Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Custos, Quid de Nocte?

 

 

 

 

 

 

TFP Newsletter, Special Issue – 1985 (edição em português)

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O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira dirige-se aos participantes do Encontro de Correspondentes da TFP norte-americana, realizado no Estado de Nova York, nos dias 12, 13 e 14 de outubro de 1985:

Ilustre Presidente, ilustres membros da Diretoria, prezados sócios, caros cooperadores e correspondentes da TFP Americana:

Saudo-vos calorosamente neste momento da abertura do vosso grande Encontro durante o qual devereis debater temas tão importantes não só para vós e para o vosso grande e belo país, mas tam­bém para o destino de toda a humanidade.

Estudareis a crise contemporânea, tal como ela é nos Estados Unidos; depois vereis como é essa crise no resto do mundo. Finalmente estudareis o relacionamento entre esses dois aspectos da crise para for­mar uma visão geral dos enormes proble­mas com os quais a TFP tem de lidar na sua missão específica de lutar contra o comunismo e de defender os valores da civilização cristã e da Igreja — a tradição, a família e a propriedade — tendo em vista o cumprimento desta missão dentro da grande borrasca que cada vez mais se acentua.

Felicito-vos por haverdes demonstrado profundidade de espírito, verdadeiro e desinteressado desejo de servir. Na pros­peridade dos Estados Unidos, no estilo de vida fácil do norte-americano, na fruição desse poder universal que a Providência colocou nas mãos de vosso país — talvez em proporções maiores do que em qualquer outro país no passado — em circunstâncias tão favoráveis que vos podem adormecer, embalados pelas vantagens da prosperidade material, precisamente neste momento vos juntais para perguntar uns aos outros: "Custos, quid de nocte?"

Cada um de vós desempenha o papel de urna sentinela da Causa Sagrada à qual se dedicou e que percorre o vasto sistema de muralhas, cuja defesa está a seu cargo, para perguntar o que acontece durante a noite. E assim vos encontrais uns aos outros, vos tratais como guardas e vos perguntais, nesta noite que baixa sobre o vosso país, nesta "boa-noite" do mundo contemporâ­neo: "ó guarda, meu colega, meu amigo, meu irmão, ó guarda, o que há de novo nes­tas trevas?"

Ao fazerdes uma análise detalhada da situação do mundo de hoje, perguntar-vos-eis com firmeza, com coragem, sem pusilanimidade, olhando de frente o futuro diante do qual quis a providência que vós o vivêsseis, até onde ele vos conduz e qual é o vosso dever. Não cedereis, estou certo disso, porque conheço vosso pensamento e conheço vossas obras; não cedereis a ne­nhum pessimismo vão e doentio, não cede­reis a nenhum derrotismo, evitareis com todo o cuidado essas omissões veladas que tantas vezes, ao longo da história da Revo­lução e da Contra-Revolução, têm marcado as derrotas dos bons. Vós quereis saber onde estão os problemas porque quereis estar presentes. E é para ir para o campo do Dever que vós perguntais: "Custos, quid de nocte?" Ó guarda, ó guarda, o que se passa durante a noite?

Que Nossa Senhora vos ajude com a Sua celestial e omnipotente intercessão junto a Deus, que dEla recebe sempre, com agrado, todos os pedidos. Que Ela vos ajude e que Ela vos assista nesses traba­lhos. Que Ela vos favoreça com aquele espí­rito de valentia, de garbo, de dedicação, de coragem e de constância que deve caracterizar os verdadeiros católicos apostólicos romanos. Uma coragem que hoje não precisa de ser, pelo menos no momento atual, uma coragem de corpo, mas sobretudo uma coragem de alma, uma coragem para ver tantos desabamentos, para ver que, no próprio interior do Santuário, do Lugar Santo — é-se tentado a dizer — não está longe de se sentar a abominação da desolação. E aí olhar com coragem as circunstâncias e lembrar a promessa de Deus, de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nada poderá desmentir: "Tu és Pedro, e sobre esta Pedra Eu edificarei a minha Igreja, e as Portas do Inferno não prevalecerão contra Ela". Certos, portanto, da indestrutibilidade dessa Igreja, que é corroída até por germes internos, em pontos e em proporções trágicas, nunca conhecidas em circunstâncias anteriores, vós tereis essa coragem que se chama humildade, confiança na Providência Divina, vontade de dar-se e de sacrificar-se, de imolar-se e de cumprir o dever total, pelo desejo de servir a Deus e a Nossa Senhora.

De antemão, portanto, me regozijo com os resultados do vosso Encontro, os quais serão benfazejos para o vosso grande país. Já este é um grande fruto. Mas, além disso, também esses resultados serão benfazejos para todo o Mundo, em virtude da irradia­ção que a influência norte-americana tem sobre as três Américas e sobre o resto do Mundo. Serão para o vosso país fecundos em frutos de seriedade, de resolução e de firmeza, no momento em que por aí, como também por toda a parte, a guerra psico­lógica desencadeada por Moscou — e à qual nós chamamos Guerra Psicológica Revolucionária — tem feito, no seio de vosso próprio país, tantas tentativas para vos levar a concessões, a bem dizer suicidas.

Tendes a dois passos de vós o caso da Nicarágua. E tendes também o caso perene de Cuba. Vós presenciais, ó Norte-Americanos, a contínua tentativa de infiltração dos comunistas russos na América do Sul; e já não tão longe da Nicarágua, na vizinha Colômbia, vedes o perigo de uma transformação brusca da situação e de uma agressão violenta do comunismo por meio de uma guerrilha que se vai transformando numa guerra mas que de vez em quando desaparece, eclipsa-se e toma ares de paz.

Enquanto isto se passa, na Venezuela — banhada pelas mesmas águas do Caribe, que banham o vosso litoral — tendes um governo que vai cada vez mais claramente manifestando os seus objetivos esquerdistas. Tendes depois, pelas vastidões da Amé­rica do Sul, incluindo o meu querido Bra­sil, tantos e tantos outros fatores que levam a pensar nas duras provas que toda a Amé­rica vai enfrentar este ano, e no dever que cabe a vós e à vossa Nação de ajudar todos aqueles que nessas provas lutarem pela Igreja e pela Civilização Cristã.

Os dias que se aproximam igualmente convidam a outro tipo de reflexão, mas também de ação. João Paulo II vai convocar, das eminências do Vaticano, um Consistório de todos os Cardeais do mundo para deliberarem sobre o regime da Igreja. E, pouco tempo depois, ele fará a reunião augusta do Sínodo representativo de todos os Bispos para deliberar a respeito dos 20 anos de prática do Concílio Vaticano II. Rezemos para que, nessas circunstâncias, o Pontífice e todos aqueles que com ele rezarem e estudarem, sejam iluminados de modo especial pelo Divino Espírito Santo, pois que — virem-se as coisas como se vira­rem e aconteçam como acontecerem — mais do que qualquer potência terrena, o destino do Mundo depende do Trono de São Pedro.

É dali, daquela altura, que partem as ordens, partem os lances de sabedoria e de santidade, partem as disposições acertadas que podem salvar os homens. Infelizmente também podem partir as omissões, podem partir todos os coeficientes de miséria humana que Deus consentiu e que, sem abalarem o Divino caráter da Sua Santa Igreja, nem a existência dEla, entretanto podem pontilhar com pontos escuros alguns episódios da sua História. Rezemos, meus caros, para que nessas circunstâncias o Divino Espírito Santo assista especialmente a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

A presença entre vós de um personagem ilustre, cujo talento eu admiro, de cuja virtude eu tenho notícias bem exatas por um amigo comum que nos é muito caro, chamado João Clá Dias, a presença do grande Teólogo Pe. Victorino Rodriguez, me é especialmente cara e à distância eu lhe presto a homenagem da minha admiração e da minha simpatia.

Aproveito também para saudar aquele Sacerdote, aquele Cônego [José Luis Villac], aquele modelar diretor de almas que, na sua juventude, eu acompanhei certa vez ao Altar. Que dia de alegria, que dia de satisfação aquele em que eu fui padrinho da sua Ordenação Sacerdotal! Quantos anos transcorridos de lá para cá, numa colaboração harmoniosa, contínua e tão fecunda em frutos e resultados!

Como não apresentar a ele — que é, junto com o Pe. Victorino Rodriguez, um ornamento da reunião que fareis — os meus cumprimentos e as minhas homenagens!

A vós todos, meus caros, sobretudo às senhoras cuja presença realça em brilho a vossa reunião, a vós todos as minhas melhores saudações!


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