"Catolicismo", n° 403, Julho de 1984 (www.catolicismo.com.br)

Ocidente é o filho pródigo da Igreja que começa a ter saudades da casa paterna

NO ENCERRAMENTO do III Encontro de Correspondentes e Simpatizantes da TFP, em conferência pública para quase duas mil pessoas, no auditório do Clube Espéria, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, analisou a seguinte questão que, na aparência, indica uma situação contraditória: se é verdade que o mundo atual se encontra num acelerado processo de desagregação revolucionária, como se explica a crescente receptividade que a TFP vem encontrando?

Essa conferência forma um conjunto com a de abertura do Encontro, também pronunciada pelo ilustre pensador católico, e na qual discorreu a respeito da sombria situação em que se encontram os vestígios da civilização cristã. Salientou ainda: o decisivo na situação de hoje é que, ao contrário do que sucedia outrora, a reação é cada vez mais frouxa diante do mal.

Julgamos oportuno apresentar a nossos leitores trechos significativos da conferência de encerramento do III Encontro, proferida no dia 23 de junho último.

"Diante desta desordem universal e caótica, que é mais terrível sob vários aspectos do que a desordem do mundo antes de Nosso Senhor Jesus Cristo nascer, diante dessa desordem, que luzes de esperança há, que perspectivas de trabalho há para a TFP?" - Com esta pergunta inicial, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira enunciou o tema de sua exposição.

"Seria preciso - continuou - toda uma complexa e delicada exposição sobre o que é a psicologia do homem que caiu em pecado, ou das nações, das multidões que caíram no pecado, e que caíram muito fundo, para fazer compreender que, mesmo nas ocasiões mais extremas e nas situações piores, há algumas possibilidades de falar a essas almas. E que, mais ainda, por algo que não tem nada de contraditório, mas que é fortemente paradoxal, acontece que, às vezes, é quando o mal vai atingindo o seu ápice que as possibilidades do bem se averiguam maiores".

Parábola do filho pródigo

"E, uma vez que nós falamos em mal, uma vez que nós falamos em homens que rolam e despencam pelos abismos da impiedade ou da corrupção - prosseguiu o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira - vem ao espírito a encantadora, a profunda, a sublime parábola do filho pródigo". Estabelecendo uma analogia de situações com "a civilização ocidental, tão laicizada e tão depravada, mas ainda trazendo algumas marcas luminosas da sua origem cristã", perguntou: "Não é ela bem exatamente uma filha pródiga do Evangelho? Como houve tempo em que ela habitava a casa paterna! A casa paterna, neste sentido, a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, nos felizes tempos da Idade Média".

Depois de recordar a história do afastamento da Cristandade medieval através das revoluções protestante, francesa e comunista e, em nossos dias, da revolução anarquista que é um desdobramento da comunista, o ilustre conferencista asseverou que "aconteceu com o mundo moderno o que aconteceu com o filho pródigo: ele dilapidou, nas cidades do pecado e do erro, ele dilapidou sua herança. Tudo quanto recebeu se transformou para ele num peso que não podia mais suportar. Carregado, vergado sob esse peso ele começou a sofrer... "

"E, então, sob o peso dos acontecimentos que o oprimiam ali, e por causa disso, o filho pródigo teve saudades da casa paterna", prosseguiu o insigne orador, para depois perguntar se "a receptividade que se abre para a TFP em tantos lugares não representa esse estado de virada da opinião, da alma do homem ocidental, em que ele começa a sofrer mais do que nunca da desordem contemporânea".

Davi com Golias

Depois de analisar outros aspectos da situação de alma em que se debate o homem contemporâneo e de salientar que a ação da misericórdia de Deus está presente mesmo quando a justiça divina castiga, o orador leu e comentou detalhadamente outro exemplo bíblico ilustrativo - a luta de Davi com Golias - para mostrar como Deus termina concedendo a vitória aos que lutam pela causa do bem.

E chegando ao termo de sua exposição, acentuou que esse "é o desfecho daqueles que, nas ocasiões de muita dificuldade, nas ocasiões de muita angústia, muita aflição para a causa do Bem, ou seja, para a causa da Igreja, vão para frente, não se incomodam com nada, enfrentam qualquer coisa, confiantes na misericórdia de Deus, no auxílio de Deus, na intercessão de Nossa Senhora".