Capítulo IV

 

 

10. Os valores metafísicos da Revolução

 

 

 

 

 

 

 

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Duas noções, concebidas como valores metafísicos, exprimem o espírito da Revolução: igualdade absoluta e liberdade completa. Estas, são servidas por duas paixões: o orgulho e a sensualidade. "É nestas tristes profundidades que se encontra a junção entre esses dois princípios metafísicos da Revolução, a igualdade e a liberdade, contraditórios em tantos pontos de vista" (72).

A pretensão de pensar, sentir e fazer tudo o que as paixões desenfreadas exigem é a essência do liberalismo. Na realidade, a única liberdade que ele tutela é a liberdade para o mal, contrapondo-se, nisto, à Civilização Católica. Esta, pelo contrário, dá ao bem todo o apoio e toda a liberdade, mas cerceia o mal, tanto quanto possível.

Plínio Corrêa de Oliveira detém-se sobre este igualitarismo radical, mostrando as suas consequências no âmbito religioso, político e social. A negação de qualquer desigualdade conduz, no plano metafísico, à recusa do princípio de identidade e de não contradição. Isto chega às últimas consequências com o panteísmo "igualitário", pois que, se a realidade é privada de desigualdades específicas e de identidade, desaparece também a diferença entre os homens e Deus e tudo fica confusamente divinizado. Neste panteísmo consiste o aspecto gnóstico da Revolução. Aspecto fundamental do pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira foi, pelo contrário, o amor ao concreto, ao individualizado, ao "distinto". Ele fez seu o princípio fundamental do tomismo, segundo o qual o objecto próprio da inteligência humana não é o ser indefinido, mas a "quidditas rei sensibilis" (73), as essências específicas do real. É através da experiência directa das essências específicas que o homem pode remontar ao conhecimento do universal e à própria formulação dos primeiros princípios.

A essência, explica São Tomás no De ente et essentia, é o objecto da definição da coisa (74), aquilo que ela propriamente é. Tudo aquilo que existe tem uma essência própria porque é distinto da realidade que o circunda e não se confunde com esta. A essência do ente é, pois, a sua específica unidade, a qual o distingue da multiplicidade do real (75).

A primeira propriedade da realidade que conhecemos é a essência das coisas e, com esta, não a unidade mas a desigualdade da realidade. Ou, mais precisamente, conhecemos o uno através do múltiplo.

"São Tomás ensina –afirma Plínio Corrêa de Oliveira–que a diversidade das criaturas e o seu escalonamento hierárquico são um bem em si, pois assim melhor resplandecem na criação as perfeições do Criador (76). E diz que tanto entre os anjos (77) como entre os homens, no Paraíso Terrestre como nesta terra de exílio (78), a Providência instituiu a desigualdade. Por isso, um universo de criaturas iguais seria um mundo em que se teria eliminado em toda a medida do possível a semelhança entre as criaturas e o Criador. Odiar em princípio, toda e qualquer desigualdade é, pois, colocar-se metafísicamente contra os melhores elementos de semelhança entre o Criador e a criação, é odiar a Deus" (79). 

Notas:

(72) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Revolução e Contra-Revolução", cit., p. 32.

(73) O "actus essendi", luminoso demais para a inteligência criada, não pode constituir o terreno próprio da especulação filosófica do homem, que tem como primeiro objecto de conhecimento precisamente as "essências". O primado do "actus essendi" sobre a essência é certamente um dado inegável do tomismo. Mas quando a afirmação deste primado conduz a uma exagerada polémica contra o pretenso "essencialismo" da escolástica, arrisca desviar-se para uma postura de cunho existencialista (cfr. C. FABRO C.P.S., "Introduzione a San Tommaso", Ares, Milão, 1983, pp. 100-103).

(74) São Tomás DE AQUINO, De ente et essentia, cap. II.

(75) São Tomás DE AQUINO, Summa Theologica, I, q. 11, a. I.

(76) Cfr. São Tomás DE AQUINO, Summa contra gentiles, II, 45; Summa theologica, I, q. 47, a. 2.

(77) Ibid., Summa theologica, I, q. 50, a. 4.

(78) Ibid., I, q. 96, a. 3 e 4.

(79) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Revolução e Contra-Revolução", cit., p.32.

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