Cardeal Bernardino Echeverría Ruiz O.F.M.
Plinio Corrêa de Oliveira: Apóstolo insigne, polemista fogoso e intrépido
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Por ocasião do 25.º aniversário do falecimento de Plinio Corrêa de Oliveira, grande líder e pensador católico brasileiro, fundador da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, o portal católico Dies Iræ presta uma profunda e reverente homenagem ao paladino do Reino de Maria, que inspira profundamente o apostolado do portal, e oferece aos seus leitores a tradução portuguesa do elogio fúnebre pronunciado pelo Cardeal Bernardino Echeverría (1912-2000).
“El Universal”, Guayaquil, 12 de novembro de 1995 Plinio Corrêa de Oliveira: Apóstolo insigne, polemista fogoso e intrépido A inesperada notícia da morte de Plinio Corrêa de Oliveira levou-Nos a pensar nalguns aspectos da sua vida e convidou-Nos a reflectir sobre o facto de que, quanto mais profundos são os males de uma época, mais extraordinários são as figuras que a Divina Providência chama a enfrentá-los, o que é uma manifestação do seu intento de combater as crises, suscitando almas de fogo. No entanto, sucede também que essas almas sejam objecto dos ataques mais violentos e infundados, com os quais se pretende silenciá-las, o que é uma prova da obstinação que, muitas vezes, penetra no espírito de certas categorias de homens. Sem dúvida, quando as figuras são realmente grandes, os seus adversários não podem derrubá-las ou silenciá-las, pois os ataques injustos acabam por evidenciar – embora os seus autores o não desejem – as qualidades dessas almas eleitas. Foi o que aconteceu com o Divino Salvador: atacado, vilipendiado e martirizado pelos seus algozes, a sua Luz brilhará inesgotável até ao fim dos séculos na sua Igreja, apesar dos esforços de tantos para destruí-la. Christianus alter Christus, o cristão é um outro Cristo: algo semelhante aconteceu com Plinio Corrêa de Oliveira, durante décadas, até à sua morte. De facto, dificilmente foi possível citar o seu nome, nos últimos tempos, no nosso continente e também na maior parte do Ocidente, sem, ao mesmo tempo, desencadear aplausos e admiração por um lado e, por outro, verdadeiras tormentas verbais contra ele, sempre tão cheias de raiva quanto carentes de fundamento. Com efeito, era comum que a fúria dos ataques, que suportava, não fossem acompanhadas de argumentos, por isso a sua exposição serena, invariavelmente cortês e incisivamente rica, clara e convincente, desmontava as objecções, colocava as coisas no seu devido lugar, o que, apesar de merecer a gratidão dos seus contraditores, porque elevava o tom da polémica, ao contrário, muitas vezes despertava ódio, ressentimento e rancores. Nos anos ‘40, quando o nazi-fascismo era uma moda diante da qual vacilavam tantos na Europa e na América, a pena de Plinio Corrêa de Oliveira denunciava, com valor, a mentira neopagã, socialista e gnóstica que inspirava esta aberração, conseguindo, assim, preservar muitos ambientes católicos da sua influência nefasta. Hoje, quando é comum atacar o nazi-fascismo – entre outras coisas, porque é fácil lançar invectivas contra erros que têm um número ínfimo de seguidores –, não é raro encontrar, entre os seus supostos inimigos actuais, os seus cúmplices de ontem, os quais ou mantêm silêncio sobre Plinio Corrêa de Oliveira, que com tanta lucidez e valor criticara esta mentira quando estava para dominar o mundo, ou caluniam-no. Depois da Segunda Guerra, a história mudou e muitos antigos adeptos do nazi-fascismo voltaram-se contra ele, sem, no entanto, se opor ao marxismo, que se tornara o inimigo mortal, permitindo-lhe, assim, obter, a partir daí, perigosíssimos sucessos, em tudo o mundo, na pele de dezenas de milhões de vítimas. Quando a Revolução impulsionou, com grande intensidade, este erro em todas as nações, Plinio Corrêa de Oliveira voltou a travar heroicamente, por longas décadas, uma polémica batalha contra o comunismo, o socialismo e os seus colaboradores. Infelizmente, os ambientes católicos, que não ficaram imunes à infiltração nazi-fascista, nem sequer escaparam à do marxismo, com muitos exemplos de perigosíssimas concessões a este erro, que reagiu com raiva contra aqueles que o atacavam. Obviamente, a posição de Plinio Corrêa de Oliveira não era apenas antinazi ou anticomunista. Ambas eram fruto de uma posição doutrinal integralmente católica, coerente e de grande vigor na defesa de todos os princípios da Igreja, mas especialmente daqueles que foram mais violentamente atingidos, porque a sua primeira preocupação no apostolado era a apologética, por isso desejava que fosse servido pela lógica e pela doutrina em todo o seu vigor. Ainda na juventude, há mais de meio século, publicou uma obra que ainda hoje abala as consciências, Em defesa da Acção Católica, pela qual recebeu uma calorosa felicitação de Pio XII, enviada por Mons. Giovanni Battista Montini, Substituto da Secretaria de Estado, que décadas depois seria elevado ao Sólio pontifício com o nome de Paulo VI. A obra suscitou entusiasmo nuns e irritação noutros, porque denunciava erros, que germinavam nos meios católicos, pelos quais uns mostravam indulgência e outros indiferença, mas nos quais Plinio Corrêa de Oliveira via – como a história o confirmou – as sementes de uma grave crise futura dentro da Santa Igreja. Se considerarmos retrospectivamente a história recente, ao recordar esta lúcida advertência e o autêntico cataclismo que abalou a Igreja nas últimas décadas e que ainda persiste, não podemos deixar de exclamar: “Ah, se esta voz tivesse sido ouvida!”. Na verdade, não é necessário ter muita sabedoria, nem grande zelo, para ver o perigo proveniente dos males grandes e manifestos, mas ambas as virtudes são indispensáveis para individuá-lo quando esses males estão a nascer. Pois bem, Plinio Corrêa de Oliveira sabia ver, de longe, os perigos e denunciá-los, esforçando-se, sobretudo, por revelar os mais ocultos, mesmo quando isso lhe custava amarguras, porque essas posições muitas vezes frustravam os planos dos inimigos da Igreja. Era seu desejo que os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo impregnassem profundamente a sociedade contemporânea, segundo a divisa de São Pio X, Omnia instaurare in Christo, que tanto abalou o mundo católico nos inícios do nosso século e que, desde então, inspirou a acção dos melhores apóstolos. A sua obra Revolução e Contra-Revolução, publicada em 1959, analisa a história dos últimos séculos e a situação do mundo contemporâneo mostrando que a Cristandade foi esmagada por um processo revolucionário que continua a agir para destruir os seus restos a fim de se instaurar um regime totalmente oposto à Lei de Deus. Diante deste processo, o católico autêntico – como afirma São Paulo (Rm 12, 2) – não se pode conformar à mentalidade deste século, isto é, não pode aceitar um modus vivendi entre a Igreja e as tendências que dominam o mundo; na verdade, deve desejar para Ela e para a Civilização Cristã um pleno vigor e um esplendor ainda maior do que aquele dos melhores dias. Portanto, o católico deve aplicar diligentemente a sábia e severa sentença de Nosso Senhor de que «Ninguém pode servir a dois senhores». E, de facto, Plinio Corrêa de Oliveira dedicou todas as suas energias, durante toda a sua longa vida, à luta intrépida contra esse processo, para recristianizar a ordem temporal na perspectiva do Reino de Cristo, do Reino de Maria. O seu último livro, Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII, que já tivemos ocasião de elogiar, apareceu várias décadas após os últimos discursos do falecido Pontífice, resgatando-os do profundo esquecimento a que haviam sido abandonados e mostrando quanto bem teria vindo ao mundo contemporâneo se, desde então, os líderes religiosos e políticos se tivessem inspirado neles. A obra de Plinio Corrêa de Oliveira espalhou-se por 27 países, incluindo o nosso, onde o zelo combativo do mestre despertou nos seus discípulos um entusiasmo idealista, estimulando a sua piedade, orientando o seu estudo e a sua acção, numa época em que os erros doutrinários, o indiferentismo religioso, as atitudes de interesse e a obsessão de se adaptar às piores situações tornam-se cada vez mais frequentes. Resta-nos, pois, pedir à Santíssima Virgem, tendo Ela chamado a si aquele que lhe dedicara a vida, que abençoe a continuidade da sua obra no futuro, tanto mais que os acontecimentos actuais anunciam novas crises e conflitos, sendo indispensável o Seu materno auxílio, como demonstra a vida de Plinio Corrêa de Oliveira, para os enfrentar e vencer. Cardeal Bernardino Echeverría |