Plinio Corrêa de Oliveira

 

A psicologia na crise do homem contemporâneo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Reunião de 17 de abril de 1982 (*)

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Muitos anos atrás, o Prof. Hans Ludwig Lippmann, que foi professor de psicologia da Universidade Católica de Petrópolis, disse-me uma coisa que me deixou muito pensativo: “No tempo em que o senhor era moço, a grande matéria-novidade que estava sendo descoberta, e que atraía todas as atenções, era a sociologia. Mais anteriormente, havia sido a política. E durante todo o século XIX e boa parte do século XX, a política tinha interessado todos os espíritos. São dois campos de cogitação do homem a respeito dos outros. O homem deita o melhor de seu interesse em saber como corre o espírito dos outros, não enquanto indivíduos, mas enquanto coletividade. O século XIX tinha sido o século das reformas políticas. No século XX a curiosidade pública estava dirigida para o campo social, e a sociologia eclodiu, veio à tona no momento em que ela se voltava à curiosidade pública, e nós tivemos as reformas sociais”. Devemos ter agora [nos anos 60 do século passado] um campo inebriantemente mais importante, e que vai chamando a atenção de toda a juventude: a psicologia. O homem se despolitiza, a sociologia cai de interesse, e o grande problema para ele passa a ser a própria psicologia — a psicologia dele, a psicologia do gênero humano como podendo explicar o caso pessoal; a preocupação dele consigo mesmo passa a ser a nota dominante”.

O professor não me disse, mas o curso dos acontecimentos levaria a complementar o pensamento dele da seguinte maneira: nós teríamos que passar por uma imensa reforma, não apenas do Estado nem uma reforma social, mas passaria a ser a reforma do homem. Esta reforma, cada um a sente no campo individual. E no naufrágio do homem — dentro de toda a complexidade da vida contemporânea — ele se voltaria para o problema de seu próprio naufrágio, mais do que para qualquer outra coisa.

A comparação clássica é do naufrágio de uma caravela, cujos pedaços de madeira se desprendem, ficam boiando pelo mar, e um homem se agarra a um dos pedaços de madeira para não se afogar. Depois respira um pouco, e pensa: ‘Estou protegido no momento, mas eu e essa madeira, para onde vamos? Vou ter sede, fome, cansaço, o sol vai me torrar, a noite vai me enregelar. Consegui uma pequena sobrevida, mas aonde é que eu vou parar?’.

Se alguém com uma lancha se aproximasse do náufrago, poderia dizer: ‘Vamos conversar sobre um tema que o envolve de todos os lados: oceanografia. O senhor está a tal altitude, tal longitude, e a composição química das águas nessa zona é tal, tal e tal...’. O náufrago argumentaria: ‘O senhor não percebe que eu estou com fome, sede e cansado? A composição química das águas, que leve à breca! O que eu quero é ir para dentro da sua lancha, quero comer! O senhor trouxe víveres, trouxe água?’.

Seria esta a reação natural, e muito explicável. Assim também poderia reagir o homem contemporâneo às voltas com a crise de nosso século; e as novas gerações, com suas crises cada vez mais agudas, o homem fica hipnotizado pelos problemas pessoais, e realmente muito voltado para a psicologia.

A apetência dos problemas psicológicos, devido ao naufrágio do homem contemporâneo, veio da época anterior, que era a época da sociologia; e também da época da política. Essa apetência desemboca na época em que as forças da Revolução já possuem todo um misto de enganos e descobertas para apresentar aos homens (cibernética, novidades da biologia, transpsicologia etc.) e fazê-los engolir essas descobertas.

Tais forças conduzem a uma apetência por disciplinas falseadas. Quando a apetência subconsciente eclode, as forças da Revolução agem para que o público acabe aceitando aquilo a que elas o induziram. E de repente, com uma grande transformação do homem, nós nos encontramos dentro do campo indicado pelo Prof. Lippmann sobre a psicologia.

Temos então dois modos de considerar os acontecimentos. Um é eminentemente sociopolítico, como antigamente, e consiste em querer saber como vai o mundo. O outro modo é conhecer os efeitos psicológicos dos acontecimentos.

Um modo não exclui o outro, não há contradição entre eles. Ambos devem procurar ver nos acontecimentos a confrontação, a manifestação das mentalidades e dos espíritos, na luta entre a Revolução e a Contra-Revolução.

Para isso, é preciso ter a alma bastante grande para englobar num mesmo horizonte aquilo que preocupava os homens no passado — tanto na era da política como na era da sociologia —, com o que preocupa os homens atualmente. Significa englobar as inter-relações entre as coisas como um todo, porque todos devem refletir Nosso Senhor Jesus Cristo e dar glória a Deus. 

(*) Trechos extraídos da gravação de uma reunião em 17 de abril de 1982. Sem a revisão do autor. A palavra “Revolução” é aqui empregada no sentido que lhe dá o livro Revolução e Contra-Revolução. Publicado na revista "Catolicismo", Dezembro de 2020, No. 840, Ano LXX, pags. 48 e 49. Os negritos são do site www.pliniocorreadeoliveira.info


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