Em face de um mundo revolucionário, igualitário e ateu,
um varão católico, todo apostólico, plenamente romano
Por ocasião do sexto aniversário do falecimento do querido e saudoso
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995), inspirador e principal
colaborador desta revista, nascido em 13 de dezembro de 1908, oferecemos a
nossos leitores uma matéria inédita.
Na década de 70, um amigo do Exterior solicitou à TFP
brasileira uma biografia de Dr. Plinio. A redação coube a Eloi de
Magalhães Taveiro, que apresentou um texto sintético, mas bastante denso,
fidedigno e objetivo. Por razões circunstanciais não foi ele publicado,
tanto no Exterior quanto no Brasil, constituindo, pois, matéria
inteiramente inédita.
Embora a biografia — da qual reproduzimos aqui
substanciosos excertos — se encerre na primeira metade da década de 70,
constitui ela valioso documentário, pois expõe com felicidade e graça o
ambiente em que se formou, desde tenra infância, Plinio Corrêa de
Oliveira. E revela também, com muita autenticidade, lances marcantes da
luta empreendida pelo insigne líder católico em defesa da Igreja e da
Civilização Cristã.
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Os pais de Plinio:
Dr. João Paulo Corrêa de Oliveira e Dona Lucília
Ribeiro dos Santos |
Por parte de pai — o advogado João Paulo Corrêa de Oliveira — o Prof.
Plinio pertencia a uma família da aristocracia pernambucana, de senhores
de engenho. E a família de sua mãe, Dona Lucília Ribeiro dos Santos, era
integrante da aristocracia paulista. Assim, sua ascendência consistia na
feliz conjugação de duas aristocracias que desempenharam papel relevante
na história do Brasil: a aristocracia do açúcar e a do café. Essa ilustre
ascendência, como é natural, constituiu ponderável fator na formação da
personalidade e no modo de ser do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Para se
compreender esse modo de ser, é oportuno lembrar como o Prof. Plinio
definiu o estilo de viver, de agir e de lutar da TFP: "No idealismo,
ardor; no trato, cortesia; na ação, devotamento sem limites ao ideal; na
presença do adversário, circunspeção; na luta, altaneria e coragem. E pela
coragem, vitória!"
Ora, tal estilo, tão sapiencialmente enunciado — que se
transformou em norma básica da TFP — foi antes de tudo plenamente vivido
por seu assinalado fundador. É o que ressalta do texto de Magalhães
Taveiro. Estamos certos de que o conhecimento deste resumo
biográfico será de grande proveito para nossos leitores. E que os aspectos
da vida do Cruzado do Século XX, nele descritos, constituirão objeto de
edificação para todos.
A divisão em três partes, o subtítulo geral e os
intertítulos são desta Redação.
A Direção de Catolicismo
Parte I
O processo mental e
social de formação de um líder contra-revolucionário
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Da. Lucilia,
em Paris, 1912 |
A família [Ribeiro dos Santos] de sua mãe, Dona Lucilia, em cujo meio
Plinio viveu, era uma seleção de pessoas as mais conservadoras e
tradicionais das famílias de São Paulo. Por sua vez, Dona Lucilia era um
dos membros mais conservadores de sua família.
Espírito sério, inclinado para a observação e inspirado por convicções
religiosas profundas, Dona Lucilia, mãe extremamente dedicada, orientou o
espírito de seus filhos numa direção similar. Assim, já antes de eles
saberem como dizer "mamãe" ou "papai", eram ensinados a reconhecer uma
imagem do Sagrado Coração de Jesus.
Juntamente com suas tendências religiosas, Plinio
possuía uma atração bem definida e fora do comum pelo maravilhoso e o
sublime, transmitida pela tradição. Mesmo antes de poder ler extensamente
livros tratando de matéria doutrinária, Plinio tinha vivo interesse pelos
assuntos religiosos, políticos e sociais. Entretanto, sua mente não
concebia essas idéias como escondidas em livros poeirentos e embolorados,
mas sim inseridas na realidade da vida humana. Para Plinio, o contexto
social animava as idéias, as quais, por sua vez, agiam nas diferentes
mentalidades.
Oposição decidida contra os "espíritos fortes" que blasonavam seu
ateísmo
|
Plinio
aos dez anos |
Embora as tendências de alma de Plinio correspondessem
favoravelmente à tradição e ao ambiente que teve em casa desde sua mais
tenra idade, a questão que se põe é: essas inclinações são o resultado, ou
não, de uma aceitação passiva dos valores do establishment por um
menino sem personalidade, discernimento ou capacidade de auto-afirmação?
Os fatos dissipam completamente essa questão.
Plinio era muito precoce. Ele pronunciou as primeiras
palavras aos seis meses, e estava falando francês e alemão aos quatro
anos. Sua personalidade mostrava as características típicas do povo de
Pernambuco e São Paulo: era surpreendentemente lógico numa tenra idade, e
demonstrou cedo afeição para o debate de idéias e a oratória.
O ambiente na casa de Dona Lucilia, como em outras
casas em São Paulo, permaneceu ideologicamente dividido devido à
controvérsia sobre o futuro político do Brasil. Contra os católicos, os
"espíritos fortes" orgulhosamente ostentavam seu ateísmo; e, como
entusiastas republicanos com decisivas tendências socialistas, criticavam
os monarquistas. Os "espíritos fortes" e os adeptos republicanos sempre
apareciam nas conversas no papel de vitoriosos profetas do futuro,
enquanto os tradicionalistas pareciam confusos e na defensiva. Como Dona
Lucilia não participava dos debates político-ideológicos da família, é
certo dizer que o ambiente da casa de Plinio lhe oferecia um sério convite
a tomar uma posição ideológica contrária às suas inclinações. Ele
entretanto se recusou, escolhendo defender a tradição.
O fim da "belle époque" e o processo de mudanças denominado
"democratização"
Depois da I Guerra Mundial, todos os países passaram
por um período de rápidas mudanças, particularmente agudas durante a
década de 1918 a 1928. A ascensão do comunismo na Rússia e a onda de
agitações que se espalhou pela Europa Central foram sentidas também em São
Paulo, onde as lutas de rua e agitações de classe eram com freqüência
muito violentas.
Gradualmente, o tônus da vida social e cultural de São
Paulo se foi transformando, e muito do esplendor e brilho que
caracterizavam a belle époque da metrópole do café começou a
dissipar-se. Esta mudança foi denominada "democratização"
[1].
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São Paulo
nos anos 20: ao lado dos símbolos da "Belle époque" o modernismo vai
se implantando |
A crescente mecanização da vida favoreceu esse
processo. Naquele tempo, São Paulo estava começando um vertiginoso
crescimento industrial que transformaria a pequena, rural e aristocrática
cidade dos anos vinte no maior centro industrial da América do Sul, com
mais de oito milhões de habitantes atualmente [década de 70].
O lançamento do movimento feminista, a promoção de
modas masculinas para mulheres e a introdução das mais espontâneas
maneiras "esportivas" começaram a criar um "mundo novo", cada vez mais
avesso às tendências de Plinio. O prestígio das primeiras auto-estradas,
das primeiras estações de rádio e das primeiras comunicações aéreas se
somava ao enorme prestígio do cinema. Filmes de Hollywood fascinavam
literalmente as multidões e apresentavam as transformações do após-guerra
como fato consumado. A euforia da paz, prosperidade e progresso deixou
praticamente todas as almas — de um público ingênuo e sem vigilância —
vulneráveis ao insidioso processo de "democratização", ignorando os graves
problemas que ele trouxe e os amargos frutos que o século XX está
começando a experimentar.
Aos 10 anos, Plinio já observava os acontecimentos que
estavam começando a transformar São Paulo, e enquanto ele se tornava mais
maduro, sua rejeição à tendência de "democratização" se aprofundava.
Adquiriu o costume de se engajar em polêmicas, inicialmente contra os
"espíritos fortes" nas reuniões de família, e sobretudo começou a
desenvolver o hábito de reflexão, com o propósito de analisar o
significado dos acontecimentos que se passavam em torno dele.
Quanto mais a vida se transformava, mais Plinio
tornava-se persuadido de que certas coisas não deveriam nunca mudar, e que
outras deveriam mudar numa direção diametralmente oposta à da tendência do
tempo. Em resumo, a rejeição de Plinio ao processo de "democratização"
começou a cristalizar-se numa consciente resistência, linha de conduta que
ele deveria manter durante a vida.
No colégio, choque com a atmosfera "hollywoodiana"
|
Vista
interna do Colégio São Luís, 1924 |
Em 1919, aos 11 anos de idade, Plinio entrou para o
Colégio São Luís, dirigido pelos padres jesuítas, onde experimentou uma
súbita ampliação de panoramas e horizontes, que lhe serviram para
aprofundar ainda mais o seu ponto de vista. O São Luís era o primeiro
colégio que ele freqüentava, e a maioria dos estudantes que lá encontrou
eram recrutados no seu próprio meio social, juntamente com elementos que
compunham um novo mundo para ele: os filhos dos novos ricos imigrantes.
Até sua entrada no São Luís, Plinio e sua irmã
estudavam sob a direção de uma governante bávara, Fräulein Mathilde
Heldmann, dotada de excelente experiência e de um especial dom para
ensinar. Ela se dedicava a seu trabalho de um modo quase inexistente hoje.
|
Plinio
acompanhando de sua irmã e de sua prima, com a Fräulein Mathilde
Heldmann |
Antes de entrar ao serviço dos Corrêa de Oliveira,
Fräulein Mathilde havia trabalhado na Europa com várias famílias de posse
e educação, sendo algumas da nobreza. Tinha vindo para o Brasil em 1913,
convidada por Dona Lucilia, e trouxe consigo as memórias da Europa, que
eram inteiramente as da aristocrática e brilhante belle époque,
destruída depois pela Grande Guerra. Assim era o mundo que Fräulein
Mathilde descrevia para Plinio e sua irmã, durante as longas reuniões de
entretenimento destinadas a ensinar-lhes conversação em francês e alemão,
sempre acompanhadas de reflexões sobre aquele período de cerimônias
aristocráticas e bom gosto.
No colégio, Plinio teve o choque de uma atmosfera
completamente diversa daquela cultivada pela Fräulein e pela sua família.
Os alunos que ele encontrou formavam um vasto mundo de pequena gente
nesciamente entregue ao processo promovido tão vigorosamente pelos filmes
de Hollywood, que estavam "democratizando" a vida brasileira. Para os
colegas de Plinio, a palavra "americano" envolvia o mais alto elogio:
significava modernidade, dinamismo, capacidade para auto-realização,
pragmatismo, desdém pela cultura e reflexão, entusiasmo pela agitação e
aventura, igualitarismo e sensualidade. A palavra "americano" adquiriu
este sentido da imagem simplista e deformada dos Estados Unidos,
apresentada nos filmes de Hollywood, de cuja autenticidade o mundo pueril
brasileiro, de meninos de colégio, nunca duvidou.
O colégio ofereceu entretanto, para Plinio, a mesma
opção que sua família: ou ele resistiria heroicamente como um lutador, ou
capitularia interna e externamente, aderindo para sempre às transformações
que sua alma repudiava. Seus esforços para encontrar colegas que
estivessem em total acordo com ele sempre terminavam com a mesma conclusão
melancólica: não havia nenhum.
Compreendendo que ele estava só, em sua convicção,
Plinio sentiu a impossibilidade de lutar quixotescamente contra tudo e
contra todos. Adotou então uma linha de conduta que lhe permitiu
permanecer fiel, tanto interna quanto externamente, às convicções que
amadureciam em sua alma. Mais ainda, decidiu inabalavelmente não dizer ou
fazer nada que fosse contrário a essas convicções. Reservou para si,
contudo, o direito de manifestar suas idéias e de combater, sempre que
houvesse uma chance de vitória.
No colégio, Plinio se engajava apenas em discussões
limitadas e ocasionais. Ele refletiu profundamente sobre essa linha de
conduta, e seguiu-a fielmente até os 20 anos. Como todo lutador sério deve
fazer, Plinio estava aprendendo estratégia.
Uma tarefa positiva: reconstruir a civilização cristã
No São Luís, Plinio encontrou-se pela primeira vez com
o que seria um importante fator em sua formação: o espírito de Santo
Inácio de Loyola, transmitido por seus professores, os padres da Companhia
de Jesus. Ele era atraído pela profundidade, seriedade e coerência com as
quais o método de Santo Inácio ensina e convida as almas a praticar a
religião até as suas últimas conseqüências. A influência religiosa que
Dona Lucília exercera sobre Plinio encontrou no método inaciano os
elementos lógicos necessários para tornar sua convicção ponderada e
madura, amada com entusiasmo. A partir daí, tornou-se mais observante das
práticas religiosas e da freqüência aos Sacramentos. Aprofundou também sua
devoção à Bem-aventurada Virgem Maria, que gradualmente se transformou no
principal pilar de sua formação espiritual.
Plinio compreendeu assim, no Colégio São Luís, que a
batalha pró ou contra Deus e a Igreja é a razão de todos os acontecimentos
que sucedem na Terra. Na fidelidade a essa Igreja, o mundo tem os meios de
ancorar seus melhores ideais numa rocha firme e rejeitar toda forma de
erro e de mal; pelo contrário, se ele rejeita Deus e a Igreja, os costumes
sociais, as instituições, os povos e todas as civilizações marcham de modo
insopitável para a destruição. A nova ordem de coisas que o rodeava,
baseada no secularismo, era vazia, inconsistente e fadada à destruição.
Na Civilização Cristã ele via a única ordem perfeita,
uma ordem justa e capaz de inspirar um progresso autêntico, judicioso,
completamente diferente do galopar demente para a prosperidade e o prazer,
proclamado como tal pela nova ordem.
Estudo da História e da doutrina católica
|
...e em
torno de si ele encontrou alguns vestígios daquela civilização como
ainda existindo... |
O período de 1918 a 1928 foi de frutuosa interiorização
para Plinio. A crescente oposição entre ele e seus circundantes
encorajou-o a voltar a atenção para a análise e o pensamento abstrato, com
vistas a definir com maturação a objetividade e o valor lógico de todos os
seus pressupostos básicos. Para ajudar nessa meta, começou a estudar
História seriamente, em particular a da França, e a dedicar-se ao estudo
da doutrina católica acessível a rapazes de sua idade.
Por suas leituras da história européia, Plinio tinha
algum conhecimento da Civilização Cristã do passado; e em torno de si ele
encontrou alguns vestígios daquela civilização como ainda existindo. Mas
sobretudo viu a Igreja Católica, ainda incontaminada pela poluição da nova
ordem e ainda brilhando com uma luz celeste e régia.
O esforço intelectual de Plinio voltou-se agora para
uma tarefa positiva: começou a compor um quadro global do que a Igreja era
e o que a Civilização Cristã havia sido. A questão idealista e prática que
ele procurava responder era: o que poderia ser feito para conter a onda de
destruição que está avançando em todas as frentes? Em seguida ele se
interessou pela pergunta positiva: como um mundo fiel à doutrina e à
tradição do Ocidente cristão, fortalecido e renovado, poderia ser
reconstruído? Ele estava investigando qual o processo de renovação que
preservaria os valores perenes da Igreja e da tradição, e a expansão de
seu espírito sobre toda a terra, num aperfeiçoamento que atingisse todos
os homens.
Características do processo mental de um "pensador" de 10 a 20 anos
|
Revolução
Francesa: tomada da Bastilha |
Relembrando as características do processo mental de
Plinio, apresentadas acima, talvez seja necessário fazer aqui alguns
esclarecimentos sobre os traços que emergiram de tudo o que foi dito.
Primeiramente com relação ao espírito positivo de
síntese, que se vê desenvolver-se na mente de Plinio, é necessário
compreender as limitações óbvias, inerentes a uma tentativa de construir
corajosamente uma síntese original e grande com os elementos incompletos à
disposição de um "pensador" de dez a vinte anos de idade.
Segundo, é necessário saber que, aprendendo a construir
sua síntese, Plinio usou tanto o erro quanto o mal como elementos de
contraste, para melhor saber avaliar o verdadeiro significado da Igreja e
da Civilização Cristã. Através do erro e do mal, especialmente em sua
perspectiva histórica, Plinio tornou-se mais profundamente cônscio da
verdade e do bem.
Assim, a partir dos 13 anos, Plinio orientou suas
leituras de História mais ou menos em torno da Revolução Francesa, e
começou a estudar a Revolução Russa a partir dos 17 anos. Ambas as
revoluções forneceram inesgotável matéria para os contrastes entre as
trevas e a luz, dando-lhe os meios para esboçar contornos mais definidos
para seu próprio pensamento e síntese.
Revolução e Contra-Revolução
e a TFP estavam, pois, começando a germinar cada vez mais vigorosamente em
sua mente.
Parte II
Proeminente líder católico com destacada atuação
nacional
Essa germinação do ideal de plena restauração da Civilização Cristã
parecia estar se debatendo contra os recifes da futilidade. O que poderia
um só homem fazer? Onde estavam os "outros"?
Em busca dos "outros"
É verdade que, na Congregação Mariana do Colégio São
Luís, Plinio encontrou colegas diligentes em suas orações e na recepção
dos Sacramentos; entretanto, em nenhum deles alcançava ver horizontes
religiosos que se estendessem além da preocupação individual da salvação
da própria alma. Essas pessoas não acompanhariam Plinio ao longo da
extensa, luminosa, mas terrível via pela frente.
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Faculdade
de Direto do Largo São Francisco, década de 1920 aprox. |
Ainda procurando os "outros", Plinio concluiu seu curso
secundário e ingressou no primeiro ano da prestigiosa Faculdade de Direito
de São Paulo. Aqui, Plinio encontrou um corpo docente totalmente marcado
por um secularismo jurídico; e o corpo estudantil, predominantemente de
pequena e média burguesia, manifestando as mesmas tendências que as dos
estudantes do Colégio São Luís, apenas acentuadas com o passar do tempo.
"Mais eles mudam, mais continuam os mesmos" — pensou o perplexo Plinio.
Não obstante, permaneceu fiel em sua decisão e esperou,
em seu isolamento interior, pelos "outros" que ele sabia que viriam. E
quando a espera parecia sem fim e inútil, os "outros" vieram. E vieram de
um modo e em número totalmente inesperados.
Devido à influência dos "espíritos fortes" e dos
"americanistas" sobre a opinião pública brasileira, o consenso popular era
de que as mulheres, para corresponder à sua missão na vida como filhas,
esposas e mães, necessitavam de sua fé e de sua religião. Ao mesmo tempo,
esses mesmos sustentavam — contraditoriamente — que a religião destruía no
homem a masculinidade. Se um homem católico quisesse praticar seriamente a
religião, a opinião pública o compelia a fazê-lo secretamente, ou então a
enfrentar sarcasmos de descrédito.
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Anúncio
do Congresso da Mocidade Católica, na Igreja de Santo Antonio da
Praça do Patriarca, São Paulo |
Como todos os erros populares, essa concepção falsa e
contraditória continha um fragmento de verdade. Implicitamente esse erro
dava testemunho da influência da Religião Católica como adversária per
diametrum dos erros que Plinio tinha tanto em vista. A realidade
oculta por esse erro era de que o processo de "democratização", modelando
e formando a opinião pública brasileira, estava compelindo
sub-repticiamente os homens, não as mulheres, a se tornarem seguidores
militantes da Revolução.
Deste modo, na primavera de 1928, quando Plinio viu
ostentada, numa praça central de São Paulo, uma faixa convidando os homens
católicos a assistirem a um congresso a realizar-se proximamente, ele a
viu como símbolo de uma audaciosa quebra da conformidade à influência dos
"espíritos fortes" e "americanistas". Inscreveu-se imediatamente, e nesse
congresso, ao qual compareceram centenas de jovens fervorosos, encontrou
os "outros" que vinha esperando.
A partir daí, o ritmo de pensamento e estudo de Plinio
acelerou-se, e ele começou a incorporar ambas as atividades na vida de
ação, requerida do líder católico que imediatamente se tornou.
Juventude católica: Plinio emerge como líder
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Sessão do
Congresso da Mocidade Católica na igreja de São Bento, em São Paulo |
Durante a década de 1928 a 1937, quando Plinio Corrêa
de Oliveira emergiu como líder católico, um intenso movimento católico
brotou entre os jovens brasileiros, particularmente entre os de baixa e
média burguesia. O Congresso da Juventude Católica, ao qual Plinio
assistiu em setembro de 1928, foi a afirmação inicial desse movimento
nascido das Congregações Marianas de jovens em São Paulo e espalhado por
todo o imenso território brasileiro. Dentro de dez anos, as Congregações
Marianas se tornaram uma força nacional de primeira magnitude.
Este movimento se caracterizava por uma intensa sede de
espiritualidade católica e por sérias preocupações sociais, com uma
decidida atitude anticomunista. Além disso, de uma maneira efetiva, embora
difusa, esse movimento era hostil a todas as facetas anticristãs da
Revolução Francesa e de seus frutos ideológicos e culturais.
O crescimento de sua influência expandiu o trabalho das
Congregações Marianas, dando origem a um intenso programa de conferências
e palestras em concentrações públicas de todos os tipos. Imediatamente
dedicou-se a essas novas responsabilidades, começando na Congregação
Mariana da Paróquia de Santa Cecília, em São Paulo, e logo em seguida
estendendo sua atividade por todo o Estado de São Paulo e todo o Brasil.
Com seu ardor, seu talento para falar e discursar, e
sua capacidade para organizar, Plinio rapidamente tornou-se o mais
proeminente líder mariano do Brasil.
Na Faculdade de Direito de São Paulo, quando em 1929 o
corpo estudantil tornou-se receptivo à renovação religiosa, Plinio iniciou
a Ação Universitária Católica, que rapidamente veio a ser uma força dentro
dos círculos acadêmicos.
O Brasil em crise; reação dos meios católicos
Entrementes, enquanto Plinio estava preocupado com suas
responsabilidades de líder católico, o Brasil atravessava grandes crises.
Em 1929, uma quebra no mercado do café criou uma dramática crise
financeira, na qual grande parte da aristocracia rural, inclusive a
família materna de Plinio Corrêa de Oliveira, perdeu a maior parte de sua
fortuna. Em 1930 explodiu uma revolução liberal, fortemente apoiada pelo
comunismo incipiente, depondo o Presidente da República Washington Luís e
infligindo irreparável golpe contra o poder político da aristocracia rural
de São Paulo e de outros Estados.
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Extrato
do anúncio da criação da Liga Eleitoral Católica no "Legionário" de
15 de janeiro de 1933 (clique sobre a imagem para ler o manifesto
completo) |
Politicamente, as grandes cidades, formadas em torno de
concentrações industriais e comerciais já em avançado estágio de
desenvolvimento, começaram a empurrar as regiões rurais e seus antigos
líderes para um segundo plano de influência. Assim, com uma ditadura
militar trabalhista instalada no Governo Federal, sob a proteção e
liderança de Getúlio Vargas, o Brasil sentiu-se deslizar para uma aventura
de esquerda.
Em 1932, as classes dirigentes do Estado de São Paulo,
numa tentativa de deter o curso dos acontecimentos, se revoltou. Este
movimento, embora fracassado, forçou Getúlio Vargas a convocar uma
Assembléia Constituinte que renovaria a organização política do País.
Compreendendo que a ação da Constituinte poderia
decidir o futuro político, Plinio e dois bons amigos — o escritor
recentemente convertido Alceu de Amoroso Lima, e o arquiteto Heitor da
Silva Costa, que projetou a mundialmente famosa estátua de Cristo Redentor
no morro do Corcovado, no Rio — conceberam a idéia de uma Liga Eleitoral
Católica destinada a orientar os eleitores católicos a escolher os
candidatos políticos mais favoráveis à causa católica. O Cardeal Sebastião
Leme, Arcebispo do Rio de Janeiro e líder natural do Episcopado, aceitou a
sugestão e em pouco tempo a Liga florescia por todo o País.
Papel decisivo para o triunfo da Liga Eleitoral Católica
Plinio Corrêa de Oliveira foi o secretário geral da
Junta Arquidiocesana da Liga em São Paulo. A qualidade do serviço que ele
prestou levou o Arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, a
escolhê-lo como candidato a deputado na coalizão de partidos e forças
sociais formadas então. Quando vieram as eleições, Plinio, com apenas 24
anos, surpreendeu a si mesmo e a todo o Brasil recebendo 24 mil votos,
mais do que qualquer outro candidato no país! O candidato que mais se
aproximou dele em São Paulo recebeu pouco mais de 12 mil votos.
Esse surpreendente triunfo conferiu a Plinio uma
projeção em todo o Brasil, que foi além dos círculos especificamente
católicos. Contudo, não sem certa malícia, muitos brasileiros se
perguntavam como um inexperiente advogado, recém-saído dos bancos
acadêmicos, se apresentaria no meio de experientes políticos, a maior
parte dos quais eram diametralmente opostos às idéias sustentadas pela
Liga.
A plataforma da Liga Eleitoral Católica advogava o
restabelecimento do ensinamento religioso obrigatório nos colégios
estatais, a proibição do divórcio, o reconhecimento de efeitos civis para
o casamento religioso e a introdução de capelanias nas Forças Armadas e
nas prisões. O desempenho das funções parlamentares de Plinio foi
decisivo, tanto na tribuna quanto nos entendimentos pessoais com outros
deputados, para que a plataforma completa da Liga Eleitoral Católica fosse
inscrita na nova Constituição, promulgada em 16 de julho de 1934.
Tornou-se então manifesto que Plinio Corrêa de Oliveira
fora um dos mais brilhantes e eficientes líderes católicos da Assembléia
Constituinte.
A nova Constituição, promulgada em nome de Deus,
permitiu a fundação de universidades particulares reconhecidas pelo
Estado. Esta cláusula abriu para Plinio as portas do magistério
universitário. Em 1934, o governo de São Paulo nomeou-o professor de
História de Civilização Contemporânea do Colégio Universitário da
Faculdade de Direito de São Paulo, onde apenas cinco anos antes ele havia
sido aluno. Pouco tempo depois, Plinio foi nomeado professor de História
Moderna e Contemporânea nas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras
"Sedes Sapientiae" e "São Bento", que foram reconhecidas pelo Governo
Federal e se tornaram o núcleo inicial da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Finalmente, em acréscimo a suas outras honras, Plinio foi
nomeado diretor do prestigioso semanário católico "Legionário". Suas
possibilidades para a ação ficaram então enormes.
Parte III
Lutador católico do século XX
Uma profunda divisão na opinião pública católica
começou a pôr obstáculos à importante influência das atividades de Plinio.
Essa divergência o separou de muitos católicos que eram os mais
qualificados para colaborar com ele.
Progressismo divide a opinião católica
Plinio Corrêa de Oliveira decidiu lutar contra ele
desde o seu nascedouro; e ainda continua a fazê-lo, com intensidade cada
vez maior (década de 70).
O progressismo começou no Brasil em 1935, quando o
episcopado nacional, por mandato coletivo, fundou a Ação Católica
brasileira. Tristão de Athayde foi nomeado Presidente Nacional da
organização e Plinio Corrêa de Oliveira foi feito Presidente do setor
correspondente ao Estado de São Paulo.
Desde o início, Plinio notou que padres e freiras
recentemente chegados da Europa injetavam estranhas doutrinas, avidamente
recebidas por certos grupos fanáticos nas fileiras da Ação Católica. Os
esforços que envidou para desmascarar esses elementos subversivos não
encontraram senão indiferença, mesmo entre os bispos.
A crescente apreensão de Plinio Corrêa de Oliveira pela
crise que havia começado na Ação Católica provinha de sua certeza de que,
muito mais do que uma escaramuça local, pelo contrário, ela envolvia toda
uma estrutura de solidariedades mais ou menos veladas, em níveis nacional
e internacional. E prometia transformar-se na maior heresia do século, ou
talvez da História, dentro da Igreja Católica.
Em vista disso escreveu, em 1943,
Em defesa da Ação
Católica, um brado de alerta contra a insidiosa infiltração
progressista. O livro contou com expressivo prefácio do Núncio Apostólico
no Brasil, Mons. Bento Aloisi Masella, futuro Cardeal e Chanceler da Santa
Igreja.
Plinio nunca foi um intelectual movido por razões
meramente especulativas e nunca escreveu livros restritos a uma audiência
de autores. Ele se tornou, pelo contrário, um lutador que usa da ideologia
como de um gládio.
Em menos de meio ano depois de sua publicação, Em
defesa da Ação Católica tinha dividido a opinião católica brasileira
do cume até a base: bispos e clérigos manifestaram-se publicamente a favor
ou contra o livro, e a Ação Católica, transformada numa fortaleza de
idéias progressistas, sofreu um golpe do qual jamais se recobrou. Mais
ainda, é duvidoso que o progressismo pudesse ter-se recuperado e adquirido
a influência de que goza hoje no Brasil, não fossem certos acontecimentos
posteriores à eleição de João XXIII.
Devido ao extraordinário acerto de seu lance, Plinio
Corrêa de Oliveira tornou-se alvo de uma violenta campanha de calúnias,
emanadas de círculos progressistas enragés. De incontestável líder
católico de proeminência, tornou-se então uma das mais controvertidas
figuras católicas em todo o Brasil. Um vácuo começou a se desenvolver em
torno dele, ao mesmo tempo que os convites para discursos e conferências
começaram a desaparecer, e a circulação do "Legionário" a decair, com a
debandada de muitos de seus colaboradores medrosos. Finalmente, Plinio
ficou com apenas um pequeno núcleo de amigos, menos de dez, que se
tornaram conhecidos como "Grupo do Legionário". Em 1947, quando o
"Legionário" mudou de mãos, Plinio e seus amigos perderiam até a
denominação pela qual o grupo era conhecido.
No ostracismo, intervenção da Providência e da Santa Sé
|
...No pequeno núcleo de corajosos e persistentes amigos de
Plinio... |
No pequeno núcleo de corajosos e persistentes amigos de
Plinio havia duas figuras de destaque do clero mais jovem do Brasil
naquele tempo: Mons. Antonio de Castro Mayer e o Pe. Geraldo de Proença
Sigaud. Ambos endossaram
Em defesa da Ação Católica, e em
conseqüência sofreram represálias: Mons. Mayer foi transferido de Vigário
Geral para vigário administrativo de humilde paróquia de São Paulo, e o
Pe. Sigaud foi enviado para a Espanha.
Entretanto, a grande agonia para Plinio e seus amigos
não era a perseguição injusta que sofreram em conseqüência de sua defesa
da Fé. Pelo contrário, o que os mortificava era a aparente indiferença da
Santa Sé, cujos ensinamentos esses homens todos defendiam, e pelos quais
morreriam se necessário. Plinio, o lutador católico e seus amigos,
sentiam-se abandonados e desamparados por sua própria Mãe, a Santa Igreja
Católica Romana.
Mas nem a Providência nem Pio XII estavam dormindo.
Após alguns anos de completo silêncio, os círculos católicos do Brasil
foram estremecidos pela surpreendente elevação do Pe. Sigaud à posição de
Bispo de Jacarezinho. Mal começavam a acalmar-se as especulações em torno
da designação do Pe. Sigaud, os católicos brasileiros tomaram conhecimento
da nomeação de Mons. Antonio de Castro Mayer para Bispo de Campos. Plinio
Corrêa de Oliveira e seus fiéis amigos eram agora defendidos e
reconhecidos por Roma como defensores da Fé
[2].
Em 1948, Plinio recebeu a seguinte carta, assinada por
Mons. João Batista Montini, então substituto da Secretaria de Estado, e
escrita em nome do Santo Padre Pio XII:
Palácio do Vaticano, 26 de
fevereiro de 1949
Preclaro Senhor,
Levado por tua
dedicação e piedade filial, ofereceste ao Santo Padre o livro "Em
defesa da Ação Católica", em cujo trabalho revelaste aprimorado
cuidado e aturada diligência.
Sua Santidade
regozija-se contigo porque explanaste e defendeste com penetração
e clareza a Ação Católica, da qual possuis um conhecimento
completo, e a qual tens em grande apreço, de tal modo que se
tornou claro para todos quão importante é estudar e promover tal
forma auxiliar do apostolado hierárquico.
O Augusto
Pontífice de todo o coração faz votos que deste teu trabalho
resultem ricos e sazonados frutos, e colhas não pequenas nem
poucas consolações. E como penhor de que assim seja, te concede a
Bênção Apostólica.
Entrementes, com
a devida consideração, me declaro teu muito devotado,
(a) J. B. Montini,
Substituto
|
Reagrupamento da "família de almas" em torno de "Catolicismo"
Entretanto, era tal a influência de certos elementos
progressistas, que, não obstante a aprovação de Roma, o ostracismo de
Plinio continuou. Ele começou a dissipar-se em 1951, quando Dom Antonio de
Castro Mayer
[3] fundou o mensário de cultura "Catolicismo" e convidou todos
os antigos membros do "Grupo do Legionário" a colaborarem.
"Catolicismo" espalhou-se rapidamente pelo Brasil
inteiro, uma vez que Plinio Corrêa de Oliveira tinha ainda muitos amigos,
apesar de serem isolados e desencorajados. Animados e esperançosos com a
promessa da rápida aceitação do "Catolicismo", Plinio e seus amigos
novamente se preparavam para fazer "guerra" contra os inimigos da Igreja.
O tempo livre proporcionado ao Grupo pelo ostracismo
dera-lhe excelente oportunidade para sérios estudos. Mais ainda, o
convívio diário entre os membros fortalecera seus laços espirituais e a
mútua compreensão, a ponto de se tornarem uma verdadeira família de almas.
Em 1949, um grupo de jovens pertencentes às principais
famílias de São Paulo, não encontrando clima para continuar na Congregação
Mariana do Colégio São Luís, devido à sua adesão aos princípios
sustentados pelo "Legionário", veio tomar parte e aumentar o número da
família de almas, agora dedicada a resistir contra todos os esforços para
a destruição da Igreja.
Entusiastas e de fé militante, esses jovens começaram a
percorrer as principais cidades do Brasil, para conseguir outros jovens
que difundissem "Catolicismo" e se aliassem a eles na defesa da Fé. Para
coordenar seus esforços em âmbito nacional, começaram a promover
anualmente "Semanas de Estudos" em São Paulo. A primeira delas realizou-se
em 1953. Em 1961, a "Semana de Estudos" tinha crescido o bastante para
poder chamar-se Congresso Latino-americano de "Catolicismo", recebendo 400
participantes do Brasil, bem como contingentes da Argentina, do Chile, e
de outros países latino-americanos.
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Aspecto
do I Congresso Latino-Americano de Propagandistas de Catolicismo,
realizado em 1961 no Hotel Pavani , Serra Negra, ao qual
compareceram 400 pessoas |
A partir de 1961, tornou-se necessário substituir a
"Semana de Estudos" anual por reuniões regionais, distribuindo-se os
vários grupos de acordo com a idade, de forma a acomodar melhor o grande
número de participantes que afluíam para a defesa dos ideais de
"Catolicismo".
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Aspecto
do ato de fundação da "Sociedad Argentina de Defensa de la Tradición,
Familia y Propiedad" |
A presença de participantes argentinos e chilenos em
"semanas de estudos" brasileiras resultou diretamente do entusiasmo e
avidez dos veteranos e novos membros do "Grupo do Catolicismo", de
descobrirem outros membros de sua família de almas em toda a América do
Sul. Em Buenos Aires eles encontraram um excelente grupo de jovens
católicos, associados à revista "Cruzada". Em Santiago do Chile
descobriram outro proeminente grupo, ligado à revista "Fiducia". A
compatibilidade e mútua compreensão entre os colaboradores dessas três
publicações foi tão rapidamente manifesta, que nenhum deles duvidou em
momento algum que pertenciam a uma só família de almas, unidos em Cristo.
Enquanto passavam os anos, a família de almas crescia de modo similar,
através da descoberta de novos membros e grupos no Uruguai, Colômbia,
Venezuela, Equador, Peru e Bolívia.
Em breve, o processo que estava se desenvolvendo na
América do Sul começou a ter repercussões nas velhas nações ibéricas mães,
Espanha e Portugal. A partir de 1968, membros da mesma família de almas
começaram a aparecer na Espanha, e logo depois em Portugal. O mesmo
fenômeno ocorreu nos Estados Unidos, Canadá e França.
O crescimento da família de almas tornara necessário
dar um fundamento definitivo e jurídico a toda essa estrutura de relações.
Conseqüentemente, em 1960 foi fundada a Sociedade Brasileira de Defesa da
Tradição, Família e Propriedade, indicando por seu título os três
objetivos imediatos da organização. Em 1967, os grupos argentino e
chileno, juridicamente autônomos, constituíram-se também em associações
TFP. Outros grupos se seguiram, sendo o mais recente deles a TFP
norte-americana, fundada em 1974.
"Eco fidelíssimo do Supremo Magistério da Igreja"
Assim, o trabalho, a batalha e a mentalidade de Plinio
Corrêa de Oliveira são todos perfeitamente consoantes e harmoniosos. Em
1974, Plinio atingiu seus 66 anos, enfrentando grandes desafios com
entusiasmo crescente e uma profunda sabedoria adquirida em meio a
tragédias, e obtendo vitórias gloriosas na contínua batalha em defesa da
Igreja contra seus inimigos.
Ele não tem, contudo, nenhuma ilusão sobre a magnitude
do mal que afeta hoje todo o gênero humano. As trevas que circundam a
pequena luz de seus modestos sucessos cresce cada dia mais.
As maiores aflições para Plinio Corrêa de Oliveira e a
TFP são causadas, no entanto, pela cada vez pior crise progressista na
Igreja, o processo de autodemolição pelo qual Ela está passando e a
difusão universal da abominável e pestilencial fumaça de Satanás dentro
dEla, segundo fórmula muito expressiva utilizada pelo Pontífice reinante
[Paulo VI]
[4].
A instrução de Plinio, sua vida espiritual e seus
estudos fizeram dele acima de tudo um servidor do Papado. Carta enviada
oficialmente pelo Cardeal Giuseppe Pizzardo, prefeito da Sagrada
Congregação dos Seminários e Universidades, elogiando o ensaio de Plinio
Corrêa de Oliveira intitulado
A liberdade da Igreja no Estado
comunista, a ele se referiu como sendo "um eco fidelíssimo dos
Documentos do Supremo Magistério da Igreja". Lendo a carta, Plinio
ressaltou que "eco fidelíssimo" era o título que ele mais desejaria para
si.
À medida que se sucedem os anos, o amor de Plinio e sua
obediência incondicional ao Vigário de Cristo e à Santa Sé
intensificam-se.
Pode-se portanto imaginar a enorme tribulação que lhe
causou a détente de Paulo VI com os regimes comunistas. Esta
política criou um estado de coisas diante do qual ele e todas as TFPs
enfrentaram a supremamente dolorosa alternativa: cessar a luta contra o
comunismo ou se declararem publicamente em estado de desacordo e
resistência em relação à détente do Vaticano. Plinio Corrêa de
Oliveira escolheu a resistência, e expôs sua posição num documento que é
um poema de fidelidade ao Papa e ao Papado.
Endossada por todas as TFPs, a "Declaração de
Resistência" foi publicada na íntegra em importantes diários da América do
Sul, dos Estados Unidos e do Canadá, e muitos católicos sentem que seu
próprio pensamento está expresso no histórico documento. Embora várias
autoridades eclesiásticas, no mundo inteiro, tenham manifestado seu
desacordo pessoal com esta tomada de atitude das TFPs, nenhuma delas
contestou a legitimidade do estado de resistência, do ponto de
vista canônico. O que, evidentemente, não teriam deixado de fazer se
houvesse a mínima falha nessa posição.
É claro que a batalha em defesa da Igreja, contra
aqueles que querem destruí-la, ainda não terminou. Os esforços furibundos
de Lúcifer para destruir a obra redentora de Cristo não terminarão até o
dia do Juízo Final, quando a parte do gênero humano que se tiver salvo
proclamará Cristo como Soberano Senhor da História, título que Lúcifer
ambiciona para si mesmo. Até então, a humanidade deve batalhar para
defender aquelas verdades pelas quais o próprio Cristo fez o Sacrifício
Supremo.
É o que Plinio Corrêa de Oliveira, um lutador católico
do século XX, vem fazendo. Se ele enfrenta com serenidade um futuro
incerto, é porque se colocou ao serviço de seu Senhor, como escravo de
Nossa Senhora, a autora de todas as suas realizações.
Em todos os seus esforços ele não quer senão ser
instrumento dEla. Sua confiança provém da absoluta certeza de que a
batalha atualmente travada sobre a face da terra — a batalha entre Lúcifer
e o Coração Imaculado de Maria — continuará através dos calamitosos dias
de punição e catástrofes previstos em Fátima, e terminará com a aurora de
uma nova era histórica, o Reino de Maria, também predito por Nossa Senhora
em Fátima, quando Ela disse: "Por fim, o meu Imaculado Coração
triunfará".
NOTAS
[1].
A expressão
"democratização", neste resumo biográfico, não se refere necessariamente
ao regime político democrático, mas sim a um conjunto de hábitos, costumes
e modos de ser que foram se espalhando no Ocidente após a Primeira Guerra
Mundial, sobretudo a partir da influência do cinema norte-americano. A
respeito do regime político conhecido como "democracia", a posição da TFP
foi lapidarmente expressa por Plinio Corrêa de Oliveira:
"Extrapartidária por definição, a TFP não opta por formas de governo. Ela
aceita o ensinamento de Leão XIII, confirmado por São Pio X, de que
nenhuma das três formas de governo — monarquia, aristocracia ou democracia
— é intrinsecamente injusta" ("Projeto de Constituição Angustia o
País", Vera Cruz, 1987, pág. 20).
[2]. Muitos anos depois dos fatos
aqui narrados, os dois bispos citados tomaram, cada um a seu modo, rumos
diferentes, afastando-se do Grupo de Plinio.
[3]. Dom Antonio de Castro Mayer,
juntamente com o Arcebispo francês Marcel Lefèbvre, foi excomungado
mediante decreto da Santa Sé, em 1º de julho de 1988. E já nesta época era
público e notório o distanciamento, ocorrido vários anos antes, do Prof.
Plinio e da TFP em relação aos dois prelados, conforme foi amplamente
noticiado pela imprensa por ocasião daquele rumoroso decreto (cfr. "Folha
de S. Paulo", 2 e 17-7-88; "Correio Braziliense", 3-7-88; "O Globo",
9-7-88 e "O Estado de S. Paulo", 2 e 17-8-88).
[4]. Cfr. Alocução "Resistite
fortes in fide", de 29 de junho de 1972.
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