que pertencia ao ramo liberal da casa real espanhola, estando em luta contra os carlistas (fiéis ao pretendente ao trono Carlos María Isidro de Borbón "en nombre de Cristo Rey").

Como sempre acontece com esses ramos liberais, a razão de ser deles é de fazer o jogo da Revolução. E quando não o realizam, a Revolução os joga logo por terra. E a rainha se prestava ao jogo da Revolução. Mas em contato com Santo Antônio Claret, ela foi aos poucos se modificando, tornando-se antiliberal. De tal maneira seguiu uma política contrária aos intuitos da Revolução que acabou sendo exilada para a França, bem como seu santo confessor. Foi Santo Antônio Claret que provocou, pelo seu zelo, esse “terremoto” na Espanha.

Foi uma grande vitória para a boa causa que Isabel II fosse, por essa forma, deposta. Porque a Revolução não queria fazer sua república na Espanha naquela conjuntura, porque ainda era cedo. A Revolução queria por uma monarquia constitucional, mas foi obrigada a antecipar sua república. E isto lhe acarretou muitas cristalizações na opinião pública. E, pouco tempo depois, a monarquia teve que ser restaurada. Essa república revolucionária teria triunfado na Espanha de modo definitivo se não fosse a atuação de Santo Antônio Claret.

Em 1869, um ano antes de falecer

 

 

            E se dá o Concílio Vaticano I. Ele estava com a saúde alquebrada, doente, aureolado pelas mais altas graças que uma pessoa possa ter. Por exemplo, a partir de 1861, o Santíssimo Sacramento não Se deteriorava dentro dele de uma comunhão a outra, sendo um sacrário vivo, como Nossa Senhora teve Jesus vivendo nEla durante o período da encarnação e da gestação.

Assiste indigado, no Concílio Vaticano, algumas tiradas de alguns bispos contra a infalibilidade papal. E ele, que não era teólogo, levanta-se e faz um famoso discurso defendendo a infalibilidade.

Dois anos mais tarde (em 1870), faleceu no exílio, no mosteiro cisterciense de  Fontfroide, na França, pois tivera de fugir de seus perseguidores que queriam prendê-lo e levá-lo à Espanha para julgá-lo e condená-lo.

 

Mosteiro de Fontfroide, na França, onde faleceu exilado Santo Antonio Maria Claret  

Ele é nosso patrono, enquanto patrono dos “sabugos”. É nosso patrono, enquanto patrono dos que são fiéis e que correspondem à graça. É nosso patrono, enquanto promovendo a devoção ao Imaculado Coração de Maria e a Nossa Senhora intensamente durante toda a sua vida. É um modelo e patrono, enquanto lutador contra Revolução na Espanha. É um modelo e patrono para nós, enquanto exemplo de que, nas camadas populares – ao contrário do que pretende a Revolução – uma pregação verdadeira, boa, ultramontana, cabe perfeitamente. E ele é nosso patrono, enquanto devoto da Santa Sé Apostólica.

Todas estas razões nos levam, amanhã, a confiar, de um modo particular no patrocínio dele e lhe pedir graças muito especiais.