Plinio Corrêa de Oliveira

 

Eco '92: Aparência e Realidade profunda

"O igualitarismo ecologista realiza

a plenitude do sonho igualitário

do comunismo"

 

 

 

 

 

 

Catolicismo, Setembro de 1992, N. 501

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Sobre a ECO '92, o que ocorreu é tão espantoso, tão surpreendente, tão desconcertante, que eu não diria o que aqui vou expor, se não tivesse a meu alcance sólidos documentos e testemunhos comprobatórios.

I — O que foi, na aparência, a ECO '92

A ECO '92 correspondeu, na aparência, ao seguinte:

Os cientistas chegaram à conclusão de que a Terra está gravemente ameaçada, porque os homens têm exercido seu domínio sobre ela de maneira brutal, anticientífica, predatória.

É preciso, então, que, em conjunto, todos os governos preparem urna legislação para que a Terra possa continuar a ser utilizada pelos homens: é questão de vida ou de morte.

II — O que foi, na realidade, a ECO '92

Mas, na verdade, para se compreender o que de fato aconteceu na ECO '92, devemos levar em consideração vários aspectos:

q O índio, como modelo

É patente a existência, hoje em dia, de uma corrente de cientistas, influenciados por determinadas convicções filosóficas e religiosas, que afirmam ser preciso tomar o índio como modelo do comportamento humano. O que fica subentendido é que a civilização depreda a Terra, e que a tribo é o ideal para o qual deve caminhar o homem.

q Rejeição do raciocínio

Essa corrente vai mais longe e afirma que o raciocínio é um instrumento falho para conhecer a verdade. Então, é preciso eliminar a ciência, o progresso, pois eles se baseiam no raciocínio.

Bem entendido, é preciso também acabar com a Teologia. Ela é a aplicação da inteligência aos dados da Revelação para, por via de dedução, conseguir novos conhecimentos teológicos extraídos do próprio texto revelado.

Portanto, nada de Igreja, nada de Teologia, nada de Estado. Tudo deve se apresentar solto, desgovernado e desconexo, à maneira dos índios.

q Duas vertentes concomitantes da ECO '92

Realizaram-se, durante a ECO '92, duas espécies de reuniões: a dos chefes de Estado e a das Organizações Não-Governamentais (ONGs).

Qual a relação entre essas duas vertentes, afinal muito distintas pelo grau de responsabilidade dos que as constituíam?

q As ONGs

Quase todas essas organizações particulares eram constituídas por religiões, e propunham que, todas juntas, rezando e fazendo cerimônias, obteriam de deus (quem é esse deus? Buda? Brama?) que ele exercesse sua influência sobre as mentes dos chefes de Estado. E que estes tomassem resoluções na linha do que essas organizações estavam querendo.

q Autoridade ecológica universal

A reunião de chefes de Estado foi um primeiro passo para a constituição de uma autoridade ecológica mundial, sob a qual todas as nações se apaga­riam para ir formando um só magma universal.

q Ecumenismo radical

Nas reuniões das ONGs, pairava a concepção de que todas as religiões se equivalem. Ser católico, budista, bramanista, adorador do sol, tudo é a mesma coisa. É o ecumenismo mais radical, numerosas vezes condenado pela Santa Sé.

q Dalai Lama

O Dalai Lama é o chefe de uma religião panteísta, que nega a existência de Deus pessoal e criador. Tal religião é praticada no Tibet, onde se localiza o Everest, o monte mais alto do mundo.

Há muitos decênios, especialistas em estudos de seitas ocultas dizem que o Tibet é o centro irradiador do ocultismo no mundo inteiro, e que todas as religiões ocultistas se inspiram nas prédicas do Dalai Lama, o qual é como que sumo-sacerdote delas.

Ora, o Dalai Lama foi visitar as ONGs e esteve também na reunião dos chefes de Estado. E foi recebido com honras tais que, em mensagens a ele dirigidas, chegou a ser tratado de "vossa santidade", exatamente como o Papa. E com uma evidente insinuação de absurda paridade com o Vigário de Cristo na Terra.

Assim, ficou implicitamente reco­nhecido que, daquela babel de religiões, o chefe era ele.

q Ação do demônio

A Igreja toma muito cuidado com as revelações particulares, pois podem ser fruto de imaginação doentia ou de ação preternatural.

Ora, entre as ONGs havia espíritas, umbandistas etc., que se entregam a aparições e coisas do gênero. Assim, não podemos deixar de recear que tais aparições, nascidas fora da Igreja, numa atitude de indiferentismo religioso condenado pela Santa Sé, sejam às vezes fruto de imaginações doentias ou da ação do demônio.

Na hipótese de ser uma ação diabólica, o demônio estaria, assim, projetando a sombra de sua bandeira sobre toda a Terra.

q Reações contra esses desvarios

Prêmios Nobel — 264 cientistas de renome mundial, de 29 países, entre os quais 52 Prêmios Nobel, dirigiram, através de grandes órgãos de imprensa, um apelo aos chefes de Estado reunidos na ECO '92, manifestando sua preocupação ante a "aparição de uma ideologia irracional, que se opõe ao progresso científico e industrial e prejudica o desenvolvimento econômico e social".

TFP — Realizou-se também uma Conferência pública denominada "Eco'92 — Vozes alternativas", promovida pela TFP e outras organizações de relevo, no Hotel Copacabana Palace (em outro local desta edição publicamos detalhes dessa importante sessão).

q Panteísmo

Quando se examinam as doutrinas dessas religiões ocultistas, encontra-se um denominador comum entre elas: o panteísmo.

Segundo o panteísmo, não há um Deus pessoal. Existe apenas uma força divina que impregna todo o universo, e um dos mais importantes pontos de concentração dessa força é nosso planeta. E, portanto, dizem os panteístas, nos minerais, nos vegetais, nos animais e nos homens há algo de divino.

O homem não seria então o rei do universo, como diz o Gênesis, mas o servidor do universo. Assim, o ser humano deve prestar serviço à Terra, e não é a Terra que deve estar a serviço do homem. Segundo tal doutrina, o homem, em sua essência, é igual aos animais, vegetais e minerais. Apregoa ela, portanto, o auge do igualitarismo.

Trata-se, pois, de uma Revolução contrária a todas as autoridades legítimas da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, bem como às autoridades que regem os Estados.

q Três Revoluções e Ecologia

A Revolução (*) quis derrubar a autoridade eclesiástica, por meio do protestantismo; a autoridade temporal através da Revolução Francesa; e as desigualdades econômicas e sociais mediante o comunismo.

Agora, aparece a junção: essa atitude panteísta, segundo a qual o homem deve obedecer à Terra, não transforma o rei no lacaio dos lacaios? Sim, porque a Terra é lacaia do homem. E se o homem começar a servir a Terra, estará prestando serviço à sua própria lacaia.

q Comunismo metamorfoseado

Surge, então, a desconfiança de que a ecologia seja o comunismo metamorfoseado. "Morfose" significa forma, e "meta", transformação. Seria, portanto, a transformação do comunismo.

A Revolução, colocando o homem a serviço de algo que é inferior a ele, vai contra toda a ordem que Deus estabeleceu na criação.

Então, aos que dizem — "o comunismo morreu" — a resposta é: "Aqui está o comunismo transformado". E convém esclarecer que o igualitarismo ecologista realiza a plenitude do sonho igualitário do comunismo.

(*) O termo Revolução, no sentido em que é tomado nesse parágrafo, significa o grande processo histórico que, a partir do século XV, vem destruindo a civilização cristã.

Catolicismo não pôde tratar do tema da ECO '92, em sua última edição, porque, em comemoração de nosso 500° número, foi esta inteiramente dedicada à publicação da III Parte atualizada do consagrado ensaio do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, "Revolução e Contra-Revolução". Em vista disso, no presente número estampamos [a matéria acima, n.d.c.] excertos mais importantes da conferência que esse insigne pensador católico proferiu sobre a matéria, no XII Encontro de Correspondentes e Simpatizantes da TFP, efetuado na capital paulista, nos dias 11 e 12 de julho. Além disso, apresentamos também a nossos leitores outras matérias a respeito do mesmo tema, dentre as quais um noticiário sobre a Conferência pública "Eco'92 — Vozes Alternativas", promovida pela TFP e outras entidades.


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