Plinio Corrêa de Oliveira
Salve Rainha: a oração das almas aflitas
Santo do Dia, 24 de maio de 1965 |
|
A D V E R T Ê N C I
A O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de
conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da
TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre
nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial
disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da
Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como
homenagem a tão belo e constante estado de
espírito: “Católico
apostólico romano, o autor deste texto
se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja.
Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja
conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui
empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em
seu livro "Revolução
e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº
100 de
"Catolicismo", em abril de 1959. |
|
Hoje é festa de Nossa Senhora, Auxílio dos Cristãos. Essa invocação foi introduzida na Ladainha Lauretana por São Pio V, em comemoração da vitória alcançada contra os turcos, em Lepanto. A Festa foi instituída por Pio VII, quando voltou a Roma, depois de ter sido feito prisioneiro por Napoleão. Estamos também na novena de Nossa Senhora Rainha. Amanhã temos outra grande festa, que é a de São Gregório VII, Papa e Confessor. Termino, então, com os comentários referentes à parte final da Salve Rainha. A primeira parte, como já disse, era uma introdução; depois, uma descrição de nossa situação: “filhos degredados de Eva, gemendo e chorando nesse vale de lágrimas”. A seguir, vem a súplica: “Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei. E depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre. Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria”. Por fim, uma espécie de jaculatória, um tanto separada, que já não está no corpo da Salve Rainha: “Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo”. “Eia, pois, advogada nossa”. O “eia” é um pouco mais forte do que “eis”. Chama a atenção com uma certa violência. Isto para mostrar como toda oração é algo raciocinado. Devemos ver aqui o intuito de fazer uma coisa lógica, que tenha estrutura, substância e pensamento. Se Vós sois tudo isso e nós somos só isso, “eia, pois (as invocações), advogada nossa”. Essa expressão de Nossa Senhora como advogada retrata muito bem o papel do Reino de Maria. Isto é, pertence Àquela que não tem por missão nos julgar, mas defender nossa causa; tem por nós toda espécie de “parti pris”, uma espécie de atitude pré-concebida favorável, e que pode tudo. O réu - por pior que seja - aproxima-se de seu advogado com confiança, porque sabe que sua posição não é de julgar, mas de defender. Então, chamando Nossa Senhora de advogada, São Bernardo quis que se tivesse bem em vista tudo quanto representa a acessibilidade, a afabilidade, a bondade de Nossa Senhora em relação a todos que a Ela recorrem. “Os vossos olhos misericordiosos a nós volvei”. Isso lembra o olhar de Nosso Senhor a São Pedro. Foi uma recriminação, mas de misericórdia, que converteu a São Pedro. Nossa Senhora tem olhos de misericórdia e um Seu olhar pode nos salvar. Mas aqui, propriamente, não se está pedindo esse olhar; o sentido é um pouco diferente. Quer dizer, “olhai a miséria de nossa situação; atendei a penúria em que estamos. Tende pena de nós, Vós que sois nossa advogada”. Vemos que é uma coisa altamente lógica, mas patética, indicando a mais alta aflição, para que a Salve Rainha fosse a oração das almas aflitas. “...a nós volvei”. Por que esse “volvei”? Isso supõe que os olhos de Nossa Senhora não estão volvidos para nós? Os olhos de Nossa Senhora estão voltados para os que A chamam. É preciso pedirmos, invocarmos, insistirmos, para que os olhos dEla se voltem para nós. Então, é esse o efeito da oração. Insistentemente pedir para que Ela olhe para nós. “E depois desse desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto do Vosso ventre”. Quer dizer, depois do desterro, dai-nos a glória que queremos, isto é, a salvação eterna; dai-nos a alegria de ver Jesus e dEle nos ver. E a oração termina com uma expressão que parece um badalar de sinos: “ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria”. Depois de insistir nessa ideia “misericordiosa, misericordiosa, misericordiosa” as idéias quase que se equivalem; são vários modos de dizer a mesma coisa. Vós sois clemente, vós sois piedosa. Clemente e piedoso o que são? Uma coisa dá mais ou menos a outra. “Ó doce sempre Virgem Maria”. Por que esse “doce sempre?” Porque Nossa Senhora, mesmo quando tem razão de estar desgostosa, Ela é doce. É doce para conosco em todas as circunstâncias e ocasiões. E essa confiança nessa doçura invariável, nesse perdão perpétuo que nos é dado em todos os casos e em todas as circunstâncias, esse é o pensamento que essas considerações mais inculcam na alma: “o clemens, o pia, o dulcis Virgo Maria”. Depois, “rogai por nós, Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo”. É o que sempre se pede à Mãe de Deus. Termina aqui o comentário da Salve Rainha. Os senhores veem aí um elemento em que insisto muito: a alma moderna, muito atribulada, tratada com muita rudeza pela atual tirania do demônio, tem uma certa dificuldade em se capacitar do que é a misericórdia. Tanto mais que a “heresia branca” explora a ideia da misericórdia de um modo idiota e adocicado, apresentando-a como uma espécie de cumplicidade com o erro. Mas a misericórdia não consiste em ter uma condescendência vil para com quem está errado, a não ser no sentido de que lhe pode dar meios de sair do erro. É um convite para sair do erro, do pecado e do mal. E nesse sentido a misericórdia é realmente misericórdia. E que a misericórdia de Nossa Senhora é sem palavras! E devemos, em nossas orações de hoje, pedir a Nossa Senhora: em todas as aflições, dificuldades de nossa vida, que nos dê a graça de nunca duvidarmos do auxílio que Ela nos dará. Segunda graça: que nos faça o favor de alcançar que obtenhamos para aqueles que desejamos que tenham a graça de comunicar também essa confiança. E sermos apóstolos dessa confiança, dessa certeza da bondade de Nossa Senhora, verdadeiramente inabalável. Essas seriam as duas graças que sugiro que se peçam hoje. |