Capítulo VII


RUMO AO REINO DE MARIA

 

 

1. O caos do fim do milénio

 

 

 

 

 

 

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"Para além da tristeza e

das punições supremamente prováveis

para as quais caminhamos,

temos diante de nós os clarões sacrais

da aurora do Reino de Maria!" 

O Século XX, que se abriu num clima de confiança optimista no futuro, encerra-se numa atmosfera de incerteza e de confusão. A palavra "caos", frequentemente usada por Plínio Corrêa de Oliveira para indicar a meta anárquica da Revolução, tornou-se, a partir dos anos 90, de uso corrente na imprensa e nas próprias conversas miúdas do homem da rua, para indicar uma total falta de clareza e de pontos de referência. A euforia com a qual o Ocidente acolhera o fim da guerra fria, a libertação dos países do Leste europeu, a reunificação da Alemanha, seguiu-se um sentimento cada vez mais difuso de preocupação e de inquietude (1).

Descrita por Plínio Corrêa de Oliveira com 40 anos de antecedência em Revolução e Contra-Revolução, a "crise" parece chegar à sua maturação final. Nunca, na História, a humanidade pareceu estar tão distante do modelo ideal da Civilização Cristã indicado pelo Magistério Pontifício.

O século que se encerra, afirmou no início do seu Pontificado João Paulo II, "foi até agora um século de grandes calamidades para o homem, de grandes devastações, não apenas materiais, mas também morais, aliás talvez sobretudo morais" (2). Na sua Encíclica Evangelium Vitae, o Papa insistiu nesta avaliação sobre o nosso tempo: "O século XX virá a ser considerado uma época de investidas maciças contra a vida, de uma interminável série de guerras e de um massacre permanente de vidas humanas inocentes" (3). Este juízo opõe-se diametralmente àquele outro cheio de optimismo que tinha saudado a aurora do século, ao ritmo do ballet Excelsior. O século XX não será recordado como a era triunfal do progresso, mas como a dos sacrifícios humanos em massa e da barbárie tecnológica. A internacionalização das guerras, o nascimento do universo concentracionário, o aborto em escala mundial, são expressões diversas mas coincidentes do grande holocausto que este século fez ao culto da modernidade (4).

Sucede ao "sonho de construção" de um novo mundo que entra hoje em ocaso, um "sonho de destruição" que investe contra o edifício da modernidade, para abatê-lo a partir dos alicerces (5). Falida a pseudo "ordem nova" propugnada pelos totalitarismos, o mundo precipita-se numa "nova desordem mundial" na qual a marcha auto-destrutiva da Revolução parece encontrar a sua consumação definitiva. "Caos e modernidade são dois conceitos que se vão aproximando cada vez mais, até ao ponto de fundir-se" (6).

As grandes escolas filosóficas nascidas com a Revolução francesa –a hegeliana, a positivista, a marxista– revelam-se incapazes de compreender o sentido dos acontecimentos e de prever o seu rumo. A crise da ideia de progresso desmascara a impostura de uma filosofia profana da história, que se opõe à doutrina cristã. A teologia cristã da história, que está na base do pensamento contra-revolucionário, volta hoje a aparecer em todo o vigor e actualidade. 

Notas:

(1) Hoje, segundo Inácio Ramonet, "pode-se efectivamente falar de ‘geopolítica do caos’ para definir este período que o mundo atravessa" (La planète des désordres, no número dedicado à geopolítica do caos in "Manière de voir 33 – Le Monde diplomatique", Fevereiro de 1997). Já desde 1991 no "Corriere della Sera" o seu director, Ugo Stille, num editorial com o significativo título "A desordem mundial" escrevia: "O ano de 1990 tinha-se inaugurado sob o signo da esperança e do optimismo. Pelo contrário, 1991 apresenta-se como um ano difícil, cheio de incógnitas e de perigos, sobre um fundo de turbulência e de confusão" (U. STILLE, Il disordine mondiale, in "Corriere della Sera", 2 de Janeiro de 1991). Dentre a nova literatura sobre o tema, cfr. Pierre LELLOUCHE, "Le nouveau monde. De l'ordre de Malta au désordre des nations", Grasset, Paris, 1992; Gianni STATERA, Roberto GRITTI, "Il nuovo disordine mondiale", Franco Angeli, Milão, 1994; Alberto CAVALLARI, "L'Atlante del disordine. La crisi geopolitica di fine secolo", Garzanti, Milão, 1994. "O exame mais superficial da realidade –escrevia em 1992 Plínio Corrêa de Oliveira–coloca em evidência que a palavra `caos' tornou-se uma palavra da moda" (Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Os dedos do caos e os dedos de Deus", in Catolicismo, n° 499 (Julho 1992).

(2) João Paulo lI, Encíclica Redemptor Hominis de 4 de Março de 1979, n° 17.

(3) João Paulo II, Encíclica Evangelium Vitae de 25 de Março de 1995, n° 17. Este juízo reitera o já pronunciado pelo Pontífice em 14 de Agosto de 1993 em Denver, por ocasião da VIII Jornada Mundial da Juventude (AAS, vol. 86,1994, p. 419).

(4) Os primeiros a demolir este mito são hoje os seus próprios fautores. Cfr. por exemplo o livro do conhecido historiador marxista inglês Eric HOBSBAWM, "The Age of the Extremes. The short Twentieth Century, 1914-1991", Penguin, Londres, 1994.

(5) R. DE MATTEI, "1900-2000. Due sogni si succedono", cit., p. 11-28. Sobre a nova "teoria do caos" cfr. também Jean-Luc MÉLANCHON, A la conquête du chaos, Denoél, Paris, 1991; James GLEICK, Chaos, Heinemann, Londres, 1989.

(6) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Os dedos do caos e os dedos de Deus", cit.

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