4. Director do Legionário

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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O Legionário, órgão oficial da Congregação Mariana da Paróquia de Santa Cecília, dirigido por Mons. Marcondes Pedrosa, era um simples folheto mensal de quatro páginas, quando se iniciou a sua publicação, em 29 de Maio de 1927.

Os temas tratados pelo jornal eram a defesa dos princípios tradicionais e familiares, a tutela dos direitos da Igreja, a formação de novas elites católicas, a luta contra a infiltração comunista. O primeiro artigo de Plínio Corrêa de Oliveira, dedicado à Universidade Católica, apareceu no n° 43, de 22 de Setembro de 1929; o segundo, publicado em Novembro do mesmo ano, com o título "O Vaticano e o Kremlin" (40), já deixa entrever aquele que será um dos temas de fundo do seu pensamento: a impossibilidade de qualquer acordo entre a Igreja Católica e o comunismo. Num artigo com o título "As Nossas reivindicações políticas", no n° de 8 de Janeiro de 1931, conclamava os católicos a exigir do novo governo a defesa dos "direitos da Igreja".

Pelo estilo conciso, força polémica e amor à verdade, o jovem congregado mariano, que tinha por modelo grandes publicistas católicos como o francês Louis Veuillot (41) e o brasileiro Carlos de Laet (42), dava mostras de corresponder perfeitamente ao tipo de jornalista indicado por Pio Xl na Encíclica Rerum Omnium de 26 de Janeiro de 1933, na qual o Pontífice tinha declarado São Francisco de Sales padroeiro de "todos aqueles católicos que, com publicação de jornais ou de outros escritos, ilustram, promovem ou defendem a doutrina cristã" (43). "Antes de tudo –acrescentava o Pontífice dirigindo-se aos jornalistas católicos– estudem a doutrina católica e cheguem, tanto quanto possam, a dominar a doutrina católica; guardem-se de faltar com a verdade e jamais, sob pretexto de evitar a crítica dos adversários, a atenuem ou dissimulem" (44).

Em 6 de Agosto de 1933, Plínio Corrêa de Oliveira foi convidado a assumir a direcção do Legionário, que naquele mesmo mês se tornou órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo. A publicação não era destinada ao grande público, mas ao movimento católico, a fim de lhe proporcionar orientação doutrinal e operativa. Foi no interior destes ambientes, do norte ao sul do país, que logo se estendeu a vigorosa influência do semanário. 

 

Acima, inauguração das máquinas do “Legionário”, estando presente o Arcebispo de São Paulo, D. Duarte Leopoldo e Silva. À direita do Arcebispo, Da. Lucilia Ribeiro Corrêa de Oliveira e Plinio Corrêa de Oliveira. À sua esquerda, o Bispo de Sorocaba, D. José Carlos de Aguirre, o Bispo-auxiliar de São Paulo, D. José Gaspar de Affonseca e Silva, e Da. Olga de Paiva Meira, Presidente da Liga das Senhoras Católicas
 

A quem o acusava de ser pouco "caridoso" para com os inimigos, Plínio respondia que a atitude do Legionário era de luta sim, mas defensiva e não ofensiva. "A principal finalidade do Legionário é de orientar a opinião dos que já são católicos" (45).

Plínio era o autor dos artigos de fundo e da coluna "À margem dos factos", que depois tomou o nome "7 dias em revista". Reuniu em torno de si uma equipa de valorosos colaboradores (46), entre os quais dois jovens Sacerdotes destinados a tornar-se figuras de primeiro plano do Clero brasileiro: o P. António de Castro Mayer (47), assistente eclesiástico do jornal, e o P. Geraldo de Proença Sigaud, S.V.D. (48). Entre os mais brilhantes colaboradores leigos destacava-se José de Azeredo Santos, um jovem congregado natural do Estado de Minas Gerais, que veio do Rio para São Paulo a fim de exercer a profissão de engenheiro (49). A equipa, entre cinco e oito membros, reunia-se regularmente para examinar, à luz da doutrina da Igreja, recortes de jornais e notícias provenientes de todo o mundo. "No quadro redactorial desse semanário –recordará o Prof. Plínio– formou-se gradualmente um grupo de amigos, todos congregados marianos como eu, que nos dedicámos de corpo e alma ao jornalismo católico" (50). Sob o impulso do dinâmico director, em 1936 o jornal transformou-se de quinzenário de duas folhas em semanário de oito páginas, e de simples boletim paroquial passou a ser a voz católica mais influente no país.

Os temas abordados ao longo de 1936 foram os mais diversos. A perseguição religiosa na Alemanha, a Revolução na Espanha, a poussée socialista em França, a crise dinástica na Inglaterra, as eleições presidenciais nos Estados Unidos, a falência da Sociedade das Nações, a intensificação da propaganda comunista no mundo constituíram o objecto de análises e comentários inspirados na doutrina da Igreja, sempre profundos e esclarecedores. "Desintoxicar os leitores dos frutos da imprensa neutra, e dar-lhe informação cívica realmente católica, foi o nosso constante escopo" (51).

Em Janeiro de 1937, quando foram inauguradas as suas novas impressoras, o Legionário tinha-se tornado o mais influente semanário católico do Brasil, com uma tiragem de mais de 17 mil exemplares.

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Notas:

(40) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "O Vaticano e o Kremlin", in O Legionário, n° 46 (10 de Novembro de 1929). Cfr. também "A Igreja e o problema religioso na Rússia", in O Legionário, n° 54 (16 de Março de 1930).

(41) De Louis VEUILLOT (1813-1883), valoroso director do quotidiano L'Univers cfr. as "Oeuvres Complètes", Lethielleux, Paris, 1924-1940. Cfr. também Eugène e François Veuillot, "Veuillot", Lethielleux, Paris, 1902-1913, 4 vol. "Ele compreendeu - escreve São Pio X a François Veuillot - que a força da sociedade está no pleno e completo reconhecimento da realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo e na aceitação sem reservas da supremacia doutrinária da Igreja" (Carta "C'est avec", de 22 de Outubro de 1913, in IP, vol. VI, "La pace interna delle nazioni", (1959), p. 299).

(42) Carlos Maximiano Pimenta de Laet (1847-1927) foi brilhante jornalista, professor no célebre Ginásio Pedro II e membro da Academia Brasileira de Letras. Recebeu de São Pio X o título de Conde pelos serviços prestados à causa católica.

(43) AAS, vol. 5 (1923), p. 49

(44) Ibid.

(45) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Ofensiva?", in O Legionário, n° 181 (29 de Setembro de 1935). "E se, para este combate, nos fosse permitido escolher um lema, nós o redigiríamos assim: para com os católicos, caridade e unidade; para com os não católicos, caridade para obter a unidade" (ibid).

(46) Além do doutor Plínio, compunham o grupo de redactores do Legionário: Fernando Furquim de Almeida, José Carlos Castilho de Andrade, José de Azeredo Santos, Adolpho Lindenberg, José Fernando de Camargo, José Gonzaga de Arruda e Paulo Barros de Ulhôa Cintra ("Meio Século de epopeia anticomunista", cit., pp. 431-432).

(47) D. António de Castro Mayer nasceu em Campinas, no Estado de São Paulo, em 20 de Junho de 1904. Formou-se em teologia na Universidade Gregoriana de Roma (1924-1927) onde foi ordenado Sacerdote em 30 de Outubro de 1927. Assistente Geral da Acção Católica de São Paulo (1940), depois Vigário geral da Arquidiocese (1942-1943), em 23 de Maio de 1948 foi sagrado Bispo e nomeado coadjutor, com direito de sucessão, do Bispo de Campos. Governou como Bispo a diocese de Campos até 1981. D. António rompeu com Plínio Corrêa de Oliveira e com a TFP em Dezembro de 1982. O facto tornou-se logo público (Folha da Tarde, 10 de Abril de 1984; Jornal do Brasil, 20 de Agosto de 1984) e liga-se à progressiva aproximação do ex-Bispo de Campos à posição de Mons. Marcel Lefebvre, culminando com a participação do mesmo D. António de Castro Mayer nas consagrações episcopais de Ecône em 30 de Junho de 1988, que o fizeram incorrer em excomunhão latae sententiae. Morreu em Campos em 25 de Abril de 1991.

(48) D. Geraldo de Proença Sigaud nasceu em Belo Horizonte em 26 de Setembro de 1909. Membro da Congregação do Verbo Divino, estudou teologia em Roma (1928-1932) onde foi ordenado sacerdote em 12 de Março de 1932. A 1 de Maio de 1947 foi sagrado Bispo diocesano de Jacarezinho (1947-1961); foi depois Arcebispo Metropolitano de Diamantina (1961-1980). O convívio de Plínio Corrêa de Oliveira com D. Geraldo Sigaud, que durou cerca de trinta anos, iniciou-se em 1935, por ocasião de um retiro espiritual no Seminário do Espírito Santo. "Esta amizade - escrevia o doutor Plínio em 1946 - estendeu-se ao longo de mais de dez anos em que os dois nos encontrámos em as todas situações possíveis: da dor e do júbilo, da esperança e do passageiro desalento, da incerteza e da decisão. Juntos recebemos palmas, juntos recebemos censuras, os nossos corações pulsaram segundo o mesmo ritmo, em presença de todos os assuntos da actualidade, passámos por tudo o que pode unir ou desunir homens" (Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Padre Sigaud", in O Legionário, n° 711 (24 de Março de 1946). A separação, que remonta provavelmente já a meados dos anos sessenta, foi anunciada oficialmente pelo próprio Arcebispo de Diamantina, em 2 de Outubro de 1970 quando, saindo de uma audiência com o presidente da República Emilio Garrastazu Medici, declarou que a TFP se tinha distanciado dele por causa do seu apoio à reforma agrária promovida pelo governo e à reforma litúrgica de Paulo VI. A TFP respondeu imediatamente com um longo comunicado de imprensa em que sublinhava o contraste entre a coerência das próprias posições e as de D. Geraldo Sigaud, que se tornaram vacilantes, acentuando "a inteira correcção das suas atitudes face às leis civis e eclesiásticas" ("D. Geraldo Sigaud e a TFP", in Catolicismo, n° 239, Novembro de 1970). Cfr. também Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Dentro e fora do Brasil...", in Folha de S. Paulo, 11 de Outubro de 1970.

(49) "Jornalista profundo, vivo, brilhante, foi ele na força do termo, um polemista. E como tal fica o seu nome inscrito nos nossos anais, com letras de ouro (...). Se algum dia a História do Brasil contemporâneo for escrita com imparcialidade inteira, o seu nome figurará entre os mais beneméritos" (Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "O prêmio demasiadamente grande", in Folha de S. Paulo, 17 de Julho de 1973). Iniciou-se desde então uma longa amizade e cooperação que durou quase quarenta anos, até ao dia em que Plínio Corrêa de Oliveira, ajoelhado junto ao leito de dor do amigo moribundo, no Hospital Samaritano de São Paulo, recitou em seu nome a Consagração de São Luís Maria Grignion de Montfort. A José de Azeredo Santos deveram-se, no Legionário e depois em Catolicismo, artigos penetrantes sobre o maritainismo, sobre a política da "mão estendida", sobre a arte moderna e sobre a gnose.

(50) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Kamikaze", in Folha de S. Paulo, 15 de Fevereiro de 1969.

(51) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Um ano de luta e de vigília", in O Legionário, n° 225 (3 de Janeiro de 1937).


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