A “Folha de S. Paulo”
publicou em primeira página [ a foto da lacrimação da imagem de Nossa
Senhora de Fátima em Nova Orleans ], e com um clichê que quase se poderia
dizer que é impossível sair melhor.
Uma nota que me
pareceu realmente curiosa é o fato de que uma das lágrimas de Nossa Senhora
pende do nariz da imagem. Um dos traços dos fatos preternaturais falsos é
que eles têm algo de grotesco. Um dos traços dos fatos sobrenaturais
verdadeiros é que eles são sempre nobres, e quando se trata de Nossa
Senhora, muitas vezes mimosos, graciosos, porque Ela é a Rainha de toda a
graça.
Os
senhores observem bem: é uma coisa que poderia conduzir ao cômico uma
lágrima pingando do nariz. Como está no nariz da imagem está tão direito,
com a cabeça um pouco baixa e aquela lágrima está tão nobre, tão natural que
não convida nem um pouco ao riso. O que é um pequeno sinal para ser notado
porque muito facilmente uma lágrima assim poderia cair de um modo
desagradável, de um modo que nossa piedade desejasse que não fosse.
Entretanto, a distribuição dos relevos na fisionomia da imagem é tal que a
lágrima tomou esse curso. Apesar desse curso, escorreu e gotejou dignamente,
nobremente. Pequeno sinal que a mim me diz muito.
Bem, então vai ser
projetada agora a fotografia.
Os senhores
concentrem a atenção sobre o olhar. No noticiário da imprensa está afirmado
que são olhos de vidro. Vejam como entretanto esses olhos de vidro têm
expressão que um olho de vidro não tem. Dir-se-ia que está olhando para um
ponto longínquo, que não é nada de concreto, mas que é uma dessas atitudes
que o olhar toma quando a pessoa está meditando e refletindo em alguma
coisa. Essa coisa é longínqua e se encontra um pouco inclinada para o chão.
Esse olhar, se seguir sua última direção, encontra o chão. Os senhores vejam
que a direção que toma o olhar é essa.
Bem, o outro é
esse... assim, um declive muito lento, muito discreto, que indica de si a
tristeza. O homem quando está alegre, olha para o alto. O homem quando está
triste inclina a cabeça e olha para o chão. A imagem tem a cabeça
ligeiramente inclinada e ela olha discretamente para o chão. É exatamente
uma expressão de uma leve tristeza, ou uma leve expressão de uma profunda
tristeza para me exprimir melhor.
A fisionomia é
delicadíssima. Não há um traço que não seja muito delicado e muito bem
feito. Ao contrário do que teria uma imagem de estilo dulçoroso e
sentimental, o nariz desta é protuberante. Uma coisa curiosa nas imagens
desse estilo sentimental é o entusiasmo pelos narizinhos, que terminam com a
ponta redondinha. Eu estou longe de falar mal dos que tem um nariz assim. Ou
de dizer que para eles esteja fechado o Reino dos Céus. Mas também estou
longe de afirmar que o Reino dos Céus está fechado para as pessoas de nariz
protuberante. Como a atitude sentimental que se manifesta sobretudo
em certo tipo de piedade adocicada
gosta de dar às imagens um ar assim muito sem personalidade, fazendo uns
narizinhos sem personalidade que espantam a gente, [é o caso de deixar aqui
explicado o assunto].
Aqui os senhores
notam um nariz protuberante que é próprio à raça judaica. Mas vejam a
delicadeza desse nariz. De um lado parece um contraste. Com que profundidade
ele se destaca do rosto. Vejam essa cavidade como é profunda. De outro lado,
entretanto, com que suavidade ele sai da testa, como toda essa parte está
bem construída e como ele se projeta para frente como uma linha que eu
chamaria ao mesmo tempo de ousada e de nobre, mas que não tem nada da ave de
rapina. Vejam como termina harmonicamente no lábio. Como tudo isso está bem
construído, é bonito.
Depois, os
senhores notem a fronte. A fronte é, evidentemente, uma fronte feminina,
não é a fronte do pensador, do homem quando é filósofo, quando é
pensador, mas é uma fronte cheia de pensamentos. Mas de pensamentos que
não tiram a ela nada da graça feminina, da leveza, da respeitabilidade
feminina.
De outro lado, os
senhores analisem o contorno do rosto: é um contorno muito delicado,
muito suave, em que a maçã do rosto se destaca, mas depois se funde
delicadamente no resto do rosto. Os lábios delicadamente saltados,
sem nada de exagerado, o queixo também acentuado, mas que não tira em
nada a delicadeza da fisionomia. O que tudo indica uma personalidade
altamente acentuada, mas harmônica, e que nenhuma acentuação sai além do
perfeito limite das coisas como devem ser.
Os senhores
notem, de outro lado, a posição da cabeça. É uma posição que não
denuncia nenhuma espécie de esforço. Também não é uma posição orgulhosa.
É uma posição muito normal. É ou não verdade, entretanto, que é uma
posição de cabeça de rainha? Uma rainha nesse estado de alma, se ela
fosse rainha a mais não poder de tanto ser rainha, ela tomaria essa
posição.
Depois, outra
beleza: como a suavidade de virgem e de mãe se encontram. É de uma
pureza absolutamente virginal a imagem, mas tem qualquer coisa da mãe
aqui na maçã do rosto. Há uma forma de compaixão, uma forma de ternura
que quem não é mãe não tem. E aqui os senhores a vêem na Mãe das mães.
Os senhores vêem
como essa imagem é própria e digna de representar Nossa Senhora, sem que
eu queira dizer que Nossa Senhora seja exatamente assim. Eu quero dizer
que ela é, pelo menos, um símbolo adequado de Nossa Senhora.
Bem, é isso.
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"Folha de S.
Paulo", 6 de agosto de 1972
Lágrimas,
milagroso aviso
A "Folha de
São Paulo" de 21 de julho p.p. publicou recentemente uma fotografia
procedente de Nova Orleans, na qual se via uma imagem de Nossa Senhora
de Fátima a verter lágrimas. O documento despertou vivo interesse no
público paulista. Penso, pois, que algumas informações sobre este
assunto satisfarão os justos anelos de muitos leitores.
Não conheço
melhor fonte sobre a matéria do que um artigo intitulado, muito
americanamente, "As lágrimas da imagem molharam meu dedo". Seu autor é o
Pe. Elmo Romagosa. Publicou seu trabalho o "Clarion Herald" de 20 de
julho p.p., semanário de Nova Orleans, e distribuído em onze paróquias
do Estado de Louisiana.
Os
antecedentes do fato são universalmente conhecidos. No ano de 1917,
Lúcia, Jacinta e Francisco tiveram várias visões de Nossa Senhora em
Fátima. A autenticidade dessas visões foi confirmada por vários
prodígios no sol, atestados por toda uma multidão reunida enquanto a
Virgem se manifestava às três crianças.
Em termos
genéricos, Nossa Senhora incumbiu os pequenos pastores de comunicar ao
mundo que estava profundamente desgostosa com a impiedade e a corrupção
dos homens. Se estes não se emendassem, viria um terrível castigo, que
faria desaparecer várias nações. A Rússia difundiria seus erros por toda
parte. O Santo Padre teria muito que sofrer.
O castigo só
seria obviado se os homens se convertessem, se fossem consagrados a
Rússia e o mundo ao Imaculado Coração de Maria e se fizesse a comunhão
reparadora do primeiro sábado de cada mês. |
* *
*
Isto posto, a pergunta que naturalmente salta ao
espírito é se os pedidos foram atendidos.
Pio XII fez em 1942, uma consagração do mundo ao
Imaculado Coração de Maria. A irmã Lúcia asseverou que ao ato faltaram
algumas das características indicadas por Nossa Senhora. Não pretendo
analisar aqui o complexo assunto. Registro apenas, de passagem, que é
discutível se o primeiro pedido de Nossa Senhora foi atendido ou não.
Quanto ao segundo pedido, isto é, a conversão da
humanidade, é tão óbvio que não foi atendido, que me dispenso de entrar
em pormenores.
Como Nossa Senhora estabeleceu o atendimento de seus
pedidos, como condição para que fossem desviados os flagelos
apocalípticos por Ela previstos, está na lógica das coisas que baixe
sobre a humanidade a cólera vingativa e purificadora de Deus, antes de
vir a nós a conversão dos homens e a instauração do Reino de Maria.
* * *
Das três crianças de Fátima, a única sobrevivente é
Lúcia, hoje religiosa carmelita em Coimbra. Sob a direção imediata desta
última, um artista esculpiu duas imagens, que correspondem o quanto
possível aos traços fisionômicos com que a Santíssima Virgem apareceu em
Fátima. Ambas essas imagens, chamadas "peregrinas", têm percorrido o
mundo, conduzidas por sacerdotes e leigos. Uma delas foi levada
recentemente a Nova Orleans. E ali verteu lágrimas.
O Pe. Romagosa, autor da crônica a que me referi,
tinha ouvido falar dessas lacrimações pelo Pe. Joseph Breault, M. A. P.,
ao qual está confiada a condução da imagem. Entretanto, sentia ele funda
relutância em admitir o milagre. Por isto, pediu ao outro sacerdote que
o avisasse assim que o fenômeno começasse a se produzir.
O Pe. Breault, notando alguma umidade nos olhos da
Virgem peregrina no dia 17 de julho, telefonou ao Pe. Romagosa, o qual
acorreu junto à imagem às 21h30, trazendo fotógrafos e jornalistas. De
fato, notaram todos alguma umidade nos olhos da imagem, que foi logo
fotografada. O Pe. Romagosa passou então o dedo pela superfície úmida, e
recolheu assim uma gota de líquido, que também foi fotografada. Segundo
o Pe. Breault, esta era a 13a. lacrimação a que ele assistia.
As 6:15h da manhã seguinte, o Pe. Breault telefonou
novamente ao Pe. Romagosa informando-o de que desde as 4 horas da manhã
a imagem chorava. O Pe. Romagosa chegou pouco depois ao local, onde, diz
ele, "vi uma abundância de líquido nos olhos da imagem, e uma gota
grande de líquido na ponta do nariz da mesma". Foi essa gota, tão
graciosamente pendente, que a fotografia divulgada pelos jornais mostrou
a nosso público.
O Pe. Romagosa acrescenta que vira "um movimento do
líquido enquanto surgia lentamente da pálpebra inferior".
Mas ele queria eliminar dúvidas. Notara que a imagem
tinha uma coroa fixada na cabeça por uma haste metálica. Ocorreu-lhe uma
pergunta:
Não haveria sido introduzida, no orifício em que
penetrava a haste, certa porção de líquido que depois escorrera até os
olhos?
Cessado o pranto, o Pe. Romagosa retirou a coroa da
cabeça da imagem: a haste metálica estava inteiramente seca. Introduziu
ele, então, no orifício respectivo, um arame revestido de papel
especial, que absorveria forçosamente todo líquido que ali estivesse.
Mas o papel saiu absolutamente seco.
Ainda não satisfeito com tal experiência, introduziu
no orifício certa quantidade de líquido. Sem embargo, os olhos se
conservaram absolutamente secos. O Pe. Romagosa voltou então a imagem
para o solo: todo o líquido colocado no orifício escorreu normalmente.
Estava cabalmente provado que do orifício da cabeça - único existente na
imagem - nenhuma filtração de líquido para os olhos, seria possível.
O Pe. Romagosa ajoelhou-se. Enfim ele acreditara.
* * *
O misterioso pranto nos mostra a Virgem de Fátima a
chorar sobre o mundo contemporâneo, como outrora Nosso Senhor chorou
sobre Jerusalém. Lágrimas de afeto terníssimo, lágrimas de dor profunda,
na previsão do castigo que virá.
Virá para os homens do século XX, se não renunciarem
à impiedade e à corrupção. Se não lutarem especialmente contra a
autodemolição da Igreja, a maldita fumaça de Satanás, que no dizer do
próprio Paulo VI, penetrou no recinto sagrado.
Ainda é tempo, pois, de sustar o castigo, leitor,
leitora!
* * *
Mas, dirá alguém, esta não é uma meditação própria
para um ameno domingo. - Não é preferível - pergunto - ler hoje este
artigo sobre a suave manifestação da profética melancolia de nossa Mãe,
a suportar os dias de amargura trágica que, a não nos emendarmos, terão
que vir?
Se vierem, tenho por lógico que haverá neles, pelo
menos, uma misericórdia especial para os que, em sua vida pessoal,
tenham tomado a sério o milagroso aviso de Maria.
É para que minhas leitoras, meus leitores, se
beneficiem dessa misericórdia, que lhes ofereço o presente artigo...
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