Plinio Corrêa de Oliveira

 

Brasil e China:

um encontro de dois colossos que,

apesar de tudo, têm um grande futuro

 

 

 

 

 

Auditório do São Paulo Clube, 13 de novembro de 1972

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O Embaixador da China Nacionalista [Formosa], sr. Fu-Sung Chu, profere, no auditório do São Paulo Clube, na capital paulista, concorrida conferência [vide trechos da mesma mais abaixo]. O diplomata discorre sobre problemas do Extremo Oriente, e especialmente sobre a situação na China Livre e na China comunista.

Discurso do Prof. Plínio

Minhas senhoras, meus senhores, depois de termos ouvido essas respostas expressivas e sobretudo a bela conferência realizada pelo Embaixador da China [Nacionalista, Formosa], a respeito dos problemas atinentes ao Extremo Oriente e a respeito da expansão comunista no Extremo Oriente, cabe-me pronunciar apenas umas pequenas e breves palavras de encerramento.

Essas palavras, a meu ver, não podem deixar de assinalar o fato digno de nota que nós podemos apalpar aqui nesta mesma sala.

Já ontem na Catedral, durante a missa celebrada por Dom Antônio de Castro Mayer, tive ocasião de sentir este fenômeno, mas no convívio desta noite eu o sinto ainda de um modo mais vivo. Nós temos aqui numa mesma sala, a bem dizer, representado o mundo inteiro.

Nós ouvimos a palavra de um diplomata chinês, nós temos aqui representantes de todas as nações cativas, nós temos aqui brasileiros não só de velha cepa, descendentes do bom tronco antigo luso, mas brasileiros que têm em seu sangue mais ou menos de todo mundo, nós podemos dizer que a nossa assembleia tem um caráter marcadamente internacional.

Mas não é só apenas por nossa inserção no tronco da brasilidade que nós somos um aqui, nós somos por uma razão de ordem ainda mais elevada. É que nós todos nos sentimos em atitude de vigilância, em atitude de oposição, em atitude de luta diante de um mesmo adversário que revolve o mundo inteiro e constitui um perigo verdadeiro para as nações mais distantes do globo. Este adversário que de tal maneira sacode o Universo, e que de tal maneira multiplica os problemas angustiosos em toda a nação da terra, vós bem o sabeis, esse adversário é o comunismo internacional.

Eu sublinho aqui a palavra internacional para dar a entender que nesta grande obra de deterioração ideológica e moral que o comunismo vai levando a cabo no mundo inteiro, ele pensa que vence os desígnios da Providência, ele pensa que prepara um dia de amanhã, ele realmente contribui para preparar um dia de amanhã, mas ele não consegue vencer os desígnios da Providência que se vão realizando sem ele, e até contra ele.

De todos os modos vai ele aglutinando qualquer corrente de opinião, qualquer feitio de mentalidade, que tem algo de afim com ele, ele vai criando uma imensa frente única da deterioração e da decadência rumo ao abismo. Mas ele vai criando também uma reação, ele vai criando por contragolpe a imensa frente única de todos os que se opõem a ele; esta frente única não é apenas uma reação, é uma seleção.

Todos aqueles que têm valor, que têm fibra, que têm princípios, para dizer “não” ao terrível adversário, vão-se unindo por cima das distâncias, vão-se unindo por cima das fronteiras, e vão constituindo esta mole enorme de pessoas que enfrentando o perigo e enfrentando a pressão publicitária, cônscias de uma opinião que a propaganda  não consegue amoldar, cônscias de verdades às quais querem ficar fiéis, em todas as circunstâncias, e até na efusão do próprio sangue, vão elas formando uma imensa família espiritual. Família espiritual sobre a qual pairam os desígnios da Providência porque, para além dos dias de hoje, para além talvez do dia de amanhã, para além dos escombros desta era, é desta elite, desta seleção que soube dizer “não”, que soube não se deixar narcotizar pela propaganda, que soube definir um pensamento sadio diante da súmula de todas as corrupções, de toda a deterioração que é o comunismo internacional, é esta imensa mole de gente selecionada que vai ser a base do mundo de amanhã.

Nós temos aqui neste convívio exatamente elementos tirados de todas as partes do mundo aonde se reage, aonde se diz “não”, nós temos aqui como que um mostruário das pedras fundamentais do dia de amanhã. Essas pedras fundamentais reunidas em torno de uma pedra de ângulo.

O senhor Embaixador começou a dizer, na sua conferência, que o emocionava a trilogia tradição, família, propriedade. E particularmente foi pungente a sua expressão de voz quando ele dizia que tantos de seus contemporâneos há tanto tempo não sabem o que é uma família.

É bem este um denominador comum de todos os que reagem, de todos os que resistem contra o comunismo internacional: nós afirmamos a necessidade de uma tradição que varia de país para país, e deve variar de país para país, porque nós concebemos a ordem internacional não como uma liquidação das nações, mas como um conjunto harmônico de nações que continuam idênticas a si mesmas e com suas verdadeiras características.

Nós consideramos que a família é a base de todas as sociedades, sejam elas quais forem, em quaisquer latitudes, e que a propriedade individual é o corolário natural da família, é a afirmação, é a projeção da pessoa humana sobre a ordem patrimonial, como a família é a projeção da pessoa humana sobre a ordem afetiva e sobre a grande tarefa que o homem realiza multiplicando-se e enchendo toda a terra.

Nós assim nos sentimos um nesta noite, mas nós nos sentimos particularmente um num ponto: é que desta ordem futura, dois povos entre outros emergirão como gigantes: para além das provações a China emergirá como um gigante do dia de amanhã, pela sua tradição, pela sua cultura, pela imensidade de seu território, pelo seu papel na Ásia.

Vai emergindo desde já, como um gigante do dia de hoje, e do dia de amanhã, o nosso querido Brasil, pela sua tradição, pelos germens que tem de uma cultura que já se firmou e que é capaz de deitar grandes raízes para o futuro, por tudo aquilo quanto o Brasil representa, para este torrão de ouro do mundo que é a América Latina.

Nessas condições, nesse encontro de dois colossos do dia de amanhã, nós saudamos a era que vem. A era que vem que é simbolizada por esta imagem que nós colocamos aqui presidindo o auditório, é o Reino de Maria.

É com os olhos posto no Reino de Maria e no dia de amanhã, que, agradecendo ao senhor Embaixador a sua bela conferência, agradecendo ao Sr. Governador do Estado na pessoa do seu digno representante, sr. Paulo Macedo, o seu honroso comparecimento a esta reunião, agradecendo aos Revmos. Srs. Sacerdotes, aos distintos militares, às senhoras aqui presentes a sua afluência, eu declaro encerrada esta sessão.

(palmas)

*     *     *

Catolicismo, n. 265, janeiro de 1973, pág. 3

Conferência do Embaixador chinês

A convite da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, o Embaixador Fu-Sung Chu discorreu sobre problemas do Extremo-Oriente, e especialmente sobre a atual situação da China comunista e da China livre, em conferência realizada perante numeroso público no auditório do Club São Paulo, na noite de 13 de novembro. O Governador do Estado fez-se representar pelo Sr. Paulo Macedo de Souza.

Falando em inglês, advertiu o orador: "Desde a alteração da política norte-americana em relação à China, a situação mundial mudou tanto, que até os comunistas chineses tiveram que fazer reajustes necessários na condução de sua política exterior. Suas tratativas com os EUA e o Japão são parte desta mudança que representa uma acentuada alteração tática. O fato de estarem tratando com dois de seus maiores inimigos não significa qualquer modificação de sua política básica. Isto é o que é chamado pelos comunistas de tática simultânea "da associação e da contestação". Eles podem estar tratando com o Japão e os EUA, mas não têm moderado em nenhum grau seu ritmo de infiltração e atividades subversivas nessas duas nações, como também em outros países do mundo livre".

"Estamos fazendo o máximo na luta contra o comunismo — prosseguiu o diplomata chinês — mas nosso trabalho é somente uma parte da grande luta mundial. Para derrotar a conspiração comunista, as nações livres do mundo devem também preparar um amplo programa e uma estratégia coordenada, tanto militar como política".

E mais adiante:

"A atividade comunista intensificada nas Filipinas, nestes últimos meses, com forte apoio dos comunistas chineses, é uma inegável prova da intervenção de Peiping nos assuntos internos dos outros países. É um exemplo típico de subversão comunista.

Há ainda um relatório da crescente atividade de espionagem dos comunistas chineses na França. A conhecida revista "Paris-Match" relatou recentemente que eles têm apoiado a abertura de mais restaurantes chineses naquele país, pois que os restaurantes constituem uma cobertura clássica para espiões. A revista declara que os comunistas chineses estão mandando 4 mil agentes de inteligência para a França".

"Tenho repetidamente feito advertências a respeito da atitude de fechar os olhos ao verdadeiro caráter do comunismo — acrescentou o Sr. Fu-Sung Chu — porque não desejo ver nenhum de nossos amigos tão profundamente enganados a ponto de se entregarem avidamente à ideia de que os comunistas chineses abandonaram suas intenções subversivas e agressivas. Também tenho declarado com insistência que eles têm um programa geral para a agressão e a subversão. Estão jogando com a fraqueza do mundo livre, sabendo que podem contar com a desunião e com a falta de solidariedade por parte deste".

Depois de afirmar que o comunismo "na origem, na filosofia e na prática é contrário ao espírito chinês", o Embaixador da República da China frisou que "não devemos cair no engodo de que o que acontece no Vietnã, na Coréia e nas Filipinas não é de nossa alçada. Ao contrário, aqueles fatos nos dizem muito respeito, porque o que acontece lá, ainda que longe, certamente afetará o futuro de todos nós".

"O mínimo — concluiu o orador — com que cada país do mundo livre poderia contribuir para esse combate comum seria dispensar-nos, a nós que estamos no front da luta, o apoio moral de que necessitamos, não ajudando o nosso inimigo".

Visita à TFP

No dia 13, pela manhã, o diplomata chinês visitou a sede do Conselho Nacional da TFP, à Rua Maranhão, n.º 341, onde foi recebido pelo Presidente, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, e pelos Conselheiros. Em seguida, os diretores da entidade ofereceram ao Sr. Fu-Sung Chu um almoço no Automóvel Club.


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