Plinio Corrêa de Oliveira
Castelo de Cheverny:
o maravilhoso do equilíbrio
Catolicismo, N° 594, Julho de 2000 (*) |
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Considero o panorama que se observa na fotografia ao lado de alta categoria. Trata-se do Castelo de Cheverny, de estilo renascentista e clássico, situado no vale do Loire, na França. Onde está a beleza dele? É preciso analisar elemento por elemento. A grama é de um verde esmeralda, que em nossos trópicos não germina. No meio da grama, a coisa mais comum do mundo: uma estrada inteiramente reta. No fundo, um castelo. O que tem esse castelo propriamente de maravilhoso? Não se vê uma estátua, não se observa quase ornato, nem é ele uma construção cara. É o maravilhoso do equilíbrio, maravilhoso do edifício bem pensado, estudado e construído com categoria. É o equilíbrio que se encontra nas coisas francesas, que contêm toda espécie de sabores. Analisemos o prédio. Ele é composto de uma espécie de torreão central, que é o ponto monárquico da construção. Essa parte central é toda leve, toda esguia, mas de tal maneira é bem pensada, que não se apresenta como raquítica, de nenhum modo, em relação aos dois extremos atarracadões e bojudos, existentes num e noutro lado do ponto central. A parte reta da fachada está bem no centro: é a graça dominando a força; Jacó dominando Esaú. Os elementos pesados coordenados em torno do leve. É a afirmação da superioridade do espírito. O triunfo da graça sobre a força, da inteligência sobre as coisas da matéria. Entretanto, o contraste entre a parte central e os dois extremos é equilibrado - porque todo contraste, para ser equilibrado, tem que apresentar termos intermediários harmônicos - por dois corpos de edifícios iguais, que não são tão esguios quanto o corpo central, nem tão bojudos quanto os extremos, mas que se situam entre um e outro desses elementos, preparando a transição. A altivez do castelo está no que ele tem de mais gracioso. É como quem diz: “Forte eu sou, mas sobretudo eu me prezo de ser inteligente. Em última análise, sou completo. Sou dotado de inteligência e de força. Sou equilibrado”. O castelo, sendo talvez um pouco discreto demais, foi realçado pela perspectiva. Fica num grande parque, envolto por um simples, mas esplêndido tapete de esmeraldas para lhe servir de apresentação. Ao longe, arvoredos formando a moldura. Dir-se-ia que ele sai de dentro de um mundo de delícias e de mistérios. A clareza e a lógica cercadas pelos imponderáveis: outra forma de equilíbrio.
Não é verdade que um dos prazeres da vida, que tornam a existência humana digna de ser cristãmente vivida, é analisar as coisas dessa forma? Mas analisar com os olhos postos no Céu. Porque esses são valores de espírito, e são assim porque a civilização que gerou tais valores foi cristã. São assim, porque foi derramado o precioso sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. * * * Tais valores são um reflexo da Igreja Católica. Se não fossem as virtudes cristãs, isto não teria sido assim. Então, não é um puro gáudio para os olhos que se tira dessa análise, nem um puro gáudio da inteligência. Mas por cima dos gáudios visual e da inteligência há uma alegria superior do espírito, que considera uma ordem transcendente de coisas. Ordem na qual existe um Deus pessoal e sobrenatural, no Qual todas as formas de equilíbrio realizam-se de modo tão insondável, que é impossível de ser imaginado por qualquer criatura. Assim é a Terra como a bênção de Deus a fez e como a Civilização Cristã a modelou. Em última análise, esta é uma figura do Céu, para o qual todos nós somos chamados. (*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio para sócios e cooperadores da TFP, em 12 de maio de 1961. Sem revisão do autor. |