Plinio Corrêa de Oliveira

 

Santo Efrem, Doutor da Igreja,

e as duas categorias de santos na devoção popular

 

 

 

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 18 de junho de 1963

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

Hoje é festa de Santa Teresa, viúva, filha de D. Sancho I, rei de Portugal, e irmã de duas outras Santas. Tendo sido declarado nulo seu casamento com o Rei de Leão, professou na Ordem de Cister, século XIII.

Amanhã teremos a festa de Santo Efrem sírio, Diácono, Confessor e Doutor da Igreja, chamado “cítara do Espírito Santo”, grande devoto da Virgem, lutou contra os hereges, século IV.

Há duas categorias de santos na devoção popular: alguns para os quais se reza e dos quais se fala, e outros santos que foram “arquivados” e postos em silêncio, a respeito dos quais não se fala e para os quais não se reza.

Até certo ponto isso é normal. Vamos dizer que de algum modo os santos, depois de mortos, têm sua história: são canonizados e alguns chamam a atenção durante muito tempo. Mas depois, no firmamento da Igreja, há tantos santos, que a atenção dos fiéis se volta para outros e aqueles vão ficando esquecidos. O que não é um fenômeno, mas é algo que corresponde à ordem da História da Providência. Ficam no calendário da Igreja, são lembrados pela Ordem Religiosa a que pertenceram, ou pela Diocese em que nasceram etc., mas cedem lugar a outros que passam, por assim dizer, no grande palco da História, até que terminado o tempo, terminadas todas as canonizações e encerrada a História da Humanidade, esses santos serão venerados pelas almas de uma santidade inferior que também foram admitidas no Reino dos Céus.

Portanto, isso é algo natural. Porém, não é normal que todo santo que incomode a “heresia branca” [uma piedade desvirtuada por um sentimentalismo que deforma, por exemplo, o verdadeiro conceito de caridade cristã, n.d.c.] entre logo nesse “arquivo”, enquanto outros que incomodam menos, custem mais ou nunca sejam “arquivados”...

E assim temos sistematicamente um silêncio a respeito dos reis santos, a rainha santa, a princesa santa...  Quem de nós ouviu falar nessa Santa Teresa, viúva? Eu não sabia que ela existia, mas estou sabendo agora. Quais são as duas outras irmãs que ela teve e que também foram santas? Por que seu casamento com o Rei de Leão foi declarado nulo? Como foi a vida que ela levou na Ordem de Cister?

No esquema resumido que temos não se diz, nem se poderia dizer, pois não temos um hagiógrafo capaz de responder a todas essas perguntas. Mas aqui fica o ponto: como seria bom que alguém se esmerasse em ir procurando a biografia desses santos...

Por exemplo, na enciclopédia “Espasa Calpe” deve haver alguma coisa sobre quase tudo isso. Se houvesse alguém com luz primordial, com um chamado especial para isso, e que, de acordo com nosso Departamento do Exterior, escrevesse para perguntar algo sobre tais biografias, fotografias, etc... Que beleza se algum dia pudéssemos inaugurar uma galeria de estampas bonitas, feitas pelo Dante e pelo Humberto, representando os reis e rainhas santos com a coroa na cabeça! Isso seria algo muito esplêndido!

A vida de todo santo é cheia de surpresas. Quando comecei a ler a vidas de Santos bem escritas e documentadas, comecei a me entusiasmar e compreendi que toda vida de santo é isso. Há um trecho da Sagrada Escritura inserida numa liturgia referente a um Santo e que diz o seguinte: “Não foi encontrado ninguém que seja parecido com ele”. E isso se pode dizer de cada Santo, mesmo daqueles que foram muito parecidos com outros. Há peculiaridades extraordinárias, há coisas lindíssimas!

O cerne, o eixo da História da Humanidade é a vida dos Santos, é para eles que ela se ordena. E o creme dos cremes da História é saber como se tornaram Santos.

Se pudéssemos tomar essas vidas de Santos, uma por uma, veríamos verdadeiras maravilhas, teríamos, assim, o nosso ciclo santoral ultramontano para quebrar a “heresia branca”.

Vou pedir a Santa Teresa - e peço que se associem às minhas orações - para ver se ela toca alguém para fazer esse serviço. Se tocar alguém, quem sabe se não fazemos uma pequena comissão de estudos? Que beleza e que surpresa podermos ostentar no Congresso 2000 de “Catolicismo”, logo na entrada, um painel de Santos aos quais esse Congresso está recomendado!

Dizem – eu acho isto um pouco... mas não deixa de ter certa razão – que quando se pede a um santo esquecido somos atendidos, porque não têm muitas pessoas que rezem para eles. Há nisso algo de verdade. Quem sabe se pedindo a estes Santos nos ajudam e trabalhamos para a glória deles?

Aqui está um ponto de partida interessante: termos na sede um relicário só para as relíquias dos Santos que foram reis, príncipes da alta nobreza etc., com uma bonita coroa encimando o relicário. Podemos fazer esta pergunta a quem fôssemos mostrar a sede: “Você gosta de venerar Santos que foram reis? Aqui há várias relíquias...”.

Outra página, outro aspecto da hagiografia (vida dos santos): todos os Santos foram devotos de Nossa Senhora, mas nem todos tiveram uma missão mariana tão definida; e de algum modo podemos dizer que nem todos foram tão marianos do mesmo modo.

Santo Efrem (306-373). Mosaico no Mosteiro Novo de Quios, Grécia

Santo Efrem, de quem tratamos hoje, Doutor da Igreja, foi um dos grandes inauguradores da Mariologia. Ele tinha uma coisa muito curiosa: como era missionário e gostava de pregar a Doutrina Católica para o povo, para fazer apostolado, compôs poesias que eram cantadas. Como São Luiz Maria Grignion de Montfort, ele ensinava o povo a entoá-las. Suas canções eram tão bonitas, tão harmoniosas, sua teologia, por outro lado, era tão poética e cabia tão bem para os ouvidos populares, que foi chamado de “citarista do Espírito Santo”!

Não posso imaginar nada mais bonito e evocativo do que Santo Efrem - com um perfil fortemente oriental - sentado numa pedra, com um grande vale estendendo-se a seus pés, uma árvore bonita, uma pequena fonte, ele reclinado sobre si mesmo pensando e compondo uma bonita canção sobre Nossa Senhora, para ser entoada com aquele lirismo pastoral muito simples do Oriente, e desenvolvendo a teologia sobre Nossa Senhora de modo muito poético e agradável... E naquelas aldeias, naquelas solidões, naquelas cidades de mercados, o povo aprendendo as canções, os camponeses voltando para casa com o cântaro à cabeça e cantando as canções de Santo Efrem. Depois, as crianças cantando essas canções nos mercados ou nas reuniões de família à noite. É a linda imagem de sua alma: “citarista do Espírito Santo”!

Imaginemos uma cítara colocada sobre uma mesa e, de repente, a cítara começa a tocar sozinha. É o Espírito Santo que compõe a música. É uma canção diretamente produzida pelo Divino Espírito. A alma dele foi essa cítara, e que cantou em honra de Nossa Senhora.

E agora aqui vai outro desejo... Como Daniel, acho que devemos ser “varões cheios de desejos”: que Nossa Senhora nos desse citaristas para a época das realizações das promessas de Nossa Senhora em Fátima, para cantarem canções guerreiras de Nossa Senhora, e desde já formando o espírito das pessoas em função dessa época. Canções cheias de sentido, teológicas, e ao mesmo tempo cantando a beleza do heroísmo católico, a beleza das belezas.

Quem sabe se o Divino Espírito Santo inspirasse na alma de algum de nós uma canção sobre a morte de Nossa Senhora e a morte do guerreiro, a união dos dois holocaustos e o entusiasmo com que o guerreiro marcha para esse holocausto...


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