Capítulo IV
12. Ambientes, costumes, civilizações
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Em "Revolução e Contra-Revolução", Plínio Corrêa de Oliveira escreveu que "Deus estabeleceu misteriosas e admiráveis relações entre certas formas, cores, sons, perfumes, sabores, e certos estados de alma, é claro que por estes meios se podem influenciar a fundo as mentalidades e induzir pessoas, famílias e povos à formação de um estado de espírito profundamente revolucionário” (104). Esta passagem é fundamental para compreender a peculiar contribuição de Plínio Corrêa de Oliveira ao mensário Catolicismo na secção "Ambientes, Costumes, Civilizações", cujo extraordinário alcance nem todos compreenderam. O ambiente é a resultante da afinidade de vários seres reunidos num mesmo lugar e que, por sua vez, exerce profunda influência sobre os homens. "Os homens formam para si ambientes à sua imagem e semelhança, ambientes em que se espelham os seus costumes e a sua civilização. Mas a recíproca também é, em larga medida, verdadeira: os ambientes formam à sua imagem e semelhança os homens, os costumes e as civilizações" (105).
Uma prova da importância do ambiente para o desenvolvimento equilibrado da vida natural e sobrenatural é constituída pela sabedoria com a qual Deus ordenou o grande ambiente da criação no qual estamos imersos, formado pelos seres vivos que nos circundam: plantas, animais e, no ápice, o homem, imagem e semelhança de Deus. Neste sentido, a interpretação e os comentários das fisionomias dos homens exponenciais, Santos ou revolucionários, constituíram uma nota constante do pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira. Com efeito, o modo de ser de um homem exprime-se na fisionomia, no porte, no trato e também nos trajos, cuja mudança ao longo da História está ligada à mudança das personalidades e dos tipos humanos (106). "A sociedade, por assim dizer –afirmou Pio XII– fala com o trajo que veste; com o trajo revela as suas secretas aspirações e disto se serve, pelo menos em parte, para edificar ou destruir o próprio porvir" (107). "Se o trajo deve estar de acordo com quem o usa, e com a circunstância em que é usado –nota por seu lado o pensador brasileiro–, é bem de ver que no homem eminente deve harmonizar-se com o destaque que esse homem alcançou. Mas Deus não tem por filhos tão somente os homens eminentes. Qualquer criatura humana, por mais modesta que seja, tem uma dignidade própria, natural e inalienável. E maior ainda, incomensuravelmente maior, é a dignidade do último, do mais apagado dos filhos da Igreja, como cristão, isto é, como baptizado, como membro do Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo" (108). Isto vale para a arte, para o urbanismo, para a arquitectura, que resultam de um conjunto de ideias, tendências, aspirações e atitudes psicológicas (109). Plínio Corrêa de Oliveira contrapõe a Babel moderna à ordem antiga medieval, que exprimia na arquitectura gótica a harmonia da filosofia escolástica (110). "Mas os sons típicos das imensas babeis modernas, o ruído das máquinas, o tropel e as vozes dos homens que se afanam atrás do ouro e dos prazeres; que já não sabem andar, mas correr; que não sabem trabalhar sem se extenuar; que não conseguem dormir sem calmantes, nem divertir-se sem excitantes; cuja gargalhada é um rito frenético e triste; que já não sabem apreciar as harmonias da verdadeira música, mas só as cacofonias do jazz; tudo isto é a excitação na desordem, de uma sociedade que só encontrará a verdadeira paz quando tiver reencontrado o verdadeiro Deus" (111). Com os trajos, também a linguagem, os gestos, os ritos, são elementos que têm grande importância cultural e pedagógica para o bem comum dos povos (112). É uma "liturgia" social natural que se exprime na ordem e no fausto.
À esquerda, canonização de Santa Teresinha do Menino Jesus na Basílica de São Pedro (Roma). À direita, um cartuxo folheia um livro de orações No firmamento da Igreja conciliam-se harmonicamente extremos aparentemente contraditórios como a vocação solitária do monge, inspirada numa total renúncia ao mundo, e o esplendor das cerimónias pontifícias que exprimiam, outrora, o maior fausto do qual o mundo fosse capaz. "Não, entre uma e outra ordem de valores não existe contradição, senão na mente dos igualitários, servos da Revolução. Pelo contrário, a Igreja mostra-se santa, precisamente porque com igual perfeição, com a mesma sobrenatural genialidade, sabe organizar e estimular a prática das virtudes que resplandecem na vida obscura do monge, e nas que refulgem no cerimonial sublime do Papado. Mais ainda. Uma coisa equilibra-se com a outra. Quase poderíamos dizer que um extremo (no sentido bom da palavra) compensa o outro e com ele se concilia. O fundo doutrinal no qual estes dois santos extremos se encontram e se harmonizam é muito claro. "Deus Nosso Senhor deu-nos as criaturas, a fim de que estas nos sirvam para chegarmos até Ele. Assim, cumpre que a cultura e a arte, inspiradas pela Fé, ponham em evidência todas as belezas da criação irracional e os esplendores de talento e virtude da alma humana. É o que se chama cultura e civilização cristãs. Com isto, os homens formam-se na verdade e na beleza, no amor da sublimidade, da hierarquia e da ordem que no universo espelham a perfeição d'Aquele que o fez. E assim as criaturas servem, de facto, para a nossa salvação e para a glória divina. Mas por outro lado, elas são contingentes, passageiras, só Deus é absoluto e eterno. Cumpre lembrá-lo. E por isto é bom afastar-se dos seres criados, para no desprezo de todos eles pensar só no Senhor. Do primeiro modo, considerando tudo o que as criaturas são, se sobe até Deus; e do outro modo, se vai até Ele considerando o que elas não são. A Igreja convida os seus filhos a irem por uma e outra via simultaneamente, pelo espectáculo sublime das suas pompas, e pela consideração das admiráveis renúncias que só Ela sabe inspirar e fazer realizar efectivamente" (113). Notas: (104) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Revolução e Contra-Revolução", cit., p.36. (105) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas", in Catolicismo, n° 37 (Janeiro de 1954). (106) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Indumentária, hierarquia e igualitarismo", in Catolicismo, n° 133 (Janeiro de 1962); cfr. também "O hábito e o monge", in Catolicismo, n° 62 (Fevereiro de 1956). (107) Pio XII, Discurso de Gran Cuore de 8 de Novembro de 1957, in DR, vol. XIX, p. 578. (108) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Dignidade e distinção para grandes e pequenos", in Catolicismo, n° 33 (Setembro de 1953). (109) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "O espírito cristão e o espírito pagão manifestados pela arquitetura", in Catolicismo, n° 7 (Julho de 1951). (110) Cfr. Erwin PANOFSKY, "Gothic architecture and Scholasticism", Archabbey Press, Latrabe, 1951. (111) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Tranquilidade da ordem, excitação na desordem", em Catolicismo, n° 110 (Fevereiro de 1960). (112) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Têm os símbolos, a pompa e a riqueza uma função na vida humana?", in Catolicismo, n° 82 (Outubro de 1957). Cfr. também, sobre o tema do cerimonial do poder pontifício, os dois estudos "As cerimônias da posse de Eisenhower à luz da doutrina católica", e "Por que o nosso mundo pobre e igualitário se empolgou com o fausto e a majestade da coroação?", em Catolicismo, n° 27 (Março de 1953) e n° 31 (Julho de 1953). (113) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Pobreza e fausto: extremos harmónicos no firmamento da Igreja", in Catolicismo, n° 96 (Dezembro de 1958). |