11. Verdadeiro e falso ecumenismo
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A mentalidade "irenista" de transigência para com o erro é típica de uma disposição psicológica utópica que aspira a uma era sem contrastes nem polémicas. Plínio Corrêa de Oliveira demonstra, em "Baldeação ideológica inadvertida e Diálogo", que no plano religioso o diálogo irenista favorece o interconfessionalismo, debilita todas as religiões e lança-as numa situação de confusão absoluta. "Convém distinguir desde logo duas formas de ecumenismo. Uma procura - com o fim de encaminhar as almas ao único redil do único Pastor - reduzir quanto possível as discussões puras e simples e as polémicas, em favor da discussão-diálogo e das outras formas de interlocução. Tal ecumenismo tem ampla base em numerosos documentos pontifícios, especialmente de João XXIII e Paulo VI. Mas outra modalidade de ecumenismo vai além e procura extirpar das relações da Religião Católica com as outras religiões todo e qualquer carácter militante. Esse ecumenismo extremado tem um fundo evidente de relativismo ou sincretismo religioso, cuja condenação se encontra em dois documentos de São Pio X, a Encíclica Pacendi contra o modernismo e a Carta Apostólica Notre Charge Apostolique contra o Sillon" (97). Admitindo que todas as religiões sejam "verdades" relativas, que se relacionam entre si dentro de um esquema dialéctico hegeliano, este segundo tipo de ecumenismo empurra as almas em direcção a uma religião única e universal: a artificiosa e falsa "religião do homem". "O ecumenismo extremado produz não só entre os católicos como também entre os irmãos separados, sejam eles cismáticos, hereges ou outros quaisquer, uma confusão trágica, por certo uma das mais trágicas do nosso século tão cheio de confusões. Não há hoje, com efeito, maior perigo no terreno religioso do que o relativismo. Ameaça ele todas as religiões, e contra ele devem lutar tanto o genuíno católico, quanto qualquer irmão separado que professe seriamente a sua própria religião. E tal luta –vista sob este ângulo– só pode ser levada a efeito por um esforço de cada qual para manter o sentido natural e próprio da sua crença, contra as interpretações relativistas que a deformam e solapam. O aliado do verdadeiro católico, nessa luta, será por exemplo o judeu ou o muçulmano que não deixe pairar a menor dúvida, não só sobre o que nos une, como sobre o que nos separa. É a partir desta tomada de atitude que o relativismo pode ser expulso de todos os campos em que procura entrar. Como é só a partir dela que a interlocução, nas suas várias modalidades, até mesmo a discussão pura e simples e a polémica, pode contribuir para levar os espíritos à unidade. As boas contas fazem os bons amigos, diz um provérbio. Só a clareza no pensar e no exprimir o que se pensa, conduz verdadeiramente à unidade. "O ecumenismo exacerbado, tendendo a que cada qual procure ocultar ou subestimar os verdadeiros pontos de discrepância em relação aos outros, induz a um regime de 'maquillage', que só pode favorecer o relativismo, isto é, o poderoso inimigo comum de todas as religiões" (98). Notas: (97) Ibid., pp. 85-86. (98) Ibid., pp. 87. "Não compreendo -escreveria dez anos mais tarde o pensador brasileiro, por ocasião da visita de João Paulo II ao templo luterano de Roma– como homens de Igreja contemporâneos, inclusive dos mais cultos, doutos ou ilustres mitifiquem a figura de Lutero, o heresiarca, no empenho de favorecer uma aproximação ecuménica, de imediato com o protestantismo, e indirectamente com todas as religiões, escolas filosóficas etc. Não discernem eles o perigo que a todos nos espreita, no fim deste caminho, ou seja, a formação em escala mundial, de um sinistro supermercado de religiões, filosofias e sistemas de todas as ordens, em que a verdade e o erro se apresentarão fraccionados, misturados e postos em balbúrdia? Ausente do mundo só estaria - se até lá se pudesse chegar - a verdade total, isto é, a Fé católica, apostólica, romana, sem nódoa nem mácula (Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Lutero pensa que é divino", in Catolicismo, n° 398, (Fevereiro 1984). |