A D V E R T Ê N C I
A
O presente texto é adaptação de transcrição de exposição
verbal do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira para sócios e cooperadores da
TFP, tendo portanto estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre
nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial
disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da
Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como
homenagem a tão belo e constante estado de
espírito:
“Católico
apostólico romano, o autor deste texto se
submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se,
no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele
ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui
empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em
seu livro "Revolução
e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº
100 de
"Catolicismo", em abril de 1959.
Os
Reis Magos representaram toda a humanidade no Natal: poucos mas
representativos
Amanhã é festa da Epifania do Senhor:
reconhecendo aos Magos, adoradores, as primícias de nossa vocação e de
nossa Fé, celebramos com o coração jubiloso o início dessa feliz
esperança.
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Adoração dos Magos - Fra
Angélico - 1433 |
A respeito da adoração dos Magos, temos aqui
um bonito quadro pertencente a uma pessoa conhecida nossa. E a respeito
dele é preciso fazer a seguinte consideração: o valor que têm as coisas de
caráter representativo e de caráter simbólico, dentro dos planos da
Providência. Não há um comentador da adoração dos Magos, que não diga que
era conveniente que os Magos viessem adorar a Nosso Senhor para
representar os vários povos da gentilidade que desde o começo se
aproximavam de seu berço; e que era conveniente também que fossem magos,
para representar toda a sabedoria antiga prestando homenagem a Nosso
Senhor.
Nós sabemos que a palavra mago
designa aqui homem de uma sabedoria extraordinária, de uma sabedoria
relevante, vindos de todos os lados, para adorar a Nosso Senhor. Se
esses magos eram reis, costuma-se pôr em dúvida. A meu ver essa
dúvida tem um certo aspecto igualitário. Porque a
Cristandade, servida por uma tradição venerável, em todos os tempos
acreditou que eram reis. E essa tradição é de tal maneira contínua, e que
não deixa de ter alguma consonância com trechos da Escritura que falam de
reis vindos de longe para adorar o Messias, essa tradição de si mesma
merece fé, merece crença e eu não vejo nenhuma razão para que não fossem
reis.
Eu compreendo que possa atrapalhar [a
esquerda dita católica], que homens com uma profissão tão "péssima" como a
de rei, terem sido chamados a adorar Nosso Senhor desde menino. Mas
acho inteiramente razoável, vejo, ao contrário, objeção em se pôr dúvidas
a esse respeito.
De qualquer maneira, temos aqui homens
procedentes de várias raças, - um negro inclusive – representando todo o
mundo antigo e representando toda a sabedoria antiga em sua homenagem
a Nosso Senhor, na forma bem conhecida, de ouro, incenso e mirra.
Mas representando a que título e de que
maneira? Quase ninguém soube que eles iam; não receberam nenhuma delegação
para irem e, no entanto, estavam numa verdadeira representação. Porque a
razão pela qual foram não era um motivo individual, mas era uma razão de
representação.
Os senhores estão vendo que é uma coisa toda
ela simbólica. Eles estavam representando esses povos porque Nosso Senhor
quis que eles representassem, e que foram lá porque Nosso Senhor os chamou
como representantes. Ele quis ter representantes desses povos, escolheu
quem representaria e a representação ficou feita. E ficou valendo, com seu
caráter simbólico, apesar de não haver nenhum sufrágio de nenhuma espécie,
nenhuma procuração credenciando-os aos pés de Nosso Senhor.
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Calvário - Século XVIII - Escola
Cusquenha
( Acervo Artístico-Cultural dos
Palácios do Governo do Estado de São Paulo ) |
E o fato de haver ali um de cada um desses
povos, constituía, na ordem absoluta e profunda dos acontecimentos uma verdadeira
representação. Ali, de fato, eles estavam representando. Essa
representação tinha um valor nos planos da Providência. Eram só três, mas
esses três representavam algo nos planos da Providência.
Vamos encontrar algo de parecido com isso
aos pés da Cruz. Como Nossa Senhora, São João e as santas mulheres estão
representando tudo quanto há de bom e fiel no gênero, no passado, no
presente e no futuro, aos pés da Cruz também. Eles representam uma
delegação, representam porque são fiéis, estão ao pé da Cruz. E todo
aquele que é de um certo gênero, numa ocasião muito solene, representa
naturalmente os seus congêneres por seleção. Por isso eles estavam
representando seus congêneres por seleção e eleição divina.
Hoje, aos
pés da Igreja humilhada, Nossa Senhora quis que, embora poucos,
os verdadeiros católicos representássemos a fidelidade das gerações passadas, presentes e futuras
E nós podemos perguntar se desta verdade se
pode tirar algo de aplicável para nós. Nós também somos poucos, também
representamos uma minoria muito pequena e de tal maneira comprimida que
quando nos sentimos muitos - mas muitos não no sentido de massa da
população - mas muitos apenas em relação ao âmbito normal das relações de
um homem, nós já nos sentimos espantados, de tal maneira é antinatural na
época de hoje que sejamos numerosos.
Entretanto, representamos o dever da
fidelidade; e aos pés da Igreja perseguida, aos pés da Igreja humilhada,
aos pés da Igreja lançada, na pior das confusões de sua história, Nossa
Senhora quis que representássemos a fidelidade, a pureza, a ortodoxia, a
intrepidez, o espírito de iniciativa, de ataque, de ação, no momento em
que tudo deveria falar em recuo, em transigência, em fuga.
O que representamos nós aí? Aos pés dessa
nova crucifixão de Nosso Senhor e da Igreja representamos todos os fiéis,
representamos a fidelidade de todos os que foram fiéis no passado, de
todos aqueles que dormiram na paz do Senhor e que nos antecederam. Se um
São Gregório VII, se um São Luiz, se um São Luiz de Monfort, se um São
Fernando de Castela, um Beato Nuno Álvares, pudesse de longe, ao morrer,
saber que numa época assim de crise haveria fiéis que representariam a
fidelidade inteira à Igreja Católica, eles nos teriam abençoado de longe,
teriam se sentido nossos congêneres, de longe teriam sentido uma espécie
de desafogo: ao menos estes estão fazendo o que eu quereria fazer se
estivesse vivo naquele tempo.
Estamos, portanto, representando a todos
eles, estamos representando a todas as almas fiéis esparsas e esmagadas
por esse mundo e que não sabem aonde sequer pousar sua fidelidade, mas que
gostariam de fazer o que estamos fazendo. Estamos representando as almas
que vierem depois de nós, essas almas que, olhando para trás, vão ficar
entusiasmadas com aquilo que fazemos. Vão dizer: se estivéssemos vivos
naquele tempo, faríamos aquilo.
Há essas interpenetrações na história, em
virtude dessa doutrina da representação, algumas das quais são
verdadeiramente impressionantes. Os senhores sabem que quando São Remígio
e seus auxiliares ensinavam a Clóvis e seus francos a Paixão de Nosso
Senhor Jesus Cristo, eles davam urros, levantavam suas lanças e diziam:
“Por quê não estávamos lá na hora da Paixão para defender Nosso Senhor?”
E eles estavam. Pois, na Paixão, Nosso
Senhor anteviu o que eles queriam, anteviu que eles diriam isso, eles O
consolaram naquela hora. Há, portanto, uma espécie de reversibilidade por
cima do tempo, dessas várias ações, e tudo isso se funde numa cena única e
grandiosa; nessa cena única e grandiosa, os poucos fiéis dessa época
representam toda a fidelidade passada, do presente e toda a fidelidade do
futuro.
Devemos ser para Nossa
Senhora o que foi Verônica para Nosso Senhor
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Jesus encontrando a Verônica -
Carlo Caliari
Basilica dei Santi Giovanni e Paolo
- Veneza |
Eu tive ocasião de dizer que a cena e a
projeção do Auto do Divino Infante acentuou muito essa impressão aqui em
nosso grupo, e a situação histórica dentro da qual nos encontramos é
precisamente essa: Nossa Senhora está como uma rainha sentada em seu
trono, mas, pela injúria dos homens - e de que homens! - já descoroada, já
atada com cordas e condenada a ser arrancada aos safanões de seu trono.
Nessa sala onde esse crime se prepara, uns poucos são fiéis e estão
dispostos a tudo para que esse crime não se consume. Esses fiéis, que
estão lutando nessa hora, que tiveram a felicidade incomparável de
agüentar os sofrimentos, as incertezas, as torturas espirituais dessa
situação, esses fiéis representam todas as almas marianas do passado, do
presente e do futuro nesse momento de tanto sofrimento para Nossa Senhora.
Elas são para Nossa Senhora o que Verônica
foi para Nosso Senhor. Enxugando a Divina Face, Verônica representou o
mundo inteiro, e não houve uma alma piedosa, desde o momento da prática
desse ato, que não se sentisse com inveja dela e não se sentisse, por
assim dizer, representada por ela. E a nós foi dada a felicidade e a
vocação de enxugarmos a santíssima face de Nossa Senhora, cheia de
prantos, como a lacrimação em Siracusa
[1] nos fez sentir, nessa
época dolorosa.
A estrela para os Reis
Magos foi Nosso Senhor, para nós será Fátima
E sentimos a necessidade dessa nossa representação nesse ato, em face da representação dos Reis Magos
diante do Menino Jesus. A doutrina da representação nos deve alentar.
Peçamos aos Reis Magos que orem por nós - porque certamente estão no Céu
junto a Deus - para que tenhamos uma das muitas formas de coragem que nos
são pedidas e que devemos ter, a coragem de sermos sós como eles eram; sós
no mundo pagão, mas à espera da estrela, à espera da hora de Deus, para
cumprir Sua vontade quando ela se apresentasse, e cumpri-la com toda a
fidelidade e pontualidade, na hora em que se apresentar.
A hora, para eles, foi consoladora: foi a
hora em que o Menino Jesus nasceu. A hora, para nós, deve ser a hora da
plena realização dos acontecimentos previstos por Nossa Senhora em Fátima;
mas, de qualquer maneira, chegará para nós um momento muito preciso em que
uma estrela nos dirá que a hora esperada chegou. Não será uma estrela
exterior, mas será uma voz interior. Será uma convicção de que os tempos
se consumaram, que a hora felizmente chegou. Devemos nos preparar para
essa hora, para sermos modelos de exatidão e fidelidade como
foram os Reis Magos, sendo agora modelos de fidelidade no isolamento.
NOTAS
[1]
Miraculosa lacrimação de imagem de Nossa Senhora, em Siracusa - Itália,
ocorrida em 1953, cujo documentário filmado pode ser visto em Glória TV:
Parte I e
Parte II
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