Plinio Corrêa de Oliveira

 

Que frutos tirar dos "Santos do Dia"?

 

 

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 12 de janeiro de 1966

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

Hoje não há Santo do Dia, mas há o pedido de que eu responda a uma pergunta. 

Muitas vezes no Santo do Dia, fazendo o comentário das virtudes deste ou daquele santo, apresenta-se um quadro da vida espiritual que se poderia dizer mais ou menos o seguinte: a fé dirige a inteligência; a inteligência dirige a vontade; a vontade dirige toda a sensibilidade humana; e por esta forma Deus governa o home; o homem está em ordem em relação a Deus. Os grandes santos conseguiram isto por meio de raciocínio, de meditações, de exercícios inteiramente metódicos e cuidadosos, persistentes e através das lutas e sofrimentos mais extraordinários.

Eu, então, apresento essa ou aquela forma de praticar a virtude, elogiando-a altamente nos Santos do Dia, em vários comentários sucessivos. Em vista disso, alguém me fez a seguinte pergunta:

Dr. Plínio: O senhor sabe que este Santo do Dia é feito em grande parte para gente da geração nova e da geração novíssima. Ora, o senhor sabe que se a geração nova é capenga, a geração novíssima é capenguíssima. E esses santos que o senhor apresenta são o contrário da capenguice, porque eles têm uma personalidade, uma grande capacidade, uma grande força de sofrimento, um grande heroísmo e parecem que eles representam algo que a capenguice da geração nova não consegue realizar. Então, pergunto: de que adianta apresentar esses santos? Ou, que proveito podemos tirar da apresentação de santos que são tão diferentes daquilo que nós mesmos podemos fazer?” 

A primeira coisa que devo dizer é o seguinte: Deus constitui em todos os séculos da história da Igreja santos cujas virtudes são mais para admirar do que para imitar.

Quer dizer, são virtudes tão extraordinárias, tão insignes, tão além de tudo quanto se poderia imaginar, que se vê que Deus constituiu aquela virtude para que todos admirem, mas não constituiu para que todos a imitem. Um exemplo frisante é o de São Simeão Estilita. Para fugir às atrações do mundo, sobe ao alto de uma coluna e fica a vida inteira sentado, ou em pé, sobre a coluna, em atitude de oração...

Os senhores imaginem que qualquer pessoa que tivesse dificuldade com a pureza, ou com o amor-próprio, subisse a uma coluna e ali ficasse o dia inteiro rezando de braços abertos, no que isto daria... Primeiro que não haveria colunas que bastassem... Depois o número de colunas abandonadas seria colossal. É um modo de praticar a virtude deveras admirável: um homem que fica anos com os braços em cruz, rezando em pé, no alto de uma coluna e não pensando noutra coisa a não ser em Deus... Não há palavras que indiquem bastante a admiração que se deve a ele.

Mas ele fez isto – algo totalmente excepcional - para ser admirado e, não sendo desígnio de Deus que seja imitado, aquela admiração leva as pessoas a praticarem virtudes menores, ou pelo menos virtudes de um modo menos excepcionalmente heroico. Pensa-se: São Simeão pode fazer isto, quem sabe eu posso fazer menos... Admiro tanto aquilo que ele mostrou, que vou fazer menos, mas vou fazer! Não posso chegar até onde ele foi, mas quero caminhar naquela direção.

Então, São Simeão é uma espécie de precursor de milhões de almas que vão atrás dele, não para chegar até onde ele chegou, mas para de algum modo fazer aquilo que fez, pois o extremo da admiração provoca uma como que imitação. E isto é o bem para muitas almas.

Assim também os santos da velha escola para os santos da geração nova: são admiráveis e podem, produzindo admiração, convidar para lances de relativa imitação. E nesses lances de relativa imitação, fazendo um bem muito grande para a geração nova que considera isso. Esta é a primeira noção que a gente deve dar.

A segunda é a seguinte: se é verdade que esta virtude heroica, praticada como alguns dos santos do passado praticaram, não está ao alcance de nenhum homem - e ainda mesmo não está nas vias comuns da graça - também é verdade que a santidade está ao alcance de todos e ela (santidade) afinal de contas é uma. Quando alguém admira outra que se tornou santo de outra maneira, fica impelido a praticá-la da maneira como pode. Esse foi o pensamento que inundou a alma da Santa Teresinha do Menino Jesus, que foi exatamente a doutora da chamada “escola da infância espiritual”, que ela chamava “a pequena via”, que exatamente era uma prática da virtude de quem se portava diante de Deus imitando a simplicidade e humildade de uma criança.

Como uma criança, não querendo fazer coisas extraordinárias, colossais, mas apenas servindo a Deus com todo amor nas formas quotidianas e comuns da virtude. Mas nelas introduzindo um tal amor, que esse representasse verdadeiramente a santidade.

Então, colocando-se diante de Deus não como um adulto, mas como uma criança se poria com seu pai ou sua mãe; um teor que se poderia chamar quase um pouco - filial e reverentemente - sem cerimônia. E assim, ela de nenhum modo procurava ser grande diante de Deus, mas pequena, humilde e viver a confiança em Deus minuto por minuto; viver na confiança da misericórdia de Deus de um modo exacerbado e extremo, se a palavra “exacerbado” não tivesse um sentido pejorativo. Com isto precisamente, Santa Teresinha alcançou a santidade.

Ela levou sua confiança a extremos singulares. Por exemplo, tinha uma aridez contínua e ela, que era um braseiro de amor de Deus, não sentia o seu próprio amor. Sua aridez era tão grande que, por vezes, durante o ofício do coro, ela dormia. Tinha peculiaridades de temperamento, por exemplo quando uma freira que se sentava perto dela e que fazia um ruído constante com o rosário, sentia-se incomodada com isso e nem conseguia prestar atenção na oração. Era devorada por tentações contra a fé, às quais resistia de modo admirável e completo!

Levando tudo isso, tinha diante de si toda a aparência da pequenez, mas que era a inanidade, era o vácuo, mas que sabia que valia muito aos olhos de Deus! Ela então confiantemente vivia, sabendo que Deus a protegia, apesar de não o sentir. Ela explica até a figura muito bonita da águia que olha para o sol através de uma nuvem. Quer dizer, era impossível fitar o sol divino, mas ela amava muito a Deus.

Uma vez lhe perguntaram o que faria se caísse em pecado mortal. Respondeu: a misericórdia de Deus é tão grande, que retomaria a minha vida espiritual, com a alma partida de dor, bem no ponto onde o pecado a deixara e recomeçaria minha ascensão tranquilamente...

Não se pode dizer que Santa Teresinha fosse “capenga”, mas abriu a pequena via para os capengas, e lhes deu - por esta forma - na possibilidade de uma vida espiritual muito modesta e humilde, mas muito cheia de amor, a possibilidade de realizarem a seu modo, as coisas dos grandes.

Convém, portanto, conhecer as coisas dos grandes para amá-las e, na medida do que cabe a cada um, imitá-las, mas dentro da pequena via. Esta seria a razão das exposições que neste sentido se fazem nos Santos do Dia.

Nota: Para aprofundar o assunto, vide "Refutação da TFP a uma investida frustra", Volume II (Julho de 1984), Seção IV - A formação católica tradicional, proporcionada pelos santos, é uma formação viva em que, a par da doutrinação, a personalidade do mestre ou do superior, seus exemplos e seu convívio desempenham papel relevante, Capítulo VII, pág. 433 a 444.


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