Plinio Corrêa de Oliveira
A verdadeira origem da crise brasileira
Catolicismo, N° 457, Janeiro de 1989 |
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Encontro de Correspondentes e Simpatizantes da TFP Nos dias 3 a 5 de dezembro último, a TFP realizou, em São Paulo, mais um dos Encontros regionais. (...) A seguir, publicamos excertos da substanciosa conferência inaugural, pronunciada pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, a qual foi interrompida com freqüência por calorosos aplausos da assistência. A verdadeira origem da crise brasileira É com muita alegria que eu declaro inaugurados estes dias de Encontro, depois de tantos acontecimentos ocorridos em nosso País, e depois de uma viagem memorável para mim - uma peregrinação por ilustres e grandes santuários do Exterior. E agora, afinal, encontro-me no meio de vós. Brasil: a crise de uma vocação Nossa Pátria passa por uma grande crise, urna crise carregada de incógnitas, de pontos nebulosos, que não se sabe como serão resolvidos pelos homens e por Deus. O Brasil, como tudo o que Deus criou, vive para ser católico, e sua primeira finalidade é servir a Deus. Se ele tivesse que deixar de ser católico, acabaria por desaparecer. Teria sido como uma grande nebulosa que passou luminosamente pela História, uma grande esperança que transitou pela História, mais ou menos como um facho de luz de fogo fátuo e incerto, e voltaria às incógnitas da História, desapareceria. Ora, se nós prestarmos atenção nos acontecimentos que estão se desenrolando aqui, e nos quais a mídia - jornais, rádio, televisão, revistas etc. - deita uma atenção a meu ver exagerada, damo-nos conta de que estamos numa crise econômica muito grave, numa crise política que eu não chamaria de muito grave, mas apenas de grave, e numa crise religioso-política, religioso-social, social-econômica que, esta sim, reputo a crise mais grave de nossa História. A História do Brasil já é uma história antiga. Isso de se dizer que o Brasil é um País jovem... Tudo acaba no mundo. A juventude dos homens acaba, e, assim, também a dos países. Uma nação que está caminhando para quinhentos anos de existência não pode apresentar-se como uma criancinha. Já tem cinco séculos de existência! Cinco séculos de responsabilidades! Cinco séculos de prática da Fé católica! Compreende-se bem que esse País tenha pesadas responsabilidades nas costas. O nosso Brasil as têm, nós enquanto brasileiros as temos também. Essas responsabilidades se voltam sobretudo para isto: até que ponto, na situação atual brasileira, está ameaçado o direito de Deus de que Sua Religião seja pregada e ensinada, seja apoiada, e que os católicos tenham a liberdade de praticá-la, porque é a Lei dEle, a Revelação feita por Ele? A pergunta em resumo é: até que ponto estamos caminhando para uma situação ideal, e até que ponto estamos nos distanciando desse ideal? A corrosão progressista Se nós analisarmos um pouco mais de perto essas incógnitas, veremos desde logo o seguinte: no âmago desses problemas se encontra uma crise religiosa. Esta vai se tornando cada vez mais evidente. Os senhores conhecem perfeitamente o que é o progressismo. Conhecem os erros, os desatinos, as concessões morais inadmissíveis que o progressismo vai fazendo a toda à hora à modernidade, aos costumes depravados, aos costumes sensuais. E de que maneira os trajes imorais, a promiscuidade entre os sexos, a facilidade em consentir nas práticas contrárias à natureza etc., vão se espalhando, sem nenhuma resistência ponderável da parte dos meios progressistas, que, antes pelo contrário, às vezes lhes dão apoio. Dizendo mesmo aos fiéis que podem à vontade, depois de casados e divorciados, casarem-se de novo. O que, evidentemente, é contrário à Lei de Deus: a indissolubilidade do vínculo conjugal proíbe o divórcio. Nesta crise, precisamos tomar em consideração que o eixo de toda a vida de um país é a moral, e que onde a moral católica não é praticada, o país, mais cedo ou mais tarde, soçobra. Ora, o que vemos é que a moral católica não é ensinada; mais ainda, se favorece a transgressão desta moral em nome de não sei que renovação religiosa (que é tudo menos uma renovação, e é tudo menos uma ação religiosa). Então podemos ter idéia de como a consistência moral do povo brasileiro está ameaçada. Tanto mais que sintomas desses podem ser percebidos de norte a sul do País, do litoral até as regiões mais interiores. Ora, sobre esse mesmo povo, que está minado por dentro no que tem de mais fundo (quer dizer, na sua formação religiosa e na sua própria alma), por tais fatores de decadência e de desagregação, incide também um outro fator péssimo que é a propaganda contínua da imoralidade feita pela mídia. Não se abre um jornal, não se liga uma televisão, não se folheia uma revista, não se ouve falar de uma fita de cinema, onde de um modo ou de outro a moral não seja bombardeada... Eu já nem falo em filmes como esse do Scorsese, ou o "Je Vous salue, Marie", de Godard... Todo o mundo conhece a torrente de blasfêmias que se vem espalhando metodicamente no mundo inteiro contra Nosso Senhor, Nossa Senhora, os santos e os anjos, atuando de fora para dentro da Igreja. Ao mesmo tempo que, de dentro para fora, esta corrosão se verifica de um modo dramático. Ante esse quadro, não há dúvida nenhuma a respeito do seguinte: quando a Religião sofre uma crise dessa natureza, as ordens política, social e econômica entram em decadência. Não se pode pensar na possibilidade de qualquer outra situação, nem de qualquer outro curso de acontecimentos que não esse. |